Capítulo 1

Harry Potter

Os Dursley eram uma família que podia ser, de certa forma, chamada de normal. O Sr. e a Sra. Dursley tentavam ser a família mais normal possível, um sonho frustrado por seu sobrinho, Harry Potter.

Apesar de Potter não ser um menino comum, os Dursley tentavam fazer de tudo para que Harry não se misturasse com a vizinhança e nem com seu filho Duda, por isso maltratavam o pobre garoto órfão que foi parar na porta de sua casa sem mais nem menos, enrolado em um cobertor, em um cesto com uma carta por cima dele. Naquele dia, a cicatriz em forma de raio em sua testa era bem visível, o que assustou a Sra. Dursley quando viu o garoto.

"Prezados Sr. E Sra. Dursley,

É com pesar que lhes informo que, devido a um importúnio acontecido em Godric's Hollow hoje à noite, Lílian e Tiago Potter foram assassinados em casa. Seu filho, o garoto que lhes deixei na porta, Harry Potter, conseguiu sobreviver ao ataque do assassino com apenas uma cicatriz na testa.

O garoto não tem mais nenhuma família e peço-lhes que cuidem dele como se fosse um filho. Quando chegar a hora, enviaremos lhe uma carta para que possa estudar na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, já que o garoto é um bruxo.

Receio que com vocês, ele ficará seguro.

Atenciosamente,

Alvo Dumbledore."

A sra. Dursley leu a carta e olhou para o garoto no chão, vendo a cicatriz avermelhada na testa dele. Tapou a boca tentando abafar um choro por saber da morte da irmã, apesar de não gostar muito dela.

Teria então de cuidar do filho dela! Isso é um absurdo, pensou ela, Lílian deveria ter mais cuidado, não deveria abrir a casa para qualquer pessoa. Mas o bebê dormente ali em sua frente estava deixando-a tocada e ela resolveu levá-lo para dentro de casa.

O que ela não sabia é que estava sendo observada pelo autor da carta, Alvo Dumbledore, que espiava tudo com certa pacifismo e interesse.

— Alvo — chamou uma voz feminina e velha. — Você tem certeza que quer deixá-lo com os trouxas?

— Sim — respondeu Dumbledore não tirando os olhos da porta fechada da casa dos Dursley. —, srta. Minerva. Espero que cuidem do menino. São os únicos parentes que ele tem agora.

— Mas eu não consigo compreender, Alvo...

— O que não consegue compreender?

— Como foi que ele sobreviveu?

Dumbledore refletiu um pouco. Já tinha falado com ela antes, mas agora que lhe ocorria uma boa ideia do que poderia ter acontecido há pouco.

— Receio, Minerva, que o garoto estava protegido.

— Protegido?

— Bem, por uma magia antiga. — refletiu mais um pouco, ajeitando os oclinhos meia-lua e massageando a imensa barba branca. — Devo conferir esta minha teoria, mas por enquanto não posso lhe esclarecer esta questão. — fez uma pausa e então continuou. — Sabe, Minerva, ainda acho que Voldemort pode voltar para tentar matar o menino.

A velha mulher com óculos redondos e um coque na cabeça estremeceu ao ouvir o nome "Voldemort". Sabia que Dumbledore tinha esse "mau costume" de falar seu nome.

— Por que acha isso, Alvo?

— Eu tenho apenas um receio. Ideias, Minerva... mais uma de minhas ideias. Acho que não podemos correr o risco. Voltarei amanhã aqui para lançar um feitiço de proteção nesta casa. Se quiser vir comigo...

— Acha mesmo que será necessário? — perguntou ela, ignorando as últimas palavras do velho Dumbledore.

— Como já disse, eu tenho apenas um receio de que nem tudo acabou. — manteve toda a calma do mundo ao pronunciar essas palavras. — Acho que temos de ir, Minerva, Hagrid já deve ter chegado em Hogwarts à esta hora.

E então, do nada, Dumbledore desapareceu com um estalo, seguido pela velha senhora de coque.

Petúnia Dursley, com o bebê no colo, ouviu algo estranho lá fora e esticou o magro pescoço para a janela, mas nada viu na escuridão da noite.

O bebê continuava dormindo. A carta continuava aberta em sua mão. Ela lia e relia o papel amarelado. Era difícil de acreditar que Lílian e Tiago estavam mortos. Válter, seu marido, ainda não tinha chegado do trabalho e Duda estava dormindo no berço.

O que é que fariam com o sobrinho que lhes fora deixado para cuidar? A primeira ideia que lhe ocorrera na cabeça fora mandar o garoto para um orfanato, mas aquela cicatriz na testa poderia assustar os funcionários e fazer com que eles chamassem a polícia e fossem investigados por maus tratos. Então, descartou em sua mente essa ideia estúpida.

O único jeito seria ficar com o garoto. Ela então leu novamente a carta e virou-a, vendo que havia mais um pedaço que não havia lido.

"Uma proteção especial será instalada na casa de vocês amanhã de manhã, de modo que qualquer mal que tentar atingir a casa de vocês seja bloqueado. Mas, para a proteção vigorar, será preciso que o garoto more sob seu teto e possa chamar sua casa de lar.

Atenciosamente,

Alvo Dumbledore."

Ficou um pouco assustada por não ter percebido isso antes, mas isso eliminava qualquer possibilidade de mandar o garoto para um orfanato. Mas outro pensamento lhe ocorreu: o garoto era um bruxo. Poderia fazer tudo o que sua irmã Lílian fazia: levitar, lançar coisas pelas mãos e fazer as coisas se mexerem. Ela se lembrava de tudo o que viu Lílian fazer quando era criança e como tinha ficado com inveja dela por conseguir fazer coisas que ela não conseguia.

A irmã tinha ido também para a tal da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, indo até King's Cross para pegar um trem. Voltava com roupas estranhas, uma varinha mágica, livros estranhos com fotos que se mexiam, caldeirões e coisas estranhas demais.

Petúnia tinha medo da própria irmã e também uma pontada de inveja, pois também queria ir para a tal da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Lílian dizia que era impossível, pois Petúnia era uma "trouxa". Claro que ela ficou ofendida por ter sido xingada pela irmã, mas tinha medo de bater nela. Quem sabe Lílian não a transformava em um sapo?

Mas agora tudo era passado e a irmã estava morta! Foi morta junto com o marido que conheceu na Escola!

No momento em que todos esses pensamentos ocorriam pela mente da sra. Dursley, um carro roncou por perto e entrou na garagem da casa. A porta do carro bateu e logo um barulho de chaves acionando a maçaneta da porta podia ser ouvido.

Um homem enorme, com cara de porco e uma bigodeira preta entrou na sala com um olhar cansado. Era Válter Dursley, marido de Petúnia. Ele viu a mulher sentada com um bebê no colo e deduziu que fosse Duda.

— Duda não conseguiu dormir? — disse ele pousando as chaves na mesa.

— Errm... conseguiu sim, está lá no berço. — respondeu ela, tremendo um pouco.

O Sr. Dursley não percebeu de primeira o que a esposa tinha falado. Tirou o casaco e pôs no cabideiro e só então raciocinou.

— Espere aí! — disse ele virando-se para a esposa novamente, apontando o grosso dedo indicador para ela. — De quem é essa criança?

Petúnia estremeceu, pensando que ele poderia ter raciocinado errado. A carta ainda estava em sua mão e, como ela nada conseguia dizer, entregou-a ao marido que ficou com um pouco de receio.

Os olhos miúdos de Válter percorreram a carta com a testa franzida. A caraça dele estava ficando vermelha à medida que ia lendo e os olhinhos iam se arregalando.

— Tem mais coisa atrás. — disse Petúnia, vendo que ele ia terminar de ler a frente.

Assim que ele terminou, voltou seus olhos para o bebê que a esposa segurava. Assustou-se quando viu a enorme cicatriz vermelha em forma de raio na testa do pobre garotinho. Ele estava mais assustado com o conteúdo da carta. Ele sabia que a cunhada finada era bruxa graças a uma visita dos Potter aos Dursley há muito tempo.

— P-Petúnia... — começou ele gaguejando um pouco. — Quer dizer então que sua irmã está morta e que teremos de cuidar de um... um... um...

— Bruxo... — completou Petúnia, mas Válter estremeceu ao ouvir essa palavra e sua caraça ficou cada vez mais vermelha.

— Shhh! Não mencione isso aqui! Os vizinhos podem ouvir!

— Desculpe-me.

— Por que raios nos deixaram ele para cuidar?

— Porque somos os únicos parentes vivos dele.

— Vamos mandá-lo para um orfanato, Petúnia! — sugeriu ele em um tom alto. — Você já me contou como sua irmã era... anormal quando era criança! Não quero que os vizinhos pensem que somos loucos se este garoto começar com... anormalidades!

— Mas, Válter, eu já pensei nisso! Com essa cicatriz na testa o povo do orfanato ia pensar que maltratamos essa criança! Iam chamar a polícia e não ia ser nada legal. E fale mais baixo! Dudinha está dormindo e esse aqui também!

Válter começou a ficar mais vermelho. A esposa estava certa... Passou a mão na cabeça, pensando em algo.

— Duda não pode ser influenciado por ele! — disse ele com um pouco de raiva. — Vamos abandoná-lo por aí! Nunca vão saber que fomos nós.

Petúnia arregalou os olhos.

— Válter! Isso é desumano! Posso não gostar da minha irmã, mas jamais deixaria uma criança solta na rua, ainda mais se fosse filho dela! Sem falar que ele poderia ser encontrado por criminosos, poderia virar um criminoso, ou até então morrer! Pode falar o que quiser, Válter, mas não posso deixar ele morrer! Esqueceu da carta? Tem uma proteção invisível contra qualquer coisa maligna! Talvez possamos ser protegidos daqueles metidos dos Johnson...

Válter pensou um pouco, acariciando o bigode. Achava que estava sendo um pouco animal naquele momento com esses pensamentos.

— Petúnia, não podemos deixar esse garoto com anormalidades! Pode ser uma ameaça para nós! O que os vizinhos vão pensar?

Petúnia também se importava com o que os outros pensariam. O garoto no seu colo continuava dormindo pacificamente, as bochechas avermelhadas. Olhou para ele, demorando-se na cicatriz.

— Olha, acho que se ele não souber o que é de verdade, talvez não comece com anormalidades... — disse Válter, olhando para o menino.

— Minha irmã era anormal mesmo sem saber o que era... — retrucou Petúnia.

— Talvez se a gente reprimir ele...

— Válter! — disse indignada.

— Mas é, Petúnia! Se formos maus com ele talvez ele não apresente essas... anormalidades!

— Válter, isso é querer maltratar o garoto! Isso é desu...

— Petúnia, você quer que os vizinhos vejam esse garoto fazendo coisas estranhas? Você quer que pensem que somos loucos e que criamos uma aberração em casa?

— E se ele se voltar contra nós?

— Aí batemos nele! Ele não saberia o que está fazendo! Não conseguiria fazer de novo! Você não gosta da sua irmã! Essa seria sua chance de vingança, Petúnia!

— Válter! — exclamou ela indignada.

— É sua única chance! Os vizinhos não podem saber que criamos uma aberração! Quem sabe assim tiramos toda a anormalidade dele...

Petúnia entrava num dilema. Podia vingar-se da irmã finada maltratando o filho dela, mas também achava desumano ter de fazer isso com uma criança. Por outro lado, não podia deixar os vizinhos verem o garoto fazer coisas estranhas.

— Acho que você está certo, Válter...

Os olhos miúdos dele foram espremidos por suas bochechas risonhas.

— Arranje um lugar para ele dormir! — disse ele.

— Ele veio neste cesto aqui... — disse ela, pegando o cesto. — Mas talvez a gente pudesse deixá-lo no berço do...

— Deixe-o dentro do cesto mesmo. — interrompeu ele. — Com o Duda ele não vai ficar!

Petúnia assentiu com a cabeça, deixou-o no cesto e o pôs em cima da mesa. Incrivelmente o bebê não acordou durante toda a conversa entre os dois. Válter começou a subir as escadas para dormir no quarto.

Com pesar ela olhou para o pequeno sobrinho de cabelos pretos com a horrorosa cicatriz na testa. Tinha de ver se Duda estava bem, então deixou o garotinho lá, apagou a luz, e foi ver o filho no berço.

Duda estava bem rechonchudinho, dormindo com os miúdos olhos cerrados. Parecia uma miniatura de Válter, exceto pelos cabelos louros. Acariciou o rosto do filho e decidiu dormir então.

A partir deste dia, a vida de Harry Potter nunca mais foi a mesma.