Título: Ensaio sobre a dor.
Autora: Nanda Magnail.
Censura: M.
Ship: Neji/Hinata.
Observação: Fanfic escrita para o 30 Cookies, set Inverno, tema 21: Sofrimento, e para o Projeto Blind, da seção Naruto, fórum Ledo Engano, com a situação AU Neji e Hinata vivendo como civis, item ódio.
Trigger Warning: Abuso sexual e psicológico.
Notas: Eu tinha um pequeno parágrafo salvo nos meus documentos, uma coisa básica que escrevi quando estava com tédio. Lendo os temas do 30 cookies de novo, vi que tinha "sofrimento" e decidi ver a minha pequena estante de plots guardados. Eis que acho um angst, e começo a escrever sobre ele durante as aulas. Deu no que deu.

Eu gostei dessa fanfic, gostei por conta da facilidade que foi escrevê-la. Simplesmente fluiu, sabe? Principalmente porque eu não sei escrever bem quando uso papel e caneta, tive que escrever desse jeito durante os intervalos das aulas. Não foi betada, mas espero que vocês gostem e revisem, por favor. Vocês não sabem como é triste ver que favoritam e não deixam review. Reviews fazem bem para a pele, amados.


ENSAIO SOBRE A DOR

Por Nanda Magnail


If I could start again
A million miles away
I would keep myself
I would find a way

Johnny Cash, Hurt.


Você é fraca.

Todos sabem disso, mas eu gosto de ressaltar. Você é fraca, Hinata-sama. Você não rebate, porque é verdade. A consciência de que não pode me vencer é constante em sua mente e você se condena todos os dias. Você deseja tanto ser forte, deseja tanto orgulhar o seu pai e poder dizer que conseguiria manter a família unida. Mas tudo o que você faz é abaixar a cabeça em submissão e chorar.

Você chora demais.

Todo Hyuuga consegue usar uma máscara, ou duas, ou três, dependendo da situação. Você não tem nenhuma, Hinata-sama. Você chora pela verdade. Você chora por tudo. Como uma bonequinha quebrada, deixa que os outros te machuquem e não reclama, nunca reclama, das cicatrizes que eles deixam. Apenas chora, talvez esperando piedade ou simplesmente por não conseguir aguentar a tortura. Mas Hyuugas não têm piedade. Eu não tenho piedade.

Você é verdadeira.

Todos conseguem ver isso. Um dos seus maiores defeitos e melhor das qualidades é que você sempre demonstra o que sente. Você não sabe mentir, Hinata-sama. Você é clara como cristal, e tão quebrável quanto. É possível ver quando você está feliz, ou triste, ou com medo. Você consegue mostrar suas emoções na forma mais pura possível através dos seus olhos, do seu sorriso, na voz sussurrada ao dizer "Neji-niisan".

Você é bonita.

Todos a admiravam por conta disso, e, ironicamente, você odiava tanto ser apenas a bela e jovem herdeira de Hiashi-sama, fraca, tão fraca. Você só tem isso, Hinata-sama. Eu odeio sua beleza também. Odeio tudo em você. Odeio ter que te obedecer, odeio sua inocência. Odeio desejá-la, odeio que me faça tão fraco como você, mas ao contrário dos seus olhos vermelhos, eu não choro. Amaldiçoo-te no silêncio da noite, com o seu nome em um suspiro não suspirado por entre os meus lábios. Assim que o prazer dá lugar, o asco me consome.

Você é ingênua.

Todos têm certeza absoluta na sua pureza. Gagueja quando está nervosa, desmaia quando exposta a situações constrangedoras, sempre está com as bochechas coradas de vergonha. Você é inocente, Hinata-sama. Inocente demais para o seu próprio bem. Eu treino com você todos os dias, e percebo suas mudanças em tempo real. À medida que o seu corpo cresce e ganha odiosas e adoráveis curvas, você atrai olhares. Muitos olhares, na verdade, e parece não perceber a malícia contida neles. Nada melhor que deflorar uma menina inocente e intocada, e deixá-la estragada para os outros homens. Os pensamentos deturpados de uma mente deturpada. Para a infelicidade geral, eu os entendia.

Você é silenciada.

Ninguém conseguiu prever o que aconteceria. Você é minha, Hinata-sama. Você chora em silêncio quando calo-a ao comprimir os seus lábios com os meus. Você me arranha e tenta gritar por ajuda mais uma vez, chorando, sempre chorando, até ceder sob o peso do meu desejo. Sua inércia e soluços ridículos me enervam, e eu a machuco mais uma vez apenas para ouvir os seus gemidos de dor. Quando acaba, estou arfando, cheirando a violência e pesar, e seus arranhões deixam o meu rosto ardendo. Você está coberta de suor e lágrimas, e quando saio do seu quarto, você não está mais chorando. Seus olhos mortos me assustam de uma maneira que sou incapaz de descrever. Não consigo dormir naquela noite.

Você é quebrada.

Ninguém percebe seus tremores, seus choros inexplicáveis e a forma como foge de mim quando percebe o menor sinal da minha presença. Ou talvez eles não liguem para o que está acontecendo entre nós dois, e isso é o que você mais teme. Você sente medo, Hinata-sama. Pela primeira vez você experimentou a verdadeira dose do que é o terror. Eu te manipulo, te moldo da minha maneira, ignoro as suas vontades sempre que posso. Você não sabe ainda, mas eu te deixei mais forte. Algumas vezes você não suporta, cai de joelhos e chora, e é nesses momentos que eu te beijo e te destruo mais uma vez, e mais outra, e mais outra. Quebro-a em vários pedacinhos e te desconstruo milhões de vezes, e você não é mais a mesma de antes. A realização disso a atormenta mais do que as minhas visitas.

Você muda.

Ninguém notou a diferença como eu. Você mudou, Hinata-sama. Aos poucos foi adquirindo uma máscara de indiferença, e eu suspeitava que não existissem mais tantas emoções capazes de te fazer gaguejar. Com o tempo você consegue me olhar nos olhos, desejar bom dia e dizer meu nome, porém sem mais pronomes. É apenas Neji, sem niisan, sem respeito. Nos treinos, tomou uma atitude mais feroz, poderia dizer até vingativa, e uma vez conseguiu me vencer. Você não sorriu como pensei que faria, apenas agradeceu o treino e foi embora. Sua voz estava fria como o inverno e tão cortante quanto uma tempestade. Você me odiava tanto quanto eu te odiava, e nisso eu te amei.

Você obedece.

Todos souberam do nosso noivado. Você está perdida, Hinata-sama. Você se manteve implacável quando contou ao seu pai sobre a gravidez, e manteve sua postura quando este fez o anúncio para os nossos familiares, e nem por um momento eu me deixei levar pela sua frieza. Quando te visitei a noite, seu ódio era quase tangível e mais uma vez havia lágrimas em seus olhos. Você queria gritar e me fazer sangrar até a morte, senti isso em seu olhar, mas mudanças não acontecem de um dia para o outro, e, infelizmente, você sabia disso. Naquele dia eu fui embora mais cedo, sem te tocar, talvez por sentir pena, talvez por remorso. Ninguém nunca irá saber.

Você é machucada.

Todos adoraram o nosso casamento. Você não sorriu para as fotos, e vi lágrimas presas nos seus cílios quando te beijei em frente dos homens e dos deuses. Você ainda não está pronta, Hinata-sama. Segurei sua mão durante boa parte da festa, e vi o quanto você tremia sob o meu toque. Sua barriga já estava aparecendo, e como se ela pudesse te trazer forças, você a acarinhava sempre que pensava que eu não estivesse vendo. Eu sabia que uma hora ou outra você fugiria. Foi com essa certeza que te encontrei nos jardins da mansão, soluçando enquanto tentava não arruinar a maquiagem. Sussurrei palavras de encorajamento em seu ouvido e você chorou. Eu não te culpo. Queria poder chorar também.

Você sofre.

Todos nos desejaram uma ótima lua de mel assim que todo o ritual acabou. Seus olhos estavam marejados quando a guiei para o carro. Você sabia que o que viria a seguir não seria tão diferente do que acontecia na mansão. Não seria bonito nem delicado. Eu não era o seu amor, apesar de você ser o meu no sentido mais doentio da palavra. Você se senta na cama, de costas para mim, e fica em silêncio fitando a parede. A cena não me excita de forma alguma, e apenas tiro minha roupa e deito na cama. Ainda ouço você sussurrar uma pergunta antes de finalmente me render ao sono.

Por quê?

(você pode não saber, mas dói em mim também)

Havia tantas coisas, Hinata-sama. Tantas, tantas, que me faltavam palavras para explicar eloquentemente o porquê de tudo isso. Existe essa necessidade de te fazer sofrer, de te tirar da sua pele, tomar a inocência que tanto adoro dos seus olhos. De te fazer chorar e gemer de dor quando te toco sem permissão pelo simples fato de poder te machucar. Você é fraca e eu sou forte. Você me odeia e eu te amo. Mas o amor nunca foi o suficiente.

Você sobrevive.

De madruga eu acordo, mas você não está na cama. Te encontro sentada na poltrona, de frente para mim e com uma faca nas mãos. Ela refletia a luz fria da lua quando você a balançava por entre os dedos. Você a observa com indiferença, e quando finalmente percebe que estou acordado você me encara com olhos mortos cheios de ódio.

É uma menina.

Você volta a encarar a faca e esta treme em sua mão. Não sei qual reação expressar. Eu não sentia nada e você sabia disso.

Eu te odeio, Neji.

Você diz com firmeza em sua voz. Você ergue a faca e aponta para mim. Por trás da franja vejo lágrimas e dor refletida em seus olhos, mas não consigo te olhar por muito tempo. A vergonha me consome por dentro.

Você não sabe o quanto eu desejo te matar. Por todas as vezes que você me machucou, por todas as vezes que você me feriu.

Como num transe, as palavras saem da sua boca. Mantenho minha cabeça abaixada em submissão. Era o mínimo que eu podia fazer.

Otou-san permitiu que eu comandasse a empresa na sede em Tókio. Isso estava decidido para depois da nossa lua de mel, mas eu preferi partir o quanto antes. Você decide se irá ou não. Se preferir continuar trabalhando aqui, não irá precisar visitar a criança se quiser.

Aceno em confirmação. Você joga a faca no chão com força, e ouço-a escorregando para debaixo da cama. Depois de dito, você sai do quarto, Hinata-sama, sem olhar para trás.

E, mesmo sem querer, você se vinga.

Não consigo dormir e sou avisado por uma das empregadas de que você já está de partida. Arrumo-me rapidamente e vou até o seu encontro. O motorista está colocando as malas no carro enquanto você está sentada na varanda, acariciando a barriga já proeminente. Quem te vê agora nunca diria que você e a menina tímida de tempos atrás são a mesma pessoa. Além de você devo ser o único a saber que você daria tudo para voltar a ser quem era.

Não preciso falar nada para você saber que estou aqui. Você sente. Ergue-se e vem falar comigo pela última vez. Seus olhos estão vermelhos, mas vejo um óculos escuros em sua mão. Aponto para ele e digo que ninguém precisa saber da sua dor. Eu preciso ser forte. Por mim e por ela, você me responde.

Tento te olhar novamente nos olhos, porém não consigo. Nossa história poderia ter sido tão diferente. Sem dor e lágrimas e medo. De cabeça baixa, peço perdão por tudo o que lhe fiz. Você segura a minha mão e volto a encará-la com surpresa.

Isso não é sobre perdão, Neji. Isso não é sobre você.

Digo que não quero ficar afastado da menina – da minha filha –, mas que se você me pedisse eu não iria acompanhá-la até Tókio. Seus lábios se erguem rapidamente, o mais próximo de um sorriso que chegarei a ter, e você abaixa o olhar para as nossas mãos e com a ponta dos dedos começa a desenhar as linhas sobre minha palma. Você costumava fazer isso quando era mais nova, Hinata-sama. Não sei como pude esquecer isso.

Você pode ir para Tókio, mas eu farei questão que a sua filha te odeie tanto quanto eu, Neji. Não se esqueça disso.

O motorista diz que já estão prontos para partir. Você solta a minha mão, me olha nos olhos pela última vez e me dá as costas. Não tento te impedir. Já havia lhe causado dor demais.

Não houve adeus.


N/A: Eu reescrevi o final e fiz uma nota grandinha que postei como se fosse segundo capítulo. Para mais explicações, siga o caminho da luz.