Disclaimer: KHR não me pertence. Eu nem sei diabos como cada um é um número!

A música vem da ópera "Pagliacci" de Leoncavallo.

A fic se passa na saga do futuro, em algum momento entre os treinamentos.

Tsuki e seu momento à lá Itália. Tch Tch Tch.


Vesti La Giubba

Os dedos pálidos e machucados, batendo contra as teclas do piano como se fosse um rosto a ser socado.

Mas, além do seu próprio rosto, qual mais Gokudera iria querer esmurrar agora?

-Vai embora.

-Hahaha, você me notou aqui!

-Como eu não ia notar sua presença irritante?! – o italiano berrou, enquanto Yamamoto se aproximava mais. Quando se sentou no sofá, o japonês viu o outro soltar o com força, fechando os olhos irritados. – Sério, Yamamoto. Vá embora.

Mas ele não ia. E ambos sabiam disso.

Não era clichê demais? Yamamoto se sentou no sofá sorrindo. Gokudera tremia entre os dentes, irritado. E feliz.

Clichê.

-Você estava tocando com muita empolgação, Gokudera!

-Idiota...

Porque ele sabia que podia xingar, berrar, ameaçar explodir aquela cabeça oca, e ela continuaria ali, no mesmo lugar.

E era difícil isso.

Era simplesmente tão difícil acreditar... que não seria enganado de novo!

-Deve doer bastante... se sentir tão sozinho. – Yamamoto sorriu, como se última frase fosse tão simples quanto todas as anteriores.

Gokudera espremeu os dedos, batendo novamente com força as teclas do piano.

O que ele devia fazer?! Não sabia lidar com nada daquilo. O treinamento, o futuro... e o passado tão juntos ali; por que diabos havia uma sala como aquela ali, no seu treinamento?! Todas aquelas lembranças... seu passado, sua perda...

E sempre ele por perto. Por que aquele imbecil continuava parado ali?!

Por que Yamamoto insistia tanto em não deixar morrer o que restasse de corazion nele?! Já era difícil demais vê-lo todos os dias, sorrindo. Já era uma tortura vê-lo suspirando, todas as noites, enquanto sonhava!

Como seria o braço direito do Décimo, se a cada nova ferida seu coração se arrebentava?!

-SAIA DAQUI AGORA YAMAMOTO!

-Não.

Os olhos tremendo de raiva, ódio, desconforto. Como, como aquele japonês não entendia que ele não podia aceitar sua companhia?!

Virou-se, esperando que seu olhar o fuzilasse. Ou o fizesse entender.

Mas Yamamoto não entendia. Nunca.

Não naquele sorriso idiota dele.

-Somos uma família, Gokudera. Não é assim a brincadeira de máfia?

Família.

Que palavra mais idiota para definir aqueles dois.

O sorriso do maníaco por baseball morreu. Os olhos de Gokudera se fecharam, explodindo. Uma brincadeira... e ele vestindo sua melhor máscara. Do orgulhoso que o afastava. Do forte que não precisava daquele apoio...

Daquela brincadeira.

Yamamoto brincava de que? De ser o irmão que nunca o abandonava? De ser o otimista, o conselheiro, o companheiro?

Gokudera passou os dedos entre as teclas, às cegas, as procurando como se procura uma agulha no palheiro.

O amigo que nunca o abandonava?

E por todos os céus, ele não merecia isso.

Nem isso.

-Você é um idiota, Yamamoto.

-Hahaha, mas se isso te faz sentir melhor!

O riso preenchendo seus ouvidos. Os dedos frios, machucados... e ele tocou. A primeira nota. A voz arranhada entre os dentes, manchadas de raiva e calor.

A segunda nota. A terceira.

Uma frase inteira.

Ridi, Pagliaccio, sul tuo amore infranto!

(ria palhaço, do seu amor quebrado!)

Yamamoto se ajeitou no sofá, olhando o chão. Os pés descalços do italiano, só o cobertos pelo pijama grande demais. Emprestado do próprio Gokudera do futuro. Olhou seus próprios pés, quentes sob a meia. Também grande demais.

Será que iriam conseguir crescer o bastante?

E se tornar o que realmente é uma família...

-O que quer dizer, essa música?

-Você não me deixa em paz, seu imbecil.

A voz rouca e cansada do italiano estancou em seus ouvidos. Yamamoto quis sorrir, mas não era largo nem atrapalhado. Os lábios eram presos, discretos. Talvez, também, cansados.

-Você podia tocá-la inteira, Gokudera.

-Que parte do não me perturbe você não está entendendo?!

Gokudera gritou, como nos velhos tempos. Isso significava que, de alguma forma, estava mais aliviado. Era o bastante por uma madrugada.

Yamamoto se levantou, sem explicação, caminhando até a porta. Antes de abri-la, soltou uma de suas largas gargalhadas, com uma das mãos atrás da nuca.

-O que foi agora?! – berrou o italiano.

Yamamoto não se virou, olhando para o chão.

-Da próxima vez que a cantar pra mim, Gokudera-kun... Por favor, a traduza corretamente. Mesmo eu sei que amore não significa imbecil em italiano.

A porta se fechou rapidamente, apagando de suas vistas as costas do japonês.

Gokudera cerrou os dentes com força, as mãos congeladas sobre o piano, sem mais força. Os olhos para baixo acenavam que seus pés, descalços, nunca sentiram tanto frio.

­­­­­­­­­­­­­...


Vesti La Giubba = vista a máscara.

Ok, momento tsuki-sádica-mor com o Gokudera. Bah, nem foi dos melhores.

Ainda tem conserto...?