Como Dizer Eu Te Amo

Dean não tinha vivido o mesmo tanto de anos que Castiel, mas ele soube reconhecer o sentimento que se alastrava por seu peito muito antes que o auto intitulado 'Anjo do Senhor' pudesse fazê-lo; e assim que reconheceu, no exato momento, tratou de engoli-lo, sufocá-lo e deixá-lo bem escondido, como se fosse humilhação demais que alguém mais no mundo pudesse ter conhecimento daquilo que se passava.

Ele tinha cumprido sua missão de esconder aquele sentimento muito bem, mas quando os dedos de Lúcifer desintegraram Castiel, Dean desejou ter dito mil vezes que o amava; isso ocorreu de novo quando Castiel afundou naquele lago, de novo quando ele se sacrificou por Sam na clinica e aconteceu também quando o anjo não saiu do Purgatório.

Mas agora, que ele vê Castiel sentado em sua frente, rindo de algo que Sam tenha dito, o desejo de falar é muito mais forte do que nas outras vezes, mas não é como se ele tivesse coragem o suficiente, então quando Castiel lhe olha por alguns segundos, como se esperasse que Dean dissesse alguma coisa, ele só pensa que demônios podiam começar a atacar agora, pra que ele tenha uma desculpa para não falar. Porque ele quer falar, ele realmente quer, mas ele só não consegue.

Dean tem vontade de sentir mais uma vez o cheiro do sobretudo inseparável e que já se tornou referência do anjo, como quando Castiel tinha sido engolido pelas águas e ele passara noites voltando a represa, envolto do sobretudo, chorando e pedindo a Deus que trouxesse seu anjo de volta enquanto fungava no tecido que tinha aquele cheiro tão familiar, tão Castiel.

Dean tem vontade de dizer que Castiel é importante, que ele é realmente importante demais e que doeu mais que o Inferno quando precisou deixá-lo sozinho com Meg naquela clinica, mesmo que não tivesse como protegê-lo se o trouxesse consigo, mesmo que ele não fosse forte o suficiente para manter todos os demônios longe do seu anjo, Dean tem vontade de dizer que ele ficaria lá com ele se não tivessem tantos 'sons of a bitches' em seu pé.

Dean tem vontade de abraçar Castiel e sentir seus braços rodeando seu corpo, como quando o encontrou no Purgatório. Deus! Ele ainda pode sentir as mãos de Castiel em suas costas, ele definitivamente pode sentir a respiração dele em seu ouvido, ele ainda pode sentir o corpo do outro na palma de suas mãos, mas ele deseja que aconteça de novo, porque só as memórias não estão sendo suficientes.

Dean tem vontade de dizer que estava com saudades, que mesmo já tendo passado algum tempo que o outro tenha voltado, ele ainda sente saudades.

Ele lembra do quão quebrado era e ele lembra da dor que costumava sentir sempre que apoiava a cabeça no travesseiro, ele lembra da culpa em seu coração e ele também lembra de todas as vezes em que chorou escondido para que John e Sam não vissem; mas Dean lembra mais de quando Castiel o salvou, de quando o anjo passou os dedos em seus cabelos lhe livrando dos pesadelos e da dor, de quando o anjo tocou seu coração e o limpou, de quando Castiel sentou a beira de sua cama e enxugou suas lágrimas, pedindo com voz triste para que ele não chorasse mais; e Dean só acha que Castiel é o milagre pelo qual sempre esperou, ele é a sua metade, aquela que ele não pode viver sem.

Então quando Castiel sorri mais uma vez e então desvia os olhos azuis para que encontre sua face, Dean prende o ar e descarrega de uma vez só que 'o ama, que sempre o amou e que sempre vai amar' e Dean sorri depois de dizer porque não foi tão assustador quanto achou que seria, e ao contrário do que pensou, não é o punho de Castiel ou a indiferença dele que lhe acerta o rosto.

São lábios. Lábios rachados que estão pressionados em seu rosto, os mesmo lábios que uma vez disseram exatamente essas palavras: 'Eu sou aquele que te agarrou firme e te tirou da perdição' e Dean apenas suspira aliviado.