Era mais uma manhã calma. O sol brilhava e deixava a cidade quente, e uma brisa morna rodeava as árvores, soprando em todas as folhas. Os moradores caminhavam tranquilamente, em suas regatas e vestidos esvoaçantes. Todos os bairros pareciam repletos de um diferente colorido, que só o verão pode proporcionar.

Mas numa casinha amarela, uma garota de cabelo rosa lamentava o calor infindável.

O vento leve não parecia agradá-la, tampouco o Sol, que suas amigas aproveitavam alegremente, sentadas em suas cadeirinhas no quintal de casa, ou dando uma volta no parque. Sakura estava fora do lugar, debruçada na varanda de seu quarto, rezando para que o dia que mal começara logo terminasse.

Ino passara na porta algumas vezes, convidando-a para uma volta pelo bairro, mas nada surtia efeito.

A rosada voltaria para os lençóis azuis e para o volume gasto de Crepúsculo que guardava embaixo do travesseiro. Aquela era a única cópia segura do livro, sua mãe já tinha lhe tirado todas as outras, inclusive o recém comprado – pelo menos na época – Amanhecer. Sakura suspirou amargamente, visualisando a capa e lembrando do dia em que ganhou o livro. Lembrou de sua ansiedade ao remover o plástico que selava o livro, ou na noite que passou acordada lendo.

E então, como sempre, ela lembrou de todas as suas cenas preferidas. Pensou em como teria sorte de cruzar com um vampiro, pelo menos uma vez em sua vida. Um vampiro bonito, branco como uma vela, com olhos dourados e cabelo emaranhado. Um vampiro de atitudes e palavras gentis, e com sorte, de outro século. E, para completar, um vampiro que se apaixonasse loucamente por ela, e por toda sua excentricidade e amor por vampiros. Seria perfeito.

Fechou os olhos, e deixou-se levar pela imaginação. Poderia passar um dia inteiro criando uma imagem sem falhas em sua mente. Mas precisava acordar para a vida. Ainda tinha lições de história para fazer, e não dispunha de um ancião para ajudá-la.

Sua mãe a gritou do andar de baixo. Realmente, era hora de acordar. Escondeu novamente o livro e deixou o quarto, fechando a porta da varanda. Não queria nenhum resquício daquele dia de Sol dentro de seu quarto. Abruptamente, fechou as cortinas. Raios de Sol eram proibidos.

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Encontrou Ino conversando com a mãe na cozinha. Ino exibia um saudável bronzeado e suas bochechas estavam coradas de tanto ficar no sol. Seus olhos pareciam mais azuis que o normal e o cabelo parecia até mesmo mais claro.

- Queime no sol e te confundirão com uma kogal – Sakura disse, pegando uma maçã da cesta de frutas.

- Ah Sakura, fazendo brincaderinhas a essa hora da manhã. Provavelmente já leu Crepúsculo de novo hoje, ne? – Ino alfinetou, tirando a longa franja dos olhos.

A mãe de Sakura pareceu surpresa por alguns segundos, mas depois voltou ao normal.

- Impossível – ela disse, balançando a cabeça – Doei todos os exemplares para uma organização de caridade.

A loira riu por uns instantes, passando por trás da cadeira de Sakura. Olhou para as mãos da amiga, que se retorciam nervosamente.

- Já checou embaixo do travesseiro? – perguntou, sentando-se novamente.

O rosto da senhora Haruno retorceu-se em horror e ela subiu as escadas correndo, em busca do livro escondido. Sakura suspirou em pesar, rindo amargamente.

- Com uma amiga como você – pausou, levantando-se e caminhando rumo à porta – quem precisa de inimigos?

- Você é sua própria inimiga, com essa obsessão por vampiros. Edward Cullen não existe. Ele não vai vir te buscar, te salvar do verão, porque ele queima no Sol. E não ganha um bronzeado bonito como eu – ela disse, piscando.

Sakura piscou algumas vezes, não acreditando no que ouvia. Aquilo era terrível. Ino era uma herege. Até mesmo os odiadores de Crepúsculo sabiam que Edward Cullen não morria no Sol. Ele era maior do que qualquer vampiro ralé com intolerância ao Sol. Ele brilhava! Como se milhares de diamantes pequenininhos estivessem incrustados(1) na sua pele! Era absurdo Ino ignorar aquilo!

- Ele brilha! – esbravejou a Haruno, batendo a porta. Aturar o Sol quente em sua cabeça era melhor que aturar sua mãe em sua cabeça. O Sol é silencioso.

A loira permaneceu sentada, rindo alto do rosto aterrorizado da amiga quando ela disse, propositalmente, que Edward queimava no Sol. Sakura deveria estar cogitando nunca mais falar com a Yamanaka.

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As pessoas felizes de roupas leves estavam irritando-a ao extremo. Por que não demonstravam a mesma alegria num dia chuvoso? Por que não se sentiam bem ao observar o céu nublado, tomado por nuvens carregadas?

Podia ouvir as vozes da mãe e de Ino batendo em sua cabeça. "Você é tão inconvencional". As duas, e às vezes chevava a pensar, e o resto do mundo pareciam partilhar da mesma opinião. Sakura era fora de qualquer padrão normal.

O que a fez pensar no outro lado. Por que ela não se alegrava com um dia quente? Por que não aproveitava o clima ameno para sentar no quintal com sua cadeirinha e ler, até mesmo Crepúsculo? Por que tudo lhe era tão diferente? As perguntas dançaram por alguns momentos em sua cabeça.

Mas então deixou de lado os pensamentos melancólicos e encontrou uma árvore grande para sentar na sombra. Pelo menos, por hora, podia aproveitar um pouquinho de escuridão sem se sentir culpada. Já estava fora de casa.

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Domingo já estava terminando, quando Sakura chegou em casa e observou, penando, seu exemplar de Crepúsculo ser queimado no jardim dos fundos. Lágrimas não eram suficientes para expressar sua dor. O que seria de sua vida sem os relatos de Bella sobre a perfeição dos Cullen? Deitou na grama seca fechando os olhos, não mais se permitindo sofrer com aquele filme de horror. Sua mãe, por outro lado, parecia presa numa comédia, divertia-se sadicamente com a tristeza da filha.

- Ah sim – ela disse, finalmente largando o livro em chamas na fogueira improvisada – Você está de castigo. Pensei que já soubesse.

A rosada suspirou, levantando pesada da grama e caminhando em passos cansados até a varanda. Já estava anoitecendo. Tudo daria certo.

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Do andar de baixo a Senhora Haruno podia escutar a televisão alta da filha. Chegou a querer subir e averiguar, tentar descobrir se era mais uma cópia do filme Crepúsculo, ou qualquer outra besteirinha com vampiros bonzinhos e amáveis. Pelo visto, não. Sabia todas as falas de Crepúsculo, ou pelo menos quase todas. Sakura, por outro lado, podia falar o filme inteiro ao contrário.

Olhou para a mesa e viu o prato de comida da filha. Intocado. Ela nem ao menos mexeu com o garfo, como fazia antes quando ela realmente estava estressada.

Por que Sakura não entendia que toda aquela merda de vampiros só a fazia mal? Nunca fora uma mãe reprensora, mas as atitudes obsessivas da menina começaram a preocupá-la, e sim, ela precisou ser radical. Que mãe não seria, vendo a filha brigar com um garoto só para defender a honra de um personagem? Não fazia sentido, mas Sakura pareceu orgulhosa do hematoma no ombro. Ela disse que estava lutando por uma causa justa.

Levantou-se para limpar o prato da mesa quando ouviu barulhos no quintal. Tudo estava muito escuro e ela não pôde ver muito. Os ruídos cessaram e ela se tranquilizou, caminhou para a cozinha e lavou a louça, cantarolando, e ignorando, ainda que inconscientemente, os mesmos barulhos, agora menores.

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Sakura ligou a televisão no último volume para que sua mãe não a perturbasse. Saiu para a varanda, sentando no chão um pouco e observando o vento balançar as árvores, que pareciam dançar, todas no mesmo passo. A brisa agora estava um pouco fria, diferente da do começo do dia, morna e seca. Fechou os olhos e respirou fundo, prendendo a respiração por alguns segundos.

Soltou o ar e permaneceu de olhos fechados. Um cheiro muito estranho impregnou o ar, e ela de repente sentiu medo de abrir os olhos. Ela podia sentir alguém atrás dela, e aquilo a apavorou consideravelmente. Abriu os olhos, e nada. Fechou novamente. Respirou fundo. Mas seu coração não parecia aquietar. Alguém estava brincando com ela. O pânico gritou em sua mente.

- Quem está aí? – ela perguntou, a voz trêmula.

Um tempo passou e nenhuma resposta.

- Edward Cullen – respondeu Ino, caçoando da amiga. Sakura estava vermelha de medo e tremia dos pés a cabeça. Ino não imaginava que assustar a Haruno seria tão fácil.

- Sua vaca! Você me assustou de verdade!

- Mas e se fosse o Edward? – perguntou a loira, fingindo estar falando sério.

- F*da-se o Edward! Eu podia ter morrido do coração! – bradou a rosada, tentando estrangular a amiga.

- Uau. Você mandou o Edward Cullen se f*der? Essa eu não esperava!

- Quer que eu mande você também? – ela perguntou, a voz seca.

Ino continuou rindo, mas o rosto de Sakura de repente se tornou apreensivo.

- Você sentiu um cheiro estranho quando entrou aqui?

- Não – Ino respondeu, coçando os olhos. Já chorava de tanto rir – Talvez o mofo de tantos posters, mas tirando isso...

Sakura resolveu ignorar a piadinha infame da amiga e continuou pensando e tentando memorizar o cheiro. Parecia sangue. Misturado com o cheiro do porão da casa de sua avó. E também das flores do jardim dos fundos. De repente, ela gelou. A janela que dava para o jardim dos fundos estava aberta.

Alguém tinha entrado no quarto. E não era somente Ino. E Sakura nem ao menos sabia se a pessoa ainda estava lá.

Algo lhe dizia que não dormiria naquela noite.

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(1) Palavras de Bella Swan, ou Stephenie Meyer, seila ne ;D

Isso era pra ser uma paródia com Crepúsculo, mas se contar o resto estraga. A Sakura é uma fã tresloucada, e eu nem sei se existem fãs que nem ela ne, mas se exisitirem, espero que sintam-se homenageadas com essa Sakura Twilight Obsessed =D E seila, a Sakura vai conhecer um vampiro que não é um Edward Cullen da vida. E é tudo que eu tenho pra contar até agora *-* Espero que alguém leia, beijos.