Hermione olhou para os dois lados antes de atravessar a rua para a cafeteria. Não pode deixar de sorrir ao vê-lo pela janela.

"Ron!" Disse ela alegremente ao se aproximar da mesa em que eles haviam se sentado por tantos encontros que já tinha perdido a conta. Ela se abaixou para abraçá-lo e se virou para um beijo, mas ele se moveu e ela só raspou sua bochecha.

Hermione olhou para ele, parecia estranhamente inquieto, mas resolveu deixar para lá. Ultimamente, com o casamento se aproximando, ele sempre parecia um pouco estranho.

"Hermione..." Seu namorado ruivo começou, numa voz anormalmente baixa e hesitante.

"O quê? Está tudo bem?" Hermione perguntou com cautela se sentando. Silêncio se seguiu. Pegou o cardápio distraída enquanto esperava pela resposta.

"Não posso fazer isso." Disse Ron, finalmente.

Hermione desviou o olhar do cardápio para ele. "Ah, eu posso levar o almoço pra viagem. Desculpe, queria que tivesse me dito que não poderia alm-"

"Não é o almoço." Ron disse, mais alto dessa vez.

"Ah." Hermione deixou escapar, sem saber o que dizer. Esperou que ele se explicasse.

Horas pareceram passar antes que ele dissesse aquelas sete palavras traiçoeiras, mas só passou um minuto.

"Hermione, não posso me casar com você." Ron falou suavemente, quase em sussurros.

O silêncio caiu sobre a mesa, enquanto ambos processavam o que havia sido dito.

"É que você é a segunda garota que eu namoro e eu sou seu primeiro namorado." Ele começou nervoso, tentando preencher o silêncio se defendendo.

Hermione o encarou em choque, sem acreditar em suas palavras, ou acusações. "O que você quer então? Checar outras opções?" Ela perguntou incrédula.

"Não, tipo, Hermione..." Ele parou tentando organizar os pensamentos. "É que, bem, não tem mais fogo na nossa relação. Você é.."

"Eu sou o que?"

Ron não disse mais nada.

"O que eu sou, Ronald?" Hermione perguntou, deixando transparecer seu estresse.

"Você é careta. Tudo que você faz é ler." Ele finalmente disse. "Você reclama de tudo que eu faço. E você, tipo, você se veste pior que a minha mãe." Ele continuou, suas palavras como bolas de neve. "Você não se arruma mais, você nem tenta!" Ele se lembrou das ocasiões com os outros jogadores dos Cannons e suas famílias, onde ele se sentira deslocado com a falta de vontade de Hermione. No início ele não sentira vergonha, mas quanto mais fotos ele via no dia seguinte, mais ele queria se encaixar com o resto deles.

Hermione começou a ter falta de ar. Seu oxigênio tendo sido quase que completamente roubado. Sem se dar conta tinha se levantado.

"Chega." Ela disse. "Pare antes que me pareça mai fútil do que já é. Desculpe-me se não satisfaço a sua necessidade por uma namorada de enfeite. Quer saber, vou facilitar para nós." Ela tirou o anel, seu coração se partindo em vários pedaços com as palavras dele, e logo, estilhaçado com as dela que se seguiriam. "Acabou. Terminamos. Não repetirei suas desculpas medíocres-"

Ron suspirou de alívio.

"Mas você que vai explicar para a sua família porque não vai ter mais um casamento."

Ron fez uma careta. "Sinto muito, Hermione." Murmurou baixinho.

"Eu também, Ron." Ela disse segurando as lágrimas. "Mas tenho de bater palmas. Excelente trabalho escolhendo onde ter essa discussão. Agora não tenho como te enfeitiçar até o esquecimento." Hermione sussurrou com raiva. "Ah e Ron, você não acredita seriamente que é meu primeiro namorado, certo? Você se lembra de Viktor Krum." Com essas palavras finais ela deixou a cafeteria e seu ex-noivo ficou em choque.

Encontrando um local devidamente isolado, Hermione aparatou para casa. No momento em que pisou em casa, fez um feitiço para recolher tudo que fosse de Ron. Tremendo enquanto encolhia tudo para dentro de uma única caixa, cambaleou até a porta. Deixou a caixa do lado de fora do apartamento para que não precisasse olhar na cara dele quando viesse por ela. Por fim, fechando os olhos, trocou as trancas da porta.

Depois de tudo, Hermione se sentiu como se tivesse perdido toda sua força. As lágrimas vieram como uma inundação.

Hermione dormiu no quarto de hóspedes aquela noite, chorando à exaustão.

O Sol da manhã brilhou pela janela, acordando Hermione.

Ela puxou as cobertas por sobre a cabeça, mas não adiantou. Ainda conseguia sentir os raios de sol passando pelos lençóis. Após alguns poucos minutos desistiu. Jogou longe as cobertas e cambaleou até o banheiro. Porém, acabou dando de cara com a parede, tendo esquecido que não estava no próprio quarto.

"Ai." Disse esfregando a testa.

Finalmente chegou ao banheiro, olhando no espelho pela primeira vez. Desejou não tê-lo feito quando viu seu reflexo. Seus olhos estavam inchados e avermelhados de tanto chorar. Seu cabelo... se ela e o Pé-grande competissem em penteado mais assustador, não sabia ao certo quem sairia vencedor.

"Ron, seu cretino." Hermione soltou no chuveiro em meio à água gelada que a rodeava. Suas lágrimas haviam secado, deixando para trás apenas arrependimento.

O casamento deles seria dali a duas semanas. Ela seria Sra. Ron Weasley em duas semanas. No dia com o qual sonhava desde os catorze anos. Agora, com vinte e dois, só sentia essa raiva, áspera. Como pode ele fazer isso com ela? Sim, talvez ela fosse um pouco careta por preferir os livros a qualquer outra coisa. Mas quem liga se ela não se arrumava ou se maquiava o tempo todo? Qual o ponto? Já tinha o homem dos seus sonhos. Ou achava que tinha.

Talvez, se prestasse mais atenção à sua aparência como Ginny insistia, talvez Ron não tivesse... Hermione não pode deixar de pensar enquanto as dúvidas surgiam em sua cabeça. Parece que as lágrimas não tinham secado completamente, já que elas novamente molharam seu rosto. Mas já não sabia mais porque chorava. Chorava por Ron? Ou pelo tempo que perdeu tentando ser a garota que Ron queria que fosse?

As lágrimas pararam enquanto contemplava a resposta para essa pergunta.

Ainda distraída, saiu do chuveiro, colocou rapidamente um roupão e foi preparar seu café diário.

"Crookshanks, sai de cima do Profeta Diário." Hermione disse quando notou seu gato sentado em cima do jornal. Queria tê-lo deixado lá ao notar a manchete.

Noite passada, Ron Weasley foi avistado beijando a modelo Sadie Rayne! A pergunta é: onde estavam Hermione Granger e Draco Malfoy?

Hermione congelou ao avistar a foto do seu ex, de menos de 24 horas, beijando uma bonita, não, linda mulher de cabelos pretos. Seu café escorregou por entre seus dedos e se espatifou no chão. Não que tenha prestado atenção, seus olhos não se desviavam da mulher na foto. Seus cabelos eram longos e lisos, de dar inveja em qualquer uma. Seu sorriso era branco e brilhante, seus lábios cheios e seus olhos de um azul arrebatador. Sadie Rayne era estonteante, e ousava dizer, a mulher perfeita.

Draco Malfoy encarou o jornal, incrédulo. Leu o artigo novamente, para ter certeza que não era uma alucinação. Sua namorada tinha acabado de ficar com o Fuinha Weasel. Noite passada. Inferno, a mulher tinha traído com Ron Maldito Weasley! E Ron Weasley estava noivo. Bem, provavelmente não estava mais, Draco se corrigiu. Já estava até imaginando os feitiços que Granger tinha preparado. Isso ele pagaria pra ver. Ela devia ter avançado de canários para criaturas mais perigosas como hipogrifos.

Ainda sim, de todos os caras no mundo, ela escolheu o Weasley pra traí-lo? Se ele não estava lhe dando a devida atenção é porque estava ocupado, fechando um negócio milionário que duraria por gerações. Se ele fosse economicamente responsável e não resolvesse comprar uma nova mansão ao ano.

Mesmo assim, a maldita mulher era muito carente. Ela sempre queria algo dele. Quase tão ruim quanto a Parkinson, pelo menos não tinha de aturar os horríveis apelidos e ela era uma tremenda gostosa com ou sem roupas.

Ele bateu com o jornal sobre a mesa, cansado de olhar para Weasley tentando engolir a cara da Sadie. Como ousou humilhá-lo desse jeito?! Draco sabia que ela queria atingí-lo, a foto foi tirada no Club Nero, um lugar infestado de paparazzis. Nada que acontecesse lá era segredo de ninguém, inferno, você ia lá para se mostrar pro mundo.

Ainda fazia cara feia pro jornal quando Blaise chegou.

"Ah, você viu então." Blaise disse ao notar o jornal na mesa de Draco.

"Claro que vi, todo maldito mundo bruxo viu!"

"Pelo menos você parece melhor que a Hermione." Blaise comentou.

Draco levantou a cabeça de supetão. "Hermione, você quer dizer a Granger?"

"Claro, prego. Conhece outra Hermione?"

"Desde quando você chama a Granger de... Hermione?" Draco disse desajeitado, não tendo dito esse nome em tanto tempo ou sem Granger ligado a ele. Era estranho. Por alguma razão, ele pareceu gostar.

"Desde que estou trabalhando com ela no Ministério, a, deixa eu ver, dois anos." Blaise disse condescendente.

"Ah é, você recusou a minha generosa oferta de trabalho." Draco se irritou lembrando-se daquele dia, não pela recusa, mas porque seu melhor amigo riu dizendo que era pelo bem da amizade deles.

"Você sobreviveu." Blaise disse tomando um lugar à sua frente.

"Espera, volta um pouco, você disse que Granger parece pior do que eu?" Draco resolveu deixar pra lá. Quem sabe? Talvez Blaise estivesse certo.

"Sim."

"Como?"

"Porque está tão interessado?" Blaise perguntou temeroso.

"Estou não." Draco deu de ombros.

"Ah, está sim, Draco. Você está com aquele olhar sonserino."

"Estou nada."

"Sim, está"

"Não." Draco argumentou.

"Ah, como tá." Blaise rebateu.

"Tá bom, eu to. Agora, conta."

Blaise olhou para ele com suspeita, mas contou mesmo assim. Afinal, eram melhores amigos.

Hermione não aguentava mais os olhares de simpatia que continuava recebendo de todos seus colegas de trabalho. Era de se pensar que a mãe dela tinha morrido, ou algo igualmente trágico, pelo jeito que diziam meus pêsames. Quase desejava não ter vindo ao trabalho hoje.

Mas, se não tivesse vindo, quem sabe o que estariam falando dela a essa altura? Provavelmente que tinha ido parar no Santo Mungo, se recuperando de sua tentativa de suicídio ao saber "A Notícia", como todos se referiam a isso. Era Voldemort e aquele-que-não-deve-ser-nomeado outra vez. Nã era isso tudo! As pessoas não tinham mais o que fazer da vida?

Hermione lavou o rosto na pia do banheiro feminino. Certamente não ajudava que seus olhos estivessem tão vermelhos. Seu rosto estava acabado. Não se admira Ron ter cancelado o casamento. Aqui estava ela, como uma morta-viva enquanto Sadie Rayne era literalmente uma modelo, linda por sinal. Não se admira ele tê-la deixado quando podia ter alguém como Sadie Rayne.

Ela tinha até namorado Draco Malfoy, conhecido como um pegador que não parava quieto. Eles namoraram por três meses, um recorde pra ele. Não que o acompanhasse, ela leu por acidente numa revista enquanto tomava conta do Teddy na casa da Ginny e do Harry.

Hermione caminhou de volta para escritório, se sentindo um pouco melhor. Vendo sua assistente a encarar inquieta, disse que fosse almoçar na frente.

"Poxa Hermione, você não me disse que... por isso Ron e Sadie Rayne... Você tem tanta sorte, ele é um partidão." Anna, a assistente, deu uma piscadela antes de sair.

Hermione ficou sem entender nada. Sacudiu a cabeça e abriu a porta da sua sala.

"Merlin, você parece uma mendiga. Por isso, Weasley te deixou pela Sadie."

Hermione pulou de susto, e quase deu um grito, até reconhecer essa voz. Mesmo depois de anos sem se falarem, ela lembrava da voz dele. Aquele som aristocrático que muitos tentavam emular, mas que vinha naturalmente nele.

"Malfoy, o que faz na minha sala? E sério, essa é a primeira coisa que tem a me dizer?"

"Preferia que eu dissesse sinto muito pelo seu-"

"Ah, cala a boca." Hermione franziu a testa. "Dos males o menor, acho. O que faz aqui?"

Draco sorriu orgulhoso "Eu vou te dar uma transformação."

"Desculpe, o quê?"

"Você me ouviu Granger, vou te dar uma transformação que vai fazer com que todo homem te queira e que Weasley morra de arrependimento. Você ficará simplesmente irresistível."