Capítulo 1 –Insaciável.

Em meio a aquela floresta densa bem verde e úmida, pelo orvalho da noite etérea, uma mulher caminhava decidida.

Mas não era uma mulher qualquer. Era uma bem atípica e que conseguia se destacar facilmente naquele paraíso verde, amarelado, avermelhado e de tantas tonalidades vivas que só a natureza consegue criar.

Rin. Era esse seu nome. Um nome bem frágil e afável. Um nome que combinava com a doçura da sua voz, mas não com suas decisões firmes e travessas. Ela estava com vinte e três anos de pura espera e expectativa...

Quanta espera...

Sesshoumaru havia a deixado junto a Kaede. As duas se davam bem. Kaede acabara sendo a mãe ou a avó que Rin nunca teve. Aprendeu muitas coisas com a Miko do vilarejo, mas era sonhadora e distraída de mais para fazer o mesmo trabalho que Kaede fizera e fazia depois da morte de Kikyou. Ela queria mesmo era conseguir se defender sozinha e por que não defender os outros também? Por isso atazanava tanto a vida de Jin, o grande amigo que fizera na infância, para lhe ensinar.

Kagome sem dúvidas era bem melhor que ela na arte de ser Miko. Era a mais indicada para assumir o posto quando Kaede morresse. Isso claro se ela permanecesse ali. Mas assim que juntou-se a Inuyasha resolveram ir embora. Aquele lugar não fazia bem para o meio-yokai e tampouco para Kagome que queria se ver livre e libertar o amado do fantasma eterno de Kikyou.

Foram embora assim como Miroku, Sango e Kohaku.

E depois de um tempo Kaede acabou morrendo. A despedida dos amigos que tinha feito naqueles anos e da morte de Kaede certamente fora de mais para seu coração. Rin só esperava esquecer o passado, embora achasse aquilo impossível. Pois era só lembrar, era só pronunciar aquele nome para estremecer. Para vibrar... Para sentir seu coração batendo dolorosamente contra o peito.

Por sorte havia lhe restado Jin que sempre que possível ajudava a sanar as dores do coração.

Ela era tão linda.

Como sempre foi e como sempre seria.

Com seus cabelos lisos negros, espessos, cumpridos e de um perfume natural fabuloso. Com seus olhos sedutores de mulher levada, mas ao mesmo tempo ingênua e que não sabe o quanto é bonita. O quanto atrai olhares por onde passa. Seus olhos tão castanhos como as terras virgens e férteis.

A boca simetricamente perfeita, rosada.

Desejada.

Sua silhueta fina era bem desenhada pelo kimono de Miko que a foi destinada assim que a velha Kaede partira do mundo dos vivos. Nos pés uma sandália de madeira comum que fazia pouco barulho naquelas terras úmidas.

Uma espada embainhada estava presa firmemente em suas costas junto com uma pequena bolsa onde levava comida, água, ervas medicinais e tantas outras coisas...

Rin caminhou até o rio que passava ali perto. O tempo era de um frescor agradável, ventava fraco e o sol estava radiante. Desceu até chegar perto do leito do rio e finalmente depositou tudo que carregava no chão terroso. Olhou seus arredores e não notou sequer qualquer presença humana. Só conseguia escutar o barulho das cigarras e dos passarinhos. Visto que estava em segurança resolveu que poderia entrar no rio de águas claras e banhar-se como era de sua vontade.

Amarrou os cabelos num coque com a ajuda de algumas fitas brancas. Seu cabelo era pesado, um liso cheio que uma só fita não conseguiria prender. Assim que os cabelos foram devidamente presos começou a despir-se vagarosamente.

Entrou na água assim que terminou. A água estava bem fria, o que a fazia se retesar, mas sabia que acostumaria em breve com aquela temperatura. O calor ajudava com que sentisse vontade de permanecer por ali, envolta aquele líquido cristalino. Respirou fundo e cerrou os olhos enquanto recostava-se na margem do rio. Ouviu um barulho de leve, bem fraco e acabou sorrindo voltando a abrir os olhos.

-Jin, por que não para de tentar me espionar enquanto tomo banho?

Nenhuma resposta ela recebeu, só escutou o barulho de passos caminhando em sua direção, mas que parou subitamente a alguns metros de distância, onde não conseguia ver o belo corpo da menina que estava submerso e de costas.

-Como você sempre sabe que estou aqui? –uma voz grave indagou sem demonstrar vergonha por ter sido pego.

-Porque você está sempre aqui. –ela sorriu balançando a cabeça negativamente. –E porque também é sempre muito descuidado. Sempre escuto barulho.

-Seu ouvido é uma tortura para mim. –ele riu cruzando os braços.

-Seus modos é que são uma tortura. –rebateu sem dificuldades.

-Desculpe, Rin. Sabe que não consigo evitar.

-Você sempre diz a mesma coisa. Já me acostumei com isso. Isso não me incomoda, sei que nunca viu nada mesmo e nem nunca verá. A situação fica constrangedora só pra você.

-Nossa, me senti ofendido agora. –ele coçou a nuca sem jeito.

-Que ótimo, essa era a intenção. –riu zombeteira. –Vai, vira de costas, eu vou sair.

Jin virou-se de costas no mesmo momento em que Rin virou o rosto para ter certeza que o rapaz fez o que lhe foi solicitado.

-Eu virei, Rin. Não precisa desconfiar, sabe que não vou olhar.

-Como sabe que conferi? –franziu o cenho.

-Porque você é tão previsível... –zombou com um sorriso no canto dos lábios.

Rin sorriu e saiu do rio. Sua toalha estava na margem e tratou logo de se enrolar naquele pano macio. Secou-se bem rápido e vestiu a roupa. Assim que terminou caminhou em direção a Jin que continuava de costas e olhando para a floresta ao seu redor.

Rin colocou a mão no ombro do amigo que virou-se com um belo sorriso na face.

Jin era um rapaz bonito. Bem mais alto do que ela evidentemente, e mais velho também, uns quatro anos de diferença. Tinha os olhos castanhos escuros e cabelo negro liso curto. O nariz simétrico ao rosto liso, sem marcas, assim como os lábios. Tinha um porte físico que atraía muitos olhares femininos tanto de desejo como de inveja, mas não dele, e sim de Rin por ser tão próxima a aquele rapaz. As meninas do vilarejo a odiavam por isso. Odiavam porque sabiam que Rin o tinha nas mãos.

Ele usava um kimono masculino simples. A parte de cima era de um azul bem claro que estava aberto completamente, e a parte de baixo era completamente preta. O chinelo de madeira no pé e a espada embainhada presa na cintura.

Jin tinha um sorriso cínico que Rin adorava. Ele era seu melhor amigo, na verdade seu irmão. Gostava dele como se fizesse parte da família. Eram amigos há anos, desde pequenos. Assim que os outros foram embora e Kaede falecera, agarrou-se mais veemente a ele.

Para ela, Jin significava amizade e refúgio. Para ele, Rin significava o seu coração o seu desejo. E isso sem dúvidas era um problema.

-Hei, até quando vai ficar fazendo travessuras como um moleque? –ela riu puxando a orelha dele.

-E até quando você vai me resistir? –riu debochando.

-Deixe-me pensar... Acho que pra sempre.

-Como você é cruel...

-Mas afinal de contas, veio aqui só pra me ver tomar banho?

-Não. Na verdade foi por um acaso dessa vez. –tomou um tom sério que Rin não gostava. –Está tendo recentemente muitos ataques de Yokais pelas redondezas. O vilarejo vizinho veio nos avisar para tomarmos devidos cuidados. Algumas pessoas andam desaparecendo. Vim assim que soube da notícia lhe procurar. Não quero que você fique andando por aí sozinha, está perigoso.

-Sabe que sei me virar. –girou os olhos. –Eu não sou tão parva quanto pensa. Tudo bem que sou desastrada e...

-Descuidada, fraca, sem jeito, teimosa...

-Já entendi!

-Rin, não adianta nada andar com uma espada se não sabe usá-la. –ele a fitou profundamente.

-Eu sei usar sim! –ela rebateu um pouco nervosa. –Você me ensinou.

-Rin, você não sabe se defender o suficiente. Sabe bem disso. O que eu te ensinei foram coisas básicas, para se defender de quem não sabe nada. Mas se fosse lutar de verdade com alguém experiente ou com um Yokai não conseguiria ganhar.

Ela emburrou de vez, desviou os olhos e ficou em silêncio. Jin odiava quando ela fazia isso, mas às vezes até achava que aquilo fazia parte de seu charme. E como já estava acostumado com aquele gênio forte sabia como deveria agir.

Puxou as fitas do cabelo da menina levemente fazendo seu cabelo pender pelos ombros numa cascata negra. Ele virou o rosto dela levemente pelo queixo e encontrou um par de olhos revoltos que o fizeram rir de leve.

-Não entende que não quero que se machuque? Eu nunca me perdoaria se algo de ruim a acontecesse. Por isso nunca quis treiná-la verdadeiramente, nunca a estimulei que pegasse numa espada. Você não é para isso. Sempre falei tudo isso, não é nenhuma novidade.

-Não pode ficar me tratando que nem uma boneca pro resto da vida. Eu não sou tão fraca assim quanto pensa. Eu sei que seria capaz de ser melhor se me ensinasse como deveria. Mas você simplesmente não quer que eu aprenda. Por que Jin? Por que faz isso? –ela estreitou os olhos. –Eu sempre perguntei isso. Sempre quis saber o porquê de você me privar disso. Não entende que isso é importante pra mim? Não quero nunca mais ser um peso pra alguém. Quero me defender por mim mesma, sem a ajuda de alguém. Não quero ser mais dependente... Eu sempre, no final das contas, fui dependente. Primeiro foi... Primeiro foi com ele...

-Eu sabia que iria falar de Sesshoumaru de novo. –ele soltou o queixo de Rin e suspirou cansado.

Ela virou o rosto novamente. Falar em Sesshoumaru era sempre tão doloroso, ele sabia bem disso. Sabia que só de pronunciar aquele nome a fazia sofrer, mas inevitavelmente às vezes tinha que ser pronunciado aquele nome. E essa era a pior parte pra ambos.

-Rin, por que ainda acha que ele vai vir? –ele a fitou descrente.

-Não quero falar disso. Não quero mesmo.

-Por que não? Por que não consegue nem ouvir o nome dele? Não consigo acreditar... Tantos anos se passaram e eu ainda vivo essa agonia. –ele sorriu incrédulo. –Isso vai ser sempre um mistério horrendo pra mim. Um terror. Toda vez que eu a olho eu vejo toda a sua dor no fundo de seus olhos. Não adianta o que eu faça, não adianta... Eu sempre o vejo em você. Sempre o vejo no seu horror.

-Jin, por favor... –ela o fitou entristecida, com os olhos implorando que ele parasse.

-Tudo bem... –suspirou chateado. –Quer saber mesmo por que nunca te ensinei de verdade? Não era essa a conversa original? Bom, a verdade é que eu não quero que aprenda. Não quero que se meta em confusões. Eu sei o suficiente por nós dois e você não é nem um peso pra mim e nunca vai ser. Eu gosto de protegê-la, gosto do seu jeito frágil. Quando a protejo sinto que pelo menos alguma coisa de bom eu consigo fazer pra você. Gosto da sua dependência. Gosto de pensar que sou útil. A ideia de você se defendendo sozinha, se virando sozinha, me assusta. Se conseguisse fazer tudo sozinha eu não serviria mais, e eu não faria mais nada de bom pra você. Tenho medo disso. Na verdade me apavora o fato de não servir mais, de não ter mais espaço na sua vida. É tão difícil assim de perceber?

Ele sorriu mesmo que não quisesse e Rin somente se encolheu surpresa com aquela fala. Não queria que ele pensasse tudo aquilo, mas antes mesmo de interrompe-lo, ele prosseguiu.

-Sempre falei que você era fraca, que não tinha jeito de propósito. Isso não é verdade. Você é sim muito capaz, mas sempre falei o contrário pra que desistisse logo. –ele segurou os braços de Rin levemente e agarrou-se aos seus olhos profundamente. –Mas você nunca me deu ouvidos. E depois de um tempo eu percebi que não adiantaria o que eu falasse ou o que eu fizesse pra mostrar o quanto você não tinha talento. Isso não a iria fazer desistir porque simplesmente essa é você. A menina que não aceita não como resposta e que sempre quer dar um jeito em tudo. E é tão capaz quanto qualquer um.

Ao terminar ele a soltou. E ela ficou sem palavras tentando assimilar todas aquelas informações que foram jogadas ao vento. Custou a acreditar nos seus ouvidos. A acreditar nas palavras de Jin. Sentiu-se mal pelas acusações e pelas birras que cansara de fazer com ele.

Jin virou-se de costas para sair de perto, para arejar a mente e quando deu seus primeiros passos ela o puxou pelo kimono o surpreendendo. Ele parou subitamente sem dizer qualquer palavra e foi então que sentiu a testa da menina em suas costas. Ela ainda agarrava o seu kimono fortemente. Como se estivesse grudada a ele. Talvez estivesse. Talvez sempre esteve.

-Me desculpe... –sua voz saiu como num sussurro. –Não sabia que pensava essas coisas.

Ele abaixou a cabeça levemente.

-Sabe, você é um idiota por pensar essas coisas. Você acredita mesmo que estive esse tempo todo ao seu lado porque precisava da sua proteção? Como pode pensar que eu te largaria só por ser mais forte, por saber me defender? Eu sempre precisei de você, não como professor, mas sim como o amigo, o irmão que você sempre foi desde aquele dia... Nunca estive ao seu lado por necessidade. É tão doloroso vê-lo sofrer, é como receber uma apunhalada no peito.

Jin virou-se lentamente fazendo com que Rin desencostasse de suas costas e soltasse seu kimono. Os dois encararam-se em silêncio no primeiro momento, mas não demorou até que ele a puxasse para um forte abraço. Jin acariciou os cabelos sedosos de Rin antes de se afastar um pouco e ir se aproximando da boca rosada que tanto almejava alcançar. Ela levou um susto com aquela atitude e assim que seus lábios estavam próximos, virou o rosto suavemente o deixando frustrado. Jin respirou fundo, mas logo riu e a soltou de vez.

-Desculpe, eu sempre tenho esperanças.

-Vamos voltar. –ela sorriu.

À noite, em sua casa, Rin olhou pela janela a grande lua cheia que brilhava no seu límpido céu acompanhada de inúmeras estrelas. Sentiu-se atordoada por um momento, contudo logo abriu um enorme sorriso e debruçou-se sobre a janela.

-O que será que o senhor está fazendo agora? Senhor Sesshoumaru, não sabe a saudade que sinto de nossas viagens. Também sinto falta do Senhor Jaken e de Arurun. Faz tanto tempo... Tanto tempo... Parece que foi em outra vida tudo o que passei ao lado do senhor. Será mesmo que o senhor nunca vai voltar como Jin fala? Será que o senhor me esqueceu?

Pela manhã, Rin foi chamada por uma jovem mocinha chamada Hana. Ela devia ter somente quinze anos e estava desesperada, explicou a situação da mãe o mais rápido que podia e logo após puxou Rin pela mão a guiando até uma casa ali perto. As duas entraram correndo.

A mãe da menina estava febril, precisava de cuidados. Rin analisou um pouco a mulher e logo acalmou a mocinha agitada passando a mão pelos seus cabelos.

-Acalme-se sim? Irei buscar algumas ervas medicinais e voltarei para ver a sua mãe, está bem?

-Obrigada, senhorita Rin.

-Agora fique ao lado da sua mãe, irei ajudá-la. Ela está com febre e muito sonolenta, fique aqui talvez ela precise da sua ajuda.

-Está bem.

Rin saiu depressa. Passou por algumas pessoas no vilarejo e não encontrou Jin. Ele sempre a acompanhava e ainda mais agora que os arredores encontravam-se em alerta. Resolveu não perder tempo o procurando, saiu correndo e entrou na floresta.

Rin diminuiu o ritmo assim que entrou na mata. Sabia muito bem onde estava a planta que precisava. Andou em passos rápidos se distanciando cada vez mais do vilarejo. Dessa vez não estava com a espada presa nas costas, saíra tão depressa que acabou esquecendo do utensílio que sempre a acompanhava.

Assim que encontrou a planta sorriu satisfeita. Colheu algumas folhas, colocou dentro da manga do kimono e partiu.

Enquanto caminhava de volta sentiu que algo a seguia, embora não escutasse passos. O vento estava esquisito de mais e a floresta muito quieta. Foi então que apressou o passo olhando toda vez para trás. Quando virou-se acabou levando um susto que a fez soltar um espasmo.

Um Yokai estava bem a sua frente. Ele era grande e horrendo. Era uma gosma roxa com um único olho, uma boca enorme com dentes afiados como os de tubarão. Assim que deparou-se com aquele monstro saiu correndo no sentido contrário.

Ele por sua vez foi a seguindo derrubando árvores e tudo que estivesse pela frente. A gosma que revestia seu corpo era elástica e moldável. Ele fazia crescer braços gigantescos que ora ou outra iam à direção de Rin.

Ela desviava com dificuldade. Sabia que não ia conseguir fugir por muito tempo. Estava em pânico e não sabia mais o que fazer. Queria buscar algum abrigo para se esconder, mas parecia impossível se esconder daquele ser. Quando achou que não restavam mais esperanças acabou caindo num buraco, num poço antigo, bem fundo e inativo. Caiu por um bom tempo até chocar-se a terra úmida cheia de folhas e galhos. Assim que chegou ao chão viu a luz que vinha de cima sendo bloqueada por uma enorme árvore que caíra. Provavelmente havia sido derrubada anteriormente pelo Yokai que a seguia.

Suspirou aliviada por ter escapado daquele monstro, mas logo assustou-se ao perceber que estava presa ali, naquele espaço que mal dava para ficar completamente deitada. E quando tentou levantar-se sentiu uma dor terrível no tornozelo e notou que sua perna sangrava um pouco. Tinha sido um ferimento leve, não tinha dúvidas.

Foi então que entrou em pânico. Como sairia dali? Não conseguia ficar em pé e o que dirá escalar tudo aquilo. O que pensou primeiramente foi manter a calma. Mas aquela escuridão absoluta, que mal dava para ver a sua mão, a assombrava.

Resolveu ajeitar-se naquele cubículo e tentar ser um pouco racional. Sabia que gritar não ia adiantar nada, estava longe do vilarejo e ainda por cima isolada por uma enorme árvore. Sem contar que o Yokai ainda poderia estar lá a procurando.

Respirou fundo várias vezes até fitar o breu denso que a envolvia. Percebeu que conseguiria escutar os barulhos vindos de fora. É claro que os sons chegavam bem leves, quase imperceptíveis, mas pelo menos havia algo ao seu favor. Jin a procuraria, disso ela não tinha dúvidas, mas precisava esperar...

Seus olhos se encheram de lágrimas, não queria admitir, mas estava morrendo de medo.

-E agora? Será que eu nunca mais vou ver Jin? Será que... Nunca mais vou ver o senhor?

As horas se passaram. Já estava de noite, mas Rin não sabia disso. O breu ali dentro era tão denso como a noite. Ela só sabia que não aguentaria mais tempo naquele lugar abafado e escuro. A dor estava insuportável e tinha febre. Febre muito alta. Já estava tendo delírios. Suava frio, tremia, chocava seus dentes intermitentemente. Não conseguia mais ficar com os olhos abertos ou manter-se em consciência. Lutava contra o sono e suas alucinações.

E entre suas tremedeiras e delírios escutou um barulho vindo do lado de fora. Um som tão suave que era como se alguém estivesse levitando. Tentou gritar, mas não conseguiu. Nada saiu de sua boca aberta. Estava quase perdendo os sentidos quando ouviu o som alto da árvore sendo retirada brutalmente. E antes que pudesse entrar em pânico por pensar ser o Yokai de antes viu um aquele vulto branco vindo em sua direção. Um vulto tão familiar...

Rin não acreditou em seus olhos, achou que era alguma parte desesperada de sua consciência. Algum delírio cruel. Tentou resistir ao desmaio eminente e lutar contra a visão embaçada, queria ter certeza do que via. Queria sentir mais uma vez aquela deliciosa taquicardia...

Sentiu seu corpo ser envolvido gentilmente, com todo o cuidado. E por fim ouviu aquela voz inconfundível. A voz que esperava ouvir a tantos anos... Aquela voz cortou o poço e ecoou dentro de sua alma.

-Por que não consegue ficar longe de problemas?

E antes que pudesse desmaiar finalmente, deixou um sorriso escapar dos lábios carnudos e uma lágrima solitária cortar a face suja de terra.

-Sabia que o senhor viria...

Rin finalmente abriu os olhos monotonamente. A vista embaçada começara a dar espaço para nitidez. E assim que a visão ficou límpida notou que fitava o teto de sua casa. Aquilo a surpreendeu e a fez sentar-se num solavanco. Mas logo viu que fora uma péssima ideia sentar-se tão bruscamente. Seu tornozelo latejou a fazendo soltar um gemido de dor. E a toalha que estava úmida em sua testa, sem que ela tivesse percebido, caíra ao chão.

Ela fitou o tornozelo e o viu fortemente enfaixado. Logo após, analisou suas roupas e percebeu que estava com um kimono feminino comum da cor roxa e com um obi azul marinho igualmente singelo. Não conseguia compreender aquele evento, franziu o cenho mais confusa do que nunca.

E foi só lembrar de quem a poderia ter salvado, só pensar na possibilidade de ter sido ele, não conseguiu resistir. Levantou-se completamente ignorando a dor de seu tornozelo e do leve ferimento em sua coxa que também havia sido enfaixado. Saiu correndo mesmo que estivesse mancando e com uma dor terrível, mas tinha que saber. Tinha que ter certeza de que não tinha ficado louca e que sua mente não seria tão cruel a ponto de dar-lhe uma alucinação daquelas. Ela correra como se sua vida dependesse disso, como se precisasse daquilo para sobreviver, para respirar. Saiu da casa em busca dos olhos âmbar... Em busca dele...

Sentiu o coração na boca assim que se afastou da casa e não encontrara ninguém. Entrou em desespero. O procurava por todos os lados. Seu tornozelo latejava pelo esforço, mas ela já não estava preocupada com isso. E esse era o menor de seus problemas naquele instante. E quando deu mais um passo para frente e se preparou para correr escutou aquela voz atrás de si que a congelou totalmente.

-Onde pensa que vai?

E foi então que sem medo virou-se, mesmo que as pernas tremessem e a taquicardia a envolvesse. E foi nesse instante. Nesse exato momento que o viu.

Encará-lo depois de tantos anos foi um tanto quanto esquisito, surpreendente e emocionante. Mas depois encará-lo parecia algo tão natural, tão óbvio, tão fácil e tão previsível. Não tinha sido tão assustador e arrebatador como imaginara que seria seu reencontro. A sensação que teve era como se nunca, nunca o tivesse perdido. Como se todos aqueles anos tivessem sido dias. Não sentia isso por ter sido pouco seu sofrimento, isso certamente que não. Mas sim pelo fato dele estar do mesmo jeito, com o mesmo rosto, com a mesma postura de quinze anos atrás. Ele não tinha mudado absolutamente nada e isso fez com que Rin sentisse ter sete anos novamente. Lembrou-se nitidamente de tantas coisas que passaram juntos.

Foi um baque.

Um baque previsível e inevitável.

E mesmo que tentasse se segurar seria impossível. Ninguém seria capaz de impedi-la de continuar. Embora estivesse mancando correu na direção dele com os olhos abarrotados de lágrimas. Lágrimas de saudade. E sem pensar duas vezes o abraçou fortemente.

-Eu sabia... Eu sabia que o senhor iria voltar.

Sesshoumaru surpreendeu-se com Rin, não pelo forte abraço, é claro. Ela sempre fizera isso quando criança, sempre demonstrara tamanho afeto e ele sempre a deixou em paz para fazer o que ela bem entendesse. Estava surpreso por ter percebido o quanto demorara para voltar, o quanto ela tinha crescido. De fato não era mais uma criança, era uma mulher. Uma humana encantadoramente linda. Ele jamais imaginara que pudesse a encontrar tão bela e tão crescida. Tinha esquecido o quanto os humanos crescem rápido. Tinha esquecido que quando voltasse ela não teria olhos ingênuos e imaturos, mesmo que ainda pudesse ver seus traços antigos eles estavam quase imperceptíveis. Se escondiam por debaixo de cílios sedutores e olhos maliciosos de mulher.

Dentro da casa, eles sentaram-se de frente para o outro. Sesshoumaru a fitava sério enquanto ela tagarelava com um enorme sorriso na face que parecia que não sumiria nunca. Ela o estava enchendo de perguntas e ele respondia pacientemente. Mas até que a interrompeu.

-Como está se sentindo?

-Melhor. Já não tenho mais febre. Só meu tornozelo que está doendo muito.

-Não deve ficar andando por aí... Por que saiu correndo daquele jeito? –ele cruzou os braços.

-Eu só queria ter certeza... –respondeu abaixando os olhos com a face um pouco corada.

-Certeza do quê? –indagou sem entender.

-De que o senhor estava aqui...

-... Pedi a Jaken que fosse buscar comida para você.

-O senhor Jaken também está aqui? –seus olhos brilharam de expectativa.

-Está.

-E Arurum?

-Não, ele ficou. –mudou de assunto rapidamente. –Mas me diga, onde estão os outros? Onde estão a velha e o fedelho?

-A senhora Kaede morreu e os outros foram embora. –sorriu de forma nostálgica.

-Ficou aqui sozinha? –franziu o cenho.

-Não tão sozinha assim. Jin é um bom amigo.

-Jin... Não gosto desse. –falou sem problemas.

-O senhor o conhece? –surpreendeu-se.

-Sim. Ele veio vê-la algumas vezes.

-Deve estar preocupado.

-Não deve se importar tanto com esse humano.

-Por que diz isso? –indagou confusa com a testa franzida.

-Já disse que não gosto dele.

-Senhor Sesshoumaru, por que estou com outra roupa? Por que estou limpa?

-Uma mulher veio cuidar de você depois que esse tal de Jin foi embora. Ela a limpou, a vestiu e enfaixou seus ferimentos.

-Deve ter sido a Hana. Eu tenho que levar remédio para a mãe dela.

-Ela achou no seu outro kimono.

-Que ótimo! Ela é uma boa menina... –Rin olhou mais uma vez seus curativos, mas logo voltou-se para ele. –Senhor Sesshoumaru, como o senhor me achou?

-Foi um mero acaso. –deu de ombros. –Eu estava vindo para cá quando senti seu cheiro naquele buraco. Como foi parar lá?

-Eu fui pegar algumas ervas para a mãe de Hana, mas um yokai acabou vindo atrás de mim e caí acidentalmente naquele buraco. E uma árvore acabou caindo tampando a única saída.

-Não a deixei aqui para ser escrava dos outros.

-Não, todos me tratam muito bem. Gosto de ajudar essas pessoas. Essas pessoas não têm ninguém... Só a Hana que é mais espertinha, mas isso porque sempre foi curiosa. Mas ela não sabe de muitas coisas, tem muito que aprender ainda.

-Não sei porque se importa.

-Rin, eu vou ser direto. Não quero perder o meu tempo nesse lugar... –ele a fitou com aqueles olhos âmbar de forma séria.

-O quê o senhor deseja?

-Eu vim buscá-la. Mas tenho que saber esse é o seu desejo? Quer ir embora comigo?

Rin mal conseguiu respirar depois daquela pergunta. Sentiu o coração bater tão forte que parecia que rasgaria seu peito. Aquele momento finalmente chegara e estranhamente estava muda e pálida como um cadáver. Sabia a resposta, sempre soube... Desde o dia que ele a deixara. Só precisava responder. E aquele sem dúvidas era o seu momento...

CONTINUA...

Nota da Autora:

E aí pessoal gostaram do primeiro capt? Eu espero q sim =).

Bom depois de séculos eu voltei com mais uma fic de Rin e Sesshoumaru, espero q gostem de ler tanto quanto eu estou gostando de escrever.

É um prazer voltar.

Vejo vocês em breve.

Espero mtos comentários!

Dúvidas, curiosidades, sugestões... Qualquer coisa é só escrever pra mim.

Muitos beijos e nos veremos em breve! Muito em breve eu prometo!

Até o capt 2 ^^!