Disclaimer: Bleach não me pertence, e só, não sei fazer disclaimers engraçados.

PUREZA

"... e dentro dela a guerra continuava, razão e paixão brigando pelo domínio de suas ações naquele momento decisivo.

- Não vá. – ele pediu suavemente.

- É preciso... – a voz saindo nada mais que um sopro triste enquanto seus olhos enchiam-se de lágrimas.

- Não. – ele negou tomando as mãos delicadas entre as suas e olhando-a firmemente – Seu lugar é aqui, comigo! – afirmou convicto.

- Não torne as coisas mais difíceis para mim, você sabe que...

- O que eu sei é que você é feliz aqui, e isso basta. – tomou o rosto dela entre as mãos e perguntou docemente – Não vê que eu preciso de você? – seus lábios aproximaram-se dos dela lentamente – Fique. – a palavra murmurada de encontro a sua boca soou tão baixo que não passava de um sopro quente antes que..."

- Oe, Rukia! Hora do lanche!

Dentro do armário a shinigami quase bateu a cabeça com o susto, o livro que estava lendo escorregando de suas mãos e caindo sobre o acolchoado.

- Como você entra assim no quarto dos outros, Ichigo! – exclamou irritada abrindo de uma vez a porta do armário.

Segurando a bandeja de comida que trouxera, o ruivo esforçava-se para não atirar tudo na cara daquela folgada.

- O quarto é meu, sua idiota!

- E quem perguntou, seu imbecil! Você tem que... mmmmmm – o restante da frase perdeu-se no pedaço de pão que Ichigo empurrou na boca dela.

- Come logo e pára de reclamar. – ordenou mal humorado enquanto colocava a bandeja sobre a escrivaninha.

Ainda com o pedaço de pão na boca, Rukia encarou Ichigo dividida entre quebrar a cara dele com um soco ou um chute.

No fim decidiu que era melhor mastigar o pão que tinha na boca e comer o lanche que ele trouxera, faria aquele pirralho pagar por aquilo mais tarde.

Aquilo acontecia muito ultimamente, quando Rukia estava concentrada em alguma coisa, Ichigo chegava e a interrompia de algum modo irritante. Como dessa vez: estava tranqüilamente lendo um livro quando ele chamou-a de repente, pegando-a de surpresa.

Detestava ser pega de surpresa, assim como detestava ser interrompida. Como Ichigo conseguia deixá-la tão...

- Rukia.

A garota quase derrubou o copo de suco.

- O que? – perguntou mal humorada.

- Você não sente falta?

- Do que?

- De estar na Soul Society.

As mãos da shinigami subitamente petrificaram-se, uma tensão dominando-a.

Ele não sabia, não é? Ele não tinha como saber, não é mesmo?

- Por que pergunta? – indagou com uma calma que não sentia.

Com seus poderes de shinigami tendo sido totalmente absorvidos por um humano, Rukia não sabia como reavê-los. Na verdade não tinha nem idéia se queria reavê-los.

E definitivamente não podia deixar que ele tomasse conhecimento de nada disso.

- Não sei. – o rapaz recostou-se na parede ao lado da cama e encarou o teto – Na Soul Society você não tinha que dormir num armário, não é?

A tensão dissipou-se e a garota conteve um suspiro de alívio. Ele não sabia de nada.

- Está dizendo para eu não dormir mais no seu armário?

- Armário não é lugar de gente. – disse como se falasse consigo mesmo e ainda encarando o teto.

- E onde você quer que eu durma? – perguntou com voz suave e controlada, olhava-o diretamente, uma sobrancelha arqueada e um sorriso malicioso.

Ao ouvir aquele tom de voz, Ichigo voltou-se para encará-la, ao encontrar os olhos azuis percebeu com clareza a insinuação por trás daquela pergunta.

- Não onde você está pensando! – exclamou já na defensiva.

- Mesmo? – seu olhar para o ruivo tornou-se tão malicioso quanto o sorriso que alargava-se – E onde você acha que eu estou pensando?

Virou a cabeça para o lado, fugindo daquele olhar.

- Isso é muito óbvio, só tem uma cama nesse quarto. – resmungou.

- Ah... então você pensou que eu pensei que você queria que eu dormisse na sua cama?

- O quê!

- Você entendeu. – apoiou o braço no encosto da cadeira e inclinou a cabeça olhando-o mais atentamente – Me diz uma coisa: se você pensou que eu pensei que você queria que eu dormisse na sua cama... onde pensou que eu pensei que você queria que você dormisse nesse caso?

Se Kurosaki Ichigo torcia para não ter entendido o que ela insinuou na primeira pergunta, com certeza não queria de modo algum ter entendido o que ela insinuou na segunda!

- O que você disse?

- Não se faça de bobo.

- Não estou me fazendo de bobo, sua idiota!

- Então responda a pergunta.

- Eu não vou responder essa maluquice que você chama de pergunta! – cruzou os braços e virou o rosto para esconder um leve rubor – Já terminou de comer? – mudou de assunto.

Rukia sufocou um riso percebendo a fuga dele. Às vezes Ichigo era tão...

- Já. – respondeu sorrindo e voltou para o armário.

Sentindo-se a salvo das insinuações, Ichigo levantou-se e pegou a bandeja com o resto do lanche para levar até a cozinha. Mas antes que chegasse à porta do quarto...

- Ichigo.

- O que?

- Você acha mesmo que cabe nós dois na sua cama?

A única resposta que Rukia teve foi o som da porta do quarto batendo com força. A shinigami ria só para si enquanto fechava a porta do armário.

"Ichigo, às vezes você é tão... puro"

oOooOooOooOooOooOooOo

"Você não sente falta... de estar na Soul Society?"

Sentada no beiral da janela, Rukia tinha o olhar perdido no horizonte da cidade silenciosa àquela hora da noite, pensava na pergunta que Ichigo fizera.

Naquele momento ela apenas se preocupara com a possibilidade dele estar desconfiado da permanência dela no mundo dos humanos por tanto tempo, então simplesmente deixara aquilo de lado. Mas agora, sozinha com seus pensamentos, ela refletia mais a fundo.

Estar na Soul Society com certeza era mais fácil do que estar no mundo dos humanos, conhecia o modo de vida, as regras e as pessoas, não havia grandes surpresas ou dificuldades.

No mundo dos humanos não havia isso, ela não conhecia praticamente nada, precisava aprender aos poucos e sempre estava sendo surpreendida ou encontrava alguma dificuldade.

Sorriu de leve lembrando-se da caixinha de suco, não entendia ainda o truque para beber aquilo.

Realmente para ela, no mundo dos humanos, as coisas eram mais surpreendentes e difíceis que na Soul Society.

Mas isso significava que sentia falta de lá?

A Soul Society era tudo o que conhecia, isso deveria bastar para que, estando em outro lugar, sentisse falta, não é mesmo?

Então por que não conseguia dizer que sentia falta nem para si mesma?

- Rukia? – a voz sonolenta de Ichigo chamou-a.

Do beiral da janela a garota olhou por alguns instantes para a cama onde o rapaz dormia, ou pelo menos deveria estar dormindo.

- Você tem aula amanhã, Ichigo. – o lembrete soava mais como uma ordem para que ele voltasse a dormir.

Mas o rapaz não deu a mínima importância.

- Você também. – ainda sonolento ele esfregou os olhos – Por que está acordada? Algum Hollow?

Ela demorou para responder, fitou-o por um longo tempo. E quando voltou a encarar o horizonte, já tinha a resposta para a pergunta que a atormentava interiormente.

O motivo pelo qual não conseguia dizer que sentia falta da Soul Society nem para si mesma era...

- Não. – respondeu à pergunta dele.

- Então o que foi? Por que está acordada às... – consultou o relógio ao lado da cama – ...três da manhã! Você é louca? – agora estava completamente desperto, os olhos muito abertos encaravam a garota iluminada pela luz fraca que entrava pela janela.

Ela não disse nada, e por alguns instantes o silêncio envolveu-os. Ichigo mantinha-se atento ao olhar perdido, já o vira antes, e embora não soubesse exatamente o que significava, não gostava nada dele.

- Feche a janela e volte a dormir, Rukia. – ordenou esperando interromper aquele olhar.

- Tá. – respondeu, mas permaneceu exatamente como estava.

- Rukia.

- Hn? – ainda com aquele olhar.

- Dormir.

- Tá.

- "Tá" nada! Volta a dormir. – já estava ficando nervoso com aquilo.

- Tá.

Ichigo ainda deu uma chance para ela, contou mentalmente até dez esperando que dentro daquele tempo a garota desse indícios de que se moveria, ou pelo menos parasse de olhar para o horizonte daquele jeito. Mas Rukia continuou exatamente como estava, como se o tempo houvesse parado para ela.

- Já chega! – determinou por fim.

Em um movimento rápido agarrou a shinigami pelos ombros e puxou-a para dentro do quarto, fazendo-a cair sobre a cama.

Rukia observou o ruivo inclinar-se sobre ela para fechar a janela.

Sorriu.

- Ichigo.

- O que?

- Olha pra mim.

Quando o olhar dele caiu sobre a garota abaixo de si, o rosto dela já estava a centímetros enquanto lábios macios colavam-se aos seus em um beijo suave.

O contato durou alguns poucos segundos, apenas o suficiente para que a shinigami provasse o toque e o calor da boca dele sobre a sua.

Ao afastar o rosto e abrir os olhos, Rukia sorriu diante da expressão de total surpresa de Ichigo.

- Tão puro... – o pensamento escapou dos lábios em um murmúrio.

Os olhos azuis permaneceram fixos nos castanhos por um breve período de tempo, então, como se nada tivesse acontecido, a garota saiu da cama e pôs-se de pé, de costas para ele.

Com um olhar incrédulo, Ichigo acompanhou com o olhar os passos lentos de Rukia até o armário do outro lado do quarto.

Mas antes que ela pudesse abrir a porta...

- Eu te disse... – a voz saiu um pouco fraca, mas audível o suficiente para fazê-la parar. Assim que viu que ela permanecia imóvel, continuou com mais segurança - ...que armário não é lugar de gente.

Os olhos dela adquiriram um brilho diferente, e um sorriso nada inocente insinuou-se em seus lábios.

Será que havia ouvido direito? Ichigo realmente estava insinuando que eles...?

- E onde eu devo ficar? – perguntou só para confirmar.

- Não onde você está pensando. – ele respondeu, um traço de divertimento.

Ela tentou controlar-se, tentou de verdade. Chegou a cerrar os punhos para ver se dissipava a tensão em seu corpo após constatar que Ichigo continuava sendo... puro demais.

Mas Rukia estava cansada de lidar com aquela... pureza

- Ichigo, seu idio... – o xingamento não foi completado.

Uma mão fez com que ela voltasse o rosto para o lado onde lábios ávidos silenciaram-na com um beijo.

Os olhos da garota permaneceram muito abertos contemplando o rosto dele tão próximo, mas quando os lábios macios sobre os seus começaram a mover-se, ela fechou-os e permitiu-se esquecer de tudo.

Seu coração agitado pela frustração pareceu acalmar-se no exato instante em que ele a calou, mas depois começou a agitar-se mais ainda conforme o beijo aprofundava-se.

E como se aprofundava!

Os lábios dele eram tão macios e seu toque era tão exigente, como podia haver algo assim? Eles moviam-se ora sôfregos, ora febris, experimentando o sabor da boca dela ao mesmo tempo que incitava-a a experimentar a sua também. E Rukia correspondia, não podia deixar de fazê-lo, aquele beijo era bom demais.

"Onde ele aprendeu isso?" perguntou-se em um lapso de pensamento.

Mas nem teve tempo para sequer começar a imaginar uma resposta, pois de repente ele encerrou o beijo.

Foi com uma incrível satisfação que Ichigo contemplou de perto a shinigami abrir os olhos devagar, revelando o desejo e a confusão no brilho azulado de seu olhar. Sorriu de lado e desceu os dedos que seguravam a face dela até o queixo delicado, segurou-o com uma suave firmeza e fez com que ela voltasse a encarar o armário a sua frente.

E antes que Rukia sequer pensasse em protestar ou perguntar qualquer coisa, sentiu um braço firme envolver sua cintura e puxá-la para junto de um corpo às suas costas. Sentiu a respiração irregular dele em seu pescoço um pouco antes de ouvi-lo murmurar junto ao seu ouvido:

- Armário não é lugar de gente. – ele repetiu com voz rouca – Eu disse que você não ficaria onde você estava pensando porque vai ficar onde eu estou pensando.

Apesar do coração batendo como louco, e das pernas que pareciam que iam dissolver-se caso ele a soltasse, Rukia conseguiu encontrar um fio de voz para perguntar:

- Onde... você está pensando?

- Isso é muito óbvio... só tem uma cama nesse quarto. – respondeu com um sorriso que não tinha pureza nenhuma.

oOo FIM oOo

Nota da Autora: Sim, é o fim. Ainda bem, porque meus objetivos para essa fic eram: fazer algo leve, sem muito compromisso ou dificuldades. Consegui atingir pelo menos um deles, já que o compromisso de terminá-la em 48 horas e a dificuldade pra poder finalmente inserir alguma reação no Ichigo me pegaram legal.

Essa fanfic é um "lance" que dei no Jet Black da Tsuki Koorime (se ela está leiloando os amantes, eu é que não vou perder a oportunidade né?). Espero receber meu prêmio o mais rápido possível (ouviu koorime? ò.ó)

Ofereço essa fanfic para todas as caridosas almas que me agüentaram tendo crises no MSN por causa dela. Botan, Lyra, Marjarie, Koneko, Maioki e Siren (esqueci de alguém?) sou eternamente grata a todos vocês por terem se disposto a ler a fic enquanto estava sendo feita, dado suas opiniões e estímulos. Sem o apoio de vcs duvido que terminasse tão rápido (bem, eu terminaria por causa da aposta com a koorime, mas foi muito melhor com vcs me apoiando).

Um agradecimento muuuuito especial à Dark "The Flash" Faye, que se dispôs a revisar a fic depois de pronta mesmo sendo totalmente RenjiRu fã.

Obrigada por ler.

Beijos

Wanda