Categoria: Pós-finale, POV
Resumo: O que acontece quando o amor é tão forte que não consegue superar a perda?
Kate's pov
Capítulo 1: Uma visita inesperada
Ele está perfeitamente bem. Fico admirada com isso, com essa capacidade que as crianças têm de se adaptarem facilmente a qualquer tipo de situação. Quando o deixei com sua avó materna para retornar à ilha, tive medo que ele fosse sofrer demais e não agüentasse de saudades. Pensei que revê-lo fosse confundir a sua cabecinha e ele corresse diretamente para os meus braços. Ele veio sim, em minha direção, me abraçando de um jeito apertado e desajeitado, porém, ele logo se acostumou a me chamar de tia. Claro que no início foi difícil e não digo somente para ele, mas para mim também. Às vezes, me pegava chamando-o de filho e ele por sua vez, me chamando de mamãe, mas quando isso acontecia, percebíamos rapidamente o equívoco e nos autocorrigíamos.
Quando Aaron viu Claire pela primeira vez, ele ficou acanhado em um canto, olhando-a fixamente, encabulado. Durante as semanas em que passamos na ilha, a sra Littleton tratou de preparar Aaron para as novidades, explicando para ele de um jeito que ele pudesse entender, que eu não era a mãe dele, mas apenas estava cuidando dele porque a mãe real estava doente, porém em breve, retornaria junto comigo para conhecê-lo. O garoto a encheu de perguntas, chorou muito, me queria de volta. Mas os dias correram e aos poucos, a avó foi ganhando a confiança do neto, de modo que agora eles pareciam ser os melhores amigos do mundo.
Claire não foi até ele de imediato. Ela estava temerosa de que o filho não fosse aceitá-la, no entanto, fiquei uma semana trabalhando nisso com ela, tentando recuperar-lhe sua autoestima, contando-lhe tudo o que ela precisava saber sobre Aaron, seus gostos, suas manias, a sua personalidade...Claire aproveitou esse tempo para se readaptar à vida real. Ela se sentia um lixo, uma estranha neste mundo, depois de anos vivendo naquela ilha como uma selvagem. Arrumamos o seu cabelo, compramos novas roupas, ela teve que recuperar muitos hábitos e modos de antes. Claire me olhava como um bichinho assustado.
-Kate, eu não vou conseguir. Eu nem me lembro direito quem eu era.
-Tente se esforçar, Claire. É claro que você se lembra. Você apenas bloqueou esse tipo de recordação para não sofrer e enlouquecer naquele lugar inóspito, mas agora você já pode se permitir lembrar.
Claire chorava em meus ombros, desesperada. O trauma que sofreu na ilha foi muito brutal. O reencontro dela com a mãe foi emocionante. Apesar de todos os problemas de divergências do passado, mãe e filha se abraçaram em lágrimas, talvez era isso o que Claire precisava, do apoio de sua mãe para se sentir mais segura.
Ao vê-las tão ligadas, senti um aperto no coração. Eu jamais tive e jamais terei esse tipo de afeto por Diane, minha mãe.
Claire olhou para Aaron e se aproximou devagar do menino. Ele lhe deu um abraço e um beijo, mas apenas porque sua avó lhe recomendara fazer isso; ele costumava ficar tímido com quem não conhecia. Foi assim também com Jack. Somente depois de algumas horas, Aaron vai se soltando de modo que no final da noite, ele já considera o outrora estranho como o seu melhor amigo. E se a pessoa lhe dá atenção, perguntando-lhe sobre os seus bonecos e naves, ou mesmo contando-lhe estórias infantis, aí que ele se torna um verdadeiro grude. Foi o que aconteceu com ele e Jack e está acontecendo agora com ele e Claire.
Confesso que sinto ciúmes. Aaron me fez ver que era possível me tornar mãe e mais, uma boa mãe. Ele continua a me amar incondicionalmente, mas sinto que está se afastando aos poucos. De certa forma, eu acabei contribuindo para isso, não estando tão presente no dia a dia dele, para que ele se desapegasse de mim e então, se aproximasse mais da sua mãe. Seguimos recomendações da terapeuta de Claire. Segundo ela, isso iria ajudar no tratamento de Claire, em sua ressocialização e também ajudaria Aaron, fazendo com que ele criasse um vínculo afetivo mais forte e definitivo com sua mãe. E parece que está funcionando. Claire está bem melhor, voltou a ser aquela garota doce que eu conheci, embora bem mais adulta e corajosa. Aaron já não me chama mais de mamãe e nem me procura tarde da noite aos prantos depois de ter pesadelos. É a ela quem ele primeiro recorre. É assim que tem que ser. Mas dói.
-Kate, Kate?
Meus pensamentos são interrompidos pelo chamado de Claire.
-Ah, desculpe-me, estava distraída. O que foi?
Ela me olhou de um jeito sério.
-Tem visita lá na sala.
-Quem é? Não estou me sentindo muito bem hoje, é importante?
-Creio que é muito importante.
Meu coração disparou. Minha mente maluca e desesperada, ansiando por notícias de Jack, estava a mil. Saí correndo do quarto e disparei escada abaixo. Será que poderia ser verdade? E se fosse Jack lá a me esperar? Um quase sorriso se formava em meu rosto, quando avistei a figura de um homem de costas. Ao me aproximar, minha testa franziu.
-Desmond? O que, o que faz aqui? Como...
-Olá Kate. Posso?
-Sim, claro, sente-se.
-Eu cheguei há pouco tempo, fui imediatamente procurar Penny e meu filho. Somente hoje deu para vir aqui falar com você.
Podia dizer que o seu tom de voz era sereno. Desmond me olhava de uma maneira um tanto enigmática, de modo que eu não sabia se ele me trazia boas ou más notícias.
-O que aconteceu? E Jack?
-Sabe como eu voltei para a ilha? Widmore me levou até lá desacordado. Eu estava internado em um minuto e no outro, estava de volta àquela maldita ilha. Ele me usou como cobaia em um experimento com eletromagnetismo. Pensei que fosse morrer, mas o que aconteceu foi algo mágico. Eu vi tudo. Não devemos ter medo.
-Desculpe-me, mas não estou entendendo o que você quer dizer...
-É possível, Kate, eu vi.
-O que você viu? Desmond, que raios você está me dizendo?
-Um lugar onde podemos ficar todos juntos, encontrar quem amamos e vivermos felizes para sempre. Eu disse a ele antes de descer pela corda e destampar o buraco, mas ele não acreditou na hora. Creio que agora ele deve acreditar.
-Ele quem, Jack? Você disse "agora", por que, onde ele está? Ele está vivo? Diga-me!
Eu estava sentada diante dele com os olhos suplicantes, minhas mãos tremiam e suavam.
-Está nesse lugar em que te falei.
-Onde? Onde é esse lugar?
-Isso eu ainda não sei, não chegou a hora de eu saber.
Desmond me irritava com aquela conversa totalmente sem pé nem cabeça.
-Você está brincando comigo? O que, por que veio até aqui me dizer essas coisas?
-Porque é verdade, Kate, porque assim vai ser mais fácil você aceitar. Não sei lhe explicar em detalhes porque eu estava meio desacordado quando aconteceu, Hurley com certeza poderá contar tudo de fato. O que sei é que ele me salvou. Jack me deu a chance de voltar para a minha Penny e meu Charlie.
-Aceitar? Quer dizer que...
Não consegui terminar a frase. Minha voz falhou, um bolo se formou em minha garganta e lágrimas começaram a cair em meu rosto sem parar. Esperei dias e mais dias por notícias, eu sabia que ele iria morrer, li isso em seus olhos quando nos despedimos no penhasco. Por mais que eu não queira aceitar, sei que aquele ferimento fora profundo, Jack estava sangrando e não resistiria por muito tempo. Mas o coração de quem ama não enxerga nada, não entende explicações racionais e sempre, sempre guarda esperanças dentro de si. Desmond proferiu algumas palavras de consolo, mas não sei dizer quais foram porque não ouvi mais nada. Tudo ficou negro, sem cor, sem som, sem vida. O que sei é que corri de volta ao meu quarto e tranquei a porta. Nunca mais queria sair dali. Não tive forças nem de chegar até a cama. Encostei-me junto à porta e lá fiquei, caída ao chão, estática, em estado de choque. Minha primeira hora sem ele. Esperei tanto, quis tanto saber sobre o que aconteceu exatamente com ele, mas desejava, naquele momento, nunca ter ouvido tal notícia. Quero morrer. Meu pranto me sufoca, o nariz entope e eu prendo ainda mais a respiração, desejando ir embora desse mundo neste instante. Antes eu tinha uma vaga esperança de que ele voltasse. As chances eram remotas, quase nulas, mas eu me agarrava a essa ilusão para conseguir levantar todas as manhãs.
Por não saber de nada, se ele estava vivo ou morto, pelo menos eu tinha o poder da dúvida e me alimentava disso. Agora não quero mais acordar, não existe amanhã, não existe mais vida. Não sem Jack.
Continua...
