Aviso: exceto por Mary Ann e Jason White, todos os personagens pertencem à J. K. Rowling. O que é uma pena, porque se Sirius e Remus me pertencesse, eu não tinha dado uma história tão desgraçada para eles, fato.

Nota: fanfic feita para o projeto Torre de Astronomia. Não sei se encaixa realmente, mas vai ficar aqui de qualquer modo.

Signo/Item: Virgem/Perfeccionismo

Introduzindo Mary Ann

Mary Ann ajustou o coque, mantendo todos os seus fios castanhos perfeitamente alinhados, e voltou a atenção aos remédios. Organizou as pílulas impecavelmente, por suas cores e funções, separando-os de acordo com o paciente. Para Jason White, reservou duas pílulas que eram azuis e brancas e um copo d'água. Para Alice Longbottom, as pílulas amarelas seriam o bastante. Para Sirius Black, uma pílula branca e azul e outra pílula cor-de-rosa. Para Remus Lupin, se pudesse, nada daria, mas os médicos recomendaram uma dosagem de três pílulas vermelhas. Organizou todos os carrinhos, inclusive dos pacientes que não lhe competiam, meramente pelo motivo de que desprezava como os enfermeiros eram tão desleixados com as coisas. De modo que ela chegava antes que todo mundo, garantia a ordem de tudo e ia embora depois que todos já tivessem ido.

Começou a andar com o seu carrinho, se dirigindo ao refeitório, onde todos estavam no café da manhã. O ambiente era branco e estéril, com paredes pintadas do branco mais branco que havia na cartela das cores, o piso tão limpo que poderia se enxergar um fio de cabelo pertencente ao Lucius Malfoy à distância. Mas Mary Ann não se incomodava. Ela gostava da extrema limpeza, dos quatro bancos do refeitório compridos e horizontais, formando quatro linhas, das roupas uniformizadas que todos os pacientes recebiam, do ar presente de padronização e uniformidade. Essas palavras lhe soavam como música.

— Bom dia, senhor White – ela cumprimentou jovialmente um rapaz sentado em um canto, admirando desoladamente o pão com queijo e presunto – como vai a vida?

O rapaz, de pouco mais que vinte e cinco anos, voltou o rosto para observar a enfermeira. Era loiro e parecia sinceramente triste.

— Me deram um pão com carne de tubarão – comentou tristemente – eu já falei que eu não como coisas que vieram do mar. Eu não gosto. Nem mesmo de tubarão.

— Senhor White, eu não sabia que o presunto é feito da carne de tubarão – Mary Ann observou gentilmente – mas, bem, eu trouxe os seus remédios. Não se preocupe, não tem nada do mar neles! Vamos tomar?

Jason White abriu a boca, esperando pacientemente que a enfermeira colocasse as pílulas em sua língua. Ele bebeu a água obedientemente e voltou sua atenção para o pão. Mary Ann lhe deu um sorriso cortês e disse que iria conversar com a Alice Longbottom, que arranhava as unhas na mesa, os cabelos desalinhados e a expressão confusa.

Lamentava muito por Alice Longbottom. Quando começara a trabalhar naquele hospital, pouco tempo atrás, lhe contaram a história dela e tudo o que Mary Ann conseguiu pensar é no quão doloroso e triste deve ter sido para a pobre Alice enfrentar tudo aquilo. Alice lhe sorriu quando Mary Ann se aproximou, daquele jeito bondoso e diplomático, emendando uma conversa sobre o dia.

— Senhora Longbottom, dormiu bem?

Alice não respondeu. Ficou balançando para frente e para trás, tentando arranhar a mesa com suas unhas, mas sem grande sucesso. Mary Ann respirou fundo.

— Senhora Longbottom, está na hora dos seus remédios – informou pacientemente.

Caiu um silêncio. Mary Ann continuou observando a paciente balançando o corpo, balbuciando coisas que ninguém entendia, de memórias dolorosas que ainda guardava, fragmentos de coisas que já não lembrava mais. Ainda vinha o filho visita-la, crescido, homem feito de dar orgulho para qualquer um, mas Alice ainda não o reconhecia. Não havia mais nada que partisse o coração do pobre Neville ver sua mãe, perdida nas trevas de uma antiga guerra, mas ainda assim ele voltava e ansiava por um dia que ela o reconhecesse e o amasse assim, crescido.

— Senhora Longbottom, vamos tomar os remédios?

O tom energético de uma eficiente enfermeira fez Alice parar por cinco minutos e abrir a boca, esticando a língua. Mary Ann pousou as duas pílulas amarelas na língua e esperou Alice engoli-los antes de dar o copo d'água. Esperou, a expressão neutra em seu rosto, e então se despediu, deixando Alice voltar a atenção para tentar arranhar a mesa, e procurou Sirius Black. Como ele não estava ali, procurou por Remus Lupin. Onde estaria um, estaria o outro.

Mas nenhum dos dois estava no refeitório. Depois de longos dez segundos pensando a respeito, deu um enorme sorriso para si mesma e se encaminhou para o jardim, acompanhada com o seu fiel carrinho.