PRISIONEIRO DO PASSADO


Autora: Thity Deluc

Beta-reader: Elphie Cohen – Obrigada, você fez um trabalho fantástico! Excepcional!

Classificação: acima de 14 anos - Angst - Drama - SS/HG

Esta fic faz parte do Amigo Oculto de Dia dos Professores das Snapetes. Su, seu pedido não foi fácil, pois o nosso primeiro instinto é escrever um romance, quando se trata de Snape e Hermione. O que tornou o seu pedido um verdadeiro desafio. Então, aí está. Espero que você goste.

Pedido - Snape e Hermione professores, mas sem romance.

Resumo: Severo não morreu. E ele não havia se preparado para sobreviver ao Lorde das Trevas. Mas o que irá acontecer quando ele souber que Hermione será sua colega de profissão em Hogwarts?

Disclaimer: Personagens, lugares e citações pertencem a J.K. Rowling, Scholastic Books, Bloomsbury Publishing, Editora Rocco ou Warner Bros. Essa estória não possui fins lucrativos.


Severo Snape se encaminhou para o Salão Principal com uma amargura e um mau-humor além do normal. Não dormira nada aquela noite, primeiro por causa de seus recorrentes pesadelos, e depois não conseguira parar de pensar nos novos professores que começariam a trabalhar em Hogwarts nesta manhã.

O pensamento que agora o dominava era fel puro: como pudera ele sobreviver a um ataque de Nagini, aquela maldita cobra de estimação do Lorde das Trevas, apenas para ter que aturar, pouco tempo depois, o arrogante Potter e seus amigos, esfregando sua coragem grifinória e todas aquelas qualidades na cara dele, Severo-Morcegão-das-Masmorras-Snape? Era humilhação demais, desgosto extra, como se tudo o que vivera até a morte de Voldemort não tivesse sido punição suficiente por suas escolhas infelizes na juventude.

Minerva tinha que tê-lo avisado antes, sobre suas intenções em contratar a Insuportável-Sabe-Tudo-Granger para o cargo de Professora Assistente de Transfiguração. E ainda por cima teriam o metido Harry-O-Menino-Que-Sobreviveu-Duas-Vezes-Potter aparecendo uma vez por mês para orientação de estágio aos alunos do sexto e sétimo ano que queriam ser aurores! Era demais!

Havia apenas a mesa dos professores no Salão Principal, pois os alunos chegariam dentro de uma semana. Severo estava adiantado, e somente Minerva McGonagall estava à mesa. Severo a cumprimentou com a cabeça e tomou seu lugar à direita da diretora.

— Bom dia, Severo.

— Bom dia, Diretora. — Ele conservou a formalidade, na esperança que ela não prosseguisse o diálogo.

— Severo, como está se sentindo esta manhã? — O tom de voz dela era suave, calmo.

Ele lhe lançou um olhar pouco amistoso.

— Como sempre — respondeu secamente.

A diretora o encarou enquanto ele se sentava. Analisou-o por um tempo e retorquiu:

— Severo, esse não é apenas o início de mais um ano letivo. Eu espero que você consiga conviver com seus colegas e alunos de forma tranqüila. Afinal, você não está mais sob o jugo de Voldemort, não tem mais que guiar seu comportamento para manter seu disfarce de espião.

Severo, sentindo seu mau-humor piorar terrivelmente, murmurou uma resposta que a diretora não ouviu.

— Severo, quero uma resposta audível — ela insistiu.

Ele a encarou firmemente nos olhos.

— Acho que nós dois cometemos um engano — ele respondeu secamente, tentando manter o tom de voz baixo. — Creio, principalmente neste momento, que eu não deveria ocupar o cargo de Professor mais. Você pensa que, porque não estou mais sob a varinha do Lorde das Trevas, eu mudei. Mas não mudei.

— Severo — ela disse com um tom mais suave na voz — já discutimos isso. Sei que você não se tornará alguém... afetuoso, ou mesmo amistoso. Sei disso. Mas agora você não precisa mais tirar pontos de grifinórios para satisfazer sonserinos filhos de Comensais. Nem precisa mais fingir que não gosta dos alunos de origem trouxa, e outros comportamentos que não eram de sua escolha. E a única coisa que te peço, além disso, é que baixe suas muralhas apenas um pouco, para que você possa sentir pelo menos a gratidão de seus colegas professores por tudo o que você fez e sacrificou na luta contra as Trevas.

— Não preciso e não quero a gratidão de ninguém! — Ele ergueu a voz com raiva. — Por que todo mundo acha que me entende? Não fiz nada por ninguém aqui! E se fiz, não é da conta de ninguém, não quero nem espero nada em troca! — Ele percebeu que estava gritando e também que estava de pé, olhando ameaçadoramente a diretora, que estava calmamente sentada. Outros professores estavam chegando e olhavam os dois assustados.

Minerva o olhou bem nos olhos e disse suavemente:

— Sente-se, Severo.

Ele olhou para baixo, não conseguia encará-la. Afinal, ela, agora, era a pessoa mais próxima a uma amiga que ele tinha; sentiu-se envergonhado com seu descontrole e se sentou. Virou a cabeça para o lado da diretora e disse baixinho:

— Minerva, desculpe-me. — Sua voz grave estava baixa, rouca. — Tenho dormido muito mal, e você já sabe o que está me preocupando.

Minerva olhou para ele, que olhava fixo para frente, o maxilar tenso. Era tão estranho ver o Mestre de Poções, agora Professor de Defesa Contra as Artes das Trevas, que costumava ser tão controlado e invariavelmente arrogante, pedir desculpas...

— Severo, eu quero conversar com você no meu gabinete antes da reunião com os professores, está bem?

— Sim, Diretora. — Ele continuava a olhar fixo para frente, a expressão de seu rosto vazia, mas sua voz retornara ao normal.

Flitwick, Hooch e Hagrid se sentaram, ainda olhando Severo, mas não disseram nada. Trocaram cumprimentos, Severo respondeu sem olhar ninguém. Minutos depois, chegaram Slughorn, Sprout, Sinistra e Trelawney, que também cumprimentaram e se sentaram, enquanto a porta da entrada principal se abria para admitir de Granger e Potter.

Severo os olhou meio de lado, como se não o quisesse fazer. Potter usava a gravata da Grifinória; Granger tinha os cabelos presos em um rabo simples, aparentemente domados, e também vestia as cores de sua Casa. Ambos conversavam animadamente, os semblantes alegres enquanto cumprimentavam seus antigos professores.

McGonagall se ergueu e esperou a atenção de todos.

— Bom dia. Hoje, como todos já sabem, temos nossos antigos alunos como colegas, e nossa primeira reunião de planejamento do ano letivo será às dez da manhã. Sejam bem-vindos, Hermione e Harry. Vamos ao desjejum!

Os professores, em sua maioria, sorriam e conversavam animadamente com Harry e Hermione; o único quieto era Severo. Ele tentou terminar seu café da manhã o mais rápido que pode, fazendo força para não olhar para seus antigos alunos.

Harry se sentou ao seu lado, fazendo com que sua amargura aumentasse. Sabia que o garoto não iria deixá-lo em paz. E não deixou...

— Então, Snape, animado para mais um ano? — Um Harry Potter sorridente olhava para Severo, esperando resposta.

— Mais um ano tentando impedir cabeças-ocas de explodirem minha sala de aula? Ah, sim — e sua voz se tornou acidamente irônica —, estou muito, muito animado, Potter!

Harry ficou sem graça, mas não desistiu.

— Quem sabe este ano você não tenha uma surpresa, Snape, e apareça uma nova Granger?

Snape resmungou enquanto mastigava, abaixando a cabeça, desencorajando a continuidade da conversa. Harry ficou quieto por alguns minutos. Por fim, deu-se por vencido e se virou para o outro lado, prestando atenção na conversa de Hermione com Hagrid.

Severo os olhou de lado, observando a garota disfarçadamente. Sim, ela ainda era uma garota, afinal, tinha apenas dezenove anos. Claro, estava um pouco mais alta do que ele se lembrava, os cabelos do mesmo jeito, cheios, indomáveis, mesmo quando presos; o rosto não era mais de menina, obviamente, e ela sorria com facilidade, ele percebeu.

Certo, ela estava diferente do que ele se lembrava dos tempos em que era sua aluna, principalmente na postura e no olhar. Ela sempre fora diferente, efetivamente à frente dos colegas em inteligência, esforço e maturidade, mas ainda era jovem demais. Severo encerrou esses pensamentos, levantando-se, e se dirigiu ao gabinete da diretora.