Título: Só talvez
Autora: Ann Cashew
Beta: Jann Candor
Aviso: Essa fic contém spoilers de Half-Blood Prince.
Disclaimer: Os personagens e o universo de Harry Potter são propriedade de J.K. Rowling, Editoras Associadas e Warner Bros. Esta fanfic não possui fins lucrativos (como todos estão cansados de saber u.u).
Resumo: Draco Malfoy terá que pagar por não ter realizado a missão que lhe fora ordenada, e o Lorde das Trevas nunca fora clemente aos que falham. Como uma maldição, sua nova missão não será nada fácil. Menos ainda se tratando de Harry Potter. Talvez tivesse sido melhor aceitar a ajuda de Dumbledore. Só talvez.
Só Talvez
por Ann Cashew
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Capítulo 1 – Castigo
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"Mais rápido!", Draco Malfoy pôde ouvir aquela voz fria dizer essas mesmas palavras pela terceira vez. Por acaso ele esperava alguma resposta? Porque Draco definitivamente não falaria mais com ele. Nunca mais. Nem que fosse preciso.
– Por mais que você tente evitar encontrá-lo, você deveria saber que atrasar isso, só vai fazê-lo ficar mais furioso.
Draco sabia disso. Não precisava de ninguém para dizer, muito menos que esse alguém fosse Severus Snape. A pessoa que havia causado tudo isso. Que o faria passar pelo que fosse, assim que cruzasse a porta no fim do corredor estreito em que estavam. Faltando apenas alguns passos, Draco sentiu seu sangue praticamente congelar, a força magica que emanava do compartimento à frente era terrivelmente intensa. Mas todo o medo que Draco sentia, o fez esquecer de um detalhe: Dumbledore estava morto. Isso significava que o Lorde das Trevas estaria imensamente feliz, não o contrário.
Mas a única coisa que Draco conseguia conciliar agora, por mais difícil que fosse, era que talvez essa seria a última vez que poderia ranger os dentes como estava fazendo. Já tinha perdido sua compostura a muito tempo. Seu ar aristocrático já o havia abandonado... E se ele tivesse uma varinha agora, com certeza usaria a imperdoável que não teve coragem de usar poucas horas atrás, em Dumbledore. Oh, céus, morreria com ódio de Snape, seu próprio padrinho? Que patético. Deveria estar grato a ele, afinal, não teria conseguido concluir a missão. Ele sempre soube que nunca teria coragem de matar alguém... E isso o fez sentir-se acima de Snape, do Lorde das Trevas, acima de qualquer outro Comensal.
Se tivesse que morrer agora, morreria como um... Como um Grifinório? Seus lábios se curvaram em um sorriso mínimo. Então era assim que um grifinório estúpido sentiria-se caso tivesse que morrer heroicamente? Ok, certamente Draco não iria morrer heroicamente, mas, ao menos, não tinha rebaixado ao nível de um assassino. Isso era mais do que o suficiente para fazê-lo sentir-se melhor e conseguir dar aqueles últimos passos em direção a porta que talvez o levaria a morte. Só talvez.
Só que ainda assim era impossível não sentir ao menos rancor, afinal, seu padrinho tinha cavado sua sepultura com o Lorde.
Snape mal tinha saído da sua frente, dando passagem para que entrasse no quarto e Draco já estava recebendo um cruciatus. Tudo pareceu sumir ao seu redor e ele só podia ver um... Vermelho sangue. Sua cabeça estava explodindo e cada osso seu parecia ter tornado-se um pequenino caco de vidro, querendo sair para fora do corpo. Só conseguia pensar em sangue, na dor que sentia e nos gritos. Gritos que se misturavam aos seus. Estava ajoelhado, olhando para as suas mãos espalmadas no chão que tentavam sustentar seu corpo quase inutilmente... Tentando não deixar escapar lágrimas, enquanto a dor praticamente insuportável e os gritos iam sumindo.
– Crucio! -dessa vez Draco não pôde aguentar, estava contorcendo-se no chão. Ossos, cabeça, gritos e sangue. Era sempre isso, mas a cada novo cruciatus, a dor parecia duas vezes pior do que em qualquer outro que já tivera recebido. Sempre mais um passo perto da loucura, ou... Da morte. E ele estava esperando para seguir com seu destino quando o Lorde sibilou, parecendo feliz...
– Eu deveria matá-lo... Mas uma outra morte já me satisfez. - Draco indignou-se, então para que tantos cruciatus? Mas logo em seguida engoliu em seco. Outra morte? Sua m... Não! Não! – Creio que castigá-lo será muito mais prazeroso... E dar-lhe a notícia mais ainda. - o Lorde continuou e Draco sentiu repulsa. Um ódio imenso. Uma vontade quase incontrolável de levantar-se e partir para cima daquele ser ofídico à sua frente. Pouco importava se tinha uma varinha ou não, poderia espancá-lo a mão nua mesmo.
– Seu pai está morto, Draco. - seu coração falhou uma batida e ele abriu a boca involuntariamente diante do choque que sentia. O Lorde havia falado aquilo como alguém que lhe dá as boas vindas a uma festa. – Mas, não poderei ser tão bondoso quanto fui a ele e lhe dar o prazer de acompanhá-lo. Não, te darei a chance de redimir-se.
Draco tinha quase parado de ouvir o que o Lorde dizia, mas sabia que esse seria mais um erro. Só queria ver seu pai, nem que fosse para sentir a pele fria do corpo sem vida. Ele achava que teria sido sua mãe a morrer, que seu pai estava 'seguro' em Azkaban.
– Levante-se. - ele ordenou e Draco colocou-se de pé rapidamente, mas seu coração ainda estava ali no chão. Sua mãe... como... como ela estaria? Ele levantou os olhos acinzentados na direção de Voldemort e ele lhe esclareceu.
– Muito bem lembrado, Draco. Sua mãe está em um lugar onde só eu e Severus temos acesso, e ficará lá até você realizar sua nova missão. E eu espero, Draco, que dessa vez você não falhe.
Arrependimento instantâneo; foi isso que Draco sentira. Não devia ter olhado diretamente nos olhos do Lorde, não deveria ter deixado ele entrar em sua mente assim. Não deveria ter lhe dado a chance de jogar na sua cara que havia falhado.
– Draco, Draco... arrependimentos são para os fracos. Agora, se me permite... - o Lorde fez um aceno longo de varinha, enquanto recitava em sua direção um feitiço que Draco não sabia identificar; começava a sentir-se extremamente estranho. Um calor percorreu-lhe o corpo, e ele estava... Arregalou os olhos. Ele estava... diminuindo? Olhou para baixo, tentando focalizar seus pés, achando que estava fundindo-se com o chão ou algo assim e... O que era aquilo? Ele tinha criado... Busto? Sentiu um formigamento nos braços e mãos, levantou-as em frente ao rosto... Elas estavam... Finas? Suas unhas não estavam mais curtas, estavam longas e bem feitas. Ele conhecia esse tipo de mão, definitivamente. Eram mãos... Femininas! O tipo de mão que havia percorrido seu corpo tantas vezes.
Sua expressão deveria ser de puro pânico, pois pareceu divertir o Lorde. Diverti-lo a ponto de lhe arrancar gargalhadas. Aquilo era a coisa mais estranha que Draco jamais poderia ter imaginado presenciar. Olhou horrorizado para ele, logo em seguida para Snape que estava sorrindo sarcasticamente. Bom, ao menos não tinha rido descaradamente igual outro alguém. Iria lhe dar algum crédito depois, talvez começasse a lhe dirigir algumas palavras maldosas. Mas o que infernos estava acontecendo afinal?
Depois de mais alguns movimentos, o Lorde voltou a sibilar...
– Severus, meu fiel servo, queira prosseguir... - Draco voltou o olhar para o homem meio cobra, acompanhando seus passos enquanto ele se dirigia a única poltrona do quarto. Por Merlin, o quê...? Snape iria prosseguir com o quê? Seus pensamentos foram cortados quando sentiu uma mão fria em seu braço.
– NÃO! - Draco gritou se afastando e podia ter certeza que sua expressão era novamente de pânico. Que voz era aquela? Draco Malfoy tinha agora voz de... Mulher? – Merlin, o que está...? - ele pôde ver os lábios de Snape curvados em um sorriso sarcástico novamente, enquanto ele testava sua voz, mas nada de gargalhadas dessa vez. – O que vocês estão pretendendo?
Draco tentava reunir a dignidade que ainda lhe restava para proferir qualquer palavra, embora não restasse muita. Viu Snape dando mais um passo à frente e ele, instintivamente, deu dois para trás.
– Não. Chegue. Mais. Perto. - disse entre dentes, assemelhando-se a uma Narcissa Malfoy irritada. Aliás, ele estava parecendo muito com a sua mãe mais nova, de qualquer jeito, estando irritada ou não.
– Você não está em posição de dar ordens aqui, Draco. - e Snape agarrou seu pulso fortemente dessa vez, não deixando saídas. – Milorde... - ele fez uma pequena reverência e no instante seguinte Draco sentiu um solavanco dentro do umbigo. Sabia o que estava acontecendo agora, ele e seu pai já tinham feito isso antes. Seu pai, ele... Só que não teve tempo de continuar o pensamento, tinha desaparatado.
Reconheceu claramente o lugar que estava como uma das salas da mansão Malfoy. Olhou ao redor, sentindo-se mais calmo. Estava em casa e isso era realmente... seguro. Sim, seguro. Era assim que Draco se sentia na mansão, relativamente seguro. Ele gostava do silêncio, de não ter que sempre manter as aparências, sem se preocupar em estar sendo julgado por alguém. Poderia se trancar no seu quarto por horas que ninguém o incomodaria. E também não havia nada de aulas, professores, responsabilidades ou qualquer sangue-ruim pobretão por perto.
Tivera tanto medo de morrer e não poder sentir essa sensação nunca mais. Medo de não poder fazer coisas que qualquer garoto de quase 17 anos faria. De sentir-se verdadeiramente bem ao lado das pessoas que o rodeassem, de se divertir com elas. Só que Draco sabia que aqueles não eram nem de longe os seus piores medos. Mas dizem que depois de um grande choque, acabamos mudando. Talvez ele mudasse aquilo dali para frente.
Snape limpou a garganta e o loiro estremeceu involuntariamente, o silêncio que tanto gostava tinha acabado de fugir por entre seus dedos. Todo o rancor que havia sentido veio à tona novamente. Dar algum maldito crédito para ele depois? Pro inferno com qualquer crédito!
– Esse é um dos seus problemas... - os dois estavam se encarando, preto no azul-acinzentado. Na verdade, ainda estavam praticamente na mesma posição de antes, só faltavam os dedos frios de Snape ao redor do seu pulso. – Você sempre acha que está por cima, em qualquer situação. Não vê que isso te prejudica? Não vê que nesse instante você não está nem ciente da sua situação?
Snape estava certo. Se ele parasse para pensar... Quem em sã consciência na situação em que Draco estava, pensaria em dar algum crédito para alguém depois, só pelo simples fato dessa pessoa não ter repetido um ato que ele não gostou? E se ele parasse para pensar um pouco mais, Snape sempre teve razão.
Seu padrinho lhe dava conselhos desde o primeiro ano em Hogwarts, nenhum havia dado errado. Mas mesmo assim, Draco não daria o braço a torcer.
– Não invada minha mente!
– Não deixe que eu a invada.
Silêncio.
– Você... - Draco estava a ponto de explodir. – VOCÊ ACHA O QUÊ? OLHE PARA MIM! - gritou enquanto se mostrava com as duas mãos. – Acha MESMO que eu não estou ciente da MINHA situação? Eu virei uma MULHER e VOCÊ vem me dizer que eu NÃO estou ciente? VOCÊ ME COLOCOU AONDE EU ESTOU! - cuspiu para fora essas últimas palavras, do pior jeito que conseguiu. – E ainda acha que pode me dizer o que fazer na MINHA casa?
Mais silêncio.
– Sim, eu acho que eu posso dizer o que é mais sensato a fazer no momento. - Snape não havia se exaltado, e Draco também não deveria tê-lo feito. Seu padrinho o olhava acusatoriamente.
Desviou o olhar. Não conseguia pensar direito, só precisava de um vira-tempo ou algo assim. Seu sangue fervia, mas ele sabia, como um bom Malfoy que era, deveria manter-se imparcial, calmo e reunir o máximo de informações possíveis para ajudá-lo no seu problema. Ou em um futuro. Só que não estava com paciência suficiente para aguentar mais o Sr. Severus Aponta-Defeitos Snape. Virou-se em direção à porta e caminhou para o seu quarto, deixando de lado o homem de feições frias e cabelos imaculadamente pretos. Não precisava ouvir qualquer tipo de 'sermão'.
Ele precisava de um banho, isso sim. A saída de Hogwarts não fora fácil, embora tenha saído sem nenhum corte de lá, o sonserino tinha corrido muito até ultrapassar os portões do castelo. O que fez que seu corpo cobrisse-se de suor, porém, esse era um problema que resolveria logo. Já nas longas escadarias que dava acesso ao segundo andar da mansão, Draco parou bruscamente. Estava encarando o corrimão, onde sua mão, que recentemente havia ganhado um aspecto delicado, repousava. Toda sua transformação passou diante de seus olhos como um filme. Uma vontade de voltar e perguntar a Snape o que realmente significava aquilo lhe ocorreu, mas ele não tinha nem certeza se seu padrinho ainda estaria lá.
Apressando o passo, chegou no banheiro do seu quarto.
Draco estava um pouco inseguro se realmente deveria ou não olhar-se no espelho. Mas a curiosidade se sobrepôs ao medo, e a surpresa roubou-lhe toda curiosidade assim que se viu no amplo espelho. O cômodo estava fracamente iluminado e só podia-se ver a imagem de uma jovem de cabelos claros, magra e com uma roupa consideravelmente maior do que seu corpo. Aquele era o uniforme da Sonserina.
Draco não demorou muito até acender as luzes e voltar-se a frente do espelho. Agora era possível ver os detalhes da sua transformação. Seu cabelo estava um pouco mais para o loiro com rajadas castanho-claro, esquecendo-se de seu tom normal platinado; estava comprido, batendo um pouco acima da cintura e cortado em forma de V. E mais! Não eram, nem de longe, cabelos incrivelmente lisos. Não, agora estavam levemente ondulados nas pontas e sua franja estava maior e jogada para o lado. Seus olhos continuaram na mesma cor, um azul-acinzentado, único agora. Seu rosto, ainda aristocrático, tinha feições mais delicadas, sobrancelhas castanho-claro, finas. Nariz arrebitado e orelhas perfeitas como antes, mas agora podia ver um furinho em cada uma delas.
Isso era tudo que Draco conseguia ver, o uniforme largo atrapalhava o restante da visão. Mas ele tinha certeza que seu corpo seria perfeito, igualmente ao rosto. Draco teve que 'admitir' para si mesmo que aquela era personificação perfeita da mulher ideal.
– Por Merlin, isso... - o loiro fechou a boca logo em seguida. Sua voz. Claro, tinha se esquecido momentaneamente desse detalhe enquanto deslumbrava-se com as mudanças. Mas parecia que teria muito tempo para acostumar-se com aquilo. O Lorde das Trevas não gasta seu tempo distribuindo feitiços de graça por aí, afinal.
Draco achou melhor se despir sem se tocar muito, tomar seu banho e sair logo daquele banheiro. Caminhou até a banheira, situada quase à altura do chão – apenas suas bordas estavam acima disso, uns 20 centímetros. Preparou-a e tirou as roupas logo em seguida, amontoando-as no chão. Não teve muitas dificuldades ali, era só não se tocar e não se olhar. Seria melhor ter uma varinha, certamente. "Ok, é fácil." Draco pensou, tentando não se imaginar.
Já imerso até o pescoço, sua cabeça fervilhava em dúvidas. Foi preciso mais de meia hora para que o loiro conseguisse relaxar um pouco. Seu próximo passo foi apanhar um dos seus shampoos, achou que não teria problemas com isso. Era estranha a novidade de lavar cabelos tão grandes. Sempre pensou que quando casasse deixaria os cabelos tão longos quanto os de seu pai, logo, isso seria normal. Só não achou que essa hora chegaria tão cedo e de um jeito tão bizarro. Depois de mais algum tempo, pegou um dos seus melhores cremes de tratamento. Já que passaria a conviver com aqueles cabelos compridos, ao menos eles teriam de ser super hidratados.
Enxaguou-os rapidamente, e saiu da banheira. Como se secaria sem tocar em nada? Certo, era simples, não se secaria. Pegou um roupão e uma toalha em um dos armários; ambos grandes, felpudos e brancos. Enrolou-se no roupão e com a toalha, secou os cabelos enquanto saia do banheiro. Abandonou a toalha no caminho para a sua cama, se jogando nela logo em seguida.
As lágrimas de dor finalmente caíram. Mas pouco importava que seu corpo latejasse, interiormente parecia que Draco tinha se partido em vários pedacinhos. Todo o peso da morte de seu pai veio lhe assombrar, assim como o peso de ser o responsável por fazer sua mãe ficar presa em algum lugar desconhecido. Ele sabia que tinha feito o certo, não era um assassino, mas estava cansado demais para pensar... Suas lágrimas não cessaram até que pegasse no sono.
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N/A: Bom, eu nem tenho muito o que dizer. É a minha primeira fic de Harry Potter e não tenho experiência nenhuma com o assunto. i.i A idéia surgiu e eu tive que escrever, espero que gostem. Ah, me perdoem caso eu venha a cometer algum erro na narração. Como vocês podem ver, eu confundo as coisas um pouquinho. (?) XD
Agradecimentos especiais a 'Chun, porque enquanto eu estava mergulhada nas minhas dúvidas, enchi a pobrezinha de perguntas! XD Entre outras coisas. E a chibi, por aceitar betar e me amar incondicionalmente. u.u (?) Além de aturar essa criança feliz aqui. XD
N/B: Oi, gente! Espero que gostem da fic e deixem reviews para a Ann ficar feliz. XD E eu também, né? Mas me contento só com um pouquinho, todos os créditos são para ela, eu sou apenas uma mera e enrolada beta ahaha (fã nº 1 da Ann). E sim, eu a amo incondicionalmente. u-u
