Eu sempre gosto de dizer, Victoire e eu. Mesmo recebendo olhares reprovadores dela durante as reuniões de família.

James, o filho mais velho do meu padrinho, Harry Potter – vocês devem saber quem ele é, eu imagino – vivia me perguntando qual era o meu "lance" com a prima dele. Desde que James havia freqüentado o acampamento de verão trouxa antes de entrar no segundo ano, ele não parava de dizer coisas estranhas como "lances" e "ficantes".

Eu não fazia muita questão de saber o que era, afinal, meus problemas eram um pouco maiores. Graças a Merlin, Albus e Lily não faziam questão de me perguntarem o porque de eu freqüentar tanto a Toca ou a casa deles.

Era o dia do aniversário do meu padrinho. Não me perguntem quanto exatamente, mas beirava aos 40 anos. Okay, podia ser menos, uns 37 anos. Enfim, eu não estava lá somente para comemorar o aniversário dele.

Mesmo que minha avó, Andrômeda, não quisesse que eu discutisse meus assuntos pessoas nas festas dos outros. A questão era que eu precisava falar com ela.

Victoire Weasley. Os problemas das minhas noites mal dormidas. O farfalhar de chamas no meu estômago. E a grande causadora de mudanças nas cores do meu cabelo.

Entendam, eu sou Teddy Lupin, filho do único professor querido de DCAT que Hogwarts já teve e minha mãe era a auror mais nova que o Ministério já havia aceitado. Sem contar meus feitos em Hogwarts – eu os deixo para outra hora por enquanto.

E ainda afilhado do bruxo mais famoso de todos os tempos, Harry Potter. Ou seja, eu tenho meu orgulho – tá bom, eu tenho um ego bem grande. E aquela garota o tinha atingido em cheio.

Um grande problema, desde que ela deixou de ser aquele bebê com cara de joelho, meu mundo havia desabado. Ela conseguia me fazer ficar embasbacado num estalar de dedos. Merlin, eu queria que isso fosse apenas uma brincadeira.

Victoire era a neta mais velha dos Weasley, tinha os cabelos loiros, como os da mãe e olhos claros – até hoje nunca consegui distinguir o azul do verde que eles tinham. E desde que eu havia deixado de vê-la por um ano, Vicky – como eu a chamava carinhosamente – mudou completamente.

Com dezesseis anos, mais alta, com a pele mais dourada, o corpo também mais volumétrico e as feições mais amadurecidas. Me respondam: como Merlin pode fazer isso comigo?

Eu procurei por aquela cabeleira loira como dos pintinhos que tinham na casa da senhora Weasley. Ela havia odiado a comparação quando eu a fiz na primeira vez que eu a vi no natal a dois anos, e o "apelido" havia pego. James não tinha deixado passar, não mesmo. Ele fazia jus à lembrança do avô, de acordo com meu tio.

Reconheci Dominique e Louis brincando com seus primos mais distanciados dos adultos em outra sala. Vi seus pais sentados juntos com os avós de Vicky.

Definitivamente eu teria que me expor e perguntar por ela. . Atravessei a sala de jantar dos Potter e os adultos perceberam que eu me aproximava.

Téddy! – Falou Fluer com seu particular sotaque inglês. Usando um vestido rosado de alças e que cobriam os joelhos.

Bill Weasley, o filho mais velhos dos Weasley, era o pai de Vicky. Não pensem que ele gostava de mim como a mãe. Bill me respeitava, mas não gostava das minhas brincadeiras com a filha dele. E com o tempo eu afirmo, ele ficava mais amedrontador a cada ano.

— Boa noite, Bill. – Disse estendendo a mão e recebendo um aperto digamos, intimidador. – Olá senhora Weasley. Senhor Weasley.

— Ora, Teddy, pode me chamar de Molly e o Arthur, de Arthur. – Ela disse enquanto me abraçava, com fazia com toda a ninhada. O senhor Weasley estendeu a mão e eu o cumprimentei.

— Ah. Bom. – Guardei as mãos nos bolsos, antes que eu desistisse da ideia. – Eu... ah... – Eu sempre gaguejava quando ficava nervoso – Vocês viram a Vicky?

A senhora Fluer sorriu e Bill tomou um pouco da sua bebida.

Ela vaai chegarr logo, foi visitarr o namorraado. – Ela explicou.

Fiz um som estranho com a garganta que chamei a atenção de todos da sala pra mim.

— A Vicky? Namorando? – Eu quase gritei para os quatro.

Minhas mãos suavam e eu sabia que meu cabelo havia perdido o tom azulado de sempre. Eu não acreditava. Não podia. Como? Eu devia estar branco, porque a senhora Weasley se levantou apressada.

— Teddy, querido, tudo bem?

—... Namorado... ?

Ele é frrancêss. – Disse a senhora Fluer – Nom se prreocupe taant Téddy, ella esstá bem.

Bill olhou a esposa e maneou a cabeça. Molly esquentava meus braços enquanto que o senhor Arthur conjurou uma cadeira ao lado de onde ele estava. Fui colocado ali pela esposa dele enquanto que ela dizia que iria procurar pela tia Ginny.

Não ousei olhar para os pais dela.

"Que vergonha!"

Fiquei algum tempo analisando o piso de madeira da casa dos meus tios e depois os meus tênis novos. Passava a mão pelo cabelo nervoso e tentava não demonstrar isso, até porque eu já devia ter revelado os meus interesses, pelo menos o pai de Vicky havia entendido a minha surpresa.

Foi quando eu escutei a voz de Dominique e Lily que eu retornei a realidade.

— Vicky! Vicky! Ela chegou Lily!

— Vicky!

Levantei a cabeça o suficiente para enxergar ela deslizar com um vestido preto, pela sala ao lado e se agachar para abraçar a prima mais nova e depois a irmã.

— Oi meninas! – Ela as abraçou e depois pegou as mãos de Lily e a rodopiou para analisar o vestido. "Malditas covinhas que ela tinha que ter quando sorria!" – Que linda! Está parecendo uma princesa, Lily!

E fez o mesmo com a irmã e depois foi cumprimentando cada um dos pirralhos.

Suspirei alto. Molly me olhou de esguelho. Mas eu sentia mais olhares sobre mim. Com a cabeça entre as mãos, escondendo meu rosto abobalhado e vermelho.

Eu era patético. "Comporte-se Ted Lupin!" ele escutou a si mesmo.

— Olá, papai!

"Maldita doce voz!"

— Oi, Vicky.

— Oi, mamãe. – Ela demorou um pouco e eu vi seus pés próximos do senhor Arthur, ao meu lado. – Oi vovó, oi vovô!

— Olá querida. – Responderam os dois.

Achei que passaria despercebido por ela. Mas Victoire continuava a mesma.

— Oi Ted.

Me esforcei para olha-la e não rapta-la dali. Provavelmente, Bill e Harry viriam atrás de mim para ver se ela ainda estava bem.

Minha expressão se tornou fria.

— Oi Victoire. – Ela deu um sorriso, que desapareceu quando peguei meu copo e sai, deixando todos surpresos.

Por Merlin, como ela podia estar namorando com um francês? Ela não sabe o quanto eles consomem de perfume porque não tomam banho?

Okay, eu estava apenas me justificando.

Atravessei a sala e não escutei quando Lily me chamou empolgada. Nem mesmo quando Albus e James berravam meu nome.

Subi para os quartos e fui em direção ao que eu costumeiramente usava. Claro, eu vivia na casa dos Potter quando estudava em Hogwarts, além da casa da vovó. Abri a porta e descobri que meus pôsteres estavam como eu os deixei no verão passado antes de ir embora.

Eu já deveria ter me conformado com isso.

Estava estudando para me formar como auror e iria ficar longe por três anos na Austrália. Não podia tentar ter alguma coisa com a esquentadinha-loira-weasley. Desabei na cama e fiquei alisando o copo nas mãos.

Foi quando escutei a rangida na porta que me deparei com a pessoa que perturbava meus pensamentos. Victoire.

— Hum. Posso entrar?

"Droga, Lupin. Muito inteligente trata-la assim!"

— Esse é um quarto de visitas, não posso não deixar que você não entre.

Ela deu um sorriso. Não daqueles costumeiros, significava: "É melhor me tratar bem ou jogo uma azaração em você, Lupin".

— Claro. Não é mais o seu quarto. – Ela deu uma olhada ao redor, com os braços cruzados abaixo dos seios.

"Ela faz de propósito! Essa esquentadinha-loira-terrorista-weasley..."

Não respondi.

— Vou direto ao assunto. – Ela era sempre era direta, por isso nunca havia tido um dia que eu lembre que nunca brigávamos durante a nossa convivência – Porque está agindo assim comigo, Ted?

Amarrei a cara. Me segurei para não amassar o copo nas minhas mãos, que ainda tinha uma certa quantidade grande de cerveja amanteigada.

— Não é nada. – Disse por fim, querendo que aquela conversa acabasse e ela saísse logo dali.

Dividir o mesmo espaço com ela e outras pessoas era uma situação. Mas dividir um espaço de um quarto, com uma cama razoavelmente cabível para duas pessoas, era outra história.

"Por Merlin! Onde eu estou com a cabeça?" pensou "Ela nem fez dezessete anos!"

— Vou entender isso como eu sendo o seu problema.

Ela se levantou, com ar de irritada.

Por impulso – porque com ela as coisas sempre perdiam o sentido e o controle – segurei o braço dela. De mal jeito.

Ela me olhou surpresa. E eu estava mais ainda com a minha atitude.

— Vicky, por favor... é só...

— Achei que você não me chamava mais por esse apelido, Ted. – Ela falou em tom diferente sarcástico.

Larguei a bebida e forcei-a a se virar para mim. Eu já estava perdendo a paciência, e a linha lógica por eu ainda não estar dando um jeito nela.

"esquentadinha-loira-terrorista-loira-weasley..."

— Porque você tem que sempre complicar tudo, garota? Por Merlin, Vicky!

Ela soltou uma risada.

— Eu acabei de chegar da França. Não vejo você desde as férias de natal, e eu nem te fiz alguma coisa! Ou o que? Minha alma veio te perturbar?

— Além disso, virou piadista é? – Eu disse sorrindo.

— Você tem dupla personalidade, Lupin? – Ela falou semicerrando os olhos.

Fechei os meus com força enquanto ela se soltava. Vicky estava quase saindo do quarto quando eu disse:

— Aprendeu a ser assim com o seu francesinho, foi Weasley?

Ela estagnou, com o pé no meio do caminho. Virou-se devagar, como se pedisse para eu repetir o que tinha dito.

Quando foi que a gente começou a se comportar como crianças eu não me lembro.

Lá estava eu, Teddy Lupin, infernizando a vida de Victoire Weasley. Recebendo seu olhar reprovador. E depois, com ela descendo as escadas dos quartos brigando comigo e me mandando ficar quieto.

— Ah, tá com vergonha de apresentar o francesinho, é Vicky?

Ela fechou as mãos sem parar nas escadas. Não ousaria levantar a varinha ali, com todos da família reunidos – agradeci naquele momento por ter saído de Hogwarts. Pelo menos eu esperava, mas estava com a minha preparada por dentro do casaco que eu usava.

— Não é da sua conta, Lupin.

— Há... Mas que pena. Ele é tão feio assim Vicky pra você não apresentar?

Tio Rony deu um sorriso, mas foi interrompido pelo olhar carrancudo da tia Hermione. Nossa, que homem mais obsoleto. Tia Gina me olhava por detrás do enorme bolo de aniversário do meu padrinho, balançando a cabeça e, provavelmente, se negando que eu e Vicky estávamos tendo uma discussão.

Harry levantou as sobrancelhas surpreso, mas não deixou de continuar a conversa com o sogro. Os outros parentes estavam todos reunidos em outra sala, analisando os troféus da tia Gina, mas eu não fazia ideia disso naquela hora.

Era como se tivéssemos dez e oito anos, de novo.

E eu estava gostando disso, vê-la corar. Fazia seis meses desde a última vez que eu havia encontrado Vicky e isso foi no natal, mas naqueles dias eu havia prometido a mim mesmo que não iria provocá-la.

Até agora.

— Aposto que ele não te beijou ainda! – Eu falei mais afirmando do que perguntando. Sem perceber o que essas palavras causariam de efeito nela. Nos seus primos e em toda a família Weasley e Potter.

James, Albus e Louis pararam de puxar os cabelos das bonecas de Dominique e Lily para prestar atenção na prima.

Victoire que agora terminava de pegar a sua cerveja amanteigada se virou para mim com os olhos marejados.

Foi quando percebi meu erro.

— Eu fui para a França para terminar com o Dougie. – Ela mordeu o lábio e fechou os olhos com força. – Satisfeito Lupin? – E esbarrou no meu ombro quando passou por mim.

"Merda! Grande idiota você conseguiu ser, Lupin".

Percebi aquele olhar de reprovação atrás de mim, e lá estava minha adorada avó. Ela suspirou e deixou Vicky passar por ela para a cozinha. Não pensei nem por um segundo olhar para mais além do chão.

Nesse momento eu adoraria que ele se abrisse e me engolisse. Dei meia volta e não fui mais visto na sala de jantar.

Meu tio Harry parecia ter percebido o que eu iria fazer e me parou no caminho para a porta de entrada.

— O que está fazendo, Teddy?

Eu não respondi de imediato, escolhi bem as palavras com ele.

— Desculpe pelo aniversário, tio. Não foi essa a minha intenção. – Eu falei retirando meu ombro que ele havia segurado.

— Ora, ora, o que é uma festa sem um pouco de confusão? – Ele sorriu e guardou as mãos nos bolsos da calça social. Olhei para ele esperando que ele estivesse brincando, mas ele tinha um sorriso ao invés de olhos raivosos. – Eu já estava estranhando um pouco se quer saber. Achei que James estava aprontando alguma coisa, mas pelo visto ele ainda não decidiu o que me dar de presente de aniversário.

Eu ri, mas não respondi.

— Mas não é comigo que deve se desculpar. Não acha?

A imagem de Victoire com os olhos vermelhos me fez estremecer. Mesmo que a casa estivesse relativamente quente e fosse verão em Londres. Suspirei irritado comigo mesmo.

Esse era eu, Teddy Lupin para a nação!

— Vou deixar que pense um pouco. E não se preocupe, pode dormir hoje aqui, sua avó irá concordar.

— Obrigado. – Eu disse. – E parabéns tio. – Dei um sorriso de canto.

Esperei que os passos dele quase fossem inaudíveis e abri a porta, sem olhar para trás.

Se eu tivesse feito isso, teria visto meu tio segurar uma Vicky irritada no corredor.


Continua...