Capítulo Um – O Lobo

Dor. Era o que sentia durante aqueles minutos. Minutos penosos, demorados, atormentadores. O coração pulsando loucamente. Sentiu sua carne sendo dilacerada. No lugar de unhas, garras afiadas, rasgando-lhe as pontas de seus dedos. Seu corpo, agora, estava coberto de pêlos. A roupa rasgada, jazia no chão empoeirado da casa escura e um tanto fria.

Levantou a cabeça, lá estava o familiar cervo, um enorme cão preto e, atrás deste, um rato se escondendo. Não olhava mais com olhos humanos. Finalmente lobo.

Toda noite de lua cheira era a mesma coisa, a mesma dor física, mas o que lhe matava a cada mês era a dor emocional. Não sabia o que seria de sua vida no ano seguinte. Não estaria mais em Hogwarts, não estaria mais com seus amigos, as transformações iriam ser mais penosas. Não iria ver mais Melane.

E como ele a amava, tanto, mas tinha medo. Medo do seu amor, do instinto lupino que fazia parte dele.

Durante a noite vagou com seus amigos. Desta vez pelas colinas, próximas à Hogsmeade. A lua brilhava intensamente naquela noite. O vento gelado batia em seu focinho, gostava do frio.

O lobo parou, estava cansado. Uivou longamente, eram seus instintos tomando conta de si. O animal, deitado na grama molhada avistou algo se aproximando. Dois humanos, montados em uma vassoura. Sentiu os pêlos arrepiarem. Estava faminto. Continuou deitado, mas observando atentamente as presas fáceis. Qualquer movimento brusco as afugentariam. Ainda voam na vassoura, só que mais perto. Seu olfato lhe deixou mais faminto, os humanos cheiravam bem, seria um banquete.

Saíram das vassouras. Ele ainda imóvel e com fome. Aproximavam-se, um mais à frente. Mais perto, foi quando levantou-se vagarosamente. Uivou alto e andou cerca de dois passos humanos. As presas gritaram e correram. Ele também correu, ultrapassando-os e colocando suas patas cima das vassouras. Não havia como fugir. Investiu contra as presas, apenas abocanhou um pedaço de tecido. Grunhia, uivava, sentia o cheiro de medo de suas presas. Investiu novamente, um deles havia caído e foi interceptado por um enorme urso marrom. Não soube como, mas ele já estava debaixo do urso, sentindo seus ossos sendo esmagados pelo enorme mamífero. Ouviu um latido, e o enorme urso transformou-se em um cervo. Olhou para o céu, lá estava seu alimento. Voando, como um pomo dourado, fugindo de um apanhador com sede de ganhar o jogo, que ele acabara de perder.

Aquele não era Remo Lupin, era um lobo selvagem e faminto.

N/A: Qualquer dúvida sobre o urso, peguem o seu livro "Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban". Leia a parte que Remo conta sobre as suas transformações, no final do livro, quando eles estão na Casa dos Gritos. Em uma parte Remo diz: Sirius e Tiago poderiam se transformar em animais tão grandes que pudessem controlar o lobisomem ou alguma coisa do tipo. Eu interpretei desta forma, que Tiago e Sirius pudessem transforma-se em qualquer tipo de animal...