Disclaimer – "Inuyasha" pertence a Takahashi Rumiko.
Dedicated – Esse fic é um presentinho para minha amiguinha Shampoo-chan, que faz aniversário hoje. Parabéns, menina!
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Versos da Paixão
By Palas Lis
For Shampoo-chan
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Olhar-te
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Amor platônico...
Já ouvira algumas vezes a definição dessas duas palavras. Na teoria, era interessante e parecia fazer sentido, mas, e na prática? Seria isso que sentia? Poderiam explicar todos os sentimentos que tinha?
Provavelmente, sim. Se aplicasse a teoria do significado de amor platônico na sua vida, se encaixaria perfeitamente.
Amava em segredo. Idealizava-o em seus pensamentos, sem nunca nem se aproximar dele. Alguns poderiam dizer que isso era tolice, mas para ela era paixão.
Por que tinha se ficar pensando em amor platônico, quando o que sentia ia muito mais do que isso?
Um suspiro escapou de seus lábios entreabertos.
Estava ali, observando-o fixamente, como fazia todos os dias, desde que tinha olhado-o a primeira vez. Foi um amor à primeira vista. Somente um olhar e se apaixonara. Desde aquele dia – há exatos seis anos, três meses e dezesseis dias atrás, quando ele começara a estudar na mesma sala de aula que ela –, o amava.
A jovem passou a mão pelo cabelo longo para tirar a franja negra que teimava em cair em seus olhos, enquanto admirava o rapaz por uma fresta na janela de madeira.
Dessa vez o que escapou de seus lábios era um suspiro apaixonado.
Passou agilmente os olhos castanhos pela figura masculina. Hoje ele estava com um quimono de luta todo negro – que realçava ainda mais seus olhos dourados e os cabelos prateados. Um pouco de suor se formava na testa do esforço que fazia na frente dos alunos, deixando-o com um ar mais sério do que o normal.
Viu-o virar-se para seus alunos com um olhar severo, parecendo não ter se agradado de alguns erros bobos que estava cometendo. Ele caminhou até um menino de pouca idade e se posicionou ao seu lado para ensiná-lo o golpe, e não sairia de perto do pequeno até que ele executasse o movimento com as mãos e braços corretamente. Era rígido e não aceitara erros dos alunos.
A primeira vez que o viu – na sala de aula –, ele era apenas um dos alunos do mestre do dojo. Agora, depois de alguns anos, era tão bom lutador – e o mais aplicado –, que se tornara sensei também. Quando o velho mestre dele se aposentou, ele passou a tomar conta do lugar sozinho. E assim era até o exato momento.
Deu um longo suspiro ao olhar na parede do lugar o relógio, que insistia em acelerar seu percurso pelos minutos quando estava contemplando o mestre do dojo. Precisava ir embora, estava ficando tarde. Ela deu apenas uma olhadela para ele e se pôs a andar de volta para sua casa a passadas ligeiras e decididas.
Ainda nem entendia porque ficava ali todo início de noite. O que adiantava olhá-lo, se nunca poderia tocá-lo?
Aquilo era como uma tortura... Que rasgava lenta e dolorosamente seu coração, retalhando seus sonhos até destruí-los.
Degradante? Não. Essa era a realidade que ela propusera a submeter-se.
Era quase como um ritual que fazia todos os dias – todos mesmo, até mesmo os dias que não tinha aula na faculdade e nem tinha que ir trabalhar. Acordava cedo, ia à faculdade, trabalhava a tarde e na volta sempre passava frente ao dojo onde ele dava aulas de Artes Marciais. Ficava dez minutos o olhando treinar, suspirando apaixonada, e depois ia embora.
"Devo ser muito boba para fazer isso há tantos anos...", ela deu um sorriso fraco, quase deprimido. "E ele nunca me notou...".
Conhecia, definitivamente, tudo a respeito dele. Era um rapaz de seus vinte três anos, alto, lindo e inteligente. Terminara o curso superior a poucos meses e já trabalhava como professor em uma universidade – muito prodígio para sua pouca idade. Era o filho mais velho de uma família importante do Japão. Tinha pais maravilhosos e um irmão... Bem, nem tudo é perfeito. Morava em uma linda casa em um dos bairros mais luxuosos de Tóquio.
Era, sem duvidas, perfeito. Não só para ela, como para muitas outras pessoas que o admirava.
Seu nome era Inokuma Sesshoumaru. O nome mais lindo que existia para ela. Eram incontáveis as vezes que, de maneira inconsciente ou consciente, o pronunciava.
Andou o curto percurso do dojo ao bairro que ficava sua residência. Entrou na sua pequena casa que morava com a sua mãe e seu pai, e tirou o sapado, calçando um par de sandálias antes de entrar.
– Okaa-san? – ela chamou a mãe, deixando a bolsa sobre o sofá antes de entrar na cozinha.
– Demorou a chegar, querida – a mulher morena lhe sorriu, desviando a atenção da panela que preparava o jantar para a família. – Aconteceu algo?
– Atrasei-me no trabalho, okaa-san – ela mentiu, andando até o bebedouro e colocando água fresca em um copo. – Uma das minhas alunas queria que eu contasse uma historinha para ela.
– Crianças são bênçãos. – a senhora riu. – Quando estão quietas.
– E, hoje cedo, ainda tive que conversar com a professora na faculdade sobre alguns assuntos.
– Você não está trabalhando demais, querida? – a mulher perguntou, mexendo a comida na panela e virou o rosto para olhar a filha. – Trabalhar com tantas crianças é cansativo.
– Eu me divirto com elas, okaa-san.
– Seu pai e eu já dissemos que não precisa trabalhar. Primeiro termine sua faculdade, depois você pensa em trabalhar.
– Iie. – ela maneou a cabeça para enfatizar sua resposta, esvaziando o corpo com água em um único gole antes de voltar a falar. – Preciso ocupar minha mente.
– Rin, não quero que fique doente – a mãe disse, em tom sério. – Está me entendendo, querida?
Ela sorriu, querendo passar segurança à mãe.
– Não se preocupe, senhora Nakayama. – Rin sorriu e se aproximou da mãe para lhe dar um beijo estralado na bochecha direita. – Ficarei bem.
– Agora vá trocar de roupa e venha para jantarmos, sim? – a mulher de cabelos curtos negros e com alguns fios grisalhos pela idade avançada falou, estendendo a mão para a direção do quarto da filha.
– Hai! – ela sorriu, beijando novamente a mãe antes de sair correndo para os fundos da casa, gritando pelo pai. – Otto-san!
O senhor parou de consertar o carro da família e se virou para Rin, assim que ela chegou à porta dos fundos, sorrindo.
– Que bom que chegou, Rin. – ele a chamou com a mão. – Estava mesmo precisando de sua ajuda.
– Okaa-san me mandou ir trocar de roupa para jantarmos – ela falou, coçando atrás da cabeça, incerta que ajudava o pai ou obedecia à mãe. – Vai ser rápido?
– Hai. – ele confirmou.
Rin sorriu e correu na direção do pai, sentando no banco do motorista e ligando o carro para o homem de cabelos esbranquiçados verificar o motor. Ficou alguns segundos acelerando o carro, sem sair do lugar, esperando o senhor verificar o estado do automóvel.
– Tudo bem? – ela perguntou, colocando a cabeça para fora do carro.
– Hai. – ele fez sinal com a mão. – Agora pode ir se arrumar.
O pai não precisou dizer uma segunda vez, ela foi rapidamente para o corredor que a levaria ao seu quarto. Entrou no aposento e a primeira coisa que fez foi sentar-se à escrivaninha que havia no canto do ambiente e tirar uma foto da gaveta.
A fotografia de bordas desbotadas tinha no centro o rapaz alvo de seus mais intensos desejos e paixões. Estava ele – assim como todos os alunos de sua antiga classe – na foto, em sua formatura do colegial, na época que começara a gostar dele. Formaram-se no mesmo ano, mas ele nem a notara na colação de grau ou no baile.
Deu um beijo na foto, onde Sesshoumaru estava, colocando-a sobre o coração antes de deixá-la sobre a mesa.
Da mesma pequena gaveta que tirou a foto, ela pegou um caderno de folhas rosadas e virou a capa, sentindo o perfume que passava nas folhas, vendo o primeiro poema que escrevera para ele. Escreve o poema no mesmo dia que o conheceu.
Passou os dedos pela sua bela caligráfica. Nunca tivera uma letra muito legível ou formosa, mas quando escrevia para ele, sua letra ficara impressionantemente bonita. Além dos seus sentimentos, escrevia cada palavra naquele caderno com carinho.
Tudo que tinha vontade de dizer a ele escrevia em seu "Caderno de Sentimentos" – como ela o nomeou meses depois de começar a escrever nele.
Leu em voz alta a primeira estrofe, com a voz cheia de emoção:
Versos da Paixão:
Tudo que eu queria te dizer
Olhando teus olhos,
Decifrando teus gestos,
Descobrindo teu sorriso.
Antes que começasse a ler a segunda estrofe, fechou o grosso caderno com força maior que a necessária e balançou a cabeça para os lados. Seu caderno estava nas últimas páginas e nada do que estava escrito nunca foi dito a ele.
– Deprimente... – ela sussurrou, olhando a capa envelhecida do caderno. – Ele nunca vai saber como eu o amo. Nem sei porque continuo a escrever.
Levantou o rosto no momento que sua mãe a chamou da cozinha e guardou o caderno e a foto na gaveta, escondidos. Ninguém sabia de seu amor pelo professor do dojo, e queria que continuasse assim.
Foi ao banheiro para tomou um banho rápido e arrumar-se. Saiu do quarto e foi à cozinha, sentou-se no lugar que costumava e serviu-se em seguida, começando a comer automaticamente, com os pensamentos distantes.
Seu corpo podia estar ali, em sua casa, mas sua mente estava em outro lugar – mais precisamente em um dojo, num belo rapaz de olhos dourados e inexpressivos.
– Sua mãe me disse que está trabalhando e estudando demais, Rin. – o senhor falou.
Rin piscou e voltou os olhos ainda perdidos para o pai sentando na extremidade da mesa.
– Ela está exagerando, otto-san – Rin falou ao assimilar o que o ele queria dizer. – Eu estou bem.
– Tem certeza? – ele duvidou.
– Hai. – ela deu um sorriso. – Prometo que se eu estiver me esforçando mais do que posso, largo o trabalho, ok?
– Promete?
– Prometo. – ela confirmou.
Satisfeita com o sorriso dos pais, ela aproveitou para jantar, ainda que não tivesse fome.
– Querida, dentro de um ou dois meses, estamos pensando em ir à casa de sua tia – a senhora começou. – Gostaria de ir também?
– Se eu não tiver que trabalhar, eu irei. – ela sorriu.
Precisava mesmo ficar um pouco longe de Tóquio, e ir para Kyoto poderia ajudá-la a pensar em outra coisa além de sua paixão secreta. Viajar e ver seus primos que há tempos não via seria muito bom. Miroku e Kikyou já deviam ter terminado a faculdade e estar trabalhando na área que escolheram.
– Vai ser divertido. – a mãe dela sorriu.
– Quanto tempo pretende ficar em Kyoto? – Rin perguntou, deixando os pais contentes pelo entusiasmo que tinha na voz dela.
– Uma semana, talvez duas. – ele sorriu. – Ainda não temos certeza.
– Kaede-ba-chan ligou? – Rin perguntou.
– Hai. – a senhora concordou. – Essa manhã.
– E como estão todos em Kyoto? – a morena perguntou, tomando um gole de suco.
– Vão bem. – a mãe dela falou. – Seu primo vai se casar.
– Miroku-kun vai casar? – Rin exclamou, extremamente surpresa. – Meu primo Miroku, irresponsável e sem vergonha, vai se casar?
– Parece que Sango conseguiu mesmo colocá-lo no eixo. – a mãe de Rin disse divertida, parando um pouco de falar para dar um gole no suco.
– Estava na hora de Miroku-kun tomar jeito – Rin soltou uma risada. – E vai estar bem casado. Sango-chan além de ser muito bonita, é de uma boa família.
– Hai. – o senhor concordou. – Kikyou parece-me que vai ficar noiva ainda esse ano, mas quanto a sua prima não tenho certeza. Com a personalidade forte que tem, é bem provável que demore mais a casar.
Os três riram.
– Fico feliz que meus primos estejam tão bem – Rin sorriu, feliz, levando o hashi a boca. – Vou fazer o possível para ir com vocês a Kyoto. Se minhas provas já tiverem terminado, pego férias no trabalho e podemos ir.
– Seria muito bom mesmo ir nós três fazer uma viagem.
– Realmente, tem algum tempo que não viajamos juntos, né? – Rin falou, pensativa. – Vai ser muito divertido!
Rin ainda estava com um sorriso, que murchou um pouco ao pensar que ficaria uma semana sem ver Sesshoumaru. Seria ruim ficar sem vê-lo, mas pelo menos ia se divertir um pouco com sua família.
Depois de alimentar-se, voltou ao quarto. Seu dormitório era um refúgio. Não tinha vontade de estudar, de comer ou se divertir... Novamente estava pensando nele e nada mais importava... Somente Inokuma Sesshoumaru.
"Isso é loucura... Estou ficando obsessiva!", a mulher pensou, sentando-se à escrivaninha.
Pegou um papel que estava na pequena mesa e tornou a escrever poemas, impulsivamente. Os símbolos saíam agilmente no papel, de cima para baixo, da direita para a esquerda.
Mais uma jogada rápida de palavras e pronto, tinha mais um poema. As palavras fluíam de dentro de seu coração, formando as mais belas poesias. Era muito fácil escrever quando era sobre ele. Sesshoumaru era uma ótima inspiração. Era o modelo perfeito.
"Pena que ele nunca lerá sequer uma palavra do que sinto", ela lastimou. "Nunca saberá o quando eu o amo...".
Pegou o "Caderno de Sentimentos", abrindo na primeira página. E lá estava o primeiro poema... Aquele poema, chamado "Versos da Paixão", foi o início de seu pequeno martírio, seu pequeno inferno interior.
Os olhos castanhos estavam rasos de água logo na primeira estrofe. Tentou segurar a vontade de chorar, mas um nó se formou em sua garganta e quase não conseguia respirar.
Um soluço saiu de seus lábios inevitavelmente e lágrimas molharam seu rosto, rolando pesadamente pela pele clara, pingando nas folhas envelhecidas e rosadas do caderno. Cobriu o rosto com as mãos trêmulas.
Sentiu-se estúpida por estar chorando... Novamente.
Quanto mais teria que sofrer para conseguir esquecê-lo? Afinal, sabia que nunca o teria para si... Sesshoumaru nem sabia que ela existia. Sua única saída seria esquecê-lo, antes que enlouquecesse.
Soluçando, tirou as mãos no rosto para ler o primeiro poema que escreveu para ele, em silêncio. Uma lágrima rolou e caiu no centro do papel, formando um pequeno círculo...
Versos da Paixão:
Tudo que eu não falo
Com a covardia que me incendeia por dentro.
Versos da Paixão:
Olhar você,
E não te tocar...
Olhar você,
E me calar...
Era lindo, apesar de conter muita dor. E ainda não estava nem acabado, tinha deixado mais duas páginas para terminá-lo, algum dia. Seu desejo era terminar o poema quando parasse de amá-lo...
Seria isso impossível?
Quem sabe... Porém, em seu coração sentia que ele, de alguma forma, fazia parte dela... Parte de seu mundo.
Ou o terminaria no dia que ele a amasse também...
"Acho que seria mais fácil eu esquecê-lo...", ela debochou de si mesma.
No momento não ia pensar mais em Inokuma Sesshoumaru... No próximo dia precisaria estar disposta para trabalhar e estudar.
Fechou o caderno e apagou a luz do quarto. Deitou-se e puxou a coberta para cima de si até o pescoço. Olhando o teto escuro do dormitório, pensou no sonho que sempre tinha... Com ele...
Apesar de ser muito bom sonhar com seu amado, era doloroso demais acordar e não estar ao lado dele. Nos sonhos, ele a abraçava e dizia o quanto a amava.
Limpou as lágrimas secas no rosto com a costa da mão e abraçou o travesseiro, fechando os olhos.
"Quero sonhar com ele... Com seu amor que nunca terei, com o toque que nunca sentirei e com o beijo que nunca provarei".
Minutos depois estava dormindo; no rosto uma paz que só se via quando estava sonhando com Sesshoumaru... Sonhando com os lábios dele em contado com o seus, o corpo dele colado ao seu, a voz dele sussurrada em seu ouvido...
– Sesshoumaru-sama... – mesmo dormindo, murmurou o nome dele, abraçando mais o travesseiro. – Aishiteru...
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Notas da autora – Minna-san! Aqui está mais uma fanfic minha com Rin e Sesshy /o/. Essa será bem curtinha, e quem lê minhas outras fics com esse casal não precisa se preocupar que vou atualizá-las também, ok?
Well... Não sou muito de escrever fanfics muito românticas, mas estava com muita vontade de fazer essa aqui. Ah! O trecho do poema da fic foi escrito por mim, especialmente para essa história (Lis muito corada) e colocarei o resto dela nos outros capítulos.
Kisus,
Lis-sama
