Histórias

"Eu acho que se existem muitas maneiras de contar histórias. Algumas boas, outras ruins, mas, a maioria das minhas eram somente ferimentos abertos."

Eu acho que se existem muitas maneiras de contar histórias.

Eu, particularmente, prefiro a "história já passada". Alguns gostam de dramatizá-las. Outros falam levemente, dizendo sobre amor e a vida – e a importância disso.

Mas era uma questão de opinião. Também existem vários e vários tipos de histórias – trágicas, dramáticas, romances, felizes, tristes, de horror, de "viagens na maionese". De magia.

Algumas eram indescritivelmente boas, outras, bom, nem tanto. Alguns tinham o dom de contá-las, outros de vivê-las e outros só sabiam escutá-las.

Eu não sei onde me encaixa – eu sei contá-las, eu as vivi, mas, por vezes, gostaria de ter escutado. Talvez trouxesse menor sofrimento, ou talvez não fizesse diferença alguma.

As maiorias das pessoas que lêem muitos livros e pergaminhos dizem que tem mania de imaginar a cena, os personagens e as ações quando olham um livro, a imaginação rolando solta.

Se eu faço assim? Bom, eu não era um leitor ávido, mas, não, não imaginava – eu tinha uma forma simples: ler e passar adiante. Eu não me fixo muito em histórias, porque não gosto de histórias.

A minha vida é uma história – e praticamente pública ao mundo.

Só umas cem vezes por dia eu gostaria de ter sido o autor de minha história, como aquele autor que olha e diz: "Não, tenho de mudar". E, simples assim, escreveria tudo de volta – menos drama, menos dor, menos sofrimento.

Mas eu era só o personagem – aquele herói bobo, mas que todos acham incrível na hora de salvar suas vidas, mas que acham tapado em um dia qualquer – era somente um bonequinho.

Aí me vem a questão: Sou feliz? Sim, obrigado, vou bem e saudável. Mas feliz? Possivelmente – ou só estou mentindo?

Sofri vários ferimentos, vários cortes, várias dores físicas – mas, quando sofri a primeira perda, achei que o talo não fosse fechar. A pessoa que mais próximo chegará da minha família, partira.

Recuperei-me? Um pouco, o suficiente para não ficar lamuriando-me pelos cantos e reclamando sobre a vida injusta. Depois, perdi outra pessoa importante, morta pela pessoa que eu mais odeio – aquele que mais tarde seria, na verdade, um verdadeiro herói.

Houve menos dor, se eu já estava acostumado? Não. Foi pior, porque também me lembrei da dor já passada. Porém, me concentrei na minha missão, ninguém mais ia morrer.

Mas morreram, uma pessoa sorridente que deixou seu par pela metade, e dois amigos próximos.

Foi pior? Bom, não foi pior, foi ruim – todas as vezes foram. Mas, talvez eu devesse ter me sentido aliviado ao morrer, mas eu só voltei, e isso pesou, porque eu pensei que os outros não voltariam como eu.

Todavia, superei – ou pelo menos, guardei lá, lá no fundo, deixando a questão para depois. E, hoje, sim, sou mais feliz, contente. Mas os meus ferimentos nunca fechariam como minhas cicatrizes, ficariam ali.

E tudo isso só acontecera por causa de uma história, uma história bobinha de um garoto que se sentia injustiçado por ser mestiço e órfão – Tom Riddle.

Minha história começara ali, porque, sem ele, minha história seria outra, e minhas dores seriam menores.