Déjà Vu

-
Humanos são tão cíclicos, que o mundo é um eterno déjà-vu para mim.
-

A vida é efêmera em sua essência, e, com ela, os humanos rasgam sua passagem pelo mundo de forma tortuosa e perturbadora. As pessoas nascem apenas para morrer.

Minha única razão de existir é romper o laço para manter o círculo em equilíbrio. Não cabe a mim, porém, o poder de escolha, apenas a execução.

Não sou eu quem tem pressa, são eles que não esperam.

(-Por favor..!)

Palavras imploradas aos meus pés não me detêm, porque ninguém pode lutar contra o Destino. Nem mesmo eu.

(-Por quê?)

Por incontáveis gerações, eles tentaram me explicar, utilizando-se das mais variadas crenças. Mas nada até hoje calou as interrogações que urgem em mim.

O fardo que carrego desde o início dos tempos comprimiu-se até virar uma rotina que zomba da decência.

O que entorpece minhas dores são as cores do mundo.

Porque humanos vêm e vão, mas eu nunca poderei roubar as cores. Não, jamais elas.

(-Pobrezinha..)

O vermelho que deles escorre depois de uma tragédia não me atinge. O cintilante que brota em seus olhos em uma tarde cinzenta não me afeta.

Meu coração reto não se deixa abalar por nada disso.

Suas vidas me são previsíveis, sempre o mesmo. Humanos não mudam.

Juntos, eles são um cansativo déjà-vu.

(-Estarei sempre ao seu lado..)

E mesmo depois de tanto tempo comigo eles não se dão conta de sua finitude.

(-Por que ele e não eu?)

Em meu trabalho não existem leis, não existem prioridades e nem isenções. Se existissem, eu seria a Justiça e não a Morte, pense bem.

Meu rastro é fácil de se ver; deixo marcas irreparáveis por onde passo, o impossível é designar meu rumo. A cada breve momento, tomo uma direção diferente.

Com minha experiência, só posso afirmar que estarei onde eles menos esperam. Serei uma nuvem (no céu em chamas), um reflexo (no olhar perdido), uma saída (do labirinto).

Eu não acredito em dias e noites. Eu só vejo tons escuros e claros.

Porque as cores não mentem, não dissimulam, não sofrem. São tão infinitas quanto eternas.

E eles são tão hipócritas, que ignoram o fato de que há elementos em seu mundo que não dependem de sua existência.

(-E você?)

Sempre que eu os tenho em meus braços cansados, pergunto-me onde está a minha alma. Porque em algo como o que sou certamente não reside um espírito.

Talvez minha alma tenha se esquecido de mim, afinal já faz algum tempo.

Talvez ela me encontre algum dia e caminharemos juntas ao lugar que mereço.

(-Sinto sua falta.)

Sentimentos são pesares humanos, mas admito que, depois de tanto tempo, cheguei a identificar-me com alguns, como a falta de um futuro, de um ponto final.

Perambular pelos campos da vida se torna pedante quando se nota que até mesmo aquelas meras criaturas humanas podem achar a estrada para o Paraíso.

Creio que minha estrada esteja a muitas estrelas de distância.

(-Saumensch..)

Quem sabe no inescrutável caminho a trilhar encontrarei alguém que valha a pena... como a menina Liesel.

And as we wind on down the road
Our shadows taller than our souls
There walks a lady we all know

Who shines white light and wants to show
How everything still turns to gold
And if you listen very hard

The tune will come to you at last
When all are one and one is all
To be a rock and not to roll

Gostaria que a menina Liesel pudesse ser minha alma...


N/A: Betada por: Chibi Anne. Brigadão, pap (L)

Salvei essa do fundo do baú (da felicidade) do meu PC. Fiz umas mudanças e tchã-rãn!

Caso alguém esteja se perguntando, o trecho do final é da música 'Stairway to Heaven', do Led Zeppelin 8D