.Capitulo um.

Forks, uma remota cidade localizada no estado norte-americano de Washington, no Condado de Clallam, foi considerado pelos jornais locais como um dos piores sítios para se viver nos Estados Unidos, talvez por ser uma das cidades onde se tem uma das maiores médias de dias chuvosos ou nublados por ano, cerca de 305 dias chuvosos por ano, ou talvez devido aos ares místicos provocados pelas florestas em redor, e aos rumores e lendas antigas ... mas a verdade é que era um sitio lindo e havia quem amava viver ali, mesmo com a presença da chuva e o raro sol... Forks era um pequeno paraíso, de pouca população.

Uma manhã nublada, um bairro calmo, numa casa de madeira na periferia, virada para a floresta.

- Ana! Levanta-te!

Era a terceira vez que ouvia a voz dela, estava farta, desejando que ela se fosse embora. Respirou fundo, tinha dormido tão mal.

Tirou a mão do conforto dos lençóis para procurar o despertador, os números piscavam, devia ter faltado a luz durante a noite. Tinha de desistir dos despertadores a luz. Procurou o telemóvel, e olhou o mostrador, faltavam vinte minutos para as oito da manhã.

Merda!

Deu um salto da cama, passou os dedos pelos cabelos para os endireitar, olhou-se rapidamente ao espelho e deu graças aos grandes Deuses por ter cabelo liso e fácil de domar. Vestiu a primeira blusa que apanhou do guarda-fatos e umas calças de ganga velhas.

Desceu as escadas a correr.

- Desse jeito vais perder o emprego! – gritou a voz histérica da cozinha.

Não lhe respondeu: ainda estava chateada com ela. Agarrou na sua mochila e verificou se estava tudo. Deu por falta do telemóvel que tinha deixado dentro da cama, suspirando chateada, subiu de novo as escadas, agarrou no aparelho e voltou a correr escadas abaixo.

- Ó mulher, pareces um terramoto! Vais chegar atrasada de novo... ! Ana!

Passou por ela na cozinha, agarrou no casaco que deixara nas costas da cadeira na noite anterior.

– Ana! Olha para mim! Não me vais ignorar o resto da tua vida...

Será? Pensou.

Fitou-a. Eram tão diferentes como o dia da noite, não pareciam mãe e filha definitivamente. Olhou para ela com ar desafiador.

- o meu nome não é Ana...

Revirou os olhos, tinha de ir-se embora, não queria começar a manhã com uma discussão, o que era o mais normal entre as duas.

Olhou de novo para o visor do telemóvel controlando as horas.

Meeeeeeerda!

Desse jeito não iria mesmo chegar a tempo.

Para variar um pouco, iria levar um sermão da sua chefe.

Agarrou numa torrada para comer no caminho e ia a sair de casa quando se apercebeu que estava de pantufas.

Porra! Que merda de vidaaaaa...!

Voltou a correr ao quarto e calçou as botas castanhas preparadas para o tempo agreste.

Desceu de novo as escadas fazendo ainda mais barulho que o normal e saiu pela porta das traseiras.

Ah!... respirou fundo.

Amava aquele ar frio da manhã, o cheiro da terra molhada era o melhor do mundo!

Não entendia como existiam pessoas que não gostassem de morar em Forks, lançou um olhar acusador à sua mãe, que a olhava da janela da cozinha, com aquele ar irritante.

Tirou a mota da garagem, agasalhou-se melhor metendo um cachecol quentinho e o capacete e fez-se à estrada.

Sabia que ela desaprovava a mota 125, mas também desaprovava ir morar para New York, só de pensar nisso dava-lhe uma raiva descontrolada. Nunca na vida que iria deixar a sua cidade por um capricho da sua não-presente e desnaturada mãe.

A sua chefe esperava por ela à porta da loja. De quarenta e poucos anos, ar rígido, com feições definitivamente indígenas.

Deu o seu melhor sorriso, e antes de poder dizer alguma coisa, a chefe falou:

- Ainda gostava de saber como é que alguém que monta uma coisa dessas e anda à velocidade que tu andas... ainda chega atrasado... não tens jeito, Ayiana... Hoje não vou estar contigo na loja.. tenho uns assuntos a tratar...

Sorriu com mais vontade, com menos receio de levar sermão, apesar do ar, ela era o máximo, uma das poucas pessoas que a tratava pelo seu nome completo.

Ayiana e não Ana, como a sua mãe insistia em chamar.

- Tudo bem Mrs. Value... Não se preocupe... pode ir descansada... e desculpe por ter chegado tão em cima da hora...

- Não faz mal... eu sei que tens a tua mãe em casa... e que estas a passar por uma fase difícil Ayiana... só não te deixes ir a baixo...

- vou tentar... obrigada...

Entrou na loja; era pequena e tinha um ar pesado e quente devido às máquinas em funcionamento. O cheiros dos químicos era forte, depois de uma noite fechados. Arrumou o expositor de molduras, ligou o computador, iniciou a C41, uma máquina de pelo menos um metro e vinte de comprimento, uma raridade para revelar negativos fotográficos, e verificou os químicos da máquina de impressões 10x15 digitais.

Sorriu internamente.

Sim, trabalhar numa loja de fotografia em Forks era o seu ideal de vida.

Virou o sinal de "fechado" para "aberto".

Tinha pouco trabalho, para se entreter, meteu uns negativos do dia anterior para revelar, tirou o seu PC portátil de baixo do balcão, para ver o e-mail. Numa localidade calma como aquela, tinha de se saber lidar com o tédio.

Ouviu o sino da entrada, sorriu, olhou para o seu primeiro cliente.

Com um café expresso nas mãos, ele sorria abertamente.

- Prima... ouvi dizer que hoje madrugaste? - brincou com ela.

- Sim, sim; goza, goza Jacob... levei com a donzela minha mãe logo de manhã... aposto que encontraste a Mrs. Value... não me venhas com coisas... acordar de manhã é... - fez uma careta angustiada - ... difícil... – disse tirando o café das mãos dele. -hummm café tão bem vindoooo...

Jacob não era meu primo de sangue. Só da mesma tribo... e era um exemplar magnífico da espécie.

- Sabia que estavas a precisar!

Ayiana era Quileute... metade, pelo menos. O seu pai era da tribo, mas a sua adorada mãe era uma nova iorquina com a mania que era vip.

Conhecera o Jacob há pelo menos um ano e meio, ele tinha estado fora da sua terra durante algum tempo, era a prova de que era difícil para um Queilleute ficar longe de sua terra...

Ficou subitamente triste com esse pensamento, não queria sair de sua terra. Não queria saber o que é sentir saudades das suas origens.

- O que é que se passa, Ayiana?... - ele perguntou quase adivinhando o que se passava.

- A minha mãe... - revirou os olhos.

- De novo...

- Ela não quer ficar cá... – disse com pesar, abanando a cabeça. Tirou o stick para o cabelo do bolso e enrolou-o no cabelo com pericia. Jacob suspirou.

- Simples, Ay... ela vai e tu ficas... – disse encolhendo os ombros. Fitou-o seria.

- Sim.. vai lá dizer isso a ela... ela quer que acabe a escola lá e que vá para "uma universidade de renome..." – disse imitando o tom nasalado da minha mãe. Jacob riu-se.

- Vais resolver isso... vais ver... tenta é fazelo da melhor maneira... porque não falas com ela a serio?... sentam-se as duas...

- Ja tentei Jake... mas ela é impossivel... perde a paciencia e diz que puxei ao Quill... e..uffff ...ela mete-me uns nervos...

- Acredito... ainda tou para saber onde Quill estava com a cabeça para se envolver com ela...

Ayiana fitou Jacob, era estranho de como as vezes ele falava de seu pai como se o conhecesse desde sempre.

- Olha, então e a tua miúda quando chega?... – perguntoi, tentando mudar de assunto.

O ar de Jacob mudava por completo quando se falava na donzela dos seus sonhos. Ficava com um brilho no olhar e um sorriso bobo.

- No final desta semana... para o princípio da escola. – disse sorrindo – Não acredito que finalmente vou ter a minha Nessie comigo de novo.

Ayiana deu um murro no ombro dele em brincadeira, ainda não a conhecia e ja gostava dela, pela maneira de como ele falava dela.

- Depois quero conhecê-la...

- Sim, vais ter essa hipótese... ela é um amor... - ele suspirou - ... já o resto da família... bem... não recomendo... mas se bem te conheço não te vais aproximar muito... e tambem... estudas na reserva... eles no liceu de Forks...– disse rindo. – Bem, Ay... eu vou andando... porta-te bem, e não queimes as fotos dos clientes, está bem?

Deu-lhe um beijo na testa e saiu.

Ayiana ficou a pensar no que lhe tinha dito. "Se bem te conheço não te vais aproximar muito..."

Ok, deviam mesmo ser pessoas horrendas...

Pobre da rapariga, devia-lhe ter calhado na rifa a Família Adams.

Apesar de ter quase a certeza de que a Morticia lhe tinha calhado como mãe.

Não pensou mais nisso. Tinha trabalho para fazer.

Depois do trabalho, parou no Snack-bar ao lado da loja, estava meio vazio para variar,

- Ei, Stu... tudo bem? - questionou ao rapaz atraz do balcão, ele sorriu e sem uma palavra foi a vitrine e tirou um chocolate, jogando-o para Ayiana, que o apanhou no ar. Aquele era um velho habito de Ayiana. Tirou o dinheiro do bolso.

- Deixa... o Jacob pagou-o quando veio de ca de manha buscar cafés... - disse Stu. Ayiana gaurdou o dinheiro. Bolas ele tinha de parar de a mimar. Saiu, na rua estava com ar de que iria chover.

Melhor ir para casa.

Parou a mota na garagem, e olhou-a com carinho.

Fora o último presente de seu pai.

Uma Yamaha de Motocross, 125 de cilindrada.

Ele dizia que lhe ficava bem, que amava ver uma mulher numa mota. Só não comprou uma de maior cilindrada porque temia que Ayiana não se aguentasse com ela.

Entrou em casa, e um cheiro estranho estava no ar. Torceu o nariz: era uma mistura de plástico com... a cozinha estava cheia de fumo.

- MÃE! –exclamou em pânico, ela estava em frente do microondas tirando algo feito em carvão de lá de dentro. – O que se passou?...

- Queimei o jantar! – exclamou furiosa.

Ayiana uma careta. Raio da mulher nem "cozinhar" em microondas é capaz! Maldita dondoca de cidade! Era inacreditavel!

- Comida de microondas mãe...? Já te tinha dito que eu fazia jantar... - estava chateadissima.

- Mas...

- Tudo bem... manda-se vir pizza... - e telefonou para o sítio habitual. Viu ela atirar os "carvões" para dentro do lixo e abrir melhor as janelas, deixando entrar o ar frio.

Ela parecia debater-se internamente, mordendo o labio inferior pintado de vermelho.

Um sinal de que iria haver briga. Ela era bastante previsível.

Ayiana pousou o telefone, cruzou os braços e fitou-a em desafio.

- O que foi? – disse sem paciência, metendo as maos na cintura.

- Nada... estás bem? – disse num tom que roçava o gozo, estava mesmo farta daquela mulher. O rosto dela tinha uma mancha de cinza na cara e tinha os cabelos despenteados, quando normalmente andavam impecáveis.

- Não!... Nada bem... - ela disse.

- Então? – fez ar inocente, fingindo que se importava.

- És tu! Ana, tu tens de vir comigo para New York... eu não vou ficar neste fim de mundo por muito mais tempo!

- Então vai... – disse, calma. Ela pareceu exasperar.

- Não te vou deixar aqui sozinha!...

- Porquê?...

- Porque sou tua mãe... e tenho que... e tu tens que... -estava sem nexo.

- É obrigação, não é?... Por tua vontade nem cá tinhas metido os pés!... se o pai não tivesse morrido... – parou. Dizer aquilo em voz alta doeu-lhe imenso. Aquela megera tinha de ouvi-las.

- Ouve minha menina... – disse ela apontando-lhe um dedo com uma unha de gel perfeita. Tudo aquilo me irritava tanto!

– És da minha responsabilidade enquanto andares na escola! Tu e o teu... teu pai... Têm vivido com Deus quer e o Diabo gosta... Vê-se bem, dar uma mota a uma adolescente!

- Ele disse-me que tinha falado contigo sobre isso... –argumentou irritada.

- Uma bicicleta, e não uma mota! – exclamou desesperada gesticulando com as mãos..

Ayiana deu uma gargalhada interna, sim, aquilo era exactamete o tipo de coisa que o seu pai faria.

- Desde que nos abandonaste... não tens nada a haver com nada... – murmurou com azedume.

- Enganas-te... – disse quase cuspindo as palavras - Sou tua mãe e mando!

- Mas eu não vou para New York... -estava firme, preparada para rebater qualquer coisa que ela dissesse.

- Tudo bem... ficas cá... -ela disse calma.

QUÊ?

Fiquei à nora.

Mas ela tinha acabado de dizer que..

- Só falta um ano para acabares... – disse ela fitando a filha com ar indiferente.

- Mas... mas... – aquilo não lhe cheirava nada bem, semicerrou um olho desconfiada.

- Inscrevi-te na Forks High School...

O seu mundo ruiu.

- Não! Mas eu ando na Reserva!

Ela lançou-lhe um olhar de puro desprezo. Deu uma gargalhada sarcástica.

- Eu não vou pagar para andares numa escola de indios!...

Sentiu uma raiva imensa tomar conta de si.

- Não podes fazer isso!

- Já calculava que não te ia tirar daqui a bem, por isso... ou andas na escola com gente normal... ou arrasto-te pelos cabelos para NY... – disse ela com ar quase mortal.

Apercebeu-se que que afinal sempre herdou algo dela.

- Ok. – disse furiosamente resignada.

Pelo menos não tinha de sair de Forks.

Subiu para o seu quarto. Respirou fundo. tinha de se acalmar, cada vez mais odiava aquela mulher, que não tinha o direito de fazer uma coisa daquelas.

Pensou no seu pai.

Maldito acidente que lhe tirara a vida. E maldita mulher pela qual se apaixonara! Não conseguia entender… ela era um pessoa horrível! Muito bela, ok, mas a pessoa que era não compensava. Só pensava em trabalho e na sua propria pessoa.

Se ele não tivesse ido, não estaria a passar por isto.

Só lhe apetecia amaldiçoar a mulher.

Olhou-se ao espelho.

Fisicamente, herdara mais o lado dele. Não se achava bonita, demasiado alta com 1m 73cm, magra, pele de moreno dourado, cabelo negro, de olhos castanhos. Via claramente os traços suaves de sua mãe nas maças de seu rosto, não herdara o tipico rosto indigena de traços duros e rectos... mas pelo menos não era loura de olhos verdes como ela.

Vestiu uma t-shirt de alças e deitou-se.

Iria ser um ano muito longo.

Fechou os olhos e tentou não sonhar a mesma coisa de sempre...


Espero que tenham gostado, aguardo comentários!