Prólogo
Os pés nus davam passos fracos sobre a terra abatida. Havia cinzas e chamas no chão, ainda quente sob a pele dela. O local que uma vez chamou de lar tinha perecido; a vila de Marossert estava morta.
A construção de pedra que costumava ser sua casa ainda estava de pé, mas as rochas tinham se tornado negras. Ela sentia as lágrimas caíram e logo secarem frente ao fogo que continuava ardendo. Havia corpos ali, como em toda Marossert. Dois corpos negros e pequenos, torrados. Cadáveres que uma vez foram seu pai e sua mãe.
Primeiro foram seus irmãos. Eram seis, todos perdidos para a guerra. Rony, o último a partir para a batalha, o único que ela tinha esperança de ainda encontrar vivo, não dava notícias havia mais de um ano. E tal como ele e os outros, os pais dela tinham partido. A família Weasley havia se perdido; só tinha sobrado ela e talvez Rony. Gina, a que parecia mais frágil, a única mulher entre sete filhos, era a que estava de pé.
Contudo, ela logo cairia se não saísse dali. A vila ainda ardia, todos os velhos moradores haviam virado cadáveres, a terra estava rubra pelo sangue derramado. Era um vermelho tão intenso como os cabelos dela ou como o líquido que banhava seus braços, vestes e espada.
Gina fincou a lâmina no chão com raiva. Ajoelhada na terra, sentia sangue, lágrimas e suor se misturarem. Era uma dádiva ou uma desgraça ter sobrevivido? Se não fosse habilidosa com o arco e a flecha, se não tivesse sido criada com seis irmãos e um pai que sabiam manejar uma espada muito bem, ela seria cadáver ou cinzas, tal como todos que um dia viveram em Marossert. Duelava contra o Exército Negro quando foi ferida e deixada ao léu. Quando acordou, a vila em que nasceu, sua casa, seus amigos e parentes tinham sido destruídos. Procurou por vida entre os corpos, animais, árvores caídas e as construções que um dia foram chamadas de lares, mas não achou. Um outro pedaço de Garwosth morreu naquele dia; daquela vez havia sido Marossert. Mais uma vila que havia caído.
Aquele mundo estava ficando cada dia mais sangrento. Tantas lutas e tantas vidas eram perdidas nos dois lados do campo de batalha. E para quê? No fim das contas todos morreriam, fossem governados por Dumbledore, o Alvo, ou Voldemort, o Negro. Ela sabia que as disputas continuariam até que um dos reis fossem derrotados. Afinal, como era dito nos quatro cantos de Garwosth, um reino só pode ter um governante. Por tais governantes se matava e se morria. E quando guerreiros negros atacavam uma vila que tinha declarado apoio ao lado alvo, era certo que haveria mortes.
Devia ter alguém protegendo-os. Onde estavam os guerreiros brancos designados para defender Marossert? Mortos, ela percebeu ao chegar ao limite da vila. Uma dúzia de cadáveres com escudos brancos estampados nos peitos. Chamá-los de guerreiros era um elogio e um exagero. Aqueles eram homens comuns que pegaram em armas pelas pessoas que amavam e pelo rei que acreditavam. Devia ter cavaleiros defendendo aquela terra, não estalajadeiros, cozinheiros ou ferreiros que tinham boa vontade, mas pouco dom para a luta.
Vasculhou os corpos em busca de moedas ou armas, porém nada achou. Os homens negros haviam pegado tudo de valor, é claro.
Sentia saudade dos tempos em que a visão de corpos era rara. Ela tinha apenas sete primaveras quando a guerra começou e desde então havia visto centenas, se não milhares, de cadáveres. Homens e mulheres, velhos e jovens, sãos e deficientes, feios e bonitos, ricos ou pobres. Todos sagraram e pereceram da mesma forma.
Pelo menos, pensou enquanto chegava à estrada e deixava Marossert definitivamente para trás, na época de Dumbledore o povo vivia. No momento em que Voldemort apareceu e exigiu o poder, tudo se transformou em dor. Nos tempos do Alvo havia miséria, porém também alegria. Quando o Negro chegou e Garwosth se dividiu, fazendo-se cinza, o sofrimento foi tudo que restou.
Ela torcia pelo branco, tal como seus irmãos e seus pais, que morreram fiéis ao rei em que acreditavam. Assim como Arthur, Molly, Gui, Carlinhos, Percy, Fred e Jorge, ela viveria, lutaria e se fosse necessário morreria pela causa que acreditava. Não havia um cadáver que pertencia à garota Weasley, porém mesmo assim Gina morreu no ataque a Marossert. Morreu e renasceria das cinzas, como uma fênix, pronta para fazer justiça.
Nota da autora: Sim, estou louca. Comecei outra fic antes de terminar "Perdidos na Rotação", que - não sei se viram - coloquei em hiatus. Vou finalizá-la, mas antes tenho que escrever esta fic. Tive a ideia para ela há uns quatro anos e recentemente, quando comecei a ler mais fantasia, me apaixonei mais e mais pela ideia. Sento para escrever PnR e só penso nesta história, portanto tenho que dividi-la com vocês. Ela vai ser curta, com uns dez capítulos, e vou atualizar com frequência, já que não devo fazer textos gigantes. Espero que gostem! Estava morrendo de saudade de escrever para vocês! Beijos!
