Paradoxo Temporal:
Sangue, bandagens e luxúria
Sinopse: [Série "Paradoxo Temporal"] Gintoki está determinado a esquecer a tragédia a qual vivenciou, nem que seja por alguns momentos. Conseguirá ele tirar o peso da dor que carrega, nem que seja por um instante?
Notas: Sakata Gintoki, protagonista de Gintama, não me pertence, mas sim a Sorachi Hideaki... Mas nada me impede de eu pegá-lo pra mim! Porém, a história me pertence, bem como a personagem Saitou Hikari.
Esta fanfic faz parte da série "Paradoxo Temporal", junto com a "Paradoxo Temporal: O encontro entre presente e futuro" e "Paradoxo Temporal: A origem de Ginmaru", sendo como uma antecessora desta última.
Para finalizar, mais um aviso aos navegantes: Esta fanfic é classificada para maiores de 18 anos, por conter cenas de sexo. Se você não tiver essa idade e mesmo assim quiser ler, não me responsabilizo, pois você está lendo por sua conta e risco!
Capítulo 1: A culpa é um peso quase insuportável
Seus olhos avermelhados demonstravam cansaço e dor. Sua respiração ainda ofegante ecoava ali, em meio a cadáveres jogados no chão. Seu rosto respingado de sangue expressava surpresa ao fitar um corpo em especial, caído bem à sua frente.
O cadáver em questão tinha uma espada de madeira cravada em seu peito. Era de um Yato. Não de qualquer Yato.
Kamui era o segundo Yato a morrer em suas mãos. Mas fora uma morte merecida. Porém, mesmo assim, era difícil de acreditar que ele, um mero humano, tivera força tamanha pra tal feito.
Assim que saiu do transe de fúria, Gintoki ouviu à distância um choro desesperado, que reconheceu ser de Shinpachi. Abaixou a cabeça, tentando segurar sua própria dor. O Yorozuya não se conformava em perder alguém querido. Ainda mais uma "quase-irmã" como Kagura, covardemente assassinada por seu irmão Kamui.
Depois de tantos anos, não imaginava que teria outra perda traumática.
Dirigiu-se ao cadáver de Kamui e retirou sua espada de madeira de onde estava cravada. Não se importou com o sangue que a manchava. De toda forma, isso não traria Kagura de volta, mas pelo menos dera vazão a sua fúria.
Tomou coragem e se aproximou de onde estavam Shinpachi – ainda inconsolável – e Katsura. Abaixou-se para ver melhor o cadáver de Kagura. Seu inocente rosto de menina estava ainda mais pálido do que era em vida.
Gintoki ficou ainda mais cabisbaixo e sua voz murmurou repleta de dor, enquanto acariciava o rosto da garota:
- Kagura... Por favor, me perdoe... Eu não pude te proteger... Me perdoe...!
Era engraçado como estar em sua própria casa o sufocava. Tudo ali o fazia se sentir culpado por aquela incômoda sensação de vazio naquele ambiente. Precisava sair urgentemente dali, pelo menos por alguns momentos.
Precisava esvaziar sua mente logo, pois o fato de ainda estar abalado pela morte da pirralha estava deixando-o fisicamente abatido também.
Nisso, a chuva começava a cair em Edo, para contribuir com o aumento do clima melancólico que reinava ali em Kabuki. Gintoki não se importou com isso, pegou o primeiro guarda-chuva que sua mão alcançou e saiu de casa.
Mas parecia que nem fora de casa aquela sensação de culpa desaparecia. Bastou olhar para o guarda-chuva que havia pegado – um guarda-chuva roxo.
Como estava chovendo demais, preferiu ir a pé. Não havia condições para se andar com a scooter em meio à lama das ruas do Distrito Kabuki. Ruas essas que estavam completamente desertas, nas quais não passava nem uma viva alma.
Não era pra menos, antes ocorrera uma carnificina ali.
Seu braço direito ainda doía da grande força que empregara – sem perceber na hora – para transpassar Kamui como transpassara. Se fosse uma katana comum, certamente teria mais facilidade.
Mas por que diabos estava se lembrando disso? Passou a mão no rosto, que expressava desolação. Tentava em vão se convencer de que estava bem depois do que aconteceu, mas a verdade era que não estava! Não estava bem nem fisicamente, nem psicologicamente!
Precisava urgentemente tirar tudo aquilo que ocorrera de sua cabeça, e logo! Nem que fosse por alguns minutos ou algumas horas... Precisava esquecer aquilo, se sentia sufocado!
Por isso, rumava a Yoshiwara mais uma vez. Mas não procurava as pessoas conhecidas de lá. Quanto menos conhecidos o vissem, melhor. Não queria que o vissem no estado em que se encontrava mental e psicologicamente.
Estava a ponto de explodir, ou de desabar... Nem ele sabia ao certo o que lhe ocorria.
Precisava esquecer o que ocorrera, precisava de um escape, precisava de qualquer coisa que amenizasse sua sobrecarga emocional. Qualquer coisa... Qualquer coisa mesmo...
Chegou a Yoshiwara, decidido a percorrer um caminho diferente em meio às ruas e vielas vazias devido à grossa chuva que continuava a cair por toda a região de Edo e também de Yoshiwara. Não se importava muito com a lama grudando na sola de suas botas – pois reclamava disso em circunstâncias normais.
Adentrou-se em um dos estabelecimentos dali e deixou no hall de entrada o guarda-chuva roxo que pertencera a Kagura, além do par de botas enlameadas. Gintoki não quis abrir mão da espada de madeira por hábito. Para todos os efeitos, era sua defesa contra qualquer inconveniente.
Pediu à administradora do local por uma cortesã para lhe fazer companhia por aquela noite. Queria se divertir, ou ao menos tentar isso. Se ia conseguir ou não, eram outros quinhentos. Mas tentaria nem que fosse na marra.
Precisava tentar ou não iria se aguentar de tanto remorso. Sabia que o que ocorrera fora uma fatalidade, mas se culpava por não ter conseguido evitá-la. Prometera a Umibouzu que protegeria sua filha, mas falhara miseravelmente!
Remoia toda a culpa que sentia durante todo o trajeto, até chegar ao local de destino. A porta corrediça se abriu, revelando um aposento ricamente decorado e, em seu interior, uma mulher belamente trajada com as roupas tradicionais.
O traje não ofuscava em nada a beleza delicada daquela cortesã de pele alva e cabelos longos e negros, bem como seus olhos eram igualmente pretos. Ela era o oposto exato das mulheres que eram parte do seu convívio.
Mais especificamente, ela era o oposto exato de Tsukuyo, por exemplo. Completamente diferente daquela loira fatal que lhe perfurava a testa com kunais por acidente ou que lhe nocauteava quando estava bêbada ou quando ele pegava em seus seios sem querer.
Sentada à maneira japonesa no recinto, a jovem fez-lhe uma respeitosa mesura e se apresentou:
- Boa noite, meu nome é Saitou Hikari. Será um prazer fazer com que sua noite seja a mais agradável possível.
O doce sorriso da jovem convidou Gintoki a se aproximar e fazer uma mesura para se apresentar:
- Meu nome é Sakata Gintoki. Prazer em conhecê-la.
A jovem cortesã o convidou a sentar-se a seu lado e ofereceu-lhe saquê. O Yorozuya prontamente aceitou a bebida. Precisava relaxar. Ou pelo menos tentar.
- Você costuma vir aqui com frequência? – ela perguntou.
- Não, apesar de conhecer algumas pessoas daqui.
- Também não conheço muitas pessoas daqui.
- Eu nunca te vi por aqui. Você é nova?
- Sou. Faz pouco tempo que vim para cá.
A cortesã percebeu que Gintoki estava pouco à vontade, parecia muito distante.
- Desculpe minha inconveniência, mas... Aconteceu alguma coisa hoje? – ela perguntou.
- Sim, aconteceu. Hoje eu e meus amigos fomos atacados. – Gintoki bebeu mais uma dose de saquê. – Por isso que estou todo cheio de curativos.
- E os seus amigos estão bem?
- Um deles, sim, o Shinpachi. Eu não consegui proteger a Kagura, ela morreu assassinada. Se eu tivesse visto o momento que ela foi atacada, não teria acontecido...
- Então é isso... – Hikari assentiu condescendente. – Parece que somos marcados pela mesma dor causada pela perda de alguém que nos é querido.
- Você também passou por isso?
- Sim, Gintoki-sama.
- Me chame apenas de Gintoki. – ele suspirou pesadamente. – Não precisa de tanta formalidade comigo.
- Obrigada. – ela sorriu, mas logo seu olhar ficou entristecido. – Como eu dizia, eu também perdi alguém que me era querido. Era o meu marido, eu o amava. Ele morreu há pouco tempo, mas deixou uma grande dívida que caiu em minhas costas.
- Você amava um sujeito que só te deixou dívida?
Hikari tomou mais um gole de saquê e respondeu:
- Ele morreu durante um assalto. Mesmo sem reagir e entregando aos bandidos o dinheiro que serviria para pagar todas as nossas contas, ele foi assassinado.
- Entendo. – Gintoki se mostrava interessado no que ouvia.
- Foi assim que vim parar aqui em Yoshiwara há cerca de um mês. Não é a maneira mais convencional ou moralmente correta de se conseguir algum dinheiro, mas é onde eu também consigo acalmar um pouco a dor que eu sinto. Aqui eu ajudo a aplacar a dor dos outros, ao mesmo tempo em que aplaco a minha.
Seguiram-se breves instantes de silêncio da parte dos dois ocupantes daquele quarto. Gintoki, mergulhado aquele sentimento de culpa que insistia em afogá-lo e em causar-lhe dor. Hikari, imersa em sua própria dor.
- Gintoki – seu sussurro quebrou o silêncio que já se tornara incômodo. – O que acha de esquecermos, por alguns momentos, o que estamos sofrendo?
