Era madrugada. A lua cheia brilhava no céu. Mal se ouviam o farfalhar que seus passos apressados faziam na grama. Fazia dias que ele não se alimentava, sua fome era enorme. Precisava comer alguma coisa ou deixaria de existir. Mas não qualquer coisa. Precisava de sangue humano. Agora ele começou a correr. Faltavam algumas horas para o alvorecer e os raios de sol queimariam sua pele como o fogo lambe a grama seca. Precisava se apressar. Então, repentinamente, ele parou. Sentiu o cheiro de alguma coisa. Mas não era qualquer cheiro. Era forte, quase enjoativo. O cheiro o estava deixando maluco. Ele inconscientemente abriu a boca e arregalou os olhos. Precisava chegar mais perto. Voltou a correr desesperadamente, como se a sua vida dependesse disso. As árvores viravam borrões no canto de seus olhos devido à velocidade. Desviava dos obstáculos com facilidade. Estava cada vez mais perto, sentia isso! Faltavam apenas alguns metros, quando ele avistou uma menina. Era ela que exalava esse cheiro irresistível. Ele não conseguiu se mexer, fixando os olhos na garota, analisando-a. Não era muito bonita, mas tinha um certo charme. O olhar sonso e as passadas desengonçadas deram a ele a impressão de ser o tipo de humano que precisa constantemente de proteção por representar um perigo de vida para si mesmo. Presa fácil. Se ainda fosse humano talvez sentisse algo por ela, talvez tivessem algum tipo de relação. Mas agora estava tecnicamente morto, não tinha sentimentos, não ligava para os outros. Muito menos para humanos. Por um momento quase sentiu pena da sua vítima. Quase. Foi andando lentamente, até onde a garota humana pudesse vê-lo. Quando ele entrou em seu campo de visão ela se assustou, e parecia estar extremamente concentrada em alguma coisa. Talvez estivesse pensando como poderia sair correndo dali sem ser pega. Pobre menina tola. Ele foi chegando cada vez mais perto, a cada passo que dava ela parecia estar mais hipnotizada. Quando ele chegou perto o suficiente, colocou a mão em seu rosto. Os olhos da humana estavam desfocados e a boa entreaberta. Completamente inconsciente. Lentamente aproximou a boca de seu pescoço e cravou seus dentes. Nenhum gesto, nenhuma palavra de protesto, apenas um pequeno gemido. Ela continuava em transe e estava cada vez mais fraca. Ele podia sentir a vida se esvaindo dela a cada gole de sangue que tomava. Então, finalmente, ela caiu em cima dele, morta. Ele limpou a boca e delicadamente beijou os lábios da menina que havia matado. Colocou-a no chão logo depois e correu. Não sentira nada. Nem pena, nem compaixão, nem amor. Ele estava morto, de fato. Um cadáver que era obrigado a viver pela eternidade matando os humanos para continuar existindo. Ele realmente não se importava com isso. Precisava ir mais rápido, em poucas horas seria o alvorecer.
