Disclaimer: Eu não os tenho, e é melhor assim.
N/A – Excepcionalmente, uma história com dois capítulos. Eu confesso: queria que fosse um só, mas não deu tempo... Entretanto, acho que ficou melhor assim.
Encontro com amigos
- Certo. Uma amiga. De Stanford... Ou melhor, outra amiga de Stanford precisando do nosso tipo de ajuda. Normal, Sammy, muuuito normal.
- O que você está insinuando, Dean? Eu estava com a Jessie, lembra? Molly é só minha amiga, mesmo. Eu não sou você, Dean.
- Calminha aí, irmãozinho, não tô falando nada. Só acho estranho todas as suas "amigas" de faculdade estarem envolvidas com alguma coisa sobrenatural, só isso.- Dean fez realmente o gesto de aspas com os dedos, enquanto dizia "amigas".
- Em primeiro lugar, em Saint Louis era o Zack, meu amigo, quem estava com problemas, a Beck só me chamou para ajudá-lo. Em segundo lugar, você também já teve amigos com problemas assim, lembra da Cassie, não?
Sam quase se arrependeu por mencionar a ex-namorada do irmão, ao ver a careta de susto em seu rosto. Mas a reação durou somente alguns segundos, logo Dean voltou a vestir sua típica máscara de indiferença.
-Tá, legal, Sam. Vamos ajudar a sua coleguinha. Do que se trata, afinal?
- Molly herdou uma fazenda da família e foi morar lá, na tentativa de fazer o lugar lucrativo de algum jeito. O problema é que ela foi morar lá só com a irmã viúva e começaram a acontecer coisas estranhas na casa. Você sabe, luzes piscando, ruídos inexplicáveis, objetos que somem misteriosamente...
Enquanto conversavam, os irmãos arrumavam suas malas, preparando-se para partir logo em seguida rumo à fazenda em questão.
- Seu desodorante. – Dean atirou, sem se voltar, o frasco para Sam, que o agarrou no ar com uma mão só. Os dois tinham, há anos, desenvolvido a habilidade de fazer esse tipo de coisa, além de um código silencioso entre eles. Às vezes, só usando o olhar, um já era capaz de saber o próximo movimento do outro. O tempo em que estiveram afastados não prejudicou em nada esse tipo de conexão entre os irmãos.
Dean continuou com o assunto principal:
- Uma casa velha pode ter problemas elétricos, ranger de tábuas, essas coisas. O que faz essa garota pensar que seria alguma coisa na nossa linha de trabalho?
- Ei, por que tem roupa suja sua na minha bolsa?
- Pra você aproveitar e colocar junto com as roupas pra lavanderia. Sua semana, Sam.
Sam revirou os olhos. Será que não entrava na cabeça dura do irmão que havia uma mala específica para separar roupas sujas? Mas, como não queria se desviar do assunto - e nem ser chamado de Rainha do Drama - continuou.
- Bem, na semana passada, a irmã de Molly entrou no quarto que ocupava e encontrou a cama coberta de sangue, o colchão todo rasgado e o gato dela todo retalhado sobre a mesinha da cabeceira. Ela teve um tipo de ataque de nervos e voltou para a cidade. Agora, a Molly está lá sozinha e resolveu me chamar.
- E como ela sabia o que nós fazemos?
- A Molly contou tudo para a Beck, que contou para ela como ajudamos o Zack.
Dean ia mencionar que eles não deveriam abrir esse tipo de informação para todo mundo, e que Sam já havia esquecido da regra principal dos caçadores: "Faça o que é preciso e cale a boca sobre isso". Entretanto, não queria ser lembrado sobre seu relacionamento com Cassie outra vez e, naquela época, ele próprio tinha contado para a namorada sobre as suas atividades. Sam nunca o tinha condenado, é verdade, mas mesmo assim, resolveu mudar de estratégia.
- Jóia! Com a rede Stanford de transmissão de informações, daqui a pouco vamos poder tirar o nosso anúncio do jornal.
- Hilário. Podemos ir agora? Prometi para a Molly que chegaríamos antes do anoitecer.
- Claro, vamos nessa. Eu não sonharia em deixar uma jovem bela e indefesa sozinha numa casa mal-assombrada à noite. Ela é bela e jovem, certo? Ah, que pergunta besta, todas as suas amigas são. Vamos embora.
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O sol já havia se posto há uma hora quando os Winchesters chegaram à casa da fazenda. Desceram do carro e Sam bateu à porta. Um rapaz mais ou menos de sua idade, atendeu.
- Sam! Sam Winchester! Quanto tempo, cara!
- Ronald! Cara! – O rosto de Sam iluminou-se ao ver o outro rapaz.
Dean, ao lado, ficou observando os dois jovens abraçarem-se alegremente, dando tapinhas um nas costa do outro.
- Entra, Sam, olha quem está aqui! A Ruth e o Ben. A Beck contou pra gente o que estava acontecendo e nós viemos ficar com a Molly. Puxa, meu, quanto tempo! Nós todos ficamos esperando sua volta, mas você não voltou.
Ronald empurrou Sam para dentro da casa, todo empolgado, ignorando a existência de Dean, que suspirou e seguiu-os. Dentro da casa, na sala de estar, um grupinho de pessoas com a inscrição "Faço Faculdade de Direito" estampada na testa, levantou-se do sofá para receber Sam.
- Sam! Que bom te ver! Nossa, parece que faz uma vida. Como você está?
- Uau! Eu estou bem. Não esperava encontrar vocês aqui! Nossa, Ruth, você está ótima. Ei, Ben, companheiro, que bom te ver. Molly, quanto tempo!
Mais tapinhas amistosos, risos, abraços. Dean achou que tinha visto até mesmo uma lágrima nos olhos da linda Molly. Achou também que alguém, qualquer um, precisava perceber sua presença. Com todo exagero, tossiu e limpou a garganta. Na mesma hora, Sam virou-se para ele, parecendo notar, finalmente, que estavam ali juntos.
- Ah, é! Ei, todo mundo, este é meu irmão Dean. Dean, estes são Molly, Ben, Ronald e Ruth, meus melhores amigos dos tempos de Stanford.
- Oi, Dean – todos em uníssono. Dean sentiu-se como se estivesse numa reunião dos Alcoólatras Anônimos.
- Oi, todo mundo. Molly, Benjamin, Ruth, Ronny. Como vão?
Molly, a dona da casa - uma gata morena na concepção de Dean - aproximou-se:
- Sinto muito por ter feito vocês virem assim, correndo. Eu estava assustada e minha irmã está simplesmente apavorada! Mas hoje à tarde, o xerife prendeu os donos da fazenda vizinha, que confessaram que estavam tentando afastar a gente daqui, para ficar com a nascente da nossa propriedade. Parece que alguém andou achando ouro por aqui, em nossas terras, ou alguma coisa assim. Mas agora o perigo já passou.
- Que bom, Molly! Então é uma comemoração! – Sam parecia muito feliz.
Dean olhou para o irmão sem entender. Comemoração? Eles tinham sido chamados ali para nada, por causa de um ataque histérico de uma menina mimada e eles iriam comemorar? Sem chance. Eles iriam entrar no carro e dar meia volta agora mesmo. Dean abriu a boca para dizer isso, mas ao voltar-se para o irmão, percebeu uma coisa diferente em seu olhar. Há quanto tempo não o via assim, tão feliz e empolgado. Depois que haviam crescido, na verdade, nunca mais tinha visto aquele brilho de contentamento nos olhos de Sam. Ao mesmo tempo em que gostava de ver o irmão tão contente, sentiu uma dorzinha no peito, quase como uma ponta de ciúme. Ele, Dean, não era mais capaz de fazer Sam feliz como estava agora, tinha perdido essa habilidade quando o caçula deixou a infância para trás. Dean sabia que o irmão o amava, mas também sabia que não ficariam juntos de forma alguma, se não fosse pela vingança que Sam buscava e pela obrigação da caçada que enfrentavam.
Entretanto, como sempre, Dean fez o que sempre fazia e colocou a felicidade de Sam a frente da sua. A dona da casa já voltava a falar:
- Pois era isso mesmo o que estávamos dizendo, precisamos comemorar. E vai ser ao nosso estilo de Stanford. Um luau à beira da fogueira, como quando íamos ao Lake Lagunita.
- Meu Deus, eu tinha quase esquecido daquele lugar. – Sam disse para o grupo.
- Ah, conta outra, Sam! Não lembra nem daquela vez em que nós ficamos juntos, antes de você e a Jessica namorarem? – Ruth contou e, pelo seu jeito, todos perceberam que ela não tinha esquecido nem um detalhe da ocasião. – Acho que foi por causa disso que a Jess resolveu de vez ficar com você, para não te deixar para mim.
Todos riram num riso respeitoso à memória da moça, que já não estava ali entre eles.
- Aquilo não conta, Ruth. Todos já estávamos meio altos, ninguém lembra bem o que aconteceu naquela noite! – Sam parecia um tantinho encabulado, mas aceitou a paquera, retribuindo os olhares da ruiva, que por sinal era muito bonita.
Dean, como todo mundo, percebeu o clima, pensando que tinha julgado mal o irmão a vida inteira, assumindo que o nerd só tinha conseguido ficar com Jessica por pura sorte. Ele era um vadio, na verdade. Um malandro bem esperto, que usava aquele olharzinho de cão perdido para conquistar a mulherada. Que safado! Dean nunca se orgulhou tanto de Sam quanto naquele momento.
- Por falar em bebida, as cervejas eu já peguei. Podemos pegar as bagagens de vocês no carro e, assim que estiverem prontos, nos encontraremos no lago. Nós vamos acendendo o fogo para adiantar. – Ben, que parecia o mais certinho do grupo, talvez por causa dos óculos, demonstrava estar com pressa de comemorar. E não tirava os olhos da bela Molly.
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- Parecem gente bacana, seus amigos.
Sam e Dean já estavam com as malas no quarto do andar de cima que ocupariam naquela noite. A casa era muito espaçosa, apesar de um pouco rústica. Em seu quarto havia duas camas de solteiro, um imenso armário e uma mesa com duas cadeiras.
- É, eles são sim. Vai ser uma noite bem agradável. Você já está pronto? Podemos ir?
Dean olhou para o irmão com surpresa. Mas que pressa era aquela? Dean ainda nem tinha sequer aberto o zíper da mala e Sam já tinha trocado de camiseta, passado desodorante e penteado os cabelos, o que por sinal, era algo que não fazia assim com tanta frequência. E alguém que tinha aquele corte lamentável de cabelo, deveria fazer isso mais vezes, na opinião de Dean.
- Você já se arrumou? Sam, você não acha que nós devíamos dar uma olhada por aí? Essa história de vizinho... não sei, não. Já que estamos aqui, não custa tirar a dúvida.
- O que? Você ainda acha que pode ter algum espírito por aqui? Acho que não, você ouviu a Molly. Tá vendo, só? Não era mais uma "amiga" minha com problemas sobrenaturais. Dessa vez foi só a boa e velha maldade humana mesmo.
- É, acho que sim. Mas você sabe, nunca podemos ser cuidadosos demais. Seguro morreu de velho.
- Ok, Senhor "Eu Conheço Provérbios". Se isso vai fazer você se sentir melhor, amanhã damos uma olhada no quarto que a irmã da Molly ocupou, onde o gato morreu. Mas agora, vamos, o pessoal tá esperando.
- Hum... O quarto da viúva. Bem pensado, Sam. Percebeu?
Sam fez uma cara de quem não tinha percebido nada, que não estava com vontade de perceber coisa alguma e que odiava quem tivesse percebido qualquer coisa. Ele já tinha aberto a porta e estava saindo.
- O que foi agora, Dean?
- O quarto da viúva. Viúva. De um marido morto, Sammy.
- Não, gênio, uma viúva de marido vivo. – Mas no meio da frase, o rapaz percebeu o que o outro estava tentando dizer. – An? Você quer dizer que o espírito do homem pode estar fazendo isso? Mas, por que? Ele, de repente, não quer ver a mulher tirando leite de vaca e dando comida às galinhas? Não faz sentido.
- Não sei o motivo, mas acho que vale a pena checar. Você pode ir para a sua festa, que eu vou visitar o quarto da viúva-negra.
- O que? Você não vai? – Dean achou ter ouvido uma pontinha de alívio na pergunta do irmão.
- Não, acho melhor ficar por aqui. Você pode ir, converse com seus amigos. Na verdade eu não teria muito o que dizer, vocês vão ficar relembrando velhas histórias da faculdade. Vamos encarar, Sammy, eu ia achar um porre.
- Você tem certeza? Vai ficar aqui sozinho? – Sam não queria que o irmão achasse que ele o tinha abandonado para ficar com os amigos.
- Claro. Nada demais. Além disso, eu sei contar. Ruth e Sam, Molly e Ben.- depois, parando – Hum, em que estranha dimensão paralela estamos, na qual EU estou sobrando sem mulher?
Sam deu uma risada, aliviado.
- Vai ser uma experiência diferente para você, Don Juan. Bom, se você tem certeza, já vou indo.
- Tenho, sim. Vai embora logo, divirta-se.
E Sam foi.
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O grupo estava muito animado. A conversa em volta da fogueira havia caído, como Dean previra, nas velhas histórias de Stanford. Sam foi colocado a par de todas as novidades relacionadas às pessoas que conhecia de seus tempos de estudo. Falaram um pouco sobre Jessica, Beck e Zack. Sam não contou muitos detalhes de sua vida e de seu trabalho para os amigos. Descobriu que Beck tinha sido fiel à sua palavra e não contara tudo o que os Winchesters faziam como meio de vida. Os amigos não estranharam, pois Sam nunca fora muito aberto no sentido de compartilhar sua vida familiar.
Sam, naquele momento, não estava se sentindo mais tão animado quanto antes. A conversa com os amigos, apesar de parecer alegre e agradável, já não tinha o mesmo prazer de antes. Falar sobre aulas e notas, professores ranzinzas ou camaradas, futuro na advocacia, não fazia mais sentido em sua vida, depois de tudo o que tinha acontecido. Sam sempre tivera certeza de que essa era a vida para a qual retornaria assim que pudesse. Porém, agora, percebia que nunca mais poderia retomar esse lado, que tudo isso havia realmente ficado para trás. A realidade agora era a vida ao lado do irmão, cumprindo essa maldição, essa missão que a vida lhes tinha imposto. Mas o engraçado é que agora, neste exato momento, isso tudo não parecia assim tão ruim.
- Seu irmão parece um cara legal. – Ronald disse em certa altura, muitas cervejas e risadas depois.
- Ele é sim. Dean é um bom sujeito. Ele é a família que me resta.
- E ele é um gato! Se eu não estivesse interessada em outro, ele não me escapava. – Ruth não tinha perdido nenhuma oportunidade para dar a entender a Sam de que ela estava mais do que disposta e disponível.
- E ele foi muito bacana, não querendo vir, achando que poderia atrapalhar. Foi isso, não foi, Sam? Mas não tinha nada a ver, ele é muito bem vindo também. – Molly conseguiu, com esse comentário, que Ben lhe dirigisse um olhar muito estranho.
O rapaz ia dizer algo, quando o celular de Sam tocou. Ele olhou no visor e viu que era o irmão chamando.
- Ei, Dean. – Sam atendeu, mas não houve resposta.
- Dean? Fala mais alto, não ouvi nada.
Silêncio, depois um ruído de algo batendo e, finalmente, a voz de Dean, muito baixa e trêmula:
- S-Sam...?
- Dean! Dean! O que foi? – Sam sentiu todo o sangue fugindo de seu rosto. Suas mãos começaram a tremer. Alguma coisa tinha acontecido com Dean.
- Sam? – Dean parecia confuso, a voz ainda mais baixa do que antes.
- Sou eu, Dean! O que aconteceu? Você está ferido? Onde você está?
Não houve resposta do outro lado da linha.
Obrigada por ler. Continua...
