Os olhos acinzentados observavam o corpo pálido e sem vida dentro do caixão ao longe. Os óculos ligeiramente tortos pela ponte no nariz, os cabelos, como sempre, bagunçados. Mas o sorriso zombeiro não brincava mais em seus lábios, sendo substituído por uma expressão de paz. Ao seu lado, os mesmos olhos só conseguiam enxergam o cabelo ruivo se destacando nas roupas negras.
Fechou os olhos e sentiu a brisa de inverno atingir seu rosto. Ouviu, graças a sua audição aguçada, o padre trouxa dizer as últimas palavras e mandarem abaixar os dois caixões negros. As folhas voavam divertidamente em direção ao nada e as árvores, graciosamente.
Sentiu o puxão na garganta e o nariz queimando. Levou as mãos até o bolso da calça azul-marinho e fechou os dedos em volta do objeto delicado. Tirou lentamente e, sem abrir os olhos, analisava-o atentamente com as mãos. O vento bagunçava seu cabelo negro diante de seu rosto branco. Apertou os dedos sobre o cabo.
- Por favor, Prongs. Por favor. - implorou em um latido rouco, passeando os dedos pela textura gelada.
Abriu os olhos e encarou o espelho. Procurou os olhos castanhos ou, até mesmo quem sabe, os verdes-esmeralda, em todos os ângulos possíveis. Os únicos olhos que lhe encaravam de volta eram os cinzentos sem brilho. O soluço saiu pela garganta e a força de controlar a dor era quase insuportável. Deixou o pequeno espelho de mão escorregar por entre os dedos compridos em direção a grama verde.
Piscou novamente com força e observou jogarem a terra por cima dos caixões. Seus olhos ardiam e as lágrimas salgadas estavam quase saltando para fora, mas encarou o céu, tentando fazê-las voltar. Não gostava daquela sensação. A sensação de vazio, solidão, que há tanto tempo não sentia. Passou as mãos pelos fios emaranhados do cabelo e observou as poucas pessoas se afastarem em direção a saída do cemitério. Não podia, simplesmente não podia. Direcionou seu olhar aos seus pés e viu apenas a si mesmo no espelho.
E Sirius Black chorou.
