(N/A: todos os trechos, aqueles entres aspas, citados nessa fic são da música "infinita highway", do engenheiros do hawaii, na qual se baseia a fic. se algum trecho for de outra música/poesia, eu especifico! bjos! espero q gostem!!)


Prólogo

"Quando eu vivia

E morria na cidade

Eu tinha de tudo

Tudo ao meu redor

Mas tudo o que eu sentia

Era que algo me faltava"

Levantou-se da cama tentando fazer o mínimo movimento nos lençóis, e andou em silêncio pelo quarto enquanto vestia a calcinha e procurava o resto de sua roupa, usando como luz o luar pálido que atravessava o vidro da janela alta, naquele estilo pomposo da casa dos Bone. Enquanto vestia o casaco e pegava a mochila já meio rota, deixou que seus olhos passassem pelo garoto que dormia na cama suntuosa. Nunca o olhava uma última vez antes de escapar pela janela, sem que o acordasse, como fazia algumas noites por semana. Mas desta vez fixou os orbes castanhos nele, como parte daquela tentativa de fazer-se sentir alguma coisa. Era como um novo projeto pessoal, procurar alguma intensidade, um pouquinho que fosse de sentimento. Olhar o garoto com quem mais tivera esse tipo de intimidade na vida deveria funcionar melhor...

Edgar Bone era um dos garotos mais bonitos da escola, com certeza. Era do time de natação, e aquele peitoral robusto, com ombros largos cheios de sardas charmosas, era um dos mais famosos da escola secundária de Lowaytown. Eram aconchegantes, certamente, pensou a garota, começando a se sentir vazia. "E ele é charmoso", forçou-se a constatar, mirando o modo como o lençol mal o cobria, deixando ver uma das pernas fortes e torneadas demais para alguém com 18 anos.

Era "coisa da idade" o fato de ela sentir tão pouco? É claro que se sentia atraída por ele. Mas não deveria haver algo mais?

Sentiu-se vazia demais para continuar olhando o ruivo, e pôs-se na sua rotineira tarefa de pular aquela janela. Desceu pelo suporte de madeira pelo qual a hera crescia, dividindo o espaço de seus pés com os ramos tão velhos que tornavam-se avantajados demais para uma planta trepadeira.

Pulou para o chão, a grama bem cuidada abafando o barulho de seu peso contra o chão, e foi andando por aquelas mesmas ruas.

As casas de Lowaytown não tinham muros, no máximo uma pequena cerca branca que enfeitava o jardim da frente. Ela acendeu um cigarro contemplando exatamente o mesmo caminho que fazia quase todos os dias durante toda a sua vida. Parou entre sua própria casa e a dos Black, longe da visão que dava da janela de seus pais, para terminar o cigarro. Pensou que essa coisa de se fazer sentir não estava dando muito certo, e ficou olhando as estrelas como que procurando uma resposta.


Ele pensava ter algum problema, porque o fato de ter Meg Brown, a famosa Meg Brown, dormindo a seu lado, não o fazia sentir muita coisa. Não que já tivesse feito...

Observava o caminho da fumaça de seu cigarro, espalhando-se pelo quarto até sumir perto do teto alto, o único lugar que não era coberto de pôsteres; enquanto sentia um pouco de frio, por deixar o peito descoberto. Era estranho mas ele gostava da sensação de frio. Não era confortável, mas o fazia sentir-se acordado, vivo. Fazia-o sentir.

Talvez tudo o que fizesse fosse em função disso. Tentar sentir. O sexo era parte do plano.

Olhou a garota a seu lado, dormindo de bruços, tão tranquila que poderia estar em sua própria casa. Seus cabelos louros tocavam a pele perfeita das costas nuas.

Por que isso não o fazia sentir nada? Era a garota perfeita, a mais bonita e simpática, certo?

Pensou que talvez ela estivesse com frio, pois o lençol só a cobria até a cintura, e pensou em cobri-la melhor, mas seu braço simplesmente não o obedeceu.

Suspirou irritado enquanto amassava a ponta do cigarro no cinzeiro do criado-mudo, e saiu da cama num movimento brusco.

-- Six? - Ouviu o murmurar manhoso de Meg. Ele odiava aquele apelido. Vestiu uma jeans por cima da cueca estilo samba-canção. - Onde você vai?

-- Tomar um ar. - Respondeu já abrindo a porta de sua sacada e a fechando rapidamente. Estava um pouco frio para um fim de primavera. Mas a noite estava clara e bonita.

Uma garota estava parada um pouco à frente, entre sua casa e a vizinha. Fumava um cigarro e a outra mão apertava-se no bolso da jeans. Marlene McKinnon. Provavelmente voltando da casa de Edgar Bone ou August Wood, ele não lembrava bem qual era o da vez.

Ela sempre terminava seu cigarro do lado de fora porque, ao contrário dos pais de Sirius, os pais dela fingiam se importar.


Ela virou o pescoço e olhou para cima, num reflexo, porque sentiu como se estivesse sendo observada. Sirius Black estava na sacada de seu quarto, as mãos nos bolsos e o peito nu, outra vez.

-- Tá me espionando de novo, Black? - Ela falou sem precisar altear a voz. As noites em Lowaytown eram sempre silenciosas. Viu-o sorrir e virar o rosto, depois ele pulou as grades da sacada e pôs-se a descer pelos ramos velhos de trepadeira, como os da casa dos Bone.

Ela observou os músculos das costas dele se tencionarem durante a descida, e viu-o dar um salto elegante para o chão.

Sirius se aproximou sorrindo. Gostava daquela garota.

-- McKinnon. - Ele começou com voz de narrador galante de rádio. - A garota revoltada de Lowaytown, fumando escondida depois de voltar, escondida, da casa do namorado.

Ela riu.

-- Ele não é meu namorado. - Disse só por dizer.

-- Wood? - Ela liberou a fumaça do último trago, olhando o garoto do jeito penetrante dela.

-- Esse também não. Mas tô falando do Ed.

-- Bone?

-- Isso.

-- Terminaram agora?

-- Não, a gente... Ah, sei lá. Pode ser namorado, tanto faz.

Ele riu.

-- A Brown espera você lá em cima, certo? - Ela perguntou ao mesmo tempo que ia até a lixeira jogar o cigarro apagado.

-- Espera.

Eles trocaram olhares cúmplices, sem muita razão clara. Ficaram em silêncio por um tempo, talvez pensando se hoje seria um daqueles dias em que conversariam até o meio da madrugada, ou se ficariam um ao lado do outro sem dizer palavra por uma hora e se despediriam.

Marlene se perguntou, mais um vez, por que ele deixava Meg Brown em seu quarto, enquanto vinha trocar palavras inúteis com uma garota como ela. Os olhos pequenos e cinza-escuros dele desviaram-se para a casa de Frank, bem a frente da dele. Mas ela continuou pensando que talvez ele odiasse aquilo tudo tanto quanto ela.

-- É isso o que chamam de destino? - A voz rouca dele se fez ouvir de repente, enquanto parecia contemplar a caixa de correio dos Longbottom, de fato, um espalhafatoso monumento. Marlene esperou que ele desse sentido a suas palavras. - Nós éramos amigos, lembra? Por que nos afastamos?

Ele a encarou nos olhos. É claro que ela se lembrava. Foram amigos até o fim da infância, amigos de verdade. Sirius olhou mais fundo nos olhos castanhos, como que procurando sua amiga ali, e não só a adolescente revoltada cheia de lápis no olho e filosofias que trocava com ele, depois que todos dormiam.

-- Não sei. - Ela começou. - Tomamos rumos diferentes... acontece. Eu sou uma garota esquisita. Você, um popular. - Ela falou com riso na voz, mas também com uma pontada de algo que Sirius não soube descrever, que parecia irritação. Algumas vezes ela se demonstrava nervosa em conversar com ele.

-- Só sou popular porque sou capitão do meu time. Não faz lá muito sentido ser famoso por ter um... hobby. - Disse criticamente.

Ela riu.

-- Bom, eu só sou esquisita porque sou capitã do meu time. - Eles se olharam como se, de fato, a vida fizesse realmente pouco sentido. - Quero dizer, ao invés de ficar rebolando feito uma idiota pros caras do seu time ou do de James Potter. - Completa em tom distraído, mas o quê de irritação permanecia.

-- Isso é inveja das líderes de torcida? - Ele pergunta, sorrindo.

-- Sim. - Havia um fio fino de ironia na resposta dela. - E de seus pompons e as roupinhas bregas e a vida de animadora. Meu sonho. - Ela olha para Sirius, sarcástica.

Ele pensava que era estranho aquilo, aquele tom rude e irônico sair de lábios rosados e carnudos. Era um tanto surreal até. Mas bastante... sensual.

Ela ri e desvia o olhar, o que o faz pensar que estivesse olhando-a de um jeito indiscreto.

-- Foi mal expressar minha facilidade de odiar o mundo. Vou me controlar. - Diz rindo-se. Às vezes esquecia-se de que Sirius era acostumado com aquelas garotas criadas como sua mãe a tentara criar: se portando como uma mula bem arrumada e cheirosa, sem cérebro e com muita meiguice forçada.

-- Não era isso. - Ele responde, entendendo enfim o gesto dela. - Não liga, só me distraí. Gosto de ouvir você xingar o mundo.

Ela riu, jogando os cabelos compridos para trás. Quando ela fazia isso, não parecia ser a garota de camiseta, jeans e lápis nos olhos, que andava pela escola como se não houvesse outro ser no mundo além dela mesma.

-- Isso é o que eu realmente não entendo. - Ela fala, ainda rindo, mas havia um brilho diferente nos olhos castanhos. - Você vem aqui, quase toda noite, e me ouve praticar a minha chatice, conta duas ou três piadas insinuando que também não acha Lowaytown o "paraíso das maçãs verdes" - Ela faz menção ao slogan da prefeitura -, fuma um cigarro e perde todas essas horas ao lado da líder de torcida mais famosa da escola! E ainda volta na noite seguinte! - Ela terminou o desabafo quase revoltada, olhando-o com os olhões bem abertos.

Ele riu e a encarou por um tempo. Pensava que as palavras dela eram tanto uma pergunta quanto uma resposta, e que não conseguiria explicar melhor.

Os olhos dele pareciam refletir a mesma dúvida que ela sentia. E ela desviou os olhos e decidiu encarar a caixa de correio do Frank. Conseguiu ver, pelo canto dos olhos, que ele observa o céu agora.

-- Essa merda toda não faz nenhum sentido, você não acha, Lene? - Ela o olha. Ele só usava o apelido dela, hoje em dia, em situações que realmente o intrigavam, quando ele realmente queria uma resposta.

-- Não pra mim. - Ela respondeu, deixando passar mais carinho na voz do que intensionava. Olhou para o céu. Sentia que era a única coisa que sempre estava linda, sempre ali. Era um consolo, de certa forma, saber que certas coisas não mudavam e que, quando mudavam, mantinham sua lógica e beleza.

-- Marlene? - Ela ouviu, fanzendo-se lembrar que ainda estava com os pés no chão, naquele mesmo lugar de sempre.

-- Fala.

Sirius controlou um riso fraco, como se tivesse percebido que acordara a garota de um devaneio. E de repente olhou fundo nos olhos dela, de um jeito sério que a fez erguer as sobrancelhas.

-- Marlene... - Ele virou o corpo para ela. - Vamos fugir?

A garota arregalou o grande par de olhos castanhos, como num susto, e depois franziu o cenho.

-- Quê? - Perguntou numa careta.

-- Fugir. - Ele repetiu com firmeza, enquanto a via colocar os cabelos atrás de uma das orelhas, num ato nervoso. - Vamos embora! Só por uns dias. - Ele se apressou em dizer, e ela respirou finalmente. - Você dirige, certo? Pegamos meu carro e quando eu cansar, você dirige. Só pra... só pra escapar disso aqui um pouco. Fugir dessa merda.

Ao fim da frase de Sirius, Marlene tinha um sorriso radiante e bem aberto no rosto, um sorriso tão franco e feliz que fez o garoto querer sorrir também.

-- Não acredito... Você...? - Ela tenta falar. Era capaz de abraçar Sirius naquele momento. Abriu e fechou a boca algumas vezes, os olhos brilhando de alegria. - QUE ÓTIMO! - Exclamou por fim. Afinal, não era todo dia que se tinha a possibilidade de realizar um sonho como esse: fugir... quer coisa melhor?

Ele sorriu seu sorriso mais famoso.

-- Beleza! - Exclamou. - Pegue suas coisas!

-- Não, não. - Ela disse em tom urgente. - Tenho uma idéia melhor, Sirius. Tenho que entregar aquele maldito poema de Literatura ou reprovo e... bom, é nosso último ano de escola. É besteira arriscar logo no último trabalho do ano. - Ela viu a expressão de Sirius murchar. - Além disso – Tentou se explicar melhor. -, tenho que pedir pra alguém me acobertar, entende? Pra dizer pra minha mãe que não tô por aí fugindo com meu vizinho...

Ele a olhou um pouco desapontado, seus olhos opacos, como se não esperasse isso dela.

-- Acha que vou desistir? - Ela perguntou encarando a negritude densa de seu olhar. - Pois é mais fácil você desistir, Black. Eu juro! - Ela ergueu a mão, olhando-o com franqueza.

Ele sorriu de lado.

-- Ok. Eu também tenho que entregar o trabalho.

Ela sorri radiante mais uma vez, morde os lábios e o olha como se ele tivesse lhe dado um milhão de libras.

-- Vou entrar. - Diz de repente.

Sirius acompanha seus passos até o ponto em que fica sua sacada, e a janela do quarto dela. Marlene se vira e passa a subir a escada, aquela que ele conhecera tão bem quando criança. Sem saber o motivo, ele fica a observá-la. Ela ainda subia aquela escada da mesma maneira, os cabelos agora mais compridos refletindo ora o luar, ora a luz da rua.

Quando ele decidiu se virar, pensando na dimensão do que acabaram de combinar, ouviu-a:

-- Sirius! - Ele se vira. Ela estava sentada na janela, uma perna para dentro do quarto. - Fugir pra onde? - Pergunta sorrindo do mesmo jeito brilhante.

Ele sorri também. Pensando que pouco importava a dimensão daquele "combinado". Aquela fuga seria maravilhosa.

-- Não precisamos saber pra onde vamos! - Ele alteia, com toda a convicção na voz.

Ela abre ainda mais o sorriso antes de acenar um "tchau" para Sirius.

Quando ele entrou no quarto e olhou em seu redor, achou-o estranhamente pequeno, e o corpo de Meg, estranhamente apagado.


N/A: bom, a idéia é a seguinte: cada cap é inspirado num trecho dessa música, "Infinita Highway", do Engenheiros do Hawaii. é universo alternativo, como tá escrito no resumo. vai ter pouco mais de dez capitulos (curta em relação à CD) e o cenário é meio revoltadinho mesmo....

espero atualizar com uma frequencia legal!!! :)

e digam se gostaram ou não, por favor, deixem reviews!!!

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