OBS: Esta é uma SideStory de Encanto Grego, ou seja, uma história paralela à principal, e que se passa no mesmo contexto. Muito obrigada ao Cajango fofíssimo pela revisão e pelo apoio!

A Mudança

Mu lia mais um livro de Jung, deitado no divã vermelho de seu quarto, quando seu pai bateu à porta, chamou sua atenção e adentrou o recinto. O jovem mordeu o lábio inferior, deixando o livro de lado, para fitar o pai, e tentando não transparecer o quanto havia chorado na noite anterior. Aprumou o corpo, com o semblante sereno de sempre, dando espaço ao pai para este se sentar ao seu lado.

- Mu, eu quero que você pense a respeito de uma proposta que o Sisyphos fez a mim e ao Dohko.

- Uma proposta? Mas se ele fez uma proposta a vocês, não são vocês que devem pensar a respeito? – Questionou mais por costume do que por se perguntar o porquê do pai sempre se preocupar tanto com a opinião dele.

- É porque se trata de uma proposta que envolve você também, meu filho.

- Então, diga sem rodeios, pai... – Mu suspirou ao notar que as unhas do pai estavam roídas, indicando que, certamente, Shion tinha se remoído em ansiedade antes de decidir conversar com ele. Era inútil tentar esconder do pai a tristeza que o afligia, pois o mais velho era sempre capaz de saber o que Mu pensava, quase como que por telepatia.

- É uma proposta que envolve Dohko e eu trabalhando na rede de hotéis da família Femanis. O salário é muito interessante, o horário é flexível, e creio que nos faria bem a troca de ares. Não precisamos passar o resto de nossas vidas na Grécia, mas eu gostaria de fazer ao menos uma experiência... se você concordar e for conosco, claro! Sem você, eu não vou a lugar nenhum.

- Pai... – O filho ficava sempre apreensivo quando Shion atribuía a ele a responsabilidade de tomar decisões importantes como aquela, embora, sempre se emocionasse com a total prioridade que sempre lhe era atribuída. – Você não estava feliz por ter reunido a família inteira novamente? Não irá sentir saudades de todos?

- Eu sei... mas, não é como se a Grécia fosse do outro lado do mundo, sem falar que aqueles gêmeos insuportáveis vão acabar me seguindo, não importa onde eu estiver. – Shion suspirou, imaginando a cena que Hakurei e Sage fariam com a notícia de sua mudança para outro país.

- É, isso é verdade... mas, mesmo assim, eles vão pirar com essa notícia. – Mu acabou rindo da careta do pai, que era sempre tratado pelos irmãos mais velhos como se ainda não tivesse se tornado um adulto responsável, dono de si mesmo.

- Então, o que você me diz? Gostaria de tentar viver na Grécia por algum tempo? Ou nem pensar? – Shion quase pulava do divã, ansioso pela resposta do filho.

- Bem! Acho que... tudo bem! Talvez seja melhor para mim, digo, ficar longe do Shaka, se é isso o que está preocupando o senhor. – O filho sorriu de leve, sabendo que Shion já não tinha mais ideia do que fazer para tentar animá-lo, depois que terminou o namoro com o amigo de infância. A proximidade e os amigos em comum faziam com que Mu e Shaka se 'esbarrassem' o tempo todo, dificultando, para ambos, a superação do fim daquele relacionamento.

- Não faz essa cara que me dá vontade de voltar no tempo e te carregar como eu fazia. Não aguento ver você desse jeito... – Shion sorriu e abraçou Mu carinhosamente, deitando a cabeça do filho em seu ombro, que parecia prestes a chorar.

- Eu estou bem, pai... vai ficar tudo bem.

Dois meses depois...

- Realmente não há nada que eu possa fazer para você desistir dessa ideia louca de ir para a Grécia? Nós estivemos sempre juntos, poderíamos superar isso juntos. Eu não sei o que fazer. Também estou sofrendo por não estar com você. Muito! De verdade!

No saguão do aeroporto, Shaka monopolizava Mu sob o olhar aflito de Shion e Dohko, como sob os olhares assassinos de Hakurei e Sage. Yuzuriha, Atla, Manigoldo, Asmita e Albafica observavam os gêmeos tibetanos com apreensão, temendo que um deles ou ambos decidissem avançar no loiro, que tentava convencer Mu a permanecer em Londres.

- Nós já conversamos sobre isso, Shaka. Só o tempo irá nos dizer que tipo de sentimento existe entre nós. Não foi você quem disse isso pela primeira vez? Por que está voltando atrás agora? Eu sempre fui o menos racional de nós nesses momentos... – Mu esboçou um meio sorriso, surpreendendo-se ao ver os olhos de Shaka umedecerem-se instantaneamente.

- Você não irá para outra rua... irá para outro país! Como saberei se você está bem, se não está triste? Quem cuidará de você se tiver uma crise de asma? Quem conhece você como eu conheço? Quem conhece a mim como você conhece? Pelos deuses, o que farei sem você? – Shaka abraçou Mu fortemente, acabando, de vez, com a tolerância de Sage, que avançou na direção deles, mas foi contido por Hakurei.

- Calma, Sage! Você não quer iniciar outra discussão com o Mu agora, quer?

- Aquele desgraçado está se fazendo de vítima depois de fazer o Mu sofrer durante meses! Como você pode ficar calmo numa situação dessas? Ele vai fazer o Mu chorar outra vez! Veja! – Sage sentia o sangue ferver nas veias enquanto via Mu perder a compostura diante dos apelos de Shaka, deixando lágrimas escorrerem por suas faces durante o tempo em que permaneceu abraçado ao loiro.

- Calmo? Eu? Se pudesse, quebraria a cara daquele desgraçado. Mas, não posso. E se você fizer, ele vai te odiar de verdade. – Hakurei resmungou baixo, sabendo estar sob o olhar atento de Asmita.

- Ele já me odeia, Haku. Ele já me odeia... – Sage suspirou ao receber um olhar fulminante de Mu, que o advertia em não intervir na sua despedida com Shaka. – Viu só? Ele só olha assim para mim. – Hakurei revirou os olhos, cansado de discutir com o irmão sobre o mesmo assunto incontáveis vezes.

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- Ainda não consigo acreditar que Hakurei impediu Sage de avançar em Shaka! Em outros tempos, seria o Haku o primeiro a agredi-lo... – dizia Shion ainda pasmo pela cena que presenciara. – Graças aos deuses, ele evitou uma tragédia. – atirou-se no colchão de mola tão logo seus pertences e os de Dohko terminaram de ser entregues no quarto do casal.

- As pessoas mudam, amor. Ele não aceitou o relacionamento do Atla com o Reggie quando percebeu que o filho sofria pelo medo de ser rejeitado? – Dohko se livrava da gravata incômoda, perguntando-se como Shion ainda não havia se livrado da dele também.

- Ainda assim, me é espantoso que ele tenha se tornado tão pacífico.

- Verdade! Talvez, esteja cansado de tantas brigas... ou apenas queira melhorar a imagem que os filhos têm dele.

- Pode ser que esteja ficando velho mesmo. – Shion gargalhou alto, erguendo-se sobre os cotovelos para observar melhor o quarto em que passariam a morar a partir daquele dia.

- É tão cômodo pensar que só vamos precisar cozinhar quando quisermos... sem falar nos faxineiros e na lavanderia. Teremos muito tempo livre para desfrutarmos... – Dohko sentou-se na cama, debruçando-se sobre Shion e selando seus lábios num beijo.

- É? E com quem você está planejando desfrutar do seu tempo livre? – Shion deslizou uma das mãos pelos botões da camisa de Dohko, desabotoando-os para, então, acariciar o torso do marido.

- Com você, sempre que possível... – Dohko tomou a boca de Shion com mais intensidade, descendo, com os lábios, pelo pescoço do amado e distribuindo chupões e mordidas por sua extensão. Havia prensado o corpo do tibetano na cama com a desculpa de 'testarem a qualidade' do colchão novo.

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Muito obrigada!

Nathalie Chan