Lembranças
Escrito por Lain Lang
N/A: Dedicação a Renato, pela inspiração da idéia desta fic, e a Annamel pelo presente-fic. Os dois realmente me inspiraram a escrever. Agradecimentos a Lany (pelos comentários, incentivos e revisão), companheira de guerra e inimiga no amor! Mi pela oportunidade da fanfic (Challenge de POs do fórum Not as a Last Resort)
Capítulo 1
Desde que a nova guerra começou, Remo Lupin tinha sensações parecidas com deja vu. Não sabia explicar muito bem, mas quando seus olhos fechavam: uma imagem muito nítida vinha a sua mente, e a nitidez nunca fora tão clara como agora. O rosto de Joy Denberg.
Ela era de seu ano em Hogwarts, e pertencia a casa de Corvinal. E Lupin tinha uma admiração secreta por ela desde seu segundo ano. No começo, ele realmente achou que talvez seria uma coisa impossível se aproximar dela, afinal, ela era uma das alunas mais inteligentes de seu ano. Porém, a tarefa não pareceu mais impossível após a fama que ele e seus amigos estavam adquirindo com o passar dos anos. Eles, em seu quinto ano, já se tornaram o grupo mais popular da escola.
A fama, as amizades, a vida escolar e a sede por desafio fizeram Lupin se transformar em uma pessoa que ele nunca pensou que seria, uma pessoa corajosa, admirada e, principalmente, normal. Ele, assim como seus amigos, se sentia destemido, tanto para os desafios que Hogwarts oferecia como a adolescência em si.
Convidar Joy Denberg para sair estava definitivamente nos planos de Lupin em seu quinto ano.
Remo realmente havia esquecido que houve essa época. A época dos marotos.
Ele deu um longo suspiro, cruzou os dedos e os deixou repousar em cima de sua blusa amarrotada e desgastada. Ele se afundou mais em sua cadeira.
Ele a adorava. Assim como adorava seus amigos, Hogwarts e as 'tarefas secretas'.
Lupin sabia novamente o motivo pelo qual estava relembrando tudo isso, lembranças que ele resolveu guardar e jogar a chave fora, as palavras daquela menina esperta de Corvinal estão, neste momento, claras como água.
Era o primeiro encontro deles e estava tudo perfeito. Eles estavam em um passeio de Hogsmeade, ela estava pendurada em seu braço e soltava o seu sorriso radiante para ele e pra quem quisesse ver. Ria de tudo o que ele falava. E estava naturalmente linda.
"Fiz tudo certo?" Ela perguntou após terminar o passeio e indo para um lado isolado da pequena cidade.
"Huh?" ele não entendeu.
Ela parou perto das grades da Casa dos gritos e um arrepio passou pelo corpo de Lupin. Um arrepio que ela percebeu.
"O que foi?" ela perguntou, suspeita.
"Nada..." e Lupin percebeu que ela não era o que parecia ser.
"Eu quis dizer..." ela deu um sorriso maroto "se todo mundo engoliu o fato de que você está se dando bem no encontro..."
O sangue ferveu e subiu para as bochechas de Lupin.
"Quê?" Novamente de desentendido.
Joy riu.
"Fiz um bom papel, né? Até você acreditou!" e ela parecia feliz consigo mesma.
E a mente de Lupin começou a funcionar.
"Você estava fingindo?" Lupin falou, tentando não aumentar a voz.
Ela colocou o indicador no queixo, como se estivesse pensando no que ia falar.
"Na verdade, se você não me tivesse convidado, eu o teria convidado" ela falou, ainda sorrindo.
"Mas-" ele começou, mas foi interrompido.
"O motivo que eu queria sair com você era só curiosidade, mas achei que seria meio ruim não fazer algo por você... já que eu estava sendo um pouco... egoísta..." ela falou rapidamente.
Algo pareceu machucar Lupin naquelas palavras, algo que ele não sentia há muito tempo.
"Como assim?" ele perguntou, já apertando as grades da Casa dos Gritos.
"Eu sempre senti curiosidade de você, achava que o chapéu seletor estava errado, nunca imaginei que você seria de Grifinória. Sentia 'medo' vindo de você, e 'medo'certamente não é a característica de um grifinório." Ela respondeu, não olhando para ele, mas encarando a casa.
Lupin não entendia as palavras dela, definitivamente não era algo que ele esperava. Ela o observava? E ainda tinha o fato que algo ainda machucava e não estava melhorando.
"Desde quando?" ele perguntou.
"Óbvio, não? Desde o primeiro ano, quando você foi escolhido!"
"Por que você está me falando isso?"
Ele realmente esperava que ela perguntasse os feitos que ele e seus amigos haviam produzido e se algum dia ele faria algo em nome dela e bla bla bla.
"Não sentia mais esse 'medo' de você nos últimos anos e pensei que tinha desaparecido, mas agora pouquinho você desmonstrou um pouco" ela o encarou e sua expressão, Lupin não poderia descrever, ela estava interessada?
"Essa casa deveria dar medo a qualquer pessoa..." ele desconversou, olhando para a casa.
'Será que ela sabe do meu segredo?' Lupin se perguntou, seria mesmo possível? Não. Impossível.
Joy se aproximou dele, seu rosto estava tão perto que não importa em qual situação esteja, Lupin podia sentir seu coração bater mais forte.
"O seu medo está além dos medos normais..." Ela falou isso quase que sussurando.
Lupin abriu os olhos. Na época, ele achou que ela o estava chamando de medroso. Mas, ele não ficou sabendo do real siginificado até o próximo encontro. Sim, teve um próximo. Tão desastrante quanto o primeiro.
Ele tinha medo dela e não podia dizer a ninguém.
Lupin se safou das garras dela quando um sextanista de Sonserina acabou por gritar:
"Vão arranjar um quarto!"
Joy sorriu para o veterano e encarou Lupin.
"Vamos?"
Um sentimento de despero tomou conta dele. Ela estava falando sério?
E ela segurou a mão dele até de volta para Hogsmeade e Lupin só desejava que esse encontro acabasse logo. Todos esses anos de admiração para isto, sentia que seus sentimentos foram desperdiçados. Ele já nem ligava mais para o que estava acontecendo a sua volta, ele gostou desta garota há três anos e é isso?!
Ela soltou a mão dele, deu um giro com o corpo e sorriu para ele.
"Obrigada por hoje!" e saiu correndo atrás das amigas que estavam paradas em frente a uma loja, deixando Lupin sozinho e perplexo.
Após este encontro totalmente frustrante Lupin tinha a esperança que Joy não quisesse mais saber dele, mas a semana seguinte provou que era apenas um ledo engano!
"Hey, Aluado! Adivinha quem está esperando você lá fora?" falou Sirius todo manhoso.
Lupin sorriu meio incerto. 'Não, por favor não!!'
A sala estava quase vazia quando Lupin resolveu sair, seus amigos foram antes porque estavam morrendo de fome. Que 'belos'amigos eles eram, nem para salvá-lo desta, pois deveriam! Mesmo que eles não soubessem que precisava!
"Por que demorou tanto?" Joy falou e sorriu, segurando seus livros e andando em direção a ele.
Antes do primeiro encontro, este seria um momento que Lupin já havia imaginado em seus sonhos mais perfeitos. Esta garota já foi a namorada dos sonhos dele, exatamente deste jeito, esperando-o do lado de fora de sua classe, segurando os livros como uma perfeita estudante e digna da própria casa e sorrindo o mais brilhantes sorriso. Mas, hoje...
"Hey, Joy... eu só esta-"
"Você está com medo de mim?" o rosto dela estava a um palmo do dele.
"Ah!" ele deu um berro. Pequeno, mas ainda era um berro.
Ela riu.
Lupin estava começando a sentir um pouco de raiva dela.
"Sabe..." ela começou, se aproximando dele, mas Lupin se mantinha atento para, talvez, fugir dela.
"Eu gosto de você" ela sorriu novamente.
Lupin não falou nada de imediato, certamente estava surpreso, o que há com essa garota? Tão estranha e ainda fala essas coisas.
"Você está tirando sarro da minha cara?" ele perguntou, um pouco aborrecido.
Joy fez cara de confusa.
"Não, por que deveria?" ela perguntou.
"Você me acha medroso, gosta de me dar sustos e ainda finge que está saindo comigo." Ele disse, rapidamente, enquanto olhava para os lados procurando ver se tinha alguém por perto.
Ela seguiu o olhar dele e também percebeu que não havia ninguém.
"Não estou falando para os outros ouvirem, estou falando para você ouvir" ela disse, sorrindo novamente e dando mais um passo em direção a ele.
O que, por Merlin, ela está fazendo? Um hora o deixa com raiva, depois com medo e logo embaraçado. A única conclusão que vinha para a cabeça de Lupin era de que ela era louca e queria deixá-lo louco também.
Ele agarrou o pulso dela e arrastou para umas das salas vazias. Ele não era um Maroto por nada, não iria ser brinquedo de ninguém e muito menos dela. Mas que decepção!
"O que você está fazendo, hein?" ele falou irritado, soltando o pulso dela quando fechou a porta atrás dele.
"Do que você está falando?"
Era impressão dele ou ela achava TUDO divertido?
"De tudo?!" ele falou, mais irritado ainda.
"Eu não te acho medroso..." ela falou, calmamente.
"Quê?" Ele nem sabia do que ela estava falando, mas lembrou depois que ele havia falado isso para ela "Mas, quando você- Por que está mudando de assunto?!"
O sangue estava subindo e não era de vergonha.
Joy olhou para cima num gesto impaciente.
"Não estou mudando de assunto! Você que está todo neurótico aí!" ela falou, apontando para ele com a mão.
Um silêncio se instalou. Lupin respirou fundo e Joy cruzou os braços, parecia um pouco aborrecida com o todo o estardalhaço dele.
Talvez ele realmente esteja exagerando um pouco. Só porque ela não era o que ele achava ser, não quer dizer nada, não é mesmo?
"Okay, então, o que você quer?" ele perguntou, mais calmo, porém soava atento e cauteloso.
Ela o olhou, suspeita, como se não esperava que ele quisesse ouví-la.
"Quer mesmo ouvir?" ela perguntou, soltando os braços.
"Sim..." ele sentou na mesa de estudante que estava atrás dele.
Os olhos dela brilharam e ela voltou a sorrir.
"Bom, não quis dizer que você é medroso, quis dizer que você tem 'medo'. São duas coisas diferentes..." ela se aproximou dele.
Talvez fosse um papo um pouco acima do nível dele, pois ele não entendia.
"Medo de aranhas, de fantasmas, de escuro... todo mundo pode ter, até mesmo um grifinório..." ela continuou. "Mas tem um tipo de medo que um grifinório não tem. E você tem."
" Você tem medo de não conseguir proteger, de não conseguir ser herói."
Era estranho o que ela falava, será que as casas eram realmente separadas assim? Quem tem tendências para ser heróis iriam para Grifinória?
"Você não está menosprezando as outras casas? Inclusive a sua?"
"Quem disse que todo mundo quer ser herói?" ela respondeu rapidamente.
Lupin nunca tinha parado para pensar nisso. Para ele, ser um herói é um objetivo não? Receber os holofotes, ter grandes feitos? Não seria uma vida perfeita?
"E, para algumas pessoas, Grifinória não é a melhor casa... para muitos, na verdade" ela comentou novamente.
"Não vamos iniciar uma discussão sobre as Casas..." ele começou, relembrando seus primeiros anos de Hogwarts, era normal uma rixa entre as casas e discussões sobre a melhor eram bem comuns.
A rixa não se foi, mas as discussões sim. A verdade é que cada casa tem suas qualidades e defeitos.
"Continue sobre o meu 'medo'..." ele falou novamente, sentindo um certo embrulho no estômago.
"Hum... era basicamente isso... acho que você tem medo que algo ruim aconteça, como se você não pudesse evitar, o que acho bem estranho porque grifinórios não tem essas tendências, eles sempre acham que vão evitar..." ela falava casualmente.
Porém, Lupin sentia as palavras dela a medida que ela as citava. Ou ela sabia de sua situação ou ela realmente era uma pessoa assustadora, ele nunca pensou que alguém pudesse realmente descrever o modo como se sente, ou sentia. Fazia muito tempo mesmo que ele não sentia este medo a que ela se referia, o mundo parecia menor em Hogwarts, e isso o alegrava e se sentia aceito, mas não era o mundo exterior.
A voz dela começou a se tornar distante para ele, pois começara a falar sobre a tendência dos grifinórios. Porém, uma frase dela não parava de martelar em sua mente, em seus ouvidos.
Você tem medo que algo ruim aconteça, como se você não pudesse evitar.
Como uma garota de quinze anos que mal o conhece pode descrever seu mais profundo medo? Lupin nunca soube da resposta. Sua vidinha mudou após tal declaração, ele se tocou que após dois anos, Hogwarts não será mais seu lar. O mundo lá fora voltaria a ser e que novidade! Não mudou nada em relação ao que pensa sobre lobisomens.
Ele estourou com ela. Seus anos estavam todos perfeitos até agora e ele poderia viver MUITO bem mais dois, até Hogwarts acabar. Mas, não. Ela tinha que colocá-lo de volta a realidade.
Lupin a agarrou pelos braços com força e ela parou de falar, assustada.
"O que você tá fazendo?! Tá me machucando!" ela berrou, irritada.
"Fique longe de mim e longe da minha vida!" ele berrou também, com força, como se quisesse expulsar algo que estava dentro dele.
Joy conseguiu se soltar dele, e enquando estava massageando os lugares onde ele segurava, falou.
"Eu faço o que eu quiser"
E saiu correndo da sala, deixando novamente Lupin sozinho. Pior que sozinho, na verdade, Joy arrancou a capa de ilusão que ele tinha e mostrou a mais cruel e dura realidade.
Lupin não estava mais só, estava acompanhado por seu pior inimigo.
Ele lembra que demorou um bocado para sair da sala, porque tinha muita coisa passando pela sua cabeça.
O que ele faria depois de se formar? Se seus amigos ainda seriam seus amigos lá fora... e se cada um fosse ter sua vida? Ele voltaria para a mesma que tinha antes! Por onde mais ele iria? Onde seria aceito novamente? E apenas mais dois anos... ele teria que encarar tudo isso.
Tudo por culpa dela. O sonho dele se acabou.
No fundo, Lupin sabia que não era culpa dela totalmente. E agora, sabia mais ainda. Era a verdade e ela apenas não sabia o quão duro era para ele.
Ele não quis falar com ela por um bom tempo e ela realmente fazia o que quisesse. Muitos perguntaram para ela como estava o relacionamento dos dois e ela respondia, alegre, que ia muito bem, mas estavam ocupados estudando para as provas OWLS. Como se nada tivesse acontecido. Lupin não comentava nada, seguia o planinho dela sem protestar, era melhor assim e evitava situações constragedoras e fofocas.
A raiva inicial passou, indo mais para um arrependimento de ter sido tão grosso com ela, mas ainda restava um certo desagrado. Ele a tinha dentro da cabeça como uma ladra, que quase conseguiu roubar algo precioso dele. Um sentimento de medo e desespero quando se pensa em confiar seu segredo em alguém que mal conhece, pensar que ela poderia estar no patamar dos Marotos?! NUNCA!
"Lupin, Vamos!" alguém falou, atrás da porta.
Sim, ele estava sentindo esse desespero de novo, alguém queria roubar algo precioso dele. E esse alguém estava atrás da porta e ela nem sabia que era uma ladrazinha! Assim como Joy!
"Claro, já estou indo" ele respondeu, seriamente.
Afinal, agora era um adulto e sabia diferenciar entre trabalho e... outras coisas. Ele abriu a porta e encontrou uma Tonks sorridente, que deu um tapinha no ombro dele.
"Tenho a impressão que hoje não vai dar nada errado! Olha o meu cabelo!" ela apontou para a cor rosa choque em cima da própria cabeça.
"Esperamos que sim..." ele falou cansado, típico dele, e fechou a porta atrás dele "Vamos?"
Tonks afirmou com a cabeça e o seguiu.
Enquanto descia as escadas da casa dos Black.
Enquanto ouvia o ranger das próprias escadas.
Enquanto olhava a porta que dava para o mundo de fora chegar mais perto.
Lupin sentia um aperto no coração, um aperto que ele tem evitado sentir há muito tempo. Quando ele voltasse, ele teria que tirar do fundo e do canto mais escondido de seu baú de lembranças, tudo sobre ela.
Ela que foi seu primeiro: amor, namorada e vítima de seu medo.
Relembrar e depois... esquecer.
