Aioria parou na saída da casa de Peixes, olhando para o caminho de rosas. Podia sentir o aroma venenoso e até ficou um pouco tonto. Afrodite aproximou-se, com seu orgulhoso sorriso.
"Tome cuidado, Aioria. Se chegar muito perto, pode acabar morto por minhas rosas. Seria um fim vergonhoso ao cavaleiro de Leão, não acha?"
"Eu preciso ir à sala do mestre. Pode tirar essas rosas do caminho?"
"Depende... O que pretende fazer no salão do mestre?"
"Eu fui requisitado por ele. Por que está tão desconfiado?"
"Por quê? Ora, parece que você não se conhece, não é verdade? Você é Aioria... irmão do traidor Aioros. É o suficiente para eu desconfiar, não?"
"Afrodite... Eu não sou o meu irmão. E eu não tolero que digam essas coisas dele."
"Uma coisa é tolerar calúnias. Outra é aceitar a verdade."
"Já chega! Me deixe passar, Afrodite!"
Afrodite riu e queimou o cosmos. Logo um caminho surgiu no meio do carpete envenenado de rosas, isento de veneno.
"Cuidado para não andar muito à margem. Elas estão loucas para matar alguém."
Com um olhar de repulsa, Aioria passou pela casa de Peixes e seguiu adiante até o salão do mestre. Não fazia muito tempo que tinha conquistado a armadura de Leão, e os cavaleiros de ouro eram tudo menos amigáveis com ele. Não importava quantos anos passassem; a memória do 'traidor Aioros' ainda perdurava.
Abriu a porta e aproximou-se. Ajoelhou-se, tal como mandava a etiqueta, com a cabeça baixa.
"Mestre. Vim conforme o solicitado. Em que posso ser útil?"
"Aioria. Vejo que chegou na hora. Vamos aguardar mais um pouco, pois pedi que Shaka de Virgem também viesse."
"Shaka...?"
"Eu quero que vocês dois realizem uma missão para mim."
Shaka chegou alguns minutos depois, sem pressa. Seus gestos não se diferenciaram de Aioria: caminhou até o lado do colega e ajoelhou-se.
"Mestre. O senhor deseja confiar alguma missão a mim?"
"Shaka", respondeu o mestre. "Há uma missão que quero que cumpra para mim, junto com o cavaleiro Aioria de Leão."
"Entendi... Para chamar dois cavaleiros de ouro, deve ser um trabalho de relativa gravidade."
"Trata-se de uma investigação a ser conduzida com redobrada cautela. Surgiram notícias em diversos pontos da costa do Mediterrâneo sobre um monstro marinho venenoso de nove cabeças que estaria devastando vilas e devorando civis. Dizem que a fera possui mais ou menos dez metros de altura."
"Essa descrição parece muito com a da Hidra de Lerna", apontou Shaka. "Mas Héracles, filho de Zeus, acabou com ela quando realizava seus doze trabalhos. Ela deveria estar morta."
"Isso mesmo, Shaka. E no entanto, ela reviveu nos tempos modernos. Eu quero que vocês eliminem esse perigo da costa do mediterrâneo e também investiguem a causa do renascimento desse monstro mitológico. Quero que partam imediatamente."
"Sim, mestre", responderam, em uníssono.
Levantaram-se e saíram do salão do mestre. Aioria, desconfiado, olhou para Shaka, com quem nunca tinha conversado direito, apesar de serem vizinhos. O cavaleiro de Virgem sempre permanecia meditando, e era estranho até mesmo ter de interrompê-lo para pedir permissão para passar pelo templo de Virgem.
"Eu irei para o seu templo quando ficar pronto", informou Shaka, de forma neutra. "Não se atrase, Aioria."
Shaka foi descendo as escadas sem dizer mais nenhuma palavra. Era como se Aioria nem estivesse presente, ou como se os dois não tivessem de descer juntos apesar de tomarem o mesmo caminho. Quando passavam por uma casa, Shaka educadamente pedia permissão apenas para ele. Aioria, portanto, repetia o pedido logo em seguida.
Preparar a sacola foi rápido. Aioria tinha sempre uma bagagem pronta para partir, que podia ser aumentada ou diminuída, de acordo com a duração da missão. Quando se tratava de uma investigação, preparava-se para uma viagem de longa duração.
Shaka apareceu pouco tempo depois, trazendo sua própria bagagem, muito menor à de Aioria. Parou em seu templo e soltou as palavras:
"Acha que vamos perder tanto tempo a ponto de levar uma bagagem tão grande, Aioria?"
"Como sabe o que eu estou carregando se está sempre com os olhos fechados?"
"Posso ouvir o ruído do atrito da sacola sobre as suas costas, e saber exatamente qual é o peso dela."
"Às vezes, tenho a impressão de que seus olhos estão sempre abertos, Shaka."
Shaka sorriu de maneira misteriosa e seguiu para as escadas que davam acesso à casa de Câncer.
"O mestre mandou que partíssemos imediatamente. Não vamos mais perder tempo."
Aioria ajeitou suas coisas nas costas, pegou a urna vazia da armadura e foi atrás do colega.
