Bella estava sentada no parapeito da janela de seu quarto no novo apartamento de sua mãe em Phoenix, olhando para fora a mais de uma hora. Pensava, e tomava coragem para fazer o que sabia que faria desde o momento em que Edward a abandonou na floresta de Forks há mais de três meses.

Estátuas e cofres e paredes pintadas

Ninguém sabe o que aconteceu.

Ela se jogou da janela do quinto andar

Nada é fácil de entender.

Sabia que era estupidez, e que faria seus pais sofrerem. Também sabia que não podia continuar como estava. Oca. Vazia. Bella sempre pensou que meninas que se mutilavam e sofriam meses e meses por amores perdidos eram apenas bobas, que não sabiam lidar com a rejeição, e agora... Porém, ela sabia que o modo como se sentia não era somente pela falta de Edward. Sempre se sentira meio deslocada, aonde quer que estivesse, e conseguia lidar com isso com relativa calma. Mas quando conheceu ele, tudo mudou. Passou a se sentir exatamente na mesma frequência, como se cada mísero pedacinho de sua vida tomasse um foco, e realmente formassem uma imagem forte e promissora. Quando ele se foi, tudo isso desapareceu. A esperança de que ela teria um rumo, uma direção a seguir. Uma vida, em todos os sentidos.

Quando ele se foi, a promessa, que nunca havia sido realmente prometida, foi quebrada.

Dorme agora,

é só o vento lá fora.

Quero colo! Vou fugir de casa!

Posso dormir aqui com vocês?

Estou com medo, tive um pesadelo

Balançou as pernas, colocando-as para fora da janela. Fechou os olhos, e por um instante, sentiu medo. Medo profundo, como um gancho arranhando seu corpo de dentro para fora, oprimindo-a. Instinto de sobrevivência. Hesitou. Lembrou-se de Reneé, de como ficara preocupada quando a viu pela primeira vez em bastante tempo, quando Charlie finalmente explodiu e a enfiou avião adentro para voltar a morar com a mãe. Lembrou-se de como os olhos do pai brilhavam quando ela, pequena, ia visitá-lo nas férias. Lembrou-se de como o abraço da mãe era absurdamente reconfortante, quando Reneé, em seus momentos sensitivos, percebia que ela precisava de um. Lembrou-se dos rompantes enérgicos da mãe, e como ela se esforçava para contê-la. Lembrou-se das tardes felizes passadas na casa de Ângela, rindo de qualquer coisa. Lembrou-se da alegria ininterrupta de Alice, do estado permanentemente gozador de Emmet, e da melancolia ligeira de Jasper. Da leveza de Esme, e da sabedoria enorme de Carlisle. Dos momentos infinitamente felizes com Edward. Seus olhos encheram d'agua.

Me diz, por que que o céu é azul?

Explica a grande fúria do mundo

Eu moro com a minha mãe

Mas meu pai vem me visitar

Eu moro na rua, não tenho ninguém

Eu moro em qualquer lugar.

E naquele momento teve certeza. Mais do que jamais tivera. Sabia que nunca conseguiria ser verdadeiramente feliz. Não por causa de Edwrad, mas porque era quebrada. Por que nunca conseguira, mesmo com tantas pessoas e lembranças boas, ser verdadeira. Ela era sempre o que achava que precisavam que fosse, ou o que mais lhe conviesse no momento. Não por altruísmo, ou por falsicidade. E sim porque estar viva simplismente não era o suficiente. Bella era capaz de amar, e de rir. Mas não de viver. Não de verdade, intensamente. Daquele jeito que te faz sentir real e palpável, do jeito que vale a pena. Não era capaz, porque a vida não lhe bastava.

Sou uma gota d'água,

sou um grão de areia

Fechou os olhos. Pulou.

Estátuas e cofres e paredes pintadas

Ninguém sabe o que aconteceu.

Ela se jogou da janela do quinto andar

Nada é fácil de entender.

É preciso amar as pessoas

Como se não houvesse amanhã

Porque se você parar pra pensar

Na verdade não há.