until the very end
Sinopse: Em que sete livros são enviados para sete pessoas do passado e elas precisam deixar suas diferenças e preconceitos de lado para, quem sabe, terem a chance de mudar seus destinos trágicos.
"Encerro esta carta com meus melhores sentimentos, esperando que todos deem a si mesmos a oportunidade de uma vida melhor. Com amor, H.J.P"
PRÓLOGO
[03 DE FEVEREIRO DE 1980]
Lily estava meio zonza.
Seu estômago revirava, seu corpo inteiro tremia e suor frio escorria por suas têmporas e costas, fazendo-a sentir-se pegajosa e nojenta enquanto se recostava contra os azulejos frios do banheiro de seu quarto.
Não era uma sensação muito boa e, para seu horror, parecia se tornar a cada dia mais recorrente. Nas últimas semanas, tudo o que Lily fazia do momento em que acordava até a hora de dormir era sentir-se nauseada ou então muito, muito cansada. Às vezes, as duas coisas ao mesmo tempo.
Era enervante não ter controle sobre seu próprio corpo e, apesar de ouvir James queixar-se diariamente sobre como ela estava sendo irresponsável por não ir a algum curandeiro para ver se estava com alguma virose mágica, Lily tinha medo do que descobriria caso fosse.
Ela não era estúpida, é claro. Portanto, mesmo que se recusasse a acreditar, tinha muitas desconfianças do que aqueles enjoos e sono excessivo poderiam significar. Lily ouvira Petunia queixar-se várias vezes meses atrás, enquanto ajudava – de muita má vontade e apenas por insistência de sua mãe – com os preparativos para seu casamento, não ouvira? E, algumas semanas depois, descobriu-se que o motivo de todo aquele enjoo era, na verdade, um pequeno humano crescendo em seu ventre.
Lembrava da expressão extasiada de sua mãe ao contar para ela, lembrava do quanto Helena Evans havia ficado feliz em saber que, mesmo estando no fim de sua vida – acometida por uma doença que nem mesmo os melhores feitiços e poções de Lily puderam curar – talvez fosse capaz de ver uma de suas filhas se tornar mãe.
E não era irônico que, se o destino fosse cruel como parecia a Lily naquele momento, Helena conseguisse ver tudo em dose dupla?
Colocando a cabeça entre as pernas, Lily fechou os olhos e tentou controlar a respiração, inspirando e expirando longa e continuamente, deixando o ar entrar em seus pulmões até doer e então soltando-o lentamente, focando apenas nisso e nada mais, sabendo que se deixasse sua mente vagar por tais pensamentos acabaria passando mal novamente.
Uma batida suave na porta fez com que ela finalmente erguesse a cabeça.
— Lily? — A voz de James soou abafada através da madeira da porta. — Está tudo bem?
— Sim. — Ela disse, mas sua voz saiu fraca, então limpou a garganta e repetiu: — Sim, James. Está tudo bem. Decidi tomar um banho, por isso estou demorando.
— Certo... — James parecia preocupado e Lily se odiava por ser a causa daquilo, mas, infelizmente, naquele momento não se sentia pronta para contar a ele o que a estava corroendo há semanas. — Quando sair me encontre na sala. Recebemos uma mensagem bastante... esquisita.
Franzindo o cenho, Lily ergueu-se sem muita dificuldade do chão – o tremor, assim como o enjoo, havia passado em sua maior parte, então ela estava firme o suficiente para ficar em pé.
— Ok. Já estou indo. — Ela disse e então ouviu os passos do marido se afastarem.
Marido.
Faziam três meses desde que haviam casado e, ainda assim, Lily sentia as bochechas esquentarem toda vez que pensava que, agora, ela era a Sra. Potter.
Meneando a cabeça e sorrindo para seu reflexo pálido no espelho, Lily decidiu que realmente tomaria um banho, afinal precisava limpar-se de todo aquele suor e, quem sabe, a água quente pudesse ajudá-la a criar coragem de dizer a James o que estava com medo de admitir até para si mesma.
Vinte minutos depois, Lily desceu as escadas, os cabelos úmidos presos em um coque no alto da cabeça e vestindo vestes azul-marinho que lhe davam um ar sério.
— James? — Ela o chamou, sorrindo ao deparar-se com o marido no chão, sendo praticamente sufocado por um grande cão negro e peludo. Em pé próximo a eles encontrava-se um Remus Lupin de aparência cansada, mas sorridente. — Remus! Sirius! Não esperávamos vocês até terça! Está tudo bem? Como foi a missão?
O grande cão negro finalmente se afastou de James, correndo até Lily e lambendo-a no rosto com extravagância antes de se afastar e retomar sua forma humana. Sirius piscou inocentemente para Lily que limpava o rosto melecado e o encarava com uma expressão de carinho irritado.
— Ocorreu tudo como sempre. — Remus disse, por fim, após ir até Lily e abraçá-la. — Não descobrimos absolutamente nada.
— É como se eles sempre estivessem um passo à frente, como se soubessem o que planejamos fazer. — Sirius suspirou e soltou-se sobre o sofá como se estivesse em casa. O que não era mentira. — Estou a cada dia mais desconfiado de que temos um espião entre o alto escalão da Ordem.
— Mas quem poderia ser? — James, que se erguera do chão e sentara ao lado de Sirius, franziu o cenho. — Quero dizer, confio minha vida a cada um de vocês.
— Eu também, Prongs, mas talvez devêssemos começar a ser mais seletivos com nossa confiança. Não há outra explicação para nunca conseguirmos pegá-los no último mês, exceto se estiverem sendo informados sobre o que pretendemos fazer com antecedência. — Remus disse e a nota de frustração era evidente em sua voz.
Sentindo um tremor percorrer pelo corpo diante do silêncio soturno que recaiu sobre os quatro, Lily suspirou e caminhou até uma das poltronas vazias.
— Ou, talvez, eles desconfiem de nossos informantes e estejam dando a eles informações erradas para nos despistar. — Ela deu de ombros e, embora a ideia fosse, no mínimo, muito impossível dado ao fato de que os informantes eram secretos para a maior parte da Ordem e apenas Dumbledore conhecia a identidade de todos, era preferível pensar assim do que acreditar que havia um traidor entre eles.
— Pode ser. — Sirius disse e então deu de ombros. — De qualquer forma, não é por isso que estamos aqui. Estava falando com James através do espelho quando recebemos a mesma mensagem estranha.
— Oh? Ah, sim, James comentou sobre isso... o que é isso? — Lily indagou, encarando-os com a expressão curiosa.
— Um patrono. De Dumbledore. — Remus respondeu. — Ele nos pediu para nos dirigirmos até o Departamento de Mistérios hoje às sete horas da noite.
— Mas o ministério está fechado hoje, não? É Domingo. — Lily franziu o cenho, confusa.
— Bem, não sei, mas a mensagem foi clara. — Sirius disse.
— E ele ainda adicionou que não poderíamos contar para ninguém sobre isso. — James comentou e então ergueu-se do sofá, caminhando até a janela e observando o povoado de Godric's Hollow com atenção. — Vocês acham que Peter vai demorar muito para chegar?
— Bem, ele estava em uma missão também, não é? — Lily comentou. — Talvez ele apareça mais tarde ou então vá direto para o Departamento.
— Eu sempre quis conhecer o Departamento de Mistérios. — Sirius disse, olhos cinzentos brilhando de curiosidade. — Nenhum Inominável me contou o quê, de fato, havia lá.
— É por isso que é chamado Departamento de Mistérios, Sirius. — Remus rolou os olhos para ele, recebendo um bufo em resposta.
— Ok, bem, vocês acham que devemos ir? — Lily perguntou, olhando para o relógio e percebendo que eram seis e vinte da tarde.
— Se sairmos agora, podemos comer alguma coisa naquele pub trouxa perto da entrada para visitantes do Ministério. Eles têm o melhor hambúrguer que já comi na vida. — Sirius disse e seus olhos brilhavam de contentamento ao pensar na comida.
Balançando a cabeça para o amigo, Lily o conhecia bem o suficiente para saber que, além dos amigos, comida era a única outra coisa que importava para ele.
— Certo, Padfoot. — Remus rolou os olhos para ele e James riu.
— Você vai ir com essas vestes, Lily? — James perguntou, olhando para a esposa com adoração nos olhos. — Não que você não esteja perfeita como sempre — Sirius fingiu vomitar ao ouvir isso, fazendo Lily bufar para ele. — Mas será que não seria melhor usar algo mais... trouxa?
— Hm. Você tem razão. — Lily sorriu para James e então voltou a subir as escadas em direção ao quarto. Pegando uma de suas calças jeans antigas e uma camiseta preta e larga que ela tinha certeza que uma vez pertencera a Sirius (dizia "minhas mãos são mágicas"), trocou-se e voltou para a sala, recebendo um assovio de Sirius como resposta.
— Sempre me perguntei onde minha camiseta havia parado. — Sirius disse e então piscou para Lily. — Nada mal em você, ruiva, embora em mim fique melhor.
— Idiota. — Lily murmurou para ele, recebendo mais um sorriso ofuscante como resposta.
— Certo, vamos lá. Temos tempo de aparatar perto do pub que o Sirius falou e depois entrarmos pela entrada de visitantes. — James disse enquanto olhava para o relógio.
Os quatro saíram da casa, que era bem protegida, e caminharam mais alguns quarteirões até estarem perto do cemitério local. Olharam para os lados e, depois de conferirem se não havia ninguém por perto, aparataram ao mesmo tempo.
Severus encarava o local onde o Patrono havia acabado de aparecer com medo.
Ele sempre soube que a Ordem da Fênix possuía um método bastante peculiar de comunicação, mas nunca pensou que o próprio Dumbledore usaria para se comunicar com ele. Ainda mais depois do que acontecera no final de semana anterior.
Somente lembrar do que ouvira e do que aquilo representava para a ascensão do Lorde das Trevas fazia com que sentisse calafrios percorrerem por seu corpo.
Aberforth Dumbledore o encontrara e, é claro, o colocara para fora do pub antes que terminasse de ouvir, mas era o suficiente para que, ao informar o Lorde sobre o que ouvira, recebesse grandes honras por dar a ele uma informação tão importante.
Severus sabia que deveria estar eufórico por conta daquilo, mas não conseguia deixar de sentir uma agitação no estômago toda vez que pensava na profecia, como se houvesse alguma coisa que estava perdendo... alguma coisa que o fazia sentir-se enervado e ansioso... como se algo muito grande estivesse prestes a acontecer.
O fato de ter recebido o patrono de Dumbledore com uma mensagem bastante esquisita era apenas o suficiente para deixa-lo ainda mais com os nervos à flor da pele.
"Dê uma chance para o seu futuro, Severus. Venha ao Departamento de Mistérios hoje, às sete horas da noite. Tem a minha palavra de que nada de ruim lhe acontecerá"
Severus não sabia o que pensar sobre isso, exceto que, provavelmente, deveria ser uma armadilha para tentar capturá-lo. Por outro lado, talvez fosse a oportunidade que precisava para, quem sabe, descobrir mais informações sobre a Ordem e, assim, levá-las para seu mestre.
E Dumbledore dera sua palavra...
E, apesar de odiar o apego do homem pelos nascidos trouxas e por ele ser o maior inimigo do Lorde das Trevas, Snape sabia que Dumbledore era um homem de palavra.
Suspirando, Severus colocou sua capa negra sobre as vestes e, sem olhar para trás, saiu de sua pequena casa para a Rua da Fiação e, de lá, aparatou para a entrada do Ministério da Magia.
Alice e Frank estavam terminando de fazer um relatório sobre sua última missão para Moody, o Chefe do Departamento de Aurores, quando receberam a mensagem.
Eles, é claro, estavam acostumados com isso, afinal fazia mais de três anos que eram parte da Ordem da Fênix, portanto ver a grande fênix prateada de Albus Dumbledore irromper pela janela de seu escritório em casa e dizer, com a voz grave do bruxo, que deveriam se encontrar no Departamento de Mistérios ainda aquela noite não foi assim tão perturbador.
— Você acha que pode ser algo sério? — Frank indagou, observando a esposa, que tinha a barriga levemente proeminente por conta da gravidez recém descoberta, andar de um lado a outro da sala procurando por alguma coisa.
— O que não é sério nos últimos dias, não é mesmo? — Ela disse e então suspirou, finalmente tendo achado o que procurava: sua poção para enjoos. — Bem, devemos nos apressar se não quisermos chegar atrasados.
— Imagino que deva ser algo sério, afinal nunca fomos convocados para o Departamento de Mistérios antes. Quero dizer, você já entrou lá alguma vez? — Frank perguntou enquanto ajudava a esposa a descer as escadas de casa (o que fez com que ela rolasse os olhos porque "eu não estou inutilizada, Frank").
— Nunca. Mas sempre tive curiosidade. — Alice sorriu para o marido. — Quem sabe possamos descobrir o que, de fato, um Inominável faz.
— Isso e o que Dumbledore pode querer nos levando até lá.
— Mais uma missão, imagino. — Ela disse e então deu de ombros. — Vamos, está quase na hora.
Dumbledore caminhava de um lado para o outro em frente a porta preta e simples que o levaria até o Departamento de Mistérios.
Ele aguardava com impaciência para que os convidados chegassem e, assim, pudesse dar início ao que, provavelmente, seria a missão mais assustadora de sua vida. E ele sequer participaria dela...
No que pareceu serem horas depois – mas que eram apenas minutos – Frank e Alice Longbottom apareceram no fim do corredor, ambos parecendo curiosos ao encararem Dumbledore.
— Olá, Albus. Tudo está bem, espero? — Alice cumprimentou-o, sorrindo levemente, embora houvesse preocupação em sua expressão.
— Sim. Bem, por enquanto sim. Depois que nossos outros convidados chegarem não terei tanta certeza...
— Outros...? — Frank começou a perguntar, mas então o som de mais pessoas se aproximando fez com que se calasse.
— Frank! Alice! Oh meu Merlin, você está a cada dia mais linda! — Lily, que estava acompanhada de James, Sirius e Remus, sorriu para os aurores, indo até cada um deles para dar-lhes um abraço cordial e olhar de forma apaixonada para a barriga de Alice antes de voltar-se para Dumbledore. — Albus, tudo bem?
— Sim...
— O que diabos você está fazendo aqui? — A voz de Sirius soou alta e enraivecida no final do corredor e, quando todos se viraram, curiosos para saber do que se tratava, ficaram chocados ao depararem-se com um muito pálido Severus Snape.
— Eu é que pergunto o que vocês estão fazendo aqui? — Snape praticamente cuspiu as palavras, olhando de um para outro até seus olhos repousarem sobre Dumbledore. — Me chamou aqui para uma armadilha? Eu deveria ter desconfiado! — E ergueu a varinha, seus olhos estreitando quando Sirius, Remus e Frank fizeram o mesmo.
James e Alice, embora desconfiados, apenas observaram a cena enquanto Lily estava completamente petrificada. Encarava o homem que outrora fora seu melhor amigo sem acreditar. Ele estava... diferente. Os cabelos continuavam os mesmos, a pele continuava tão branca quanto sempre e suas vestes ainda eram largas o suficiente para esvoaçarem ao seu redor, mas seus olhos... seus olhos negros refletiam uma pessoa que Lily não reconhecia.
— Se acalmem, meninos. — Dumbledore disse com a voz professoral que impunha respeito. — Eu chamei, de fato, todos vocês aqui. Mas preciso que todos estejam vivos para que possamos prosseguir.
— Mas o que ele está fazendo aqui? Esse merda é um Comensal! — Sirius rosnou, a varinha ainda erguida em direção a Snape, que também estava na defensiva. — Nós ficamos no encalço dele tantas vezes e nunca conseguimos pegá-lo e agora está bem aqui, na nossa frente. Seria um desperdício, Albus.
— Tente. — Snape sibilou, os olhos tão semicerrados que pareciam fendas em seu rosto.
— Chega! — Dumbledore disse, a voz reverberando pelas paredes ao mesmo tempo em que as varinhas de todos os sete voavam para a mão do diretor. — Não estamos aqui para armar para ninguém, tampouco para nos atacarmos. — Mas o diretor tinha os olhos fixos em Snape, imaginando se fizera o certo ao chamá-lo até ali, principalmente depois do que ele certamente dissera a Voldemort...
— Então por que estamos aqui no meio da noite quando certamente não deveríamos estar? — Lily quem perguntou, atraindo o olhar de Snape até ela, estreitando os olhos de modo que ele imediatamente baixasse os seus, parecendo envergonhado.
— Por que, minha cara Lily, recebi esta manhã uma mensagem muito peculiar. — Os olhos de Dumbledore faiscaram com a lembrança e então ele olhou para cada um dos sete. — Era minha, vocês veem, mas não do meu eu atual e sim do meu eu do futuro.
Todos franziram o cenho ao ouvirem-no dizer aquilo. Sempre souberam que, apesar de ser um grande bruxo, Dumbledore tinha lá suas esquisitices, mas dizer que recebera uma mensagem do futuro era demais até mesmo para ele.
— Desculpe, mas o quê? — James indagou, externando os pensamentos de todos.
Meneando a cabeça, Dumbledore olhou para o relógio em seu pulso, percebendo que haviam passado vinte minutos das sete e que ele só tinha mais dez até levá-los ao destino escolhido pelo seu eu do futuro.
— Eu vou explicar a todos, mas precisamos nos apressar. Se vocês puderem, por favor, me seguir. — E então ergueu os olhos para Sirius que ainda encarava Snape com o ar desconfiado. — Sirius, eu entendo suas ressalvas contra Snape. Também tenho as minhas. Mas isso é importante. Ouso dizer, inclusive, que é mais importante que qualquer coisa que cada um de vocês tenha feito até hoje. E, lembre-se, estamos em maior número. Ele não ousaria tentar nada. Seria suicídio.
Parecendo satisfeito com o comentário de Dumbledore, Sirius caminhou até onde James e Lily estavam, colocando um de seus braços sobre o ombro dela de forma protetora.
James sorriu levemente para o amigo, sempre muito feliz ao ver a proximidade do homem que era como seu irmão e da mulher de sua vida.
Snape, por outro lado, encarava a cena enojado.
Ele soubera, é claro, que Lily casara com Potter no último Halloween, assim como soubera que Black fora o padrinho. Mas, apesar disso, ainda era doloroso vê-la tão próxima dos homens que ele odiara por quase metade de sua vida.
Fora isso, o fato de que estava realmente em menor número, como Dumbledore salientara, o deixava extremamente desconfortável.
— Você me deu sua palavra de que nada de ruim me aconteceria. — Ele disse, os olhos fixos sobre o bruxo. — Eu não quero mais estar aqui.
— Severus, talvez essa seja uma oportunidade que você não gostaria de perder. Há muito mais do que uma profecia lá dentro. — Dumbledore disse de forma enigmática, fazendo-o arregalar os olhos ao perceber sobre o que ele estivera se referindo. — Ouça primeiro. Se, após ouvir, quiser ir embora, não irei impedi-lo.
Snape manteve o olhar fixo sobre Dumbledore por alguns segundos, depois encarou cada um dos seis que o observavam com atenção. Imaginando que pareceria um covarde se desse as costas sem ao menos saber do que tudo aquilo se tratava, Snape assentiu.
— Bom. — Dumbledore disse então voltou-se para a porta, abrindo-a com suavidade e dando espaço para que todos entrassem.
Antes de entrar, entretanto, James parou à porta, franzindo o cenho e voltando-se para Dumbledore.
— E Peter? Ele foi chamado?
— Não, James. Somente vocês. — Dumbledore disse, fazendo com que James se perguntasse o que aquilo deveria significar, afinal Snape estava ali. Então por que Peter não estava?
Quando todos estavam dentro de uma sala circular e cheia de portas exatamente iguais, Dumbledore fechou a porta por onde haviam entrado, deixando em todos uma sensação de claustrofobia.
— Como saberemos por onde sair? — Remus perguntou, olhando para o diretor com curiosidade.
— Tenho meus truques, Remus. — Dumbledore disse gentilmente e então a sala começou a girar, embaralhando as portas e fazendo-as girarem de modo que fosse impossível reconhecer a saída.
— Você tem certeza? — Alice perguntou enquanto se firmava sobre o marido.
Lily, que se sentia extremamente nauseada após todo aquele giro, fechou os olhos e respirou fundo alguns instantes, rezando para que não acabasse colocando todo o conteúdo do estômago para fora.
— Sim, Alice. Vamos. Por aqui. — Dumbledore assentiu e então indicou uma das portas pretas idênticas.
Eles entraram por uma sala que tinha belas luzes que dançavam e cintilavam como diamantes. Quando os olhos de todos se acostumaram, eles puderam ver relógios de todos os tamanhos refulgindo em cada superfície. Eles tiquetaqueavam em conjunto, formando uma espécie de marcha. Dumbledore os guiou até o final da sala, onde um vidro alto se estendia e dentro do qual havia um minúsculo ovo que brilhava como uma joia. O ovo subia e, ao fazê-lo, se abria e dele saia um beija-flor que era jogado para o alto e, ao ser pego pela correnteza, voltava a molhar-se e amarrotar as penas até estar no fundo do vidro, dentro do ovinho minúsculo novamente.
— Impressionante. — Frank comentou, assombrado, observando o ciclo reiniciar.
— De fato. — Dumbledore concordou e então tocou no vidro, fazendo com que este se afastasse, dando espaço para uma parede muito branca onde havia apenas uma maçaneta dourada. O bruxo a puxou e, assim, a parede dissolveu magicamente, dando abertura para outra sala onde haviam poltronas confortáveis e numerosas o suficiente para uma sala de aula inteira. — Entrem.
Todos entraram e, assim que estavam do lado de dentro, a parede voltou a ficar branca com apenas a maçaneta dourada.
— Uau, isso foi-
— Incrível. — Sirius disse, mas não se referia à porta e sim as grandes quantidades de comida que haviam sobre uma mesa no canto direito da sala, quase tão farto quanto os de Hogwarts.
— Sirius! Você acabou de comer! — Lily resmungou para ele quando este pegou um pratinho de pudim.
— Bem, agora que estamos todos aqui, sentem-se, por favor, e deixem-me explicar-lhes o motivo de todos os sete estarem aqui.
Sirius, Lily e James sentaram-se lado a lado em um sofá de três lugares, sendo seguidos por Alice que ocupou a poltrona ao lado de James e Frank que sentou ao seu lado. Remus sentou-se numa das cadeiras fofas ao lado de Sirius e Snape preferiu continuar em pé.
— Certo. — Dumbledore disse quando todos estavam devidamente acomodados (e lançando um olhar esquisito para Snape), e então puxou um frasquinho de seu bolso. — Recebi esta lembrança hoje de manhã e, desde então, estive preparando tudo para poder receber os senhores. Como sabem, o Ministério está cheio de espiões e, por conta disso, tive de fazer alguns malabarismos a fim de manter todos afastados hoje-
— Mas é Domingo. O Ministério não abre hoje. — Remus comentou.
— Você está certo, Remus, porém o Departamento de Mistérios é... como um mundo à parte. — Dumbledore comentou. — De qualquer forma, nós não precisaremos de muito tempo, afinal esta sala é dotada de um poder bastante peculiar.
— Que seria? — Sirius perguntou e voltou a olhar a sala com desconfiança.
— O tempo passa diferente aqui, Sirius. Muito mais lento. Poderíamos passar uma semana, um mês aqui e, ao sairmos, teria se passado apenas uma hora no tempo normal.
— Uau. Isso sim é incrível. — Lily comentou, assombrada. — Como é possível?
— Não saberia explicar com precisão, Lily, mas os trabalhadores desse setor são especialistas em estudos sobre o tempo, assim como são os responsáveis pela fabricação de vira-tempos. Imagino que deva haver um tipo de magia parecida nesta sala. — Dumbledore disse e então suspirou. — Como estava dizendo, recebi esta lembrança de manhã e gostaria muito que todos assistissem-na comigo novamente. Acredito que irá explicar muitas coisas.
E, dizendo aquilo, Dumbledore conjurou uma bacia de pedra, não tão bonita quanto a que tinha em seu escritório, mas boa o suficiente para utilizar na lembrança. Virando o conteúdo do frasco, Dumbledore depositou a bacia numa mesinha em frente aonde todos estavam sentados – e Snape em pé – e indicou para que todos se adiantassem.
— Tenham a bondade. — Disse, pedindo para que todos tocassem no conteúdo da penseira e, assim fossem transportados para a lembrança.
James e Sirius foram os primeiros, seguidos por Lily, Alice e Frank. Remus foi logo em seguida e então Snape, que estava parado a alguns passos de distância, ergueu os olhos para Dumbledore, desconfiado.
— Por que me chamou aqui?
— Não faço ideia, Severus. Mas espero que o fato de que alguém no futuro ter decidido que você deveria estar aqui signifique alguma coisa boa. — O tom de voz de Dumbledore era triste e profundo e fez com que Snape baixasse os olhos e franzisse os lábios antes de finalmente tocar na lembrança.
Se encontravam em uma sala muito conhecida de todos – James e Sirius principalmente, afinal foram muitas as vezes que visitaram a sala do diretor até o quinto ano – e, sentado de forma displicente contra a grande cadeira atrás da escrivaninha, um Albus Dumbledore vários anos mais velho sorria para eles.
— Por Merlin, o que houve com a sua mão? — Lily perguntou apontando para onde as mãos de Dumbledore descansavam sobre a mesa, uma delas estava enegrecida e enrugada.
— Não saberia dizer, Lily. — O Dumbledore atual murmurou, embora não parecesse muito preocupado. — Vamos ouvir.
— Olá. — O Dumbledore do futuro disse. — Presumo que deva ser chocante para os senhores estarem me vendo assim, fora do nada e certamente muito mais velho, mas preciso que entendam que o que estou fazendo é de suma importância. Se essa lembrança chegou até vocês, foi porque alguém muito importante em meu tempo assim o decidiu fazer. Não sei quais pessoas ele escolheu, embora certamente possa adivinhar algumas delas. — O bruxo coçou a longa barba, os olhos azuis brilhando pensativamente atrás dos oclinhos de meia-lua. — O futuro é tenebroso e nefasto. E, embora tenhamos vencido algumas batalhas até agora, tenho medo do que os próximos meses nos reservam. A guerra não deve durar muito mais, os sinais são claros e estamos caminhando para um fim bastante trágico, independente de quem vença. A nossa sorte é que temos alguém batalhando incansavelmente por nós e, embora eu esteja dando meu melhor para ajudá-lo, não estarei aqui por muito tempo. — Dumbledore lançou um olhar esquisito para a mão enegrecida, parecendo perdido em pensamentos. — De qualquer forma, vocês devem saber que essa lembrança é antiga até para o meu tempo. Estamos em 1997 agora, mas é bastante provável que isso seja enviado alguns anos mais tarde, talvez 1998 ou 1999, que, acredito eu, será quando a guerra acabará seja para o bem ou para o mal.
"Espero não estar lhes confundindo muito com toda essa falação, mas preciso explicar-lhes que, embora a ideia inicial tenha sido minha, eu não sou o responsável pelo envio deste conteúdo. Deixei uma mensagem para ser encontrada depois que eu morresse – o que, como disse, não demorará muito – e, junto dela, uma outra, para o possível responsável do envio para vocês. Nela continha informações sobre feitiços e encantamentos que deveriam ser utilizados para este processo, assim como algumas informações sobre como o envio deveria ser feito e como tudo deveria ser organizado"
"Vocês devem estar no Departamento de Mistérios agora, assim como a carta enviada ao meu eu do passado dizia. E estão nessa sala específica, pois sua magia é atemporal e é capaz de transportar e guardar informações mesmo através de anos. É desta forma que vocês irão receber o que lhes foi preparado e, espero, possam ter mais sorte no futuro depois disso — Dumbledore sorriu, por fim, embora seus olhos estivessem ligeiramente lacrimosos. — Todos sabem que mexer com o tempo é perigoso, eu mesmo sempre fui muito rígido sobre isso, mas gostaria de pensar que temos alguma chance e que, mesmo que percamos agora, talvez, com a informação passada a vocês e se esta for utilizada de forma correta, possamos ter esperança de que nem tudo estará perdido"
A lembrança acabou e, assim, todos voltaram, zonzos, para a sala das poltronas. As expressões eram todas muito parecidas, contendo preocupação, confusão e, por vezes, frustração.
— Certo... será que eu fui o único que ficou mais confuso depois de ver essa lembrança? — Sirius foi o primeiro a se manifestar e alegrou-se ao perceber que todos concordavam. — Desculpe, Dumbledore, mas como pode ter certeza de que esta lembrança é, de fato, verdadeira?
Dumbledore, que parecia estar esperando uma pergunta como aquela, sorriu antes de puxar um pergaminho e uma pena longa e avermelhada do bolso das vestes.
— É de Fawkes e, vocês devem saber, é impossível clonar uma pena de fênix. — Ele disse com conhecimento e então esticou o pergaminho para eles, o qual Lily pegou e abriu para que pudesse ler em voz alta.
A letra era pequena e redondinha, diferente da inclinada e rebuscada de Dumbledore.
"Caro Professor Albus Dumbledore,
Se está recebendo esta carta, provavelmente já assistiu as duas lembranças enviadas ao senhor. Uma delas – que deve ser assistida apenas pelo senhor – com as informações sobre as pessoas que deveria chamar e o local onde deveriam se encontrar e, a outra, explicando os motivos pelo envio de tudo isso.
Este pergaminho está sendo enviado do ano de 1999, dois anos após o senhor ter nos deixado. Não poderei lhe informar as condições de sua morte, mas quero que saiba que ela foi honrosa e de acordo com suas vontades e crenças. Espero que essa informação não seja chocante para o senhor, mas como sua lembrança mesmo havia dito, o senhor não tinha tanto tempo e, no pouco que tinha, deu o seu melhor para lutar contra as forças das trevas.
No futuro, não houveram ganhadores. Ambos os lados perderam. Ambos os lados sofreram. E ambos os lados foram derrotados. A dor e a tristeza ainda são sentidas por todos e provavelmente será assim até o final de nossas vidas. Ganhar perde o sentido quando aqueles que amamos são tirados de nós.
E é por este motivo que, junto de outras pessoas diretamente ligadas a tudo o que aconteceu, tomamos a decisão de seguir a vontade do seu eu do futuro e lhe enviar tudo isso.
As pessoas que chamamos são importantes e, em muitos momentos, foram cruciais em nossas escolhas. Todas elas cometeram erros, mas todas acertaram muito também. Não temos qualquer poder sobre julgamentos divinos ou o que quer que você acredite, mas nós achamos que estas pessoas deveriam ter a oportunidade de lutar pelo destino delas e, quem sabe, mudá-los para melhor.
Nesta sala onde você, Albus, e todos os outros se encontram, sete livros irão aparecer. Foi-se utilizado um feitiço de impressões que, ao ser lançado sobre mim, transformou minha trajetória em uma história que pode ser lida e compreendida pelas pessoas que foram chamadas até aí.
Peço que tenham paciência e que não façam pré-julgamentos, pois existem muitas coisas que podem ser mal interpretadas e que certamente não são o que parecem. Tenham fé de que, se estão aí e estão juntos, é porque merecem estar.
Portanto, Lily e James Potter, Alice e Frank Longbottom, Remus Lupin, Sirius Black e Severus Snape, espero que aproveitem essa oportunidade e que sejam capazes de deixar suas diferenças de lado a fim de lutarem por um futuro melhor, tanto para vocês quanto para o mundo bruxo.
Com amor,
H.J.P"
Assim que Lily terminou de ler a carta, sete livros apareceram magicamente sobre a mesinha ao lado de onde a penseira improvisada de Dumbledore estava repousada.
Eles eram pretos e não havia nada escrito em suas capas, exceto números de 1 ao 7, indicando sua ordem cronológica. Acima deles, porém, havia outro pergaminho.
Desta vez, foi Frank quem o pegou.
Na mesma letra da carta anterior, esta tinha instruções de como a leitura deveria ser feita.
"Olá novamente, Sr. e Sra. Potter, Sr. e Sra. Longbottom, Sr. Lupin, Sr. Black e Sr. Snape.
Aqui tenho algumas instruções para o caso de vocês decidirem se aventurar pelo futuro e dar uma chance de compreenderem coisas que, até então, não possuem conhecimento.
Os livros abaixo representam cada um dos anos a serem contados de minha trajetória até pouco antes do envio desta carta. Sei que parece bobagem e que pode parecer muito narcisismo de minha parte querer que vocês saibam sobre o que vivi, mas, infelizmente, minha história começa e termina com Voldemort e sua ascensão ao poder e todos vocês estão diretamente ligados a isso.
É de suma importância que todos entendam as complexidades e possíveis perigos de conhecer o futuro: talvez os enlouqueça, talvez os deixe desesperançados, talvez faça com que duvidem de si mesmos, talvez os faça odiar pessoas que, até então, eram importantes. Mas sempre há a possibilidade de que, talvez, possa ajudá-los a tomar melhores decisões e, assim, moldar o futuro de vocês e de centenas de outras pessoas de um modo muito mais digno.
Os livros e os capítulos não possuem nomes porque são impressões de quem eu sou e dos acontecimentos que me moldaram e o mundo ao meu redor. Eles estão em ordem cronológica e sua leitura só poderá ser feita em sequência, pois os novos capítulos só irão aparecer após a leitura do anterior.
Vocês não são obrigados a lê-los e qualquer um pode desistir no momento em que quiser, entretanto devem estar avisados que se desistirem antes do término dos sete livros, perderão todas as lembranças do que foi lido para que não aja mudanças inconsequentes no futuro e para que informações não sejam repassadas a outrem.
Dito isto, também devo lhes informar que, apesar de vocês terem em mãos vários livros com uma história bastante precisa e rica do futuro, ao terminarem a leitura, não serão capazes de lembrar de tudo.
Sei que parece ilógico fazer com que todos leiam sete livros inteiros e que no final não possam recordar de tudo, mas, como disse anteriormente, mexer com o tempo é perigoso e existem algumas coisas que não podem ser mudadas sem que desastres aconteçam.
Um desses exemplos é que o meu destino é e sempre deverá ser ligado ao de Voldemort.
Nenhuma das ações que vocês tenham pode interferir nisso, pois desta forma a balança que equilibra o mundo poderia ser quebrada e, assim, consequências muito piores do que Voldemort poderiam ser acarretadas.
Cada um de vocês poderá escolher sete informações/lembranças que não serão apagadas ao saírem desta sala e, assim, utilizá-las como melhor quiserem no futuro.
Vocês não esquecerão que estiveram nesta sala e que estiveram juntos, assim como lembrarão de tudo, inclusive do texto desta carta e de todo o resto até o momento em que começarem a ler.
A leitura de todos os livros é imprescindível para que vocês possam compreender o todo e, assim, decidir o que acham ser indispensável e o que pode ser esquecido.
Sei que parece complicado e não muito justo, mas isso é o máximo que podemos oferecer sem que mudanças catastróficas sejam causadas.
Se decidirem prosseguir com a leitura, não deixem que a preocupação com as lembranças escolhidas faça com que não prestem atenção na história como um todo. Tenho certeza de que, quando finalizarem a leitura, saberão em seus corações o que devem levar consigo quando saírem desta sala.
Para finalizar, devo avisá-los que, se decidirem iniciar a leitura, devem fazer um Voto Perpétuo – com Dumbledore como Avalista – afirmando que, enquanto estiverem dentro desta sala, não atacarão ou tentarão machucar qualquer um dos integrantes deste grupo. Deverão jurar que, enquanto estiverem aí, dentro desta sala, nenhum preconceito passado ou que possa vir a surgir com a leitura fará com que batalhem entre si.
Encerro esta carta com meus melhores sentimentos, esperando que todos deem a si mesmos a oportunidade de uma vida melhor.
Com amor,
H.J.P"
Ao finalizar a leitura da carta, um silêncio tenso recaiu sobre eles. Todos voltaram-se para Dumbledore que tinha uma expressão enigmática estampada em seu rosto.
— Isso foi...
— Louco. — Snape disse, fazendo com que todos virassem para encará-lo. — Isso é ridículo, é o que é. Achei que poderia ser uma armadilha, mas, honestamente, isso é ainda pior. Mudar o futuro? Com eles? — E indicou James, Sirius e Remus. — Seria melhor mudar o passado de modo que nenhum deles existisse.
— Bem, não posso deixar de concordar que gostaria muito de mudar a sua existência, Snape, fazendo com que ela não acontecesse, mas, infelizmente não fomos agraciados com essa oportunidade única. — Sirius retrucou, odiando o fato de que estava sem sua varinha e não podia atacá-lo.
— Sirius... — James cutucou o amigo, lançando um olhar penetrante para ele. — Talvez devêssemos lembrar o que dizia a carta: nenhum lado venceu na guerra. Houveram muitas perdas. Talvez seja, de fato, uma loucura pensar que podemos mudar o futuro, mas, ainda assim, é uma grande oportunidade.
— James tem razão, é claro. — Dumbledore disse, voltando a atenção de todos para si. — Essa é uma grande oportunidade. Não vejo porque não a aproveitar, Sr. Snape. — E voltou-se para o homem, encarando-o seriamente. — Como disse a carta, você pode desistir quando quiser.
— E esquecerei tudo se o fizer-
— Estava querendo levar informações privilegiadas para o milorde, Snape? — Frank foi quem resmungou, encarando o homem com reprovação.
Snape apenas estreitou os olhos, recusando-se a responder e fazendo com que todos ficassem quietos e tensos.
Foi Lily quem quebrou o silêncio.
— Não vejo porque não darmos uma chance e ler os livros. Já estamos todos aqui e, como Dumbledore disse, esta sala é como um mundo à parte. O tempo passa diferente aqui, portanto, mesmo que fiquemos e encerremos a leitura dos sete livros, pouco tempo terá passado do outro lado da porta. — E então ela voltou seus olhos para Snape, encarando-o diretamente nos olhos pela primeira vez em muito tempo. — Ninguém vai te atacar ou te machucar enquanto estiver aqui. Você vai poder sair quando quiser. A menos, é claro, que seja tão insuportável estar na mesma sala que uma sangue-ruim, aí você pode ir embora agora mesmo se quiser. — Seus olhos verdes faiscavam, cortantes, enquanto observava as bochechas de Snape ficarem rosadas.
— Isso não foi o que eu quis dizer, Lily, você-
— Ótimo. Então, novamente, não vejo porque não possamos dar uma chance e ler os livros. — Ela o interrompeu, convicta.
Snape a encarou por mais alguns instantes, sério, avaliando a situação.
Ele sabia que Lily nunca o perdoara pelo que falara no quinto ano, assim como sabia que ela estava furiosa com ele por ter decidido se tornar um comensal. De todas as coisas difíceis que havia feito por servir o Lorde das Trevas, estar longe de Lily e ter seu desprezo era a pior delas.
Talvez, ele pensou, se ficasse, pudesse reconquistar, ao menos um pouco, a confiança de Lily. E, quem sabe, algo mais.
— Tudo bem. — Ele assentiu e então desviou o olhar da garota, voltando-se para Dumbledore. — Ficarei para a leitura.
— Eu também. — Sirius, James e Remus disseram ao mesmo tempo.
— Nós também. — Alice disse, indicando ela e Frank que assentiu.
— Sim. — Lily concordou.
— Bem, então, por favor, unam suas mãos para que possamos fazer o Voto Perpétuo. — Dumbledore indicou para que se aproximassem e, embora receoso, Snape colocou sua mão sobre todas as outras que se uniam em um semicírculo enquanto Dumbledore posicionava sua varinha sobre elas. — Vocês juram que, independentemente dos preconceitos passados, não irão se atacar ou machucar enquanto estiverem nesta sala?
— Juramos. — Todos disseram ao mesmo tempo em que uma fina língua de fogo saía da varinha de Dumbledore e enrolava-se entre as sete mãos unidas.
— Vocês prometem que, enquanto estiverem aqui, não deixarão quaisquer informações contidas nos livros impulsioná-los a atacarem ou machucarem uns aos outros?
— Prometemos. — Uma segunda língua reforçou a primeira, formando uma corrente fina e luminosa.
— E, por fim, vocês afirmam que, se finalizarem a leitura, utilizarão as lembranças escolhidas para um futuro melhor?
— Afirmamos. — E, assim, a terceira e mais forte das línguas de fogo surgiu da varinha de Dumbledore, enrolando-se sobre as outras, fechando-se em torno das mãos como uma serpente de fogo, selando, assim, o Voto Perpétuo.
Quando o fogo apagou, Snape se afastou, voltando ao seu posto inicial onde estivera em pé, mas puxando uma poltrona de modo que ficasse longe o suficiente para evitar atritos, mas ainda perto o bastante para fazer a leitura.
Lily e James trocaram um olhar penetrante, sorrindo uns para os outros. Para ele, aquela oportunidade representava um futuro menos difícil para sua esposa e amigos. Para Lily, aquilo significa um futuro onde ela não precisaria temer pelo destino do que se encontrava em seu ventre.
— Bem, agora que tudo está dito e feito, devo informá-los que, enquanto estiverem aqui, terão comida, água e dois banheiros à disposição. — Dumbledore disse e indicou duas portas próximas aonde a mesa com comida se encontrava. — Quando estiverem com sono, sintam-se à vontade para utilizarem quaisquer desses adoráveis sofás e poltronas para descansar. Podem transfigurá-las em camas se acharem mais confortável. Oh, sim, e aqui estão suas varinhas. — Dumbledore esticou as varinhas para que eles pudessem recuperá-las e então encarou um a um de forma conhecedora. — Eu espero que compreendam, senhoras e senhores, que esta é uma oportunidade única. Aproveitem-na o melhor que puderem e tenho certeza de que não irão se arrepender. — E, dizendo aquilo, se afastou em direção à porta.
Antes, porém, que pudesse sair, Lily caminhou até o bruxo, segurando-o pelo braço.
— Albus, sinto muito pelo que aconteceu. — Ela disse e seus olhos verdes brilhavam com lágrimas não derramadas. — Deve ser difícil saber sobre a própria morte.
Dumbledore, entretanto, apenas sorriu.
— Oh, minha cara, para uma mente bem estruturada a morte é apenas a aventura seguinte. E, segundo o remetente desta carta, a minha morte foi honrosa e de acordo com o que acredito. Não poderia desejar nada mais. — E, piscando para Lily, o bruxo abriu a porta e saiu, deixando-a totalmente confusa e impressionada.
— Hey, Lil'. — James a chamou. — Vamos começar?
— Sim... — Ela disse e então voltou para seu lugar entre Sirius e James. — Como faremos a leitura?
— Um de cada vez, pode ser? — Remus, que estava na ponta, perguntou. — Eu posso começar, depois Sirius, você e assim sucessivamente.
— Por mim tudo bem. — Todos concordaram e então Remus pegou o primeiro dos livros, que era o mais fino. — CAPÍTULO UM.
NOTAS: Olá, amores, tudo bem? Então, fazem muitos anos desde que li uma fanfic desse tipo e, esses tempos, tentei procurar por alguma que fosse legal. Como não encontrei nenhuma em que os personagens tivessem as reações que eu gostaria que tivessem (o que, convenhamos, é meio surreal de querer, afinal cada autor tem sua própria visão dos personagens hehe), decidi me aventurar e escrever eu mesma.
Vocês devem saber que, no momento em que estou postando este prólogo, já estou finalizando a escrita do segundo capítulo de Pedra Filosofal, portanto não demorarei muito para voltar a atualizar, embora vocês devam ter em mente que reescrever a história levando em conta as opiniões e pensamentos de outros personagens dá muito trabalho e é necessária muita pesquisa para que tudo saia o mais verossímil possível, portanto, embora o próximo capítulo possa vir bastante rápido, não prometerei ser o the flash das atualizações (até porque quem me conhece sabe que eu sou meio lerda) e deixarei minha inspiração e perfeccionismo ditarem quando escrever/postar, certo?
Vejamos... ah, sim! Cada capítulo conterá mais de um capítulo dos livros (entre dois/três/quatro, dependendo do tamanho/tempo disponível para a escrita). Acredito que assim, além de compensar a possível demora entre as atts, também será mais bacana para o leitor se sentir "dentro da história" sem ter que esperar tanto pelas reações dos personagens :)
Já ia esquecendo: como vocês viram neste prólogo, algumas coisas já aconteceram.
- Lily e James já estão casados;
- Lily está grávida do Harry assim como a Alice do Neville;
- Snape já ouviu a profecia e contou para Voldemort.
Eu pesquisei bastante para seguir a cronologia e, de acordo com EdP, Sybill Trelawney professou o destino de Harry para Dumbledore algum tempo antes dele nascer ("aquele com o poder de vencer o Lorde das Trevas se APROXIMA"), sendo assim, utilizei minha licença poética para fazer com que fosse antes de Snape descobrir a gravidez da Lily.
Sem falar que eu acredito que, mesmo que eles tenham a oportunidade de mudar o futuro, a derrota de Voldemort sempre caberá ao Harry.
Ah, outra coisa: decidi que os livros/capítulos não teriam nomes porque, além de sempre achar meio esquisito, afinal HARRY normalmente envia os livros para o passado nessas fanfics e parece meio ? que ele tenha nomeado ou deixado alguém nomear os livros com "Harry Potter e alguma coisa", sendo que o Harry é uma das pessoas menos arrogantes e narcisistas que já vi, também acho que isso vai dar um clima mais "tenso" para os leitores, afinal eles não terão qualquer dica sobre o que acontecerá a seguir.
Acho que, a princípio, era isso.
Estou aqui matando minha vontade de ler uma fanfic dessas e, também, aproveitando para fazer uma leitura mais aprofundada dos livros de HP que tanto amo.
Espero que gostem, amores!
Beijos e até breve :*
