Você é assim
Draco respirou impaciente, perguntando-se o que diabos Scorpius aprontara para que Minerva lhe enviasse uma carta convocando-o até aquela reunião. Justo no dia em que ele tinha tantos negócios a resolver!
Girou a maçaneta com força, adentrando na sala.
Era a mesma sala. Aquela dos tempos de Hogwarts, sala para a qual ele já fora levado tantas vezes por infringir as regras.
Um pequeno sorriso escapou seus lábios, ao lembrar de quantas coisas vivera nessa escola, os bons e velhos tempos, de quando tudo era mais simples, mais normal, de quando tudo se resumia em afrontar Potter e humilhar a Granger.
O Potter fazia sabe-se-lá o quê depois de derrotar Lord Voldemort. Quem se importava? Costumava ver o Potter quase com a mesma freqüência que via sua esposa, já que Potter virara celebridade de fama interminável, além da fortuna, o que fazia com que ambos sempre fossem convidados as mesmas festas e freqüentassem os mesmos lugares.
Já a Granger... Esta ele vira algumas vezes. Não o bastante para reconhecer a postura formal da mulher que estava sentada ao lado de uma Weasley versão adolescente, das quais bem ao lado – um metro, mais ou menos – encontrava-se seu garoto, com a expressão mais indiferente possível – aprendera com o pai, afinal de contas – e respirava fundo de tédio.
Minerva ergueu-se da cadeira de sua sala, com a mesma expressão de Diretora de Hogwarts, antes de cumprimentá-lo com um discreto: "Sr. Malfoy, sente-se, por favor."
- Até que enfim! – Uma voz conhecida dissera, fitando-o de lado. – Achei que fosse perder o meu dia todo esperando o irresponsável aparecer...
O loiro voltou seu rosto até ela, reconhecendo o tom de mandona, e tentando ignorar a velocidade que seu coração passou a movimentar-se e a ânsia de lhe dar uma resposta à altura.
- O que faz aqui, Granger? – Perguntou, com um sorriso de deboche.
- Também fui chamada a essa reunião, caso não tenha notado. Reunião que deveria começar às 8hs...
- E daí...? – Ele dissera, erguendo uma de suas sobrancelhas como se a desafiasse.
- E daí que são 8hs e trinta...
- Nossa, sério? Agora você é uma sabe tudo do tempo também ou só olhou em seu relógio?
Uma onda de prazer preencheu seu peito quando a ouviu bufar de raiva.
Minerva, no entanto, antecipou-se.
- Chamei-os até aqui para conversar com os senhores sobre as atitudes inaceitáveis da senhorita Rose Weasley e do senhor Scorpius Malfoy um com o outro...
A confissão da diretora tomou a atenção dos quatro que se encontravam naquela sala.
- Atitudes inaceitáveis? – Repetiu, Hermione, tensa. – Como assim?
Draco olhou para o seu filho, rígido, como se perguntasse a mesma coisa, mas tudo o que Scorpius lhe respondeu foi um revirar de olhos.
- É a décima quinta detenção dos dois só esse mês... – Minerva recomeçou. – Em função de suas brigas...
- E o que espera que eu faça? – Draco falou, distante. – A Weasley deve ser a causadora de todos esses problemas...
- Está acusando minha filha?
- Você costumava ser mais esperta, hein Granger. – Draco respondeu-lhe, num sorriso sarcástico.
- Está óbvio que o seu filho é que deve provocar a confusão...
- O que está óbvio é que...
- Acalmem-se, os dois. – Minerva pediu, balançando a cabeça negativamente. – Por que não ouvimos a Srta. Weasley e logo depois ao Sr. Malfoy?
- Por mim tudo bem. – Draco começou. – Embora já saibamos que tudo isso é pura inveja da Weasley em relação a popularidade do meu filho.
- A que popularidade se refere, Malfoy? – Hermione perguntou, irônica. – Se ele for a sua cópia, o que eu não duvido, não vejo como ele pode ser popular pra mais do que três ou dois amiguinhos puxa-sacos.
- Acho que está falando de si mesma, Granger, porque que eu saiba, no nosso tempo, eu era o garoto mais popular de toda a escola...
Hermione bufou, incrédula.
- Como se você pudesse entender algo de popularidade, tsc tsc tsc. – Pausara. – Sempre foi uma sabe tudo idiota.
- E você que Gr, sempre foi o...
- Por Merlin! – Minerva suspirou, com a voz mais viva. – Precisam se controlar ou nunca resolveremos o que realmente nos interessa.
Ele grrrrr sabia como irritá-la, frustrá-la e – principalmente! – contrariá-la. Há anos que a castanha não sentia esse tipo cólera a ponto de esganá-lo só pra provar que estava certa. Ele tinha algo de anormal no jeito pacífico... E d'aonde ele tirava esse sarcasmo? Como ele podia ser tão cínico mesmo não sendo mais um adolescente? Como – diabos – ainda sabia como fazê-la perder o controle? E ainda por cima o babaca não estava por baixo. Não que um dia ela houvesse desejado o mal dele ou algo assim, mas ele precisava continuar tão... ele mesmo? A mesma postura superior, o maxilar firme, os olhos sombrios e as ironias. Era como se os anos não houvessem passado pra ele, como se ele e o filho fossem irmãos.
Aquilo. Não. Era. Justo!
E ele ainda tinha aquele coisa de argh parecer sexy. Mesmo que antes de ser sexy ele fosse idiota, arrogante, nojento, filho da p e... E... Asqueroso! "É!", Hermione concordou, mentalmente.
- Pode começar, Srta Rose. – Minerva pediu, censurando Draco e Hermione.
Um sonho pra mim
– Qual foi o motivo da briga, Srta Weasley?
- O de sempre. – Rose retrucou, com a voz irritada, como se a qualquer momento fosse sacar a varinha e mandar um Crucios no filho do loiro.
- E qual é o motivo de sempre...? – Minerva pressionou.
- Ele é um idiota. Fim. – Falara, cruzando os braços.
Pôde-se ouvir um pequeno risinho irônico fugir da boca do Malfoy mais jovem, seguido de um "Tsc tsc tsc..." que Draco assistiu em silêncio.
A pequena Weasley teve exatamente a mesma reação que a mãe tivera mais cedo: bufara.
- Só isso que tem a dizer, Srta?
Rose fizera que sim com a cabeça, com um olhar desafiador na direção de Scorpius.
Hermione acompanhou a cena intrigada, quando observou Scorpius erguer uma de suas sobrancelhas. Por que aquele moleque parecera se afetar com o ódio de Rose? Parecia quase anti-Malfoy. A castanha tinha absoluta certeza que este era o tipo de atitude que Draco nunca tomaria.
- Pois bem, e quanto a você Sr. Malfoy? O que causou tantos desentendimentos?
Scorpius pareceu pensar por alguns segundos, como se tivesse dúvida de algo.
- Eu e a Weasley nos odiamos... E está bem óbvia a razão. – Indicou, indiferente. – Não dá pra dizer logo qual o castigo vai ser dessa vez? Tenho treino em 15 minutos, tsc tsc tsc...
- Covarde. – Fora o murmúrio quase inaudível da ruiva.
Hermione, Draco e Minerva franziram o cenho, a procura do restante da história, enquanto dirigiam-lhe o olhar.
- O que disse, filha? – A castanha perguntou, curiosa.
- Nada não. – Respondera, para logo após cruzar os braços e desviar o olhar para um ponto qualquer.
- Você é que uma covarde, Weasley. – Scorpius começara, chamando a atenção de todos. – Por que não diz a eles?
- Isso realmente está começando a ficar irritante. – Draco iniciara, revirando os olhos.
- Odeio dizer isso, mas eu concordo com Malfoy. – Hermione frizara. – Se algum de vocês tem algo a dizer, agora é o momento...
- Okay... – Scorpius começara, respirando fundo. – Eu e Rose estamos saindo e...
- Vocês o quê? – Hermione vociferou, fitando-o. – Desde quando?
– Isso não teve graça, Scorp. – Draco murmurou, com cara de tédio, embora houvesse dado um sorriso de diversão diante do desespero da Granger.
O filho do loiro revirou os olhos, continuando como se não houvesse sido interrompido nunca.
- Estamos saindo há algum tempo, Sra. Granger. – Falou, respondendo a pergunta da castanha.
Hermione sentia-se tonta com a revelação. Era difícil até mesmo respirar.
Draco tinha uma expressão de desprezo inigualável no rosto, e fitava o pequeno e inocente sorriso pregado na imagem da pequena Weasley com deboche.
Granger sabia que aquilo poderia ser verdade, pelo simples fato que Rose ainda não negara nada até então e – por Merlin! – a ruiva parecia até mesmo feliz com a revelação do loiro.
- Rose Weasley, pode me explicar que história é essa de estar saindo com... – Dirigiu um olhar questionador sobre a figura sarcástica tanto do pai quanto do filho. – Com esse moleque?
- Granger, não precisa fazer esse teatro barato. Todo mundo aqui sabe que você que mandou sua filha seduzir o Scorp, pr...
- O quê? Se alguém aqui seduziu alguém está bem claro que foi esse moleque... Por Merlin, Rose é uma criança, ela só tem 13 anos...
- E uma mente de golpista, eu aposto!
- Pai... – Scorpius começara, chamando a atenção. – Eu amo a Rô...
- Claro que ama, meu filho, mas não se preocupe, já já internaremos você no St. Mungos pra descobrir qual a foi a poção que lhe obrigaram a tomar...
- Ninguém me obrigou a tomar ou fazer qualquer coisa. Eu realmente gosto dela.
- Gosta? – O loiro pausara. – Então talvez esteja passando o efeito, até 2 segundos atrás você a amava...
- Eu gosto, amo... Tanto faz, quero passar o resto da vida com ela!
- Você não.. – Malfoy pausou, com a voz grave. - Pode dizer esse tipo de coisa nem mesmo brincando...
- E tem mais... – Rose tomara a palavra, respirando fundo.
- Mais? – Hermione gaguejara.
- Vai dizer que vocês se casaram em Las Vegas? – Draco ironizara, como se aquilo fosse um grande circo de horrores.
- Eu tô grávida. – Rose murmurou, com a voz baixa, e olhos marejando.
- O QUÊ? – Hermione gritou, fitando-a como se nunca a tivesse visto.
Draco arregalou os olhos quando seu filho foi até a garota de cabelo estranho e entrelaçara suas mãos.
- AH. MEU. MERLIN... – Hermione começara, sentando-se.
Draco estava mais preocupado em passar a mão do rosto para os cabelos, como se estivesse desnorteado. E talvez ele estivesse, porque pra começar, SEU FILHO ERA UM IDIOTA...!
Minerva parecia uma estátua, quase não possuía uma reação que valesse a pena descrever.
- Vocês não... Ah meu Merlin... Isso é ridículo... Vocês só tem 13 anos! Como pode? – Hermione pausara, olhando para a filha. – Me diz, Rose! Como pôde? E ainda mais com... Argh, ele!
- Ele não é Draco Malfoy, mãe, ele é o Scorp. Eles não são a mesma pessoa e nunca vão s...
- Você é cega ou quê, Weasley? – Draco murmurou, sarcástico. – Scorpius é quase o meu clone. – Dera uma segunda pausa, fitando com desgosto aquela união. – Tirando o fato de que talvez ele não tenha um cérebro...
- Cala a boca, Malfoy. – Hermione falara, desprezando-o. – Tem certeza, minha filha? Já foi ao médico? Você não... Não pode estar...
- Grávida? – Rose completou, segura. – Nem todo mundo pode ser a garota perfeita que você foi.
- Há quanto tempo? – Foi a pergunta da castanha, amarga.
- Oito semanas. – Scorpius respondera, abraçando Rose por trás, com algum tipo de inocência que não parecia própria dos dois.
- Tem certeza que o filho é seu? – Draco perguntara, tenso.
Hermione lhe fuzilara com o olhar.
- Você é cego ou quê, Malfoy? – Pausara. – Não está vendo os dois juntos? É óbvio que o filho é dele!
- Óbvio pra quem? – O loiro perguntara. – Pode muito bem ser de outro...
A castanha não aguentara e dirigira-se rapidamente até ele.
- Outro? – Vociferara, de frente para o irritante. – Está insinuando que...
- ...Que a sua filha pode muito bem ter dado o golpe da barriga fazendo com q...
Slapt. Fora o som da tapa que recebera. A tapa mais bem dada que Hermione já fora capaz de dirigir. Que ainda ardia no rosto dele, o exato comprimento dos dedos dela.
- Nunca mais repita isso, Malfoy. – Ela alertara. – Ou eu não falo por mim...
- Você já falou demais por si mesma até agora, eu garanto. – Ele ironizou, seco.
– Eu sou o pai. E não preciso de provas. – Dissera Scorpius, seguro.
Hermione não mudou sua expressão dura, mas por dentro aquela confissão fora como um alívio. Era bom saber que talvez aquele moleque não fosse tão idiota quanto o pai.
- Por Merlin... – Hermione suspirou. – O que vocês dois... Vão fazer agora?
- Estivemos pensando em criar essa criança e... hã, casar.
- Isso é ridículo, Scorpius... – Draco começara, sério. – Você não entende nada de amor e responsabilidade. Principalmente de responsabilidade.
- Casamento é obviamente uma coisa precipitada. – Hermione concordou. – Mas assumir o bebê já indica alguma maturidade.
- Scorp, Weasley fêmea, Minerva... – Draco enumerou, pausando. – Se não se importarem, tenho pouco tempo pra estar aqui e se puderem sair da sala pra que eu e a Granger possamos chegar a um acordo sobre esse aberração de relacionamento precoce... Eu agradeceria. – Terminara, num sorriso falso. – Aliás, não agradeceria não. No momento eu me sinto puto demais pra ser educado. – Dissera, dando um olhar frio a todos.
E quando eu não te vejo,
eu penso em você
- Você é um idiota, não precisava ter feito isso. – Ela murmurou, desviando o olhar.
- Claro que precisava Granger. – Ele afirmou, confuso.
- E muito menos afirmado que a minha filha é uma qualquer.
- Ok, eu exagerei. – Falara, erguendo as mãos como se dissesse um Me processe.
Hermione voltou a fitar o chão, sentindo-se infinitamente a figura mais bizarra do planeta.
- Ela tá grávida, Malfoy... – Falara, tensa. – Grávida. E só tem 13 anos... Isso vai ser um escândalo.
- Eu sei. – Respondera, ainda quieto.
- Ronald vai ficar... acabado.
- Foda-se o Weasley, Granger. – Draco dissera, um pouco puto. – Eu vou ser avô...
- Ele pode expulsá-la de casa, você entende isso?
- Claro... Mas você não vai deixar ele fazer isso e não é como se ele tivesse algum poder moral dentro daquela casa.
- Eu sei. Mas ele pode não suport...
- Ainda vai pedir o divórcio, certo Granger? – O loiro a pressionara, penetrante.
- Não posso fazer isso. Não agora que os imbecis dos nossos filhos resolveram que seria normal assumir uma criança tendo apenas treze anos e ainda por cima fazerem planos de casamento... Casamento, Malfoy! Filhos, casamentos, netos... Acho que isso vai ser o bastante pro Ronald. Ele não saberia lidar com um divórcio. Não com todas essas coisas acontecendo...
- E quem disse que eu tô preocupado com o ego do Weasley? – O loiro dissera. – Ok, nossos filhos são idiotas, não tem um pingo de responsabilidade e pensam que a vida é um conto de fadas com amor e ódio, mas... E daí? Só por que o Weasley não tem ego pra enfrentar os próprios problemas não significa que eu deva ficar que nem um imbecil esperando o tempo todo...
- Só estamos saindo há alguns meses, por Merlin! – Hermione retrucou, suspirando.
- E eu tive coragem pra pedir o divórcio. – Falara, cômodo. – Acha que Astoria não chorou ou não fez todo o tipo de ameaças?
- Eu sei que foi difícil, mas... – Pausara. – Não posso deixar o Ronald assim. E de qualquer forma, não é como se fossemos assumir um romance pro mundo bruxo...
- Na verdade, Granger, - Pausara, sério. – Era exatamente isso que eu estava pensando. – A voz ficara cada vez mais seca. – Ou acha que eu sugeri toda essa coisa de divórcio pra viver de encontros secretos e fingir que eu sinto nojo do seu sangue?
- Você sente nojo do meu sangue. – Ela confirmara, sarcástica.
- Olha pra mim, Granger. – E ela olhou.
As respirações se misturavam. Os olhares permaneciam. Era simplesmente fácil olhar nos castanhos, nos azuis, e ver o reflexo ou ver mais do que o próprio reflexo.
- Eu não quero mais fingir... – Ele falara, como se no fundo fosse um pedido silencioso.
- Ninguém vai entender nada, Malfoy.
- E não espero que alguém entenda.
- Você é um egocêntrico. – Ela falara, abrindo um sorriso minúsculo.
- E você é minha. – Ele completara.
- Só mais dois meses. – Pausara. – Dois meses e eu resolvo.
- Trato feito. – Ele sorriu, antes de beijá-la.
Desde o amanhecer,
até quando eu me deito.
