(Algumas notas antes da fic):
Oi de novo! Tudo beleza? Eu estou trazendo mais uma porcar...er...fic que eu escrevi! n.n' Desta vez, eu optei por fazer algo um tanto mais complexo que o meu estilo normal de fics. Há mais ou menos um mês, eu meti a cara nos livros e pesquisas que me ajudassem a escrever essa fic (eu pensei que se eu estudasse, não ficaria tão horrível x.x). De antemão, gostaria de avisar quealguns fatos históricos e referências bíblicas são citados nessa fic, mas de forma alguma eu pretendi ofender alguma religião ou crença. XD Bom...espero que gostem!
Boa leitura!
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Aletherium
Capítulo 1
" Eu quero entender "
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Em todos os cantos do mundo, a crença humana em divindades sempre gerou discussões e mistérios. Entre os mais céticos, é inadmissível adorar algo que não se pode ver ou tocar. Entretanto, todos aqueles que acreditam na existência de algo maior que tudo mantém sua total credibilidade perante o mundo. Mas nem sempre foi assim.
Desde que o ser humano percebeu que poderia acreditar em algo que talvez não pudesse existir, milhares de teorias surgiram a respeito da veracidade da chamada "Criação". Organizações religiosas inteiras eram dizimadas sem qualquer escrúpulo, apenas por terem idéias ou pensamentos diferentes dos padrões impostos por poderosos. A Igreja Católica ganhava poder através dos anos, se tornando uma das mais poderosas organizações do mundo. Seus pensamentos e ordens poderiam mover montanhas. Caçadas a membros de outras religiões ou seitas eram incentivadas pelo catolicismo, sem a hesitação de até mesmo matar para manter o silêncio daqueles que pensavam de outras formas, ou talvez fossem donos da verdade.
Mas durante os séculos, mais e mais pessoas se perguntavam qual seria a razão para tanto autoritarismo. Seria medo? Teria a Igreja Católica algo a esconder? E baseados em tais questionamentos, grupos se formavam secretamente, procurando por vestígios e explicações para o que ninguém podia explicar. Milhares morreram apenas por desejarem a verdade. Mas os que permaneceram vivos continuaram o que outros haviam começado.
E assim surgiram interpretações diferentes sobre tudo o que sempre fomos acostumados a acreditar piamente. A Bíblia, a venerada e eternizada fonte escrita de toda a "Criação", também foi posta em dúvida. Subdivisões ocultas da própria Igreja Católica espalhavam sorrateiramente sua visão sobre este famoso livro e suas palavras. Porém, a mais famosa e sigilosa guerra religiosa foi desencadeada por uma ramificação oculta do judaísmo que pregava interpretações obscuras sobre os acontecimentos passados por gerações através da Bíblia. As dúvidas foram plantadas. Seria mesmo a Bíblia portadora de toda a verdade sobre o mistério da vida? A vida na terra estava mesmo relacionada ao chamado Deus? Teria a humanidade acreditado numa farsa por milhares de anos?
A resposta nunca veio. Pelo menos ela nunca pôde ser revelada, porque alguns assim não o quiseram. Mas é inegável a possibilidade de que tenhamos vivido apenas um conto de fadas, ou que apenas estivemos adormecidos junto à verdade que outrora fora buscada com tanto desejo por outras pessoas. Mas apenas um vestígio pode mudar tudo.
Relatos sobre "profetas" e manuscritos ocultos sempre povoaram as mentes de todos aqueles que um dia puseram em dúvida sua própria fé ou crença. Porém, muitas vezes tais idéias eram tratadas como alucinações ou heresias.Talvez o que todos pensavam ser apenas imaginação fosse verdade.
A humanidade espera por uma resposta, em silêncio. A Igreja mantém total sigilo sobre qualquer anormalidade que possa romper a ordem que ela mesma criou. Entretanto, algo se aproxima, prestes a mudar tudo.
A escuridão, temida por todos, continua pairando sobre o mundo. Apenas não podemos vê-la. Mas as revelações podem ser muito mais assustadoras do que a própria penumbra interminável. Quando Deus disse "Que seja feita a luz.", ela não nasceu para todos.
- Doutor Mason, atividade cerebral acelerada. Ele está acordando.
- Perfeito. Ele continua arredio?
- Não, senhor. Os calmantes estão surtindo efeito. Não representará perigo algum.
O alívio era evidente quando o Doutor Fergus Mason ajustou o pequeno ponto auditivo com que se comunicava com seu assistente. Sabia que a cada instante tudo se tornava mais perigoso. Lembrava exatamente do dia em que mergulhara em seu pesadelo.
Nunca esperara receber um telefonema tão estranho. Alguém que se identificou apenas como Éfesus ( 1 ) lhe fez a proposta que o trouxe até onde estava. Há muito sabia que milhares de acontecimentos inexplicáveis ocorriam a cada segundo, mas nunca imaginaria que algum deles surgiria em sua vida. Quando colocou o telefone no gancho naquela noite chuvosa, Mason não sabia que sua vida não seria a mesma. O tal Éfesus havia se proposto a financiar suas pesquisas genéticas, contanto que uma outra pesquisa pudesse ser iniciada.
Na mesma noite, homens estranhos apareceram à sua porta, e o levaram sem nada dizer até o lugar onde até agora vivia. Fora perturbador viver isolado por quinze anos, sem poder ver a luz do sol. Esse foi o preço que pagara para ter seus objetivos alcançados: viver num gigantesco laboratório subterrâneo por tempo indeterminado. Pareceria engraçado o motivo, ou melhor, os motivos que haviam trazido o doutor Mason até ali, se não fossem tão intrigantes e assustadores. Um garoto e um pergaminho velho.
Ninguém sabia realmente quem era aquele garoto. Muitos acharam que era apenas uma brincadeira de extremo mal-gosto trazer um bebê recém-nascido até aquele lugar. Mas ele não era um bebê comum. Não chorava. Muitas vezes não dormia por dias e até meses. Parecia estar em um eterno estado vegetativo. Mason se lembrava de todos os detalhes. Os testes aos quais fora obrigado submeter o pequeno garoto. Os anos que sua equipe levara para decifrar todo o pergaminho, escrito num dialeto extremamente antigo.
Quinze anos se passaram até que pudesse realmente compreender com o quê estava lidando. Sempre fora um homem religioso, afinal, mesmo que como cientista e cético, sempre procurasse uma resposta concreta e científica para tudo o que merecia sua crença. Mas aquele garoto rompia qualquer explicação lógica possível.
Através do pergaminho, que descobrira ser parte dos desconhecidos manuscritos encontrados no século XVI na África, conheceu apenas uma fração da verdade por trás de tudo. Conheceu a razão que provavelmente trouxera aquele garoto até ali. Descobriu que a "fé" que o mundo conhecia poderia ser apenas uma ilusão.
E agora, ali estava ele, observando atentamente as enormes blindagens metálicas que permitiriam sua passagem até o outro lado, onde mais uma vez encontraria o ser mais intrigante que a humanidade jamais vira.
Com um suspiro resignado, o doutor Mason pressionou algumas teclas no pequeno painel eletrônico à sua direita, aguardando, após um sinal de confirmação, a permissão para a sua passagem. A voz de um de seus assistentes soou, metalizada pelo pequeno dispositivo preso ao seu ouvido, anunciando a abertura das imensas portas metálicas:
- Primeiro nível blindado agora acessível. Permissão concedida.
Um novo suspiro abandonou seus lábios quando a imponente passagem foi liberada, revelando a imensa cúpula fechada. Seus olhos se estreitaram por trás dos óculos de armação fina, quando finalmente reconheceu um jovem sentado a um canto. Não se surpreendeu ao encontrar manchas de sangue seco em suas roupas brancas:
- Duo? Como está hoje?
-Resmungando um palavrão irritado, Heero tateou o criado-mudo a procura do pequeno abajur. Quando suas mãos desorientadas pelo sono alcançaram o aparelho, a luz fraca suavizou a penumbra agradável do quarto de hotel onde estava hospedado.
- Droga... – suspirando, sentou-se na borda de sua cama, afundando o rosto entre as mãos numa tentativa fracassada de afastar o sono. Mais batidas na porta fizeram seus ouvidos recém-despertos reclamarem, e ele teve que se controlar para não enxotar quem quer que fosse do outro lado da porta com um belo palavrão que fazia sua garganta coçar para sair – Tudo bem! Eu já vou!
Não poderia ter uma noite sequer de sono após uma merda de seminário de oito horas? Heero geralmente se sentia tolo quando lapsos como o que atingia sua mente cansada no momento o acusavam de ter perdido a própria vida. Infelizmente, ter um nome conceituado em sua área podia provocar isso.
Estava naquela pequena cidade para um congresso anual, no qual fora um dos principais palestrantes. Era incrível o que alguns anúncios e propagandas podiam fazer com uma cidade como aquelas, que havia se tornado um forno de repórteres alvoroçados e entusiastas que com certeza não sabiam nada sobre os assuntos apresentados no congresso, mas que mesmo assim insistiam em se mostrarem interessados ao extremo no que Heero Yuy, o jovem estudioso de linguagens e dialetos antigos , tinha a dizer.
Heero sorriu levemente enquanto caminhava em direção a porta, que continuava sendo o alvo de constantes golpes, que mais pareciam socos. Era engraçado observar a surpresa das pessoas ao descobrirem que uma das maiores autoridades no campo de estudo escolhido pelo congresso era um jovem de 23 anos. Sim, ele tivera bastante trabalho para ser reconhecido.
Viera do Japão com apenas 11 anos de idade, para morar com um de seus tios e estudar na América. Eram pobres, mas mesmo assim o rapaz de incríveis olhos azuis nunca se deixara acuar por dificuldades. Aos 15 anos, venceu um concurso científico e conseguiu uma bolsa de estudos garantida para o restante do colegial, e, se continuasse mantendo os excelentes resultados que obtinha, para a universidade também.
Após se formar com méritos dignos de um gênio, como alguns o chamavam, decidiu se especializar no estudo de linguagens antigas. Sempre fora fascinado por línguas mortas, que não mais eram usadas, mas que ainda assim exerciam um encantamento especial sobre sua mente. Aos 18 anos, falava o latim fluentemente. E dali até encontrar a oportunidade de mostrar toda a sua capacidade fora apenas um salto. E hoje o mundo conhece Heero Yuy, como uma promessa talentosa e "sexy", como alguns tablóides o definiam.
Mas no momento atual seu maior problema era encontrar a fechadura. As batidas continuavam, e teve que se controlar bastante para não chutar a droga da porta em cima do infeliz que acabara com o seu tão desejado sono. Com alguma dificuldade, girou a chave no pequeno orifício, liberando a tranca.
- Heero Yuy?
Nem mesmo tivera tempo de esboçar qualquer palavra ou reclamação, emudecendo quando uma arma foi apontada para a sua cabeça. Mas que porcaria era aquela? O cano frio contra a sua testa praticamente completou a sua certeza de que não era uma brincadeira. Por alguns instantes, tentou enganar a si mesmo pensando que era algum amigo seu fazendo um trote. Mas isso não adiantou muito, pois logo em seguida lembrou-se de que não tinha amigos íntimos naquela cidade.
Um alerta em sua mente o incentivou a não fazer movimentos bruscos. Sua mão, que ainda segurava a maçaneta fria, tremeu ligeiramente, procurando com uma grande urgência as chaves ainda na fechadura. Heero apertou o chaveiro metálico entre os dedos, arrancando-o do pequeno anel metálico. Não era exatamente uma arma mortal, mas teria que servir. Mas não fora rápido o bastante. Sua mão congelara a alguns centímetros do pescoço do estranho homem no mesmo instante em ouviu a arma ser engatilhada, com um ruído característico que lhe causou arrepios nada agradáveis:
- Pelo visto, é você quem procuro. Largue isso. – o homem sibilou, dançando os dedos bem perto do gatilho.
Engolindo em seco, Heero deixou com que a sua última chance caísse no chão com um ruído metálico. Na verdade, poderia meter um chute no meio das pernas daquele cara e tirar aquela arma dele, mas não lhe parecia uma boa alternativa. O corredor estava escuro, iluminado apenas pela luz fraca do abajur do seu quarto. Não enxergava uma rota de fuga possível. Estava a mercê daquele desgraçado:
- Por que está me procurando? – o japonês sussurrou entre dentes, tentando enxergar o rosto do seu atacante na penumbra, sem sucesso.
- Cale a boca e ande.
A arma foi afastada por alguns instantes, e o lingüista se preparou para atacar o seu agressor, mas antes que pudesse arquitetar qualquer movimento, a arma estava de volta, desta vez sentia o cano de metal contra a sua nuca. Como aquele homem havia feito aquilo? Em um instante, estava diante de si, e no outro, parecia ter evaporado e ressurgido em outro lugar.
Heero sentiu todo o seu corpo ficar tenso quando a arma cutucou novamente a sua pele, declarando a clara impaciência do seu dono. Não tinha outra alternativa.
Suspirando pesadamente, moveu-se em direção à escuridão, sentindo que algo extremamente ruim aconteceria.
- Bem. – foi a resposta simples eindiferente que recebeu.
O cientista sentiu sua alma ser comprimida. Tinha pena daquela pobre criatura. Acompanhara todo o seu doloroso crescimento, passo a passo, como faria com uma cobaia rara.
- Não minta pra mim, Duo. Eu estou vendo o sangue. Você tem estado triste, não?
Mason foi balançado por um arrepio temeroso quando os olhos de Duo ergueram-se, mirando os seus próprios. Eram violetas...porém, um triste brilho opaco não permitia que toda a beleza de seu olhar fosse revelada. Transmitiam tanta inocência e...tristeza.
- Sim...
- Por que? – com um sorriso gentil, o cientista afastou a franja macia que encobria parte do seu olhar, arrumando-a carinhosamente.
- Eu não sei. Eu quero entender...mas eu não consigo.
- Não se preocupe, meu pequeno, hoje receberemos alguém que pode te ajudar a entender tudo.
Sorrindo paternalmente, Mason contemplou mais uma vez o rapaz encolhido tristemente contra a parede fria de metal, embrulhado num manto de longos cabelos castanhos, antes de solicitar novamente permissão para sair.
Quando a blindagem se fechou após a sua passagem, o cientista suspirou, cansado. Realmente odiava manter o jovem de lindos olhos tristonhos trancado daquela forma, mas era preciso. Duo poderia representar um perigo para si mesmo, e para os outros.
Passando uma das mãos pelos cabelos grisalhos, Mason consultou seu relógio de pulso, acionando o ponto auditivo mais uma vez:
- Sollen já retornou? – novamente consultando as horas, o homem aguardou uma resposta do centro de comando.
- Sim, senhor.
- E está trazendo o nosso "convidado" com ele? – um sorriso leve se desenhou em seus lábios quando tentou imaginar o que o sombrio capacho de Éfesus fizera para trazer Heero Yuy até ali.
- Sim, o senhor Sollen cumpriu sua missão com sucesso.
Aliviado, Mason desligou a comunicação, se apressando em direção ao setor 21 do laboratório, onde sabia estar quem tanto esperava.
Heero piscou algumas vezes quando a venda que impedira sua visão por cerca de 10 minutos foi retirada. A luz branca agrediu suas retinas, e o lingüista tentou reconhecer o lugar onde estava. Certamente não era o seu quarto de hotel.
Seus olhos azuis esquadrinharam a sala rapidamente. Paredes de metal prendiam-no ali. Havia apenas uma grande porta a um canto, mas sabia que com certeza estaria trancada, afinal, quem o trouxera ali cuidaria para mantê-lo onde queria.
Suspirando, o japonês correu as mãos pelos cabelos castanhos bagunçados. Ainda estava vestido com as mesmas roupas que usara no seminário. Estava tão exausto ao chegar em seu quarto, e não teve forças nem sequer para se trocar. Apenas largara o terno azul num canto e se jogara na cama. Estava realmente perdido.
Um ruído metálico chamou sua atenção para a porta blindada, que agora estava aberta. Um homem entrou em seu campo de visão. Imediatamente Heero apertou os punhos, imaginando se aquele não seria o mesmo que o arrastara até ali, mas o sorriso gentil no rosto do outro ocupante da sala fez com que baixasse um pouco a guarda, mas ainda mantinha-se alerta para qualquer ataque surpresa.
- Oh, finalmente posso conhecer o famoso Heero Yuy! – o cientista sorriu diante da confusão no olhar do jovem, e estendeu uma das mãos, ainda ostentando uma expressão serena.
Heero não sabia o que pensar. Primeiro era praticamente seqüestrado e levado até um lugar que mais parecia o cenário de um filme de ficção científica e depois era tratado com gentileza? Ressabiado, aceitou o cumprimento:
- Onde eu estou? E quem é você? – puxando sua mão de volta, Heero olhou por cima dos ombros do outro homem, observando a porta metálica que ainda se mantinha aberta.
- Eu me chamo Fergus Mason, é um prazer. E quanto à segunda pergunta, a responderei enquanto caminhamos até o nosso destino.
Agora sim Heero estava surpreso. Abrindo e fechando a boca sem produzir som algum, ergueu uma sobrancelha incrédula, encontrando uma certa dificuldade em formar palavras:
- Fergus Mason? Professor Fergus Mason, o famoso geneticista?
- Vejo que me conhece, senhor Yuy. – Mason sorriu abertamente, ajustando os óculos sobre o nariz.
Se o conhecia! Heero era um grande admirador do seu trabalho! Todos já haviam ouvido falar das pesquisas polêmicas e geniais de Fergus Mason, considerado uma das maiores autoridades da genética por anos. Mas um dia, uma de suas pesquisas foi considerada inadmissível pela comunidade científica mundial, por confrontar idéias há muito aceitas por todos. Desde então, o cientista havia praticamente desaparecido dos noticiários, e o seu nome havia se tornado motivo de gozação. Exatamente há 15 anos atrás, se Heero bem se lembrava do que lera num artigo sobre o famoso Doutor Mason.
O lingüista apenas assentiu com um manear de cabeça, incapaz de dizer algo inteligente. Pelo visto sua noite seria bem estranha.
Quando foi convidado a acompanhar o cientista, Heero hesitou por alguns instantes, mas algo o incentivou a continuar e descobrir o que diabos acontecia. Caminharam pelo que pareceu ser meia hora, atravessando corredores e mudanças de nível do que descobrira ser um imenso laboratório, e que pela total ausência de janelas e luz não-artificial, julgou ser subterrâneo.
Pararam finalmente diante de uma grande porta metálica. Mason a abriu calmamente, adentrando o recinto resfriado pelo sistema de ar-condicionado. As luzes foram acesas, revelando uma sala que seria considerada simples, se não fosse é claro o grande e aparentemente sofisticado painel eletrônico estrategicamente montado diante de uma enorme janela interior, que estava fechada.
- Onde estamos? – se aproximando da janela de vidro encoberta, Heero analisou o lugar rapidamente.
- Este é o setor 26, mas costumamoschamar esse lugarde "O Calvário" (2) , devido ao que mantemos aqui.
Heero encarou-o interrogativamente, erguendo ambas as sobrancelhas. Afinal, o que havia naquele lugar? Parecia ser bem sigiloso, senão não haveria a blindagem que descobriu impedir a visão para o outro lado da janela.
Sorrindo diante do questionamento silencioso do jovem lingüista, Mason se aproximou do painel periférico, acionando alguns controles. Após uma confirmação vocal para a central de comando, a blindagem diante da janela tremeu por alguns instantes, antes de erguer-se lentamente.
Heero piscou algumas vezes, analisando a visão que agora possuía, vinda da janela. Através dela, podiam enxergar claramente outra sala, mas esta era diferente. Era enorme, com alguns poucos móveis metálicos. Uma cama e um criado mudo.
Seus olhos mais uma vez correram por todo o lugar, e pararam abruptamente ao localizarem uma pequena figura a um canto. Não soube exatamente como, mas uma estranha sensação de tristeza invadiu-o ao se aproximar do vidro, observando melhor o que achou ser uma garota, abraçada ao próprio corpo como se temesse desaparecer se erguesse o rosto.
- Esse é Duo Maxwell, senhor Yuy. Os outros ocupantes deste laboratóriopreferem o chamarde "Messias", e logo você entenderá a razão disso.
Então...era um rapaz? Heero ouviu uma ou outra palavra do cientista. Seus olhos permaneciam atentos sobre o frágil garoto, que agora se remexia incomodamente. Era tão...bonito, mas...parecia extremamente infeliz. Seu coração foi comprimido repentinamente, e um pânico desmedido o arrebatou quando uma pequena linha de sangue manchou o chão impecavelmente branco, escorrendo desde as mãos crispadas de Duo até suas pernas. O lingüista varreu o olhar sobre o corpo trêmulo, procurando desesperadamente algum ferimento ou corte. Percebeu com espanto que o líquido vermelho fluía das mãos do garoto, e também de seus pés, mas este parecia não sentir dor.
O doutor Mason logo entendeu sua dúvida, e sorriu tristemente, sentindo seu próprio coração ser inundado pela tristeza. Isso acontecia a todos que se aproximavam de Duo. Sempre eram contaminados por suas emoções, e infelizmente, a tristeza fora o único sentimento já experimentado pelo garoto de olhos violetas.
-Não se preocupe, Heero, isso é normal. Ele apenas está triste.
O olhar de Heero se separou rapidamente do vidro transparente, e uma angústia assoladora aderiu mais brilho aos olhos azuis:
- Ele está sangrando! Não vê? – Heero praticamente berrou, confuso com o estranho sentimento doloroso que agora parecia rasgar sua alma.
- Sim, eu estou vendo. Mas Duo é diferente das pessoas comuns. Quando ele está triste, não consegue se expressar por lágrimas. Ele simplesmente...sangra. – murmurou num fio de voz, imitando a reação de Heero e encarando o Messias através da janela.
Um anjo ensangüentado. Era o que ele parecia. Um pequeno e frágil anjo. Uma lágrima solitária abandonou seus olhos, e Heero se surpreendeu. Estava chorando? Por que sentia-se triste? Por que tinha a terrível sensação de que a felicidade lhe fora roubada há tempos? Não sabia. Apenas...não sabia. Ao seu lado, a voz do cientista novamente soou, e Heero se obrigou a prestar ao menos um pouco de atenção, mesmo não separando os olhos do pequeno anjo.
- O sangue flui por marcas espalhadas pelo corpo dele. O conjunto dessas marcas é chamada "Pentateuco" (3) . Poderá vê-las se observar bem. Há cinco delas. Duas nas mãos, mais duas nos pés, e uma outra na testa, mas esta última ainda não é nítida.
Heero estreitou o olhar, forçando a visão. Encontrou pequenas marcas arroxeadas em suas mãos, por onde brotava o sangue. O mesmo acontecia com os seus pés. Mas não conseguiu encontrar algum corte aparente. Tudo parecia...tão confuso! Não sabia porque estava ali, nem onde realmente estava. Mas aquele rapaz do outro lado do vidro era o que mais o intrigava.
- Na mão direita, está a marca Gênesis (4), ela apareceu no dia do seu nascimento. Já na esquerda, está Exodus (5), criada quando Duo desejou conhecer o que não poderia: o mundo lá fora.
- Você...deu nomes à elas? – apoiando uma das mãos no vidro, Heero suspirou quando o Messias se remexeu mais uma vez:
- Não. Na verdade, os manuscritos etíopes nos disseram isso.
Manuscritos etíopes? Mais uma surpresa para a sua noite. Tais manuscritos eram considerados raridades sem tamanho. Encontrados na África, eram um completo mistério. Pelo que sabia, apenas uma parte deles havia sido recuperada, e agora era protegida em um museu em Paris. Mas...é claro! Os arqueólogos os encontraram incomplets! Como não havia vestígios de que a parte restante ainda existisse, o governo africano deu a busca por encerrada.
- Está dizendo que têm acesso à parte que faltava? – o japonês voltou-se para o cientista, tentando não arregalar os olhos com algo tão inacreditável.
- Não só temos acesso, como também conseguimos decifrar uma parte dele. Foi assim que descobrimos sobre o Pentateuco e sobre as origens das duas primeiras marcas. Quanto às três restantes, ainda desconhecemos suas origens.
- Então...vocês me trouxeram aqui para... – as peças se juntavam! Se Heero estava ali, com certeza queriam algo dele! E tinha quase certeza do que seria...
- Nos ajudar a decifrar o restante do manuscrito. Temos plena consciência do seu grande conhecimento em dialetos antigos,e...
Heero sentiu seu coração falhar uma batida quando seguiu a direção do olhar espantado do Doutor Mason, que parara de falar abruptamente e agora encarava, incrédulo, a grande janela. Duo...
Ele estava ali. Parado diante dos seus olhos. O japonês sentiu seu coração saltar desconfortavelmente quando percebeu a raridade impressa nos olhos violetas de Duo. Eram tristes, e perfeitos. Um desejo irracional de trazer a felicidade àqueles olhos explodiu em suas entranhas, e Heero viu-se desejando tocar o seu anjo triste. Seu olhar foi atado com completa certeza aos olhos tristes, que pareciam até vê-lo através da superfície espelhada do outro lado da janela.
Duo ergueu lentamente a mão esquerda ao vidro, manchando-o de sangue. Heero acompanhou atentamente cada instante, se surpreendendo ao vislumbrar dois pequenos cortes que se abriam como em um encantamento na mão alva do garoto de olhos violetas, formando uma cruz perfeita em sua palma.
- Exodus está se tornando nítida! Ele está tentando fugir! – Heero ouviu o grito aterrorizado do cientista, mas sua atenção ganhou um outro destino.
Um ruído abafado atraiu seu olhar para um ponto qualquer no vidro, onde uma pequena rachadura rasgava a superfície transparente. Um novo baque chamou sua atenção para o restante da janela, que trincava rapidamente, tremendo como se uma força constante o atingisse.
Vagamente ouviu os gritos desesperados do cientista, mas estranhamente não se importou. Seus olhos azuis novamente estavam lacrados junto aos de Duo, perdidos no mistério expresso em seu silêncio e tristeza.
Ouviu o som distante de um alarme, e mal percebeu quando a blindagem novamente foi acionada, descendo lentamente em direção à janela. Heero piscou algumas vezes, sentindo-se novamente angustiado quando a proteção metálica rompeu o contato entre seus olhos. Duo...ele estava do outro lado. O esperando.
Como num estalo, Heero acordou do seu estranho transe. Respirava rapidamente, como se o ar tivesse sido roubado de seus pulmões. Por alguns instantes, sentiu a sua vida ser sugada por algo invisível, deixando-o mergulhado apenas num manto brando de felicidade. Não tinha certeza, mas algo o dizia que Duo estava relacionado a isso.
Sentiu a mão de Mason em seu ombro, mas nem sequer se mexeu. Continuava a encarar a blindagem que o separava do Messias.
- Acho melhor que descanse...
Estranhamente, Heero não se negou a aceitar, optando por esquecer temporariamente que fora arrastado até ali à força. Sim...queria descansar. Precisava disso.
O cientista mandou que alguém o levasse até um dos quartos do laboratório, mas Heero nem mesmo percebeu que caminhava. Somente quando estava deitado em uma cama, encarando o teto metálico, sua mente voltou a funcionar.
Ele sabia. Precisava ajudar aquele rapaz. Não queria ver a tristeza em seus olhos violetas. Queria vê-lo feliz. E se fugir dali traria essa felicidade...o ajudaria.
- Não...não pode ser!
Suas pernas fraquejaram, e viu-se obrigado a se ajoelhar. Girando os olhos alucinadamente por toda a sala, Mason procurou desesperadamente por algum sinal de Duo. Mas não encontrou. Estava vazia. Ele não estava mais lá.
- Que Deus tenha piedade de nossas almas...o Calvário foi aberto. O Messias foi...libertado...
CONTINUA...
"Aletherium": palavra derivada do grego Aletheia, que significa verdade, revelação
(1) "Éfesus" é o nome de uma das igrejas para onde foi mandada uma das primeiras cópias do livro "Apocalipse", parte integrante da Bíblia.
(2) Como era chamado o local (uma colina) em que Jesus Cristo foi crucificado.
(3) "Pentateuco" é uma palavra derivada do grego e significa "cinco livros".Essa palavra é usada pra identificar os cinco primeiros livros da bíblia: Gênesis, Êxodus, Levític, Númbers e Deuteromonic. .Os judeus chamam essa parte da bíblia de Torah, que significa "lei". Na fic, eu usei essa palavra como o nome dado às marcas no corpo do Duo, as quais recebem os nomes dos 5 livros, cada uma tendo uma relação com o seu livro correspondente.
(4) "Gênesis" significa nascimento, origem . Na Bíblia, esse é o primeiro dos livros, que conta como ocorreu a "criação" do mundo, segundo a visão do catolicismo. Na fic, eu resolvi a usar de acordo com o sentido da palavra, surgindo como a marca que representa o nascimento do Duo.
(5) "Exodus" significa saída. O livro tem esse nome porque começa narrando como os hebreus saíram da terra do Egito, onde eram escravos. Eu tentei colocar essa referência de acordo com o seu tema no livro, a libertação, usando-a pare me referir à marca do Duo que representa o seu desejo por liberdade.
Notas do autor:
Aloha! Como vão! Espero que tudo esteja bem! Olha eu aqui de novo para encher o saco de vocês com as drogas das minhas fics! XD
Bom, o que eu posso dizer? n.n' Espero que não tenha ficado muito confuso x.x É que eu estou tentando fazer algo diferente do que eu já fiz, sabe? Algo mais sério e com requintes de loucura diminuídos x.x mas...será que eu consigo?
Eu...acho que é só! XD Obrigado por lerem! (se é que alguém lê isso o.o )
Ah, e comentários são muito bem vindos! XDDD
Beijão!
