In Memoriam
Data 242.4.10, hora 08h30
Para: Aqueles que um dia destruímos
De: -
Ree: In Memoriam
E o que é a mente humana senão um labirinto indecifrável?
Maldito seja o dia em que a Ordem do Extermínio foi aprovada. O dia em que a ignorância e o egoísmo do homem desencadearam o quase fim de sua própria raça. Se fosse possível arrancar esse capítulo das páginas da história assim o faria. Porém, é impossível apagar ou esquecer. E a humanidade viverá eternamente marcada por esse que deve ser o mais vergonhoso episódio que já vivenciamos. O mais baixo que já chegamos.
E como tentamos encontrar a solução? Aprisionando e matando aqueles que eram nossa única chance de sobrevivência. Vocês eram apenas crianças. Tiramos suas vidas, suas memórias, suas mentes. E não tínhamos o direito por melhores que fossem nossos objetivos. Paradoxalmente, aqueles que destruímos são os que nos salvarão.
Hoje, exatamente dez anos após o fim dos experimentos com vocês, é com grande esperança que torno público que nós obtivemos resultados satisfatórios. Ainda é cedo para informar com exatidão todos os diagnósticos, todas as reações. Mas uma coisa é certa: Estamos perto.
Há cerca de um mês atrás, numa manhã quente como a de hoje – e quais não são? - após anos de incansável e intensa pesquisa através do mapeamento e dos resultados obtidos nos experimentos originais, nós encontramos uma maneira de fazer o Fulgor recuar. A cura é possível. E não pararemos enquanto ela não for real.
Assim como vocês não desistiram, por mais perversas que fossem as situações em que nós os expúnhamos, nós não desistiremos. Assim como vocês se levantaram e seguiram em frente, mesmo quando tudo parecia impossível, não pararemos. Assim como vocês desvendaram o labirinto e encontraram uma saída, mesmo contra todas as variáveis possíveis, nós desvendaremos o cérebro humano. E o que é a mente humana senão um labirinto até então indecifrável?
Seus nomes não serão lembrados, se perderão ao longo da história como tantos outros. Ninguém saberá quem foram, o que sonharam, no que acreditaram. Mas, tenham certeza, seus feitos não serão esquecidos. A contribuição de vocês, minhas crianças, não será apagada e nem sucumbirá a inexorável ação do tempo. A lembrança de seus atos permanecerá vivida em nossas memórias através de uma única palavra, a unidade que vocês se tornaram, sua família: Clareanos.
Não os peço que nos perdoem, pois o que cometemos contra vocês não foram erros e sim atrocidades, os usamos, enganamos e como disse o mais sábio entre vocês, não eram ratos de laboratório e sim seres humanos. Mas espero que aonde quer que estejam que essa mensagem chegue até vocês, que saibam o quanto somos gratos e que o sacrifício de vocês não foi em vão.
Sei que agora vivem uma vida melhor, livres e tenho fé de que conseguiram se reerguer. Montar novamente a comunidade tão bem estruturada que uma vez vocês criaram. Senhores e senhoras de sua própria sociedade, mais justa e mais forte do que a nossa própria. Espero que tenham aprendido a conviver com a lembrança daqueles que partiram. Que entre vocês seus rostos nunca sejam esquecidos. Não se esqueçam da garota que amou tanto que morreu em seu lugar. Do menino que se sacrificou em vão. Não se esqueçam do sorriso do garoto que preferiu morrer a correr o risco de machucar a seus amigos. Da criança brincalhona e inocente, dos cachos desarrumados, que partiu cedo de mais.
Lembrem-se, acima de tudo, de quem vocês são.
Vocês nos mostraram sua inteligência, sua força, sua capacidade admirável de seguir em frente. Contra tudo e contra todos vocês sobreviveram, vocês escaparam. Sua unidade e o amor que sentiam um pelo outro os fez invencíveis. Seu legado permanecerá intacto e permeara a esperança de volta ao mundo. Mesmo que talvez não sejamos dignos disso.
Com certeza não somos.
No entanto, em memória a vocês que tanto sofreram, é nosso dever prosseguir. Aquele grupo que vocês conheceram não existe mais. Acabou no dia em que saíram. Os poucos de nós que não sucumbiram a doença formaram uma nova instituição. Não ferimos mais ninguém. Não temos nome. Ou rostos. Apenas um objetivo em comum. E apesar do estágio inicial de nossas novas descobertas, nós nos orgulhamos em dizer que a possível cura já tem um nome: Gladers.
Espero que tenham gostado! Comentários e críticas são sempre bem vindos :)
Escrevi isso, pois simplesmente não posso aceitar que tudo tenha sido em vão, que as pessoas simplesmente desconheçam tudo o que aconteceu com esses meninos. Amo o livro e sofri de mais com tudo que aconteceu haha
(Não possuo direitos sobre os personagens. Tudo pertence a James Dashner e sua incrível capacidade de jogar bombas na cara dos leitores)
