I'm back, John. ―
― Ele não tem nada a ver com isso. ― John Hamish Watson estava sentado em uma poltrona aparentemente confortável, de frente para um homem de meia idade que parecia prestar mais atenção na caderneta a sua frente do que nele.
― Você tem certeza disso, John? E por que ainda continua no apartamento? ― O psicólogo referia-se ao apartamento onde John morava com seu parceiro, Sherlock, na Baker Street.
O fato era: Sherlock Holmes havia morrido. Ou não teria necessidade nenhuma que Mycroft obrigasse John a visitar um psicólogo um dia na semana. Para Mycroft, John não havia conseguido superar a morte de Sherlock. Ele ainda morava na 221-B. Sua única companhia era Gladstone, um cão que ele havia comprado no desejo de repor a ausência de seu amigo.
― Eu... não vejo necessidade de sair de lá sendo que eu também pagava pelo lugar. ― Ele resmungou, ajeitando-se na poltrona.
― John, você não está esperando que Sherlock volte, está? ― A pergunta foi seguida por um silêncio de mais ou menos dez minutos.
John levantou-se da poltrona e agradeceu o homem a sua frente, disse esquecer-se de um compromisso e saiu da sala sem dar mais explicações. O psicólogo sorriu de canto e anotou alguma coisa com 'esperança de que ele volte' na agenda.
"Esperar que ele volte? Sherlock está morto. M-O-R-T-O. Ele não voltará." John não tinha certeza se afirmava isso por que era verdade ou por que ele queria que, realmente, fosse. Por que querendo ou não, negando ou não, ainda existiam esperanças de que Sherlock voltasse. Não era típico de Sherlock.
John Watson resolveu dar um passeio pelo parque central. Relaxar um pouco, abrir a mente e tentar esquecer o caso de Sherlock. Caminhou alguns metros distraído, até esbarrar – sem querer – em uma mulher que parecia andar distraidamente também.
― Oh... Me desculpe! Eu estava distraído. Peço desculpas novamente.
― Ah, não precisa se desculpas. Eu estava ainda mais distraída. ― A mulher disse, sorrindo. John não estava muito afim de puxar conversa com ela, mas seu instinto falou mais alto.
― Qual seu nome? ― Ele perguntou, direto.
― Mary Morstan. ― Mais um sorriso.
― John Watson. O que faz aqui no parque num dia útil como esse? ― O assunto era quase tão monótono quanto assistir Sherlock fazendo qualquer uma de suas experiências.
Comparar alguma coisa com Sherlock não fora nenhum pouco saudável por que John fechou a cara ao fazê-lo. Mary, a mulher, parecia não estar entendendo muita coisa. Sugeriu que os dois fossem tomar uma xícara de café, por que John parecia exausto. Ele aceitou.
― John. ― Ele congelou. Aquela maldita voz me persegue em todos os lugares. Virou-se para ver o dono da voz e não pode fazer outra coisa a não ser correr em direção ao dono e dar-lhe um belo soco no rosto. ― Bela recepção, John. ― O homem riu.
― Você... ― Gaguejou. ― Você... ESTÁ. VIVO. SHERLOCK. ― Quase gritando, Watson esqueceu-se completamente da mulher que agora observava a cena perplexa. No mínimo, ela iria achar que os dois eram algum tipo de casal.
― Shhhh. ― Holmes fez com a boca. ― Eu apreciaria se ninguém soubesse que eu estou aqui. E ótima percepção a sua, John, achei que você não me reconheceria assim.
Sherlock Holmes havia voltado. John tinha certeza de que ele não estava morto. E pior: havia voltado de um jeito estranho. Sherlock aparentava lá seus 50 anos de idade, com uma barba branca rala e sobrancelhas também brancas. Os cabelos, grisalhos, não se faziam muito presentes na cabeça dele. Suas roupas de um idoso que sai para caminhar e pegar um sol da manhã em pleno sábado.
― Sua voz te denunciou. ― John sorriu. Estava feliz por ter seu melhor amigo de volta.
― Soube que você ainda está morando na Baker Street. Ótimo, John, ótimo. Vamos pra lá agora. ― Puxando o doutor, Sherlock não deu tempo para que John se desculpasse com a mulher que continuava olhando para a cena dos dois atônita.
Sherlock estava de volta. Isso era informação demais para processar. Mas John estava feliz, isso significava que ele teria sossego mais uma vez. Ou não. Por melhor que conhecesse Sherlock, sabia que podia se surpreender sempre com o moreno. Os dois voltaram para o apartamento na Baker Street e tudo parecia de volta ao normal, naquele dia.
