PRÓLOGO
— Estou implorando para que me escute senhor! – um rapaz alto e forte, cabelo num tom loiro platinado, olhos cinza, lábios finos e traços firmes, mas delicados, trajava roupas finas, embora estivessem um pouco desgastadas.
— Saia! Não tenho mais nada a dizer ou ouvir. - O homem ruivo e frágil, já de alguma idade, bem vestido e sério, deu as costas ao visitante.
— Vai me ouvir! - A determinação obrigou o cavalheiro mais velho a virar-se.
O alarme estampado nos olhos azuis e fracos provocou um sorriso sardônico no jovem loiro que suplicava. Os rumores sobre a luta haviam alcançado os ouvidos do velho homem e o tolo, amedrontado, julgava-o capaz de agredir um homem com o triplo de sua idade.
— Por favor, permita que eu fale com sua filha antes de sair… - Ele disse contendo a ira. Mantinha a voz firme, porém baixa.
— Minha filha está em Londres com a tia. — A informação foi anunciada com um triunfo gelado. — Ela parecia não ter consciência de seu verdadeiro caráter, mas agora já a informei sobre seus revoltantes hábitos e sua repugnante moral. Além do mais, ela conhece seus deveres filiais.
Os olhos cinza e confiantes mantinham cativos os olhos azuis e apagados. Os lábios mais jovens formavam uma linha comprimida e tensa que enfatizava o poder das mandíbulas rigidamente cerradas.
Num momento instintivo, o pai da jovem recuou alguns passos. Conhecia sua reputação de homem perigoso. Oh, ouvira cada detalhe das maledicências sórdidas espalhadas por toda a região, e sabia que não devia desafiar inimigo tão inescrupuloso. Mas era impossível disfarçar o desprezo, e finalmente o sentimento foi traído por um sussurro gelado:
— Tem a ousadia de vir até aqui e oferecer-se para minha filha. Você? O filho de um visconde falido, um rapaz sem perspectivas ou riqueza para recomendá-lo? Você, um homem envolvido com jogo, prostitutas e confusões… e de origem reprovável? Se seus pais caíssem mortos na rua, nem mesmo os abutres se interessariam pelos corpos. — Sabia que havia ido longe demais. Por isso calou-se, temendo a reação do adversário.
Um sorriso gelado distendeu os lábios do jovem, e isso aterrorizou ainda mais o pai de sua pretendida.
— Saia antes que eu chame Hagrid para expulsá-lo. - As palavras emergiram num sussurro estrangulado.
A ameaça causou apenas uma leve elevação nas sobrancelhas claras e bem desenhadas. Mesmo assim, ele respondeu com voz contida:
— Tenho consciência, senhor, de que no momento não possuo nada a oferecer. Mas em dois meses terei muito mais. Estou negociando vários acordos e contratos e as perspectivas são favoráveis. Posso levantar fundos consideráveis através de fontes privadas…
— Acha que pode comprar minha filha?
Era impossível continuar contendo a ira causada pelo desprezo e pelas acusações injustas. Exasperado, o rapaz virou-se para sair, mas parou antes de deixar o aposento. Olhos cinza e frios encontraram o rosto do dono da casa.
— Eu sei que posso — ele disse. Em seguida, saiu e fechou a porta.
