CHRISTOPHER
Naquele dia se comportou bem. Não foi ao quintal, nem no jardim. Não tirou as coisas do lugar, nem subiu em nada. Permaneceu sentadinho no sofá, olhando para os sapatos novos que o pai mandou não desamarrar. Chris ainda não sabia amarrar os sapatos e deveria estar limpo e arrumado quando o pai voltasse. A mãe dizia que ele já era muito grande e já deveria saber se vestir sozinho, afinal já tinha seis anos. Ou seria 5? Christopher não se lembrava direito, para falar a verdade não se lembrava de ter apagado nem cinco velinhas.
A única coisa que Christopher tinha certeza, era do quanto o seu pai estava triste. O pai sempre disse que homem não pode chorar, mas ultimamente tem encontrado varias vezes o pai chorando escondido. Não podia perguntar o porquê, se o pai o visse poderia castiga-lo, contudo, Chris acreditava que tudo começou quando a mãe brigou com o pai, eles gritaram, quebraram coisas, o pai xingou muitos nomes feios... e depois disso, ela foi embora.
A mãe era uma mulher tão brava. Christopher não a conhece ha tanto tempo assim... todas as crianças da escola já tinham mamães há muito tempo quando ele finalmente ganhou uma também. Mas ela não o tratava como as outras mães o tratavam. Uma vez ele perguntou o pai, por quê ela era assim. Mas o pai ficou bravo com ele... disse que ele teve outra mãe, mas ela morreu quando ele nasceu, e que o papai ficou muito tempo sozinho, sem saber nem o que fazer com ele, então, que ele fosse um bom menino, tratasse a mãe nova bem e provavelmente, se ela ficou irritada ou brava é porque Christopher era um menino muito mau, e é difícil se gostar de meninos maus quando não são seus filhos de verdade.
Naquele dia, Chris chorou escondido, porquê homens não podem chorar e se o pai visse, ia ficar muito bravo. Mas mesmo errado, ele precisou, porque ficar lembrando que matou a "mãe de verdade" quando nasceu – aquela que gostaria mais dele, que não ficaria tão brava com as suas artes, porque afinal, ele saiu da barriga dela - era triste demais. Foi sem querer, ele nunca a machucaria de propósito, mas fez. Pedia desculpas quando rezava, para que ela ouvisse lá do céu, mas não tinha como saber se ela o escutou, menos ainda se o desculpou. O pai também andava chorando e por isso devia estar muito, muito triste. Por isso, hoje Christopher devia se esforçar muito para ser um bom menino. A mãe era nervosa e brava, mas se a casa estivesse limpa e ele não fosse tão arteiro, talvez ela aceitasse voltar e aí o papai não ia chorar mais.
Continuou olhando para os pés e tentando se controlar o Maximo que podia para não se mover, apavorado com a hipótese das cordas de seu sapato desamarrarem. Então a porta da sala se abriu e o vento entrou. O pai segurou a porta para que a mãe entrasse primeiro.
" – Chris! Venha fazer um serviço de homem, ajude a sua mãe com as malas."
Ele saltou do sofá e foi em direção a porta, antes de encontrar o pai do lado de fora, a mãe o parou no caminho.
" – Chris, meu doce." – Ela hoje parecia feliz e boa. Chris gostava quando ela era boazinha com ele. Deixou e ela despenteasse o seu cabelo que ainda estava úmido, partido de lado e cheio do gel que o pai passou. Ele tinha um cabelo muito cheio e difícil de controlar, igual o do pai. A mãe precisou abaixar para chegar perto dele, ela era bem alta, muito branca, grandes olhos azuis e tinha um cabelo muito ruivo. " – Senti sua falta, menino."
O pai já havia terminado de botar as malas para dentro. Chris olhou bem para a mãe... ela estava diferente. O pai avisou para falar pouco, pois quando ele fala, sempre sai uma "merda". Mas aquilo era tão diferente... ele tinha que perguntar.
" – Mãe, o que você comeu? Tá barriguda." - E era muito barriguda mesmo! Do tamanho de uma melancia bem grande.
O rosto do pai se contorceu. Do jeito que sempre acontece quando ele tá com raiva. A mãe arregalou os olhos azuis, completamente confusa. Ela olhou para o pai, como se esperasse que ele fizesse alguma coisa. Ninguém respondeu sua pergunta, e os adultos ficaram muito mais do que desconfortáveis e aborrecidos. Chris lamentou por não ter ficado calado.
Abriu os olhos assustado. A dor consumia cada centímetro de seu corpo, sentia fome... muita fome, estava magro, e nunca antes havia se sentido tão fraco. Não era mais capaz nem de dizer a ultima vez que comeu alguma coisa. Tinha sede também, e muita. A boca e a garganta estavam tão secas, que nem ao menos conseguia respirar direito.
O lugar em que estava era escuro e cheirava a podre. Não teve coragem de olhar, mas provavelmente seu ultimo companheiro de cativeiro morreu e já começou a se apodrecer. Ver pessoas mortas e podres... mortas, podres e até andando depois de mortas, nunca foi um problema para Chris. O único motivo de evitar olhar agora, era sua fome. Exatamente. Canibalismo não estava nos seus planos, mas a fome era tanta...
Criou alguma coragem, ou talvez loucura. Abriu os olhos e olhou para o corpo deitado não tão distante de onde ele estava. Tentou se apoiar nos cotovelos, embora ainda estivesse muito fraco. Usava um uniforme da B.S.A.A. mas já não era mais um de seus companheiros, era um punhadinho de ossos envolto em pele apodrecendo... e muito em breve, seria sua comida.
Então uma luz repentina entrou, machucando tanto as vistas de Chris que ele choramingou e caiu no chão outra vez.
" – Morreu mais um!" – Gritou um soldado em árabe. A essa altura, Chris já sabia bem a língua. " – Puta merda, e demoraram a tirar daqui! Sobrou pra mim aguentar esse cheiro de carniça!"
" – E pra mim também!" – Disse o outro. " – Não reclame como se fosse só você a trabalhar aqui." – Este parou por um segundo e olhou bem no fundo dos olhos de Chris. " – Hn. E daqui a pouco vem mais outra carniça por aí."
" – Talvez devêssemos ter misericórdia e cortar a cabeça dele de uma vez."
" – Eu bem queria... mas a patente é alta, os líderes estão usando a posse dele para barganhar com os EUA."
O outro riu alto. " – Não o usarão por muito tempo, pelo visto!"
Chris não sabia se agradecia quando eles puxaram o corpo e finalmente foram embora. A verdade é que ainda podia tentar provoca-los e fazer com que o matassem de uma vez. Talvez fizessem um daqueles malditos vídeos com a sua morte gravada, enquanto cortavam a sua cabeça com uma faquinha de pão... mas pelo menos toda essa dor ia acabar.
A barriga doeu de novo. E então ele ouviu um grunhido familiar. Deve ter entrado quando os soldados entraram. Chris sabia que estava fedendo, que se ficasse quieto, talvez fosse confundido com um cadáver e então o bicho chegaria perto. E assim ele o fez... e então seu pequeno amigo veio... estava fraco, talvez até louco de fome, mas tinha que tentar. Um movimento rápido, só uma tentativa, e já o tinha nas mãos. O ratinho esperneava e mordia, mas Chris não se importava. O levou a boca, mordendo com toda a força. O rato parou de espernear conforme Chris sentia o sangue dele enchendo-lhe a boca e escorrendo pelo seu rosto.
Tudo o que pensava era por quê estava fazendo aquilo? Por quê ainda lutava para continuar vivo? Com certeza não era por ele, ele não merecia nada de bom, nunca mereceu. Mas ele fez uma promessa... e diante de tantas outras promessas quebradas, pelo menos essa em específico, ele ainda lutava para cumprir. Mesmo naquele lugar sem comida, sem ar, onde tinha a impressão que nem ao menos respirava mais. Onde não havia nenhum sinal do vento que um dia pudesse sopra-lo dalí.
Continua.
1) Eu sei que eu tinha outras fics em mente, com personagens que eu me sentiria bem mais a vontade em usar. Mas aí está... o tédio me pegou em cheio, eu inventei de ler outra vez tudo o que eu já tinha escrito, e senti um desanimo completo, de que tudo o que eu fiz não foi nada desafiador, nada realmente diferente, nada realmente original... Com certeza essa fic não será nenhum exemplo de originalidade, diferença, ou de desafio no mundo das fanfics... mas com certeza será para mim. Caminha por esse caminho, será bem pesado, tortuoso e até incomodo – muito incomodo. Mas eu acredito que se eu conseguir escrever algo crível e que mais alguém consiga ler e gostar... ou mesmo se não gostar, possa acompanhar a minha evolução por aí, terá valido realmente o esforço. POR FAVOR, comentem. Sim dessa vez eu peço que você tire 1 minuto da sua vida e comente. Não porque eu sou carente de comentários, mas como dessa vez eu estou "pisando em ovos" eu queria ter um retorno do que esta indo bem, e o que está indo muito mal. Eu não tenho outro termômetro, infelizmente.
2) Você verá nos avisos que essa fic tem insinuação de incesto – eu digo insinuação... devido aos motivos que você lerá mais para frente, contudo, ainda assim, para alguns ainda será incesto propriamente dito. Difícil explicar. Quer dizer, é fácil, mas vai dar muito spoiler (muito embora logo de cara alguns vão matar a charada imediatamente). Acreditem, o tema me incomoda também, eu até pensei em transferir toda essa ideia para personagens originais e tirar isso do Universo de Resident Evil... justamente pelo fato de não acreditar que algo assim pudesse acontecer justamente com essas pessoas. Então eu pensei melhor... e me fiz mais esse desafio. Se eu conseguir terminar essa fic ME convencendo que no final, algo assim ficou verossímil, e TE convencendo também, cara... é porque eu sou boa! Hahaha, eu sei, puro ego, mas e daí?...rs Por isso eu insisto, se o tema te incomoda, que ainda leia e me dê a chance. Acredite, eu sei bem o que você está sentindo...rs
3) Essa fanfic talvez demore mais do que a outras para terminar, talvez dê umas "empacadas" também. Estou estudando pra concursos e... enfim. Vocês entendem, eu sei.
