Numa noite de céu estrelado, corri contra as ervas altas do meu jardim. Olhei para cima e vi uma silhueta perfeita, como um anjo, mas negro. Era ele, dirige-se lentamente para uma pequena abertura de ervas cortadas.
Corri até ele. Os seus olhos pretos penetraram os meus castanhos. Havia algo nele que não estava certo. Parecia assustado, perturbado.
Mandou-me sentar ao seu lado. Sabia desde ontem que devia fala com ele, mas no meu subconsciente algo me dizia que devia parar. Perguntas que tinha retido debaixo da língua á muito tempo, que precisavam de sair. Perguntas que, teoricamente, não faziam sentido nenhum. Tinha um pequeno receio de estar ali com ele, sozinha. Mas ao mesmo tempo estava confiante da minha segurança.
Ele puxou-me para cima e sentou-me ao seu colo. Ao princípio pensei que ele me queria beijar, mas tirei logo essa ideia da minha cabeça. De repente, abraçou-me, e todas as minhas memórias emergiram á superfície, como uma baleia que vem ao de cima para respirar. O aparecimento dele na minha vida, principalmente.
Passado um bocado, empurrei-o para trás, para poder respirar. Ele tinha um olhar sinistro e um sorriso malicioso. Sentei um arrepio frio, seguido de um formigueiro no estômago. Engoli a seco, disfarçadamente.
Depois deitei-me para trás, num acto de relaxamento. Sabia que aquilo não era normal, não com ele.
-A Lua é linda…- Disse-me ele.
Estranho. Olhei para ele. Os seus olhos negros e melancólicos transformaram-se em olhos doces e brilhantes.
-Sim, também acho. – Disse eu.
