Raiva

Ele tinha raiva.
Raiva do Potter e daqueles amigos insuportáveis e irritantemente bons dele.
Raiva porque eles agora acreditavam que ele também era bom.
Raiva porque eles testemunharam a seu favor no tribunal e raiva porque você não foi para a cadeia por causa deles.
Raiva daqueles olhares simpáticos que a Granger lhe lançava e raiva porque eles não só eram simpáticos, assim como tinham faíscas de desejo.
Raiva porque ele sabia que seus olhos também continham desejo ao olhá-la, junto de toda raiva e ressentimento.
Raiva porque ele não tinha motivos para desejá-la e, mesmo assim, o fazia.
Raiva porque ele não entendeu e nem conseguiu controlar aquele sentimento que fluía dentro dele e que o fez segurar o braço dela em um dos raros momentos em que estava sozinha, e puxá-la para a primeira sala que viu, empurrando-a na parede e beijando-a com raiva, sem qualquer explicação.
Raiva porque ela sequer pediu qualquer explicação.
Raiva porque ela simplesmente não protestou quando ele a beijou e tocou em cada parte do seu corpo, nem quando ele tirou seu vestido com pressa e puxou-a ainda mais para si, como se fosse possível, como se ainda houvesse espaço entre eles.
Raiva porque havia um abismo entre eles, um abismo que ele não poderia cobrir e talvez nem quisesse.
Raiva porque ela também correspondeu aos seus beijos, reagiu aos seus toques e ajudou-o a tirar suas próprias roupas.
Raiva porque ele via nos olhos dela que ela esperava que ele tirasse a única peça de roupa que ela ainda tinha no corpo.
Raiva porque ele o fez.
Raiva porque foi ela quem tirou a última peça que ele tinha no corpo.
Raiva porque ele fez exatamente o que ela queria que ele fizesse e exatamente o que ela não esperava que ele fizesse.
Raiva porque, enquanto ele estava dentro dela, eles se moviam em uma sincronia quase combinada, não suave nem delicada, mas lasciva, carnal e puramente instintiva.
Raiva porque eles combinavam quando faziam sexo.
Raiva porque quando eles chegaram ao prazer – juntos -, ele sentiu que aquilo era certo, mas ele sabia que era errado.
Raiva porque, enquanto ele se vestia e ela fazia o mesmo, eles não se olharam nem se falaram.
Raiva porque ele queria ter dito algo.
Mas tudo que ele sentia era raiva.


Ela sabia que aquilo era impensado e impulsivo, mas ela não se importava.
Ela pensava demais em Malfoy.
Ela andava imaginando Malfoy quando beijava Ron.
Ela pensava nele e no que achava que ele era, e em todos os aspectos que o diferenciavam de Ron.
Ela sabia que Ron não era muito brilhante, nem profundo ou sensível, mas ela ficava imaginando o que se passava pela mente de alguém como ele.
Ela tinha certeza que ele era inteligente e tinha muito mais coisas dentro de si do que deixava transparecer, ele tinha uma profundidade (na concepção dela) que Ron não teve e jamais teria, porque não passou pelas mesmas coisas que ele passou.
Ela gostaria de saber o que havia perdido dentro dele.
Ela sabia que ele sentia raiva, mas ele estava errado.
Ela sabia que raiva era um sentimento muito raso para uma pessoa como ele, e quando ele a puxou para a sala, ela descobriu que havia desejo dentro dele.
Ela viu, quando os olhos dele faiscaram de prazer, que havia conflito dentro dele.
Ela não tinha certeza do que via.
Ela não sabia se ele estava pouco se importando para sua imagem após a guerra ou se ele queria atingir alguém, se vingar.
Ela não sabia e pouco se importava.
Ela não queria motivos.
Ela só queria livrar-se das sensações que a atingiam toda vez que o via.
Ela sabia que aquilo não se repetiria.
Foi apenas um momento.