Parte I
Harry Potter entrou em Hogwarts com a confiança de quem considera aquele lugar a sua verdadeira casa. E de fato era assim que ele se sentia. Tinha sido o primeiro lugar a que pode chamar de lar e isso era algo que ele nunca esqueceria.
Achava certa graça sobre como tudo estava acontecendo. Pegou o expresso Hogwarts, atravessou o Lago Negro de barco e foi encaminhado ao grande salão, tudo como da primeira vez que esteve lá. A única diferença era que agora tinha mais de 30 anos e definitivamente não era mais um garoto magricela assustado com a emponeidade do lugar. Ele tinha crescido e amadurecido em todos os sentidos da palavra, tanto por dentro como por fora. Havia abandonado os seus óculos por motivos profissionais e seu corpo trabalhado mostrava que não era a magia a única forma que ele tinha de atacar seus inimigos. Não que tivessem tantos nesses tempos de paz, mas o mal nunca vai embora completamente.
A escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts entendia o importante papel que desempanhava na vida de muitos bruxos e exatamente por isso esporadicamente cedia espaço para reuniões de turmas de antigos estudantes. Bruxos e Bruxas das mais variadas idades tinham por algumas horas a chance de reviver um pouco daqueles tempos de esplendor, relembrar a latente inocência do início de suas vidas e rever velhos amigos e inimigos.
Rony costumava dizer que era só uma desculpa para ex-alunos finalmente realizarem seu maior sonho: encher a cara nos salões da escola e não negativar os pontos da sua casa no processo. Havia certo grau de verdade nessa afirmação, mas todos procuravam negar.
Ao entrar no salão seu coração se encheu de alegria ao reconhecer tantos rostos ali. Tantas histórias, tantas dores e tantas alegrias escondidas naquelas nascentes rugas e velhas cicatrizes. Na verdade, muitas dessas pessoas se viam constantemente, a comunidade mágica era pequena no final das contas, mas talvez o local de encontro fosse um fator importante para a emoção que trazia. Abraçou e conversou levemente com todos que se aproximavam, mas estava realmente era procurando Hermione e Rony. O Trio de Ouro enfim reunido em Hogwarts novamente.
– Mione! – A abraçou. – Onde está o Rony?
– Foi pegar um suco de abóbora para mim. Não estou podendo com bebida alcoólica, sabe... – Apontou para a própria barriga de 5 meses. Já era o terceiro filho do casal e Harry sempre ficava surpreso como ela conseguia conciliar com sua vida profissional de sucesso.
Antes que pudesse dizer algo Rony apareceu vestindo um uniforme quase que completo da grifinória, assim como outros membros mais empolgados da festa. O próprio Harry tentou entrar no clima usando seu antigo suéter amarelo e vermelho, mas esse foi o máximo que conseguiu se obrigar a fazer.
– Companheiro! – Deu um abraço de urso e entregou o suco da mulher. – Não acredito que não colocou o uniforme! Quando é que teremos outra chance de colocá-los sem envolver algum tipo de estranho fetiche sexual?
Harry riu disfarçadamente da referência. Não tinha tido coragem de contar a Mione que no ano passado uma mulher com que estava saindo pediu para que ele colocasse o antigo uniforme e um pouco de sangue falso. Algo sobre achar quente o visual de salvador do mundo bruxo.
Não precisa nem dizer que aquela relação não foi muito em frente depois disso.
Neville e Luna se juntaram ao grupo e jogaram conversa fora por quase uma hora quando alguém apareceu atrás dela. Era Malfoy. Assim como ele Malfoy não usava o uniforme de sua casa, apenas o seu cachecol verde e cinza. O tempo, ao contrário do que acontecia com a maioria, só lhe favorecia. Harry sentia uma pontada de ciúmes masculino do quão atraente Malfoy parecia, mas escarnecia ao pensar no tempo e dinheiro que o loiro devia investir nisso. Sua vaidade era percebida de longe, assim como os frutos dela. Ele era, de fato, um homem extremamente charmoso. Quando queria, claro. Seu gênio às vezes podia ser o perfeito antídoto para a sua beleza, certa vez ouviu alguém comentar.
Ele e Luna se cumprimentaram e tal comprimento se estendeu ao marido dela, Neville. Harry poderia achar a cena bizarra, mas sabia que a família Malfoy estava investindo dinheiro em "ações sociais" com o intuito de recuperar o prestígio da família na sociedade bruxa e que Luna era responsável por uma instituição voltada para órfãos de guerra. Os Malfoys sempre foram homens de negócios no final das contas, não importando com quem esses negócios são feitos.
Draco enfim mostrou perceber a presença do trio, embora todos soubessem que ele já os havia visto. Não era a primeira vez que se encontravam nos últimos anos, mas era sempre imprevisível o quão bem ele se comportaria. Malfoys não são conhecidos por sua simpatia.
– O Trio de Ouro, que prazer vê-los novamente. – Havia algum sarcasmo na voz, mas soava como uma tentativa inofensiva de gracejo. – Para a festa estar completa só falta vocês quebrarem algumas regras.
– Tenho certeza que estarmos falando civilizadamente com você já se constitui como algum tipo quebra de regra – respondeu Hermione simpaticamente. – É um prazer, Malfoy.
Rony apertou a mão dele com o usual pé atrás, mas Harry o fez com firmeza. Na verdade tinha algumas coisas que queria conversar com Malfoy, mas se perguntava se teria a chance para fazer isso esta noite. Enquanto pensava Draco se despediu deles polidamente e voltou ao seu grupo que consistia nele, Blaise e Pansy. Estavam em um canto escuro, protegendo uns aos outros, como era o comportamento normal de sonserinos, principalmente daqueles de seu tempo.
A noite continuou com o seu fluxo normal, até que uma música muito conhecida da época em que eles estudavam começou a tocar. Todos gritaram e puxaram seu par para a pista de dança. Harry recebeu algumas propostas, mas algo que nunca mudaria era sua completa inabilidade de dançar.
Ficou sozinho com sua bebida rindo ao ver todos os seus amigos dançarem e observou que de longe Draco fazia o mesmo. Ponderou por um tempo e resolveu tentar conversar com Malfoy. Mal não faria.
Como quem não quer nada sentou na cadeira ao lado de Malfoy e continuou a beber sua bebida. O outro levantou uma sobrancelha ao perceber sua presença, mas nada falou. Por um tempo.
– Algum motivo especial para me agraciar com a sua presença, Potter?
– Incomodo?
– Não necessariamente. Estou apenas pesando quais poderiam ser os seus motivos. Querendo reviver velhas cenas de inimizades ou mostrar ao mundo que estamos mais maduros e podemos conversar civilizadamente?
– Um pouco dos dois talvez. – Harry sorriu. – Na verdade quando soube desse encontro pensei logo em nós dois e em nossos filhos.
No ano passado Albus e Scorpius tinham começado a freqüentar o colégio. Embora ambos fossem da mesma casa, sonserina, não tinham se dado bem no começo. A relação entre Potter's e Malfoy's sempre seria explosiva, o que resultou nos dois tendo detenção juntos em menos de 1 semana de aulas. Mas contra todas as expectativas uma grande amizade nasceu disso e até hoje seus pais ainda tinham dificuldades de acreditar.
– Ah sei o que quer dizer. Quando Scorpius me mandou uma carta dizendo que tinha pegado detenção com um Potter eu só pude sorrir em orgulhosa nostalgia. Mas uma semana se passou e de repente eles eram os melhores amigos do mundo. Esse tipo de coisas nos mostra que de fato nada sabemos do mundo, Potter.
– Isso mostra que nossos filhos são melhores pessoas do que nós somos. – Tomou um gole. – Quando soube eu tentei imaginar como seria se tivéssemos tentado ser amigos.
Draco rolou os olhos.
– A bebida está te deixando lufano demais, Potter. Nós teríamos nos matado se tivéssemos passado mais tempo do que passamos juntos. Na verdade, o pouco que convivemos foi o bastante para uma ou duas tentativas.
– Você não era uma pessoa fácil.
– Era? Está supondo que estou melhor agora?
– Claro. – Seu sorriso agora era levemente melancólico. – Ninguém passa pelo que passamos e continua o mesmo.
Beberam em um silencio que ambos sabiam ser respeitoso ao passado.
– Um Potter sonserino. – Contemplou o som de suas próprias palavras. – Ele tem sorte que vivemos em outros tempos, no nosso ele seria comido vivo dentro da casa.
– Ele não foi parar nessa casa a toa.
Harry sorriu um sorriso de quem sabe do que o filho é capaz.
– Nós estamos pulando alguns passos básicos de uma conversa civilizada, Malfoy. Como tem estado a sua vida?
O loiro rolou os olhos novamente.
– Pulamos esses passos por motivos simples, cicatriz. Somos figuras públicas e tem muito pouco um sobre o outro que poderíamos descobrir que já não tenha sido coberto por alguma revista de fofoca.
– Você sai do pressuposto de que eu leio essas coisas.
– Talvez não, mas tenho certeza de que o Wesley repassa todas as informações importantes para você.
Ele estava certo. Uma das diversões do Ron é confabular sobre o que Draco andava aprontando. Era seu tema favorito quando saíam para beber. Quando a anos atrás Malfoy foi pego em flagrante traindo a esposa com um bruxo romeno, Rony acompanhou tudo avidamente. Todas as fofocas, o processo de separação e as declarações desaforadas de Draco ao se assumir gay foram fonte de muita alegria para Ron que adorava ver o loiro em calças curtas. E pelo sorriso que Harry não conseguiu esconder Malfoy percebeu que estava certo.
– Eu sabia. Ele nunca perderia a chance de rir às minhas custas. Deve ter uma vidinha muito chata se o ponto alto da semana é fofocar sobre mim.
– Convenhamos que pelo tanto que você aprontou com ele isso é o mínimo.
– Eu não vejo como minha vida sexual é material para escárnio.
– Rony está mais interessado em você sendo pego no flagra e isso ser capa de jornal do que no fato de você ser gay. Sobre isso ele diz que sempre soube.
– Como? – falou ultrajado. – Não vejo como isso é possível, eu não fui nada mais do que discreto durante todos os meus anos de estudante.
Harry teve curiosidade de perguntar se Draco tinha se envolvido com alguém que conhecia, mas lembrou com quem estava falando e do nulo grau de intimidade que tinham um com o outro.
– Quando tudo aconteceu quase te mandei uma carta te dando às boas vindas ao clube dos vida-íntima-objeto-de-diversão-alheia, mas achei que você não apreciaria o gesto.
Harry sempre teve a vida constantemente coberta pela mídia, mas nunca isso lhe incomodou tanto como quando, 3 anos depois do seu casamento, Gina e ele resolveram se separar. Apenas não estavam certos juntos, mas a mídia fazia tudo parecer muito maior do que realmente era. Alguns casais não foram feitos para permanecer juntos, mas nem sempre houve um grande e obscuro drama por trás disso. Nem sempre há um vilão na história.
– Temos sorte, Potter. Cansaram de nós e novos rostos ocupam as capas de tablóides nesse momento. Ninguém mais quer saber das suas namoradinhas ou dos meus "amigos com benefícios", como graciosamente colocaram.
– Estou mais do que feliz de ceder o meu lugar a outras pessoas.
Continuaram a conversar e estava sendo muito mais agradável do que os dois seriam capazes de admitir se perguntados por qualquer um. Draco havia melhorado muito com os anos e Harry não era mais tão cabeça quente. De certa forma pode se dizer que chegaram a um acordo instintivo de não levar a sério nenhum provocação dada pelo outro. Velho hábitos eram difíceis de matar, mas eram adultos!
O diálogo foi interrompido quando Seamus, que fazia um feitiço perto deles mais do que embriagado, explodiu uma luminária que estava em cima da dupla. Ambos conseguiram desviar, mas não rápido o bastante. A luminária caiu em cima das pernas de Harry que urrou de dor e Draco, que conseguiu escapar do objeto em queda, tropeçou e bateu a cabeça no chão com força.
Enquanto perdia a consciência Draco pode escutar os gritos de comando e tranquilização de Hermione e percebeu que estavam sendo levados para a enfermaria.
Que ótimo. Não seria de fato uma volta ao passado se não acabasse na enfermaria de novo com o Potter.
Weeeee Minha primeira tentativa de Drarry! Essa fic terá 3 caps e o próximo já está quase pronto.
Ai Drarry é tão bom, gente. Meu sonho era ter participado dos tempos áureos do fandom, mas que pena. Espero que ainda aja leitores desse casal mais do que perfeito e agradeceria se me dissessem o que acharam da minha primeira tentativa com eles.
Beijos sabor pinhão :3
