Notas: Drabble sobre o capítulo "Amazonas" e "Pará" da minha fic "27 Vozes".

Amazonas - "Amazonas lembra-se de ter rezado para todos os deuses que conhecia, desejando que tudo aquilo acabasse o mais rápido possível, enquanto abraçava seus irmãos do Norte. Até mesmo Pará."

Pará - "Pará e Amazonas podiam ter suas diferenças, mas ele precisava daquele abraço tanto quanto ela."

Aproveitem,

PhoenixOfWind

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Amazonas havia discutido com Pará novamente. Isso não era um acontecimento anormal, mas agora ela se arrependia disso. Na TV da sala de estar passava, como em eterno loop, as imagens que ela havia presenciado pessoalmente há muito tempo atrás. Militares, tantos deles, atirando nos civis, prendendo-os sem motivo ou explicações. Sangue vermelho correndo nas pedras das ruas sob o sol quente de Manaus.

"Um documentário. Só um documentário", ela repetia pra si mesma como uma prece, enquanto as imagens repetiam-se na tela em sua frente, cada uma trazendo consigo mais e mais memórias de um tempo que ela lutara tanto para esquecer. Amazonas não queria estar sozinha agora. Onde estavam seus irmãos? Onde estava o Norte? Doce Rondônia, espirituosa Roraima, jovem Acre, calmo Amapá, corajoso Tocantins e irritante Pará? Onde estavam eles?

Por um momento, presente e passado entremearam-se e Amazonas foi tomado pelo pavor. Onde estavam seus irmãos? Os militares não ousariam tocar neles, eles não podiam! Abrindo a porta com um estrondo, a amazonense saiu correndo pelas ruas, buscando ecos inexistentes de seus pesadelos antigos.

(As pessoas abriam caminho, surpresos com a jovem despenteada e de pés descalços que corria, desesperada, pelos caminhos pavimentados. Amazonas não sentia a presença deles. Ela estava com medo, tanto medo.)

Por que ela não conseguia os encontrar? Por quê? Por quê?! Com a respiração ofegante e prestando atenção somente na batida acelerada de seu coração, ela não percebeu o sinal de pedestres mudando de verde para vermelho, e não parou. Seus irmãos, onde estavam eles?

(A buzina do caminhão soou distante, assim como a voz que gritou seu nome, o nome humano que apenas sua família conhecia. O grito ecoou e ela viu a luz cegante dos faróis.)

Mãos a puxaram do meio da rua, e Amazonas voou para trás, caindo em cima de algo, ou melhor, alguém, que tremia com os braços em torno de sua cintura. A jovem virou o rosto, apenas para encontrar os olhos arregalados de Pará. Ele exclamou algo, provavelmente questionando a sanidade da amazonense, mas ela não conseguia ouvir. Com lágrimas escorrendo pelo seu rosto, ela o abraçou, murmurando desculpas e palavras desconexas.

(Pará tentou fazê-la o largar, afinal, eles estavam no meio da calçada! Mas quando ele sentiu as lágrimas ensopando sua camiseta, a vontade de afastá-la desapareceu. Há muito tempo atrás ele achara conforto no abraço de Amazonas, e era somente justo que ele retribuísse o favor.)

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