Bom gente, essa é minha primeira história aqui. Espero que gostem! Sempre li muitas fics sobre James e Lily e finalmente decidi escrever a minha. Enfim, sem mais demoras.

Shall The Story Begin.


Lilian Evans. Sim, essa sou eu. Não estou acostumada a ter crises existenciais, muito menos por causa de um ser com uma complexidade mental tão insignificante e simplória. Digamos apenas que ele... me vence pelo cansaço e acredite em mim, quatro anos de uma intensa batalha contra seu charme irritante não é pra qualquer uma. E eu não vou mentir, James Potter é extremamente charmoso, principalmente nos últimos meses. O quadribol o fez muito bem, seu corpo que o diga. E aqueles olhos amendoados, que brilham todas as vezes que me olham. Aquele sorriso irritante que ele mostra pra qualquer uma, como se fosse uma arma mortal. Okay, Lilian Evans, não vamos elogiar demais que é capaz da digníssima pessoa descobrir tais pensamentos por sua tamanha obsessão por mim.

Enfim, a questão é: talvez, com uma probabilidade mínima, eu possa, duvidosamente, estar, como se diz, gost... É. Não consigo. Simplesmente não consigo concluir essa frase, nem mesmo em pensamento! Argh, só de pensar nisso meu estômago revira. E eu não tenho amigas com quem eu possa discutir esse assunto. Não que eu não tenha amigas, é mais como se as minhas amigas fossem conspiradoras. Basicamente, elas são. Sempre com o papo de que o Potter é legal, você deveria dar uma chance pra ele!, elas dizem. Por favor, como se eu pudesse... não é? Quer dizer, sair com o Potter... Ele é um metido e pensa que todas as mulheres devem beijar o chão que ele pisa só porque ele é muito bom em cima de uma vassoura e é inteligente e bonito e interessante... Tudo bem, ele tem qualidades, mas ele tem muitos defeitos!

Merlin entende os meus receios. Potter é um idiota, acéfalo, metido, arrogante, presunçoso, prepotente e acima de tudo, uma galinha! Como eu poderia sair com ele? E afinal, pra quê sair com ele? Para entrar em uma lista estúpida, que ele tem porque eu já até confisquei, e depois ser dispensada como um brinquedo usado? Eu sou muito melhor que isso, e nós mulheres temos que nos valorizar. Não fomos humilhadas todo esse tempo e finalmente reunimos força para combater esse terrorismo machista para nos botarmos no mesmo nível dos homens. James Potter, com certeza, é um terrorista.

E você pode se perguntar, por que agora? Por que tudo isso veio à tona, logo agora? Uma semana antes de acabar meu sexto ano? Bem, Potter sempre teve o (des)prazer de infernizar todos os meus dias com pedidos para sair e azarações. Isso não é novidade, acontece que, na semana passada algo muito estranho aconteceu.

Lá estava eu, monitorando o corredor principal, como sempre faço nas terças e quintas à noite e ouço alguns barulhos estranhos vindos do lado de fora. Parecia alguém agonizando e duas outras pessoas brigando, dizendo coisas sem sentido. Sempre fui curiosa, talvez seja uma maldição afinal, mas não é algo que se controla, você nasce assim. Peguei minha varinha e andei cuidadosamente até o portão que já estava entreaberto. Quando cheguei mais perto, percebi que as vozes eram de Peter e James. Revirei os olhos e abri o portão. Estava pronta para dar uma detenção a Potter quando a visão que eu tive me atingiu como um soco. Severo estava com o braço sangrando, apoiado à parede enquanto os dois marotos brigavam entre se e apontavam a varinha para ele.

- Expelliarmus! – gritei imediatamente e as duas varinhas voaram até a minha mão.

- Lily. – Potter disse atônito e surpreso. Ele não parecia estar bem e tinha um arranhado em seu rosto. Pettigrew guinchou e encolheu-se.

- O que está acontecendo aqui? – perguntei com urgência. – O que vocês fizeram com o Sev?

- Não é o que parece. Eu posso explicar. – disse Potter rápido.

- Não é o que parece? Pareceu-me bem claro, você dois resolveram, mais uma vez, levar o Severo para uma emboscada e atacá-lo sem que ele pudesse se defender. Qual o seu problema, Potter? – eu perguntei irritada, mas não era hora para se argumentar, precisava levar Severo para a ala hospitalar o mais rápido possível.

- Lily-

- Quer saber Potter, eu não quero ouvir suas desculpas, vou levá-lo para a ala hospit-

- Quem está aí? – Filch apareceu com madame Nora e pareceu feliz ao nos ver naquela situação. – Ah, Potter, dessa vez você me paga, - olhou para Snape e pareceu ainda mais feliz. – Dumbledore vai adorar receber você, acabou de chegar de viagem.

- Filch, Severo- tentei argumentar, mas Filch não ouviu, mas por sorte, ou não, Dumbledore apareceu na mesma hora.

- Algum problema Filch? Estava indo até a cozinha e... – ele parou de falar e olhou para todos nós. Eram raras as vezes que se podia ver o diretor com o mesmo semblante que apresentava. Um arrepio percorreu meu corpo ao me deparar com o olhar sério de Dumbledore. – Senhorita Lilian, por favor, leve o senhor Snape até a enfermaria, depois falarei com vocês. Senhor Potter e senhor Pettigrew, me acompanhem.

Não esperei uma segunda ordem. Devolvi as varinhas para os dois marotos sem olhá-los e fui até Severo, que não tinha falado nada até agora. Ele parecia estar em choque e tremia. Uma de suas mãos segurava o braço ensanguentado. Tentei falar com ele, mas ele não respondia. Apenas me olhou de um jeito que me assustou. Hesitei, mas puxei-o da parede e começamos a andar até a ala hospitalar. Passamos por Filch que balbuciava algo maldoso e sorria enquanto conversava com aquela gata esquelética. A caminhada foi um tanto lenta por causa de Severo, mas logo chegamos.

Madame Pomfrey apareceu logo em seguida e guiou severo até uma cama, perguntando o que, por Merlin, tinha acontecido. Bem, o que eu poderia dizer? Eu tinha suposições, mas não sabia ao certo. E então, pela primeira vez, ouvi Severo.

- Eu fui atacado. – aquele mesmo olhar sinistro estava presente, mas ele parecia estar melhor do que antes enquanto falava.

- Atacado pelo que, querido? – ela perguntou preocupada.

- Lobisomem.

- O que? – eu perguntei assustada. Como assim? Lobisomem? Ele estava sozinho, com James e Pettigrew. Se tivesse um lobisomem ali eu com certeza notaria. E então um clique em minha cabeça clareou a situação. Arregalei os olhos.

- Remo Lupin. – disse apenas e por um segundo eu pensei ter vislumbrado um sorriso.

Madame Pomfrey, assim como eu, pareceu atordoada com a notícia. Mas não pareceu surpresa com o fato de Remo ser um lobisomem. Bem, ele sempre passava uma temporada na ala hospitalar de mês em mês, era óbvio que ela saberia. Merlin, se Severo tiver sido mordido... Remo com certeza seria expulso da escola.

- Ele te mordeu ou apenas arranhou? – perguntou a enfermeira preocupada.

- Arranhou. – ele respondeu a contragosto, parecia que algo havia acontecido e que ele não estava dizendo. Eu conhecia Severo muito bem para saber quando ele estava escondendo algo.

- Muito bem, - ela disse mais aliviada. – vamos dar um jeito nesse machucado e você deverá ir até a sala do diretor quando terminarmos. – ela agitou a varinha e murmurou o feitiço: Vulnera Sanentur. O ferimento no braço de Severo logo cicatrizou e ele pareceu estar melhor.

- Obrigada, Madame Pomfrey. – eu disse, sabendo que Severo não agradeceria. - Vou levar Severo até Dumbledore.

- Por nada, querida. Senhor Snape, tome mais cuidado. Se não se sentir bem, retorne aqui o mais rápido possível. – ela disse cautelosa. Severo apenas se levantou e rumou até a porta. Eu sorri sem graça e o segui.

Ficamos em silêncio enquanto íamos até a sala de Dumbledore. Queria perguntá-lo o que fazia fora da cama e como fora atacado por Remo, mas eu tinha medo. Exatamente do que, eu não sabia. Tinha um mau pressentimento sobre essa história. Antes de chegar até a gárgula eu parei.

- Sev. – eu chamei-o.

- Resolveu falar comigo de novo? Ou vai defender seus amiguinhos? – ele disse sem me olhar.

Levantei uma sobrancelha, controlando minha irritação. A culpa de nos afastarmos era completamente dele. Me ridicularizar na frente de todos e me chamar de sangue ruim... Sem contar as suas amizades duvidosas. Mesmo assim, ele fora importante pra mim e ainda me preocupava com ele.

- Eu não quero discutir com você. Você é meu amigo Sev, ou pelo menos eu achei que era. Mesmo depois de tudo, eu ainda me preocupo com você. – eu disse realmente preocupada.

Ele hesitou antes de olhar pra mim, mas tinha um sorriso no rosto. Sev sempre me pareceu um cachorrinho abandonado, procurando por carinho e abrigo. Descobri o que era ser bruxa com ele, estudamos juntos, descobrimos sobre esse mundo novo, juntos. Mas, nesses últimos anos ele mudara. Havia partes nele que eu não mais conhecia e até mesmo receava. No entanto, eu tinha esperanças de que ele ainda era aquele garotinho tímido que eu conhecera.

Antes que ele pudesse me dizer alguma coisa, a gárgula a nossa frente começou a se mover e a professora McGonagall desceu com Potter e Pettigrew. Ela carregava um semblante preocupado e ao mesmo tempo nervoso. Atrás dela apareceu Black, com marcas de arranhado por todo o corpo. Franzi o cenho, supondo que ele estivesse com Remo na hora em que eu vira os outros dois marotos. McGonagall virou-se para mim e Severo e nos mandou acompanhá-la. Respirei fundo e passei pelos três sem olhá-los. Mesmo assim, percebi que todos estavam tensos, principalmente quando o sonserino passou para o lado da professora.

Subimos pela gárgula e McGonagall abriu a porta para nós. Dumbledore tirara os óculos e estava com os dedos entre os olhos quando entramos. Ele me pareceu tão cansado. Ultimamente ele viajava bastante, imagino que nesses tempos de guerra ele andava bastante ocupado. Ele nos mirou e nos pediu que sentássemos. Sentamos nas duas cadeiras a frente de sua escrivania enquanto McGonagall se prostrava atrás de nós.

- Muito bem, Severo. – disse Dumbledore enquanto colocava de volta os óculos. – Seus colegas me contaram suas versões do ocorrido. Gostaria de ouvir a sua. Imagino que a senhorita Evans também. – disse e sorriu para mim. De fato, eu estava curiosa.

Esperei por Severo dizer algo, mas nada saiu. Ele pareceu agitado ao saber que eu também estaria ouvindo. Ele me olhou de relance e mais uma vez aquele olhar estranho. Mirou o professor que pacientemente o esperava e suspirou.

- Hoje à tarde, eu estava andando pelos corredores quando topei com Black. Ele estava azarando um garoto da sonserina. Eu apenas queria ajudar o garoto. Mas Black revidou e duelamos. Ele... me derrubou e começou a rir. Disse que se eu quisesse, hoje à noite eu encontraria uma diversão muito interessante perto do salgueiro lutador. – ele falava com certa vontade. Dumbledore ouvia sem fazer qualquer movimento ou julgamento.

Engoli em seco. Sirius às vezes me irritava profundamente. De certa forma eu o odiava menos que Potter, mas dessa vez ele simplesmente superara. Incitar Severo até Remo, por pura picuinha infantil!

- Naturalmente, o senhor foi até salgueiro lutador... – concluiu Dumbledore.

- Sim. Mas não havia nada. Pensei que era uma emboscada para Filch me pegar, mas então eu vi o lobisomem. – cuspiu as palavras com desgosto. Era visível seu nojo por Remo. Me senti incomodada por aquilo. – Ele não tinha percebido que eu estava lá, tinha um rato em cima dele. E um cervo. Achei estranho e não soube o que fazer. Minha varinha estava acessa e logo ele percebeu. Ele correu pra cima de mim e eu tentei correr também, mas ele era muito rápido e me arranhou. – ele pausou como se não quisesse continuar. Dumbledore sabia que havia mais na história, esperou o garoto continuar a contragosto.

- Ele ia avançar em mim novamente e nessa hora Sirius apareceu. Ele pareceu surpreso e ria ao mesmo tempo. Ele me disse que só um idiota iria atrás de um lobisomem. – revelou sem emoção. Sirius, seu idiota! – Ele tentou deter o lobisomem, mas ele parecia imune contra feitiços e então, quando o lobisomem tentou me morder, o cervo pulou na frente e me empurrou.

Severo não pareceu feliz. Dumbledore não esperava que ele dissesse mais. Mas eu fiquei sem entender. Afinal. Um cervo? O que ele fazia lá? E um rato? E quando Pettigrew e Potter apareceram? Olhei para Severo esperando que ele respondesse minhas perguntas silenciosas, mas ele continuou mirando o pé da cadeira. Dumbledore respirou fundo e me olhou. Ele parecia realmente cansado.

- Imagino que se esteja se perguntando como a situação rumou para aquela que a senhorita presenciara ao lado de fora do castelo. Bem, Severo aparentemente correu até o castelo em busca do professor Slughorn para avisar sobre o senhor Remo Lupin, mas no caminho encontrou o senhor Potter e o senhor Pettigrew. Ambos tentavam convencê-lo a não contar o ocorrido para ninguém. Foi quando a senhorita chegou e os abordou.

Dumbledore sorriu para meu semblante intrigado. O que eu poderia dizer? Bem, eu estava chocada. Eu já sabia sobre Remo há muito tempo, se qualquer pessoa prestasse atenção como eu, perceberia. Mas o pior foi saber que Sirius, sabendo da condição do amigo, achara divertido meter Severo no problema. Era óbvio que nada disso seria bom. E onde estavam Pettigrew e Potter? Estariam eles metidos na brincadeira? Eram tantas dúvidas, mas nenhuma eu poderia perguntar diretamente ao diretor. Olhei para Severo que não falava nada e depois voltei a olhar para o diretor. Ele me olhou e sorriu antes de começar a falar.

- Bem, ambos devem estar cansados. Com certeza não esperavam se deparar com uma situação como esta. No momento, o que podemos fazer é agradecer pela sorte que o senhor Severo teve por não ser atacado por Remo. Espero contar com a discrição de ambos. – ele disse sério. Assenti positivamente enquanto Severo não pareceu feliz.

- Professor, ele é um monstro! – disse indignado. – Como o senhor pode permitir que aquela coisa fique aqui em Hogwarts?

- Senhor Snape, ao que concerne Hogwarts é problema meu. O senhor Lupin está sobre meus cuidados. Tenho certeza de que nada parecido com essa triste situação ocorrera antes e muito menos que venha a acontecer novamente. O senhor Black se arrepende pelo que tenha dito e com certeza pagará por sua infeliz brincadeira. Mas não é algo que você tenha de se preocupar. O senhor Lupin continuará estudando em Hogwarts e peço – disse cada palavra com uma seriedade de dar medo. – que não mencione o ocorrido com ninguém. Entendido?

Severo concordou revoltado. Me senti mal por Remo. Com certeza Severo não diria nada, Dumbledore poderia até se parecer com um bom velhinho, mas era assustador quando irritado. Dumbledore nos dispensara e mais uma vez pedira por discrição. Nos despedimos e a professora McGonagall que nada dissera, nos acompanhou até a gárgula. Severo saiu apressado pelo corredor e eu o segui.

- Sev, espera. – disse, puxando sua capa.

- Não temos nada para conversar Lily. – disse sem me olhar.

- Como não? Você foi atacado por Remo... Um dos marotos, quem você tanto odeia.

- Eu não vou dizer nada sobre seu amiguinho, Dumbledore deixou isso bem claro. – ele disse me interrompendo. Suspirei. Claro que eu estava preocupada com isso, mas ele também me preocupava.

- Você está bem? – perguntei.

- Sim. – Ele respondeu simplesmente e me olhou como se quisesse dizer algo. Por um momento eu pensei ter visto a mesma pessoa que eu conhecia antes de chegarmos a Hogwarts. Ele balançou a cabeça e retornou a falar. – Eu vou para minha sala comunal. A gente se vê.

- Tchau Sev. – eu disse derrotada.

- Tchau Lily. – ele se despediu e eu senti como se ele quisesse dizer algo mais naquelas palavras.

Comecei a ir até o salão comunal da Grifinória, mas segui até a suíte de monitor. Precisava de um banho demorado naquela banheira divina. Disse a senha e entrei no quarto. Tirei minhas roupas sem cerimônia. Abri a porta do banheiro após pegar meu roupão e minha toalha em um dos armários. Agitei a varinha para ligar as torneiras e sentei na cadeira que estava perto da beirada da banheira. Em menos de um minuto ela estava cheia e o cheiro de lírios preenchia todo o banheiro. Levantei e mergulhei na água quente. Senti todo meu corpo relaxar. Continuei nadando até o fundo.

Às vezes eu me perguntava como os sereianos se sentiam, podendo respirar embaixo d'água e nadar livremente, sem a gravidade querendo mandá-los para a superfície. Estava ficando sem ar e começava a me incomodar. Nadei até a borda e respirei fundo. Meu cabelo molhado escorria e meus olhos ardiam por causa do vapor quente que emanava.

Respirei fundo mais uma vez e me afastei da borda, deixando meu corpo boiar até o meio da "piscina". Eu estava cansada. Bem, o sexto ano estava acabando e eu deveria escolher um rumo para minha vida. Nunca tive problemas com decisões importantes e já até tinha certa noção do que eu queria fazer. Não era isso que me incomodava. Era essa minha necessidade de fazer as coisas ficarem certas, de arrumar soluções para os problemas. Eu sabia que Remo precisaria de apoio, principalmente agora. Mas ele tinha os marotos ao lado dele, não precisaria especificamente de mim... Ainda assim, eu me sentia tão mal por ele.

Deve ser tpm. Ah, provavelmente é. Mas que se dane. Eu nunca posso chorar, eu nunca me permito ser fraca. Pelo menos agora, eu posso deixar as emoções fluírem, não posso? Comecei a rir com esse pensamento. Lilian Evans chorando por causa de tpm. Tantas coisas pra se chorar e eu aqui chorando por isso. Enxuguei as lágrimas e olhei para o teto encantado. A lua cheia ofuscava o céu cheio de estrelas. Remo já deveria estar na ala hospitalar. Nadei até a escada da banheira e peguei a toalha. Enxuguei meu corpo e meu cabelo. Vesti o roupão e fui até o quarto. Abri outro armário e peguei uma muda de roupas limpas. Peguei as roupas que estavam na cama gigante e coloquei no cesto de roupas sujas. Calcei minha bota e peguei minha capa verde. Passei pela porta de mármore e selei com a varinha.

A ala hospitalar não era muito longe. Andei calmamente até lá e entrei sorrateiramente. Madame Pomfrey brigaria se me visse lá. Como previsto, Remo já estava em uma cama. Parecia muito abatido e mais velho do que realmente era. Apesar disso ainda era muito bonito. Abaffiato. Conjurei o feitiço para que ninguém ouvisse meus passos. Remo percebeu minha presença e me olhou surpreso. Eu sorri sem graça. Ele olhou para o lado esquerdo da cama e pareceu preocupado. Olhei sem entender, mas ele sorriu.

- Ah, ninguém pode nos ouvir. – eu disse achando que esse era o motivo de preocupação.

- Imagino que não. – disse divertido, mas depois ficara sério. – O que faz aqui Lily?

- Bem... Eu fiquei preocupada. – eu disse me sentando ao seu lado e fechando o biombo para que Madame Pomfrey não pudesse nos ver.

- Pensei que não fosse querer me ver de novo. Depois... de saber. – ele disse me evitando olhar.

- Ah, Remo. É esse tipo de pessoa que você acha que eu sou? – eu disse me sentindo de certa forma insultada. Ele pareceu surpreso. Eu sorri, compreensiva. – Eu já sabia. Há muito tempo.

- Desde quando? – ele perguntou apreensivo.

- Desde o terceiro ano. Qualquer pessoa que prestasse bem atenção em você perceberia... E como você sabe, naquela época eu tinha uma paixão platônica por você. – eu disse com um sorriso sem graça.

- Ah. – ele disse e corou, olhando para o lado novamente.

- De qualquer forma, como você está? – falei, tentando mudar o assunto.

- Pior impossível. – disse com desgosto. – Dumbledore me falou sobre o que aconteceu e disse que eu não preciso me preocupar com Snape, mas não tenho tanta confiança assim.

- Ele não dirá nada. Eu prometo. – eu disse confiando apenas no respeito e medo de Severo pelo diretor.

- Espero que sim Lily... Hogwarts é o único lugar que eu tenho. – disse tristemente.

- Vai ficar tudo bem Remo. – eu disse e o abracei. Desde o segundo ano Remo Lupin era meu amor platônico. Inteligente, charmoso, bonito, legal, nunca participava das azarações de seus amigos. Mas no final das contas, ele era um bom amigo, que eu cultivei como um irmão. Era horrível vê-lo triste daquela maneira, sem poder fazer qualquer coisa. Continuei abraçada e senti-o tremendo em meus braços. – Tudo bem, eu tô aqui. – eu disse enquanto ele me abraçava mais forte.

Fiquei com Remo até ele dormir. Passei a mão por seus cabelos curtos e dei um beijo em sua testa. Já deveria estar amanhecendo. Eu também estava cansada. Verifiquei se Madame Pomfrey estava à vista e sai da ala hospitalar. Ainda estava escuro quando cheguei até meu dormitório. Minhas amigas não acordaram quando eu cheguei. Agradeci mentalmente por isso e deitei sem trocar de roupa. Minha mente trabalhava sem descanso, mas dois dias sem dormir era o suficiente para ir contra qualquer necessidade compulsiva de resolver as coisas. Meus olhos pesavam e dentro de dois minutos eu dormi. Lembro-me de ter sonhado com um campo de lírios. Alguém estava ao meu lado e sorria, que sorriso irritante...

Acordei com Lene do meu lado. Ela cutucava meus cabelos e dizia algo como estarem molhados. Droga, me esqueci de secar. Abri os olhos e revirei na cama, resmungando para me deixarem dormir.

- Quê? Lilian Evans querendo dormir mais? – exclamou Dory, rindo.

- Hoje foi um dia cheio. – disse sem pensar.

- HOJE? O que aconteceu? Finalmente cedeu aos encantos do seu amado James? – riu Alice. Elas tiraram o dia, novamente, para me encherem. Mas eu teria que contar o ocorrido uma hora ou outra não é mesmo? Respirei fundo e sentei na cama. Passei a mão pelos olhos e depois tentei consertar meu cabelo que estava completamente embaraçado.

Todas sentaram ao meu lado quando comecei a contar sobre Remo, Severo e os marotos. Marlene ficou indignada com a incompetência de Black e praguejou contra ele. Alice ficou preocupada que Severo contasse sobre Remo e Dory ficou calada. Sempre soubemos que ela gostava muito de Remo e que ela aceitava somente sair com ele sem compromisso porque já não conseguia ficar longe dele. Era óbvio que ela sabia sobre seu segredo, mesmo sem que ele soubesse disso. Doía nela não poder estar do lado dele naquele momento. Eu sabia que ela queria ter estado no meu lugar, mas o medo de perder Remo ao dizer que o amava e que sabia sobre o seu segredo a impedia de fazer qualquer coisa.

Não podíamos fazer muito sem que Remo suspeitasse que todas sabiam dele, então decidimos que somente eu poderia parecer estranhamente solidária a ele. Lene secou meu cabelo e o ajeitou cachos nas pontas. Agradeci e troquei minha roupa para uma saia pregada verde escuro e uma blusa branca com decote em v. Alice vestia uma saia rodada e uma blusa rosa bebê, com o cabelo preso com um laço. Lene usava uma saia curta e justa preta e uma blusa também preta e tinha os cabelos soltos. Dory também vestiu uma saia pregada na cor cinza e uma blusa de manga cumprida preta, com o cabelo anelado preso de lado. Descemos até o salão principal para tomar café da manhã. Passamos pelo salão comunal e não vimos nenhum maroto. Todos deveriam estar na ala hospitalar com Remo.

Tomei meu café tranquilamente, sem muita novidade. Um garoto da sonserina tentou azarar um grifinório e dei-lhe uma detenção. Teríamos aula de poções às 9 horas. Não consegui comer, apenas tomei café e suco de abóbora. Lene tentou me fazer comer, sem muito sucesso e Dory continuou quieta. Olhei de relance para ela e ela me olhou. Parece surpresa e sorriu sem graça, dizendo para eu não me preocupar. Ainda tínhamos um pouco de tempo antes de começar a aula. Passamos pela ala hospitalar para ver Remo, concordando em não fazer perguntas, como habitualmente.

Potter, Black e Pettigrew estavam lá. Suspirei. Odiava admitir, mas eu tinha acusado Potter injustamente. Meu orgulho estava ferido demais para pedir qualquer tipo de desculpas. Então agi como se nada tivesse acontecido. Eles nos olharam e disseram oi educadamente. Dory correu até Remo e, parecendo perceber que estava muito evidente, sorriu e disse que ele deveria se alimentar melhor para não ficar tão doente sempre. Remo pareceu aliviado e me olhou de relance, como se agradecesse por algo. Senti um aperto no coração por mentir para ele, mas Dory também era minha amiga.

Tentamos animar Remo enquanto os marotos simplesmente nos olhavam, sem dizer muito. Black parecia horrível. Tinha olheiras profundas e ainda dava para ver as marcas de arranhado em seus braços. Me perguntei como ele conseguira dar um jeito em Remo, sendo que feitiços não eram eficiente contra lobisomens. Bem, deve ter sido sorte. Potter me olhava constantemente, tanto que me deixava constrangida. Ele tinha essa mania, mas agora eu me sentia ainda mais incomodada. Evitei olhá-lo e disse que tínhamos que ir, porque o professor Slughorn notaria se muitos alunos faltassem à aula. Nos despedimos de Remo e dos marotos e fomos para a torre onde haveria aula.

Os marotos chegaram antes de nós e Slughorn expôs isso com diversão. Bem, eu também gostaria de saber sobre as milhares de passagens secretas que eles conheciam. Não parecia ter muitos lugares disponíveis. Dory e Alice sentaram-se juntas e sorriram sem graça para mim e para Lene, que tivemos que sentar com Potter e Black, respectivamente.

Potter pareceu inquieto. Olhei de lado esperando um convite para sair, como sempre, mas não veio. Ele estava sério e não me olhava. Um avanço, pensei. Talvez ele finalmente reconhecesse a impossibilidade de sair comigo. Me ajeitei na cadeira e comecei a copiar o que Slughorn falava. Potter simplesmente continuou olhando para o professor, mas não parecia estar absorvendo o que ele dizia. Alguma coisa nele estava estranha. O que eu ia fazer seria muito estúpido, confraternizar com o inimigo... Mas poxa, ele parecia tão preocupado. E James podia ser o maior idiota do mundo, mas eu sabia que ele era um ótimo amigo. Espera ai, eu falei James?

Antes que eu pudesse escrever um bilhete, eu acabei recebendo um. De Black. Primeiro eu pensei que seria um engano, ele provavelmente queria conversar com Potter e não comigo, mas estava claramente escrito Para Lily. Olhei de relance para Potter que olhava perigosamente para Black. Ergui uma sobrancelha e abri o bilhete.

Lily,

eu sei que você deve estar me odiando muito no momento. Nunca pensei que Snape seria idiota o suficiente para ouvir o que disse sem pensar. Não queria que as coisas tivessem acontecido como aconteceram. Você já deve ter perdido qualquer respeito por mim, mas, por mais difícil que seja pra você, não quero perder sua amizade. Eu sei que eu sou um idiota, e eu não deveria estar falando isso por um bilhete, mas eu sou orgulhoso, você sabe bem... Enfim, o que eu quero dizer é... Bem, desculpa.

Sirius.

Respirei fundo após reler o bilhete. Black era realmente um idiota, mas por mais idiota que fosse, ele ainda era meu amigo. Eu estava muito brava com ele, com certeza, e ele foi completamente insensível com Remo por dar Severo de bandeja para ele. Mas bem, ele era o Sirius Black, o idiota insensível, mas sempre disposto a ajudar os amigos. E ele me ajudara muito esse ano, quando eu pensei que não conseguiria mais sobreviver um dia. Ele entendia melhor do que ninguém, o que era ter sua família contra você. Meus pais eram ótimos, mas Petúnia conseguira destruir nosso laço com suas chantagens e mentiras. Sirius me apoiara quando eu precisei, sem pedir nada por isso e foi assim que ficamos, de certa forma, amigos. Peguei um pedaço de papel e escrevi.

Sirius,

não é para mim que você deve pedir desculpas. Você sabe que acima da minha raiva, está Remo. Você não deveria tê-lo envolvido na sua rixa com Severo. Sei que você está arrependido, pelo menos espero que esteja. Severo me garantiu que não dirá nada a ninguém. Mesmo assim, foi muito perigoso o que você fez. Severo poderia ter morrido e Remo seria preso. Eu vivo te alertando sobre suas brincadeiras, sempre te disse que você pode acabar fazendo algo realmente estúpido e bem, dessa vez você fez. Você também poderia ter morrido! Não imagino como você conseguiu escapar. De qualquer forma, você está bem e é isso que importa. Como eu disse, você deve pedir desculpas a Remo e não a mim. Não se preocupe, não deixarei de ser sua amiga, mas não pense que passarei a mão na sua cabeça.

Lily

Mandei o bilhete de volta para Black e vi que pela primeira vez Potter me olhava. Levantei uma sobrancelha e tentei parecer natural como sempre. Mas aqueles olhos amendoados me fitando não era uma coisa natural, Merlin, aqueles olhos eram sobrenaturais. Okay, Lilian Evans, o que há com você hoje?

- O que foi? – sussurrei olhando incomodada para ele.

- Quero conversar com você. – ele disse ainda me olhando.

- Se for pedir para sair comigo, saiba que a resposta continua sendo não. – respondi olhando para o lado.

- Não é sobre isso. – ele disse sorrindo fraco. Pegou um papel e começou a desenhar um mapa. Olhei desconfiada e ele me entregou o papel desenhado. – Me encontre nessa sala, hoje, às 18 horas.

- Por que tarde? – perguntei estreitando meus olhos.

- Eu tenho treino de quadribol. – respondeu dando de ombros.

- Hum. Tudo bem, Potter, mas não faça eu me arrepender. – eu disse.

- Não vai. – ele sorriu.

Olhei pra Black, esperando por uma resposta, mas ele discutia algo com Lene. Ela parecia nervosa e Slughorn não pode ignorar a confusão que eles faziam.

- Senhorita McKinnon, algum problema? – perguntou o professor coçando a cabeça já com poucos cabelos.

- Sim, professor. – respondeu a morena irritada. – O senhor Black é um completo trasgo e não consigo nem sequer sentar ao lado dele.

- Nesse caso, você pode trocar de lugar com a senhorita Evans. – disse o professor admirado com tamanha fúria. – Claro, se ela quiser.

- Ah, professor, ela iria adorar, não é Lilian? – perguntou Lene como se exigisse isso de mim. Levantei uma sobrancelha e concordei.

- Tudo resolvido então, onde estávamos? Ah sim...

Lene levantou bufando e Black parecia tão irritado quanto ela. Dei tchau para Potter que me sorriu. Sentei ao lado do grifinório e o fitei de lado, esperando ele se acalmar. Ele olhava para Lene com visível frustração.

- O que houve? – perguntei calmamente.

- Sua amiga é uma alucinada! – exclamou e ouvi Lene rir ironicamente.

- Shh. Senhor Black, terei que retirá-lo da classe? – perguntou o professor.

- Desculpa. – disse e cruzou os braços sobre o peito, girei os olhos e esperei o professor voltar a escrever no quadro.

- Abaffiato. – conjurei o feitiço e me virei para ele. –Agora, se você puder me explicar, calmamente, o que houve...

- Como eu disse, sua amiga é uma alucinada. – ele disse ainda exaltado.

- Black, fica realmente difícil extrair alguma coisa que preste dessa sua detalhada explicação – eu disse com ironia.

- Então, deixe-me te perguntar. O que você disse a ela? – ele me perguntou e me olhou intensamente. Lene deve ter deixado escapar alguma coisa. E agora? O que eu respondo?

- O que você quer dizer? – tentei agir como se não entendesse a pergunta.

- Você sabe Lilian. – ele disse estreitando os olhos. – O que você contou sobre aluado e o que aconteceu ontem?

Engoli em seco. O que eu falo? Se eu falar para Sirius que Lene sabe sobre Remo, com certeza ele falará e ainda brigará comigo. Remo vai assumir que Dory e Alice também sabem e isso será o fim do relacionamento entre ele e Dory... O que eu faço? Okay. Vai dar tudo certo. Respirei fundo e olhei para Sirius.

- Okay. Lene também descobriu sobre Remo. Assim como Alice e Dory. Todas nós sabíamos. Nunca falamos nada porque não é algo que nós devêssemos saber e é assunto do Remo e não nosso... Se Remo soubesse que nós temos conhecimento sobre a condição dele, ele com certeza se afastaria de nós. Eu o conheço muito bem. Por isso nunca dissemos nada. E espero, - dei ênfase na última palavra antes de continuar. – que você não diga nada disso para ele. Remo é muito importante para Dory. Eu sei que você não entende sobre sentimento Black, mas eu acho que você não quer atrapalhar mais isso. – sei que foi cruel, mas foi preciso. Sirius ficou sério e pareceu refletir sobre tudo.

- Tudo bem, eu não vou contar nada. Mas... – ele olhou misterioso, o que me fez sentir o perigo do que ele poderia dizer. – você me deve essa.

- Você tá brincando né? – eu disse enquanto ria. Inacreditável, realmente! Depois de tudo eu ainda sou chantageada por esse ser maligno.

- Bem Lily, querida, ele é um dos meus melhores amigos. Imagino que você entenda que guardar segredos de seus melhores amigos é algo muito difícil. – ele disse estreitando os olhos.

- Ótimo, Black. Como quiser. – respondi a contragosto.

- Não seja tão pessimista. Não vou te cobrar nada absurdo. – sorriu maroto.

- Claro. – olhei desconfiada. – Como se eu pudesse esperar menos de você.

Ele riu. Slughorn dissera para todos escrevermos pelo menos dois pergaminhos sobre as propriedades das pedras marcianas para a próxima semana e nos dispensou. Lene me esperava do lado de fora junto de Alice e Dory. Potter passou por mim e disse "até mais tarde ruivinha", o que me fez corar. Talvez de raiva, quem sabe arrependimento. As três me olharam com sorrisinhos ridículos. Girei os olhos e passei reto, descendo as escadas e indo para fora do castelo. Hoje era um lindo dia, perfeito para tomar um sol antes do almoço. Elas me seguiram rindo.

- Hey ruivinha, agora que James conquistou seu coração você não tem mais espaço para as amigas? – brincou Alice.

- Pois é, depois de tanto recusar, finalmente aceitou! – riu Lene.

- Vocês são piores que diabretes sabiam? – respondi nervosa, tirando a sandália para poder pisar na grama macia.

- Não seja malvada Lily, somos mais bonitas que diabretes. – disse Dory, sorrindo.

- Puro disfarce. – eu disse rindo e me sentei na raiz de uma árvore perto do lago.

- Diz logo vai, o que aconteceu? – quis saber Alice, sentando-se ao meu lado.

- É, você realmente aceitou sair com ele? – Dory sentou-se à sombra, não gostava muito de sol.

- Pelo que eu fiquei sabendo, eles vão se encontrar em uma sala abandonada. – comentou lene, sentando perto de Dory.

- Abandonada? Como assim? – perguntei, realmente não sabia. Apenas peguei o mapa.

- Oras, era a antiga torre de astrologia. Aparentemente a professora charlatona não concordava com a posição da torre e quis mudar. Desde então, aquela parte do castelo ficou abandonada. – respondeu Lene, divertida com meu semblante preocupado.

- Que ótimo. Não vou. – decidi, se James Potter achava que iria me aprisionar em uma torre abandonada, ele estava muito enganado.

- Não seja boba Lilian Evans! – disse Alice. – Por Merlin, deixe de ser cabeça dura, James não seria idiota de te colocar em uma situação em que ele pudesse simplesmente ser azarado por você. Ele não seria tão estúpido. Ele deve estar querendo privacidade. Talvez conversar sobre o que houve. Você vai hoje e vai escutar o que ele tem a dizer. – Alice parecia uma mãe às vezes, não dá pra simplesmente dizer não para as coisas que ela diz.

- Okay, mas se ele fizer qualquer gracinha, eu juro que o transformo em um guaxinim e o abandono na torre. – disse anotando mentalmente o feitiço que eu deveria usar caso viesse a precisar.

- Exagerada. – comentou Dory rindo.

Ficamos discutindo como Potter ficaria se transformado em diversos tipos de animais e objetos e chegamos à conclusão que um pavão seria a forma perfeita para ele. Logo as pessoas iam em direção ao salão principal e o cheiro de comida preenchia o ar. Almoçamos calmamente e depois fomos para a aula de poções. No caminho encontramos os marotos. Remo já estava melhor e poderia sair amanhã. Potter tinha aquele sorriso irritante de volta. De certa forma, eu me sentia mais aliviada ao olhar pra ele e ver que estava tudo bem. Ele me preocupou mais cedo, com aquela cara séria... O que eu estou dizendo? Potter, me preocupando? Por favor!

O professor Flitwick dividiu todos em grupos para treinar os feitiços de repulsão. Logo a sala se encheu de alunos gritando Flipendo e outros rindo enquanto alguns voavam para as almofadas no chão. Após uma hora, a maioria já dominava o feitiço e o professor passou três pergaminhos para a próxima aula.

Saímos da sala e os marotos tinham desaparecido. Não me preocupei, eles sempre arrumavam um jeito de desaparecerem por aí, sem que ninguém os visse. Alice e Dory tinham aula de adivinhação e Lene também tinha o horário vago, como eu. Nos despedimos das duas e fomos para o salão comunal. Sentei na poltrona e comecei a fazer o dever de poções.

- Ah, por favor, Lily, você não vai fazer isso agora? – perguntou Lene.

- E o que eu vou ficar fazendo Lene? Ver o tempo passar? – eu disse irônica, abrindo o livro de poções e fazendo anotações sobre a pedra de marte.

- Que tal se arrumar para ver James? – perguntou com escárnio.

- Você tá brincando né? – parei de escrever e olhei para ela. Não, ela não estava brincando. – Não vou me arrumar, vou exatamente como estou. – respondi voltando a escrever.

- Não mesmo! Como se eu fosse deixar. – exclamou Lene. Ela agitou a varinha e roubou meus materiais. Girei os olhos e peguei a varinha. Mas antes que eu pudesse conjurar minhas coisas de volta, ela escondeu naquela maldita bolsinha que engole tudo e só ela pode pegar. – Haha, Hagrid sabe mesmo dar presentes! Vamos, desista. Pelo menos se arrume um pouco Lily. Cadê seu orgulho feminino?

- Está guardado para quem merece. – respondi com mau gosto. – Não é um encontro. Ele só quer conversar comigo.

- Tudo bem, mas o que custa você se arrumar um pouquinho? – ela insistiu. – Só um pouquinho, vai...

- Você é insuportável Marlene McKinnon! – eu disse e me levantei. – Vou para meu quarto e depois encontrarei Potter. Tchau.

- Você é irritante Lilian Potter! – exclamou Lene, perplexa. – Você vai se arrepender, aposto como ele vai estar todo bonitão esperando algo de você.

- Bem, - eu parei antes de sair pela porta do quadro. – eu não prometi nada. Relaxa, depois a gente se fala. – disse e sai a tempo de ouvir um "Lily cabeça DURA".

Andei impaciente até meu quarto. Disse a senha e a parede de mármore se transformou em uma porta. Entrei no quarto e fechei a porta com a varinha. Me larguei na cama gigantesca que ficava no meio do quarto e senti meu corpo relaxar mais uma vez. Era tão bom ser monitora e ter todas essas regalias. Respirei fundo e virei, olhando para o teto. O céu estava limpo e ensolarado. Olhei no relógio de parede e marcava quatro horas. Pensei no que Lene disse. Talvez eu devesse me arrumar... pelo menos um pouco. Não é como se fosse um encontro, mas não vai doer se eu ficar um pouquinho arrumada.

Tudo bem Lily, você só precisa tomar um banho, se arrumar um pouco e encontrar o idiota do Potter. Só isso. Levantei da cama, tirei a roupa e coloquei no cesto. Peguei a toalha e o roupão e coloquei sobre a cadeira na beirada da banheira. Mais uma vez agitei a varinha e em um minuto ela estava cheia. Essência de lírios, como sempre. Era meu favorito. Mergulhei na banheira e senti a água morna esquentar meu corpo. Já estávamos em Junho e por mais que fizesse sol, o frio era constante. Boiei mais uma vez sobre a água e fiquei olhando o céu azul, com poucas nuvens. Fechei os olhos e não vi o tempo passar. Estava tão cansada. Poderia ficar ali até anoitecer. Abri os olhos e vi que o céu começava a adquirir um tom alaranjado. Ah, Merlin! Quantas horas seriam? Saí da banheira correndo e me sequei com a varinha. Não deveria ter lavado o cabelo, estava tão bonito com os cachos que Lene tinha feito! O que eu estou dizendo? É só o Potter, se for importante ele que me espere.

O que eu deveria vestir? Afinal, não era um encontro, mas não era uma ocasião qualquer... No final, decidi por usar uma saia de pregas azul marinha, uma blusa branca e meias 5/8 brancas. Sequei meu cabelo com a varinha e tentei fazer cachos como Lene, mas no final só consegui deixá-lo com um leve enrolado nas pontas. Passei um blush rosado e rímel preto. Mais que isso seria exagero. Meu protetor labial vermelho era o máximo que eu usaria. Sim, estava passando de bom! Peguei minha capa azul e coloquei para me proteger do frio. Procurei o mapa que Potter desenhara e calcei minha bota preta. Sai do quarto e lacrei a porta. De acordo com esse mapa eu deveria seguir pelas masmorras e entrar em um quadro depois de fazer cócegas. Seguir dois lances de escada e depois virar no corredor à esquerda. Seguir adiante e entrar na terceira porta à direita. Fácil!

Demorei um pouco, mas finalmente cheguei ao corredor. De acordo com o mapa, eu estava certa. Agora eu só precisava entrar na terceira porta à direita. Fácil. Você só precisa bater na porta Lily, só isso. Anda, bate na porta Lily! Por que meu coração tá acelerado, afinal? Nada demais está para acontecer. Okay. Respirei fundo, criando coragem. Senti meu rosto corar violentamente, mas quando toquei na maçaneta ela girou e Potter me olhou surpreso. Eu não sabia o que fazer. Eu deveria estar muito atrasada e então ele estava indo embora porque achou que eu não viria. É, eu sou tão previsível. Merlin, qual o seu problema? Por que James Potter tem que estar tão lindo nessa maldita blusa de frio preta, nem é tão especial assim, é só uma blusa, mas por que ele tem que ficar tão sexy nela?

Respirei fundo e recompus minha postura. Olhei para ele como se não fosse nada demais. Ele me olhou sem falar nada e estreitou os olhos. Qual o problema dessa criatura? Estou aqui, não estou? Ele deveria falar alguma coisa!

- Algum problema Potter? – perguntei ríspida.

- Ah, é você mesma. – ele olhou e riu. – Pensei que era almofadinhas...

- E por que Black estaria exatamente como eu? – perguntei ainda mais ríspida como se fosse a coisa mais idiota do mundo.

- Bem, não sei. Não pensei que você realmente viria... – ele disse sem graça, passando a mão pelo cabelo.

- Eu posso voltar se você quiser. – eu girei os olhos e disse sem vontade.

- Não, não. Desculpe. – respirou fundo e sorriu. – Bem. Então, oi. – ele pareceu nervoso o que me fez rir. – O que foi? – ele perguntou mais nervoso, o que me fez rir ainda mais. James era tão bobo que chegava a ser fofo. Será que era assim com todas as meninas que saía ou apenas comigo? Algo dentro de mim quis que fosse só comigo. Parei de rir. Não, é apenas James Potter.

- Não é nada. – sorri e olhei para a porta. – Então, posso entrar ou vamos conversar aqui mesmo?

- Ah, desculpe. – ele disse ainda sem entender e me deu espaço para entrar.

Parecia uma sala normal, mas não tinha carteiras ou quadros nas paredes como as salas normalmente tinham. As únicas decorações consistiam em almofadas de todas as cores espalhadas em um canto da sala, velas com formatos estranhos flutuando com candelabros por toda a sala e uma mesa redonda de vidro no centro, com duas cadeiras. O chão parecia ser feito de um carpete fofo e quando olhei para o teto vi que foi encantado para mostrar o céu. Era lindo, o céu estrelado parecia mais próximo do que o normal e mesmo a lua que brilhava intensamente não conseguia ofuscar tantas estrelas.

- É realmente lindo. – exclamei ainda olhando para o céu.

- Sim, deu trabalho pra fazer o feitiço, mas consegui. – sorriu ao ver minha expressão incrédula.

- Foi você? – perguntei ainda sem conseguir acreditar.

- Sim, Lily, fui eu. Você pode não enxergar isso, mas eu sou um tanto inteligente. – disse, passando a mão pelos cabelos úmidos, fazendo com que bagunçassem ainda mais.

- Seria fácil enxergar se você não ficasse bagunçando esse cabelo todas às vezes. – eu disse e ri. Claro que eu sabia que ele era inteligente, é só que... nunca admiti.

- Pelo menos eu te faço rir e não mais gritar comigo. – disse divertido.

- Não abuse Potter. – eu disse séria e me recompondo. – Então, o que quer conversar?

- Ah, não seja apressada Lily. – disse ainda se divertindo as minhas custas. – Você já comeu? – perguntou se aproximando de mim.

- Ahn, não desde o almoço. – respondi erguendo uma sobrancelha.

- Tá falando sério? É por isso eu você tem emagrecido nos últimos meses. – ele comentou sem qualquer tato. Ele pareceu perceber o que dissera e sorriu sem graça. – Desculpa, foi muito indiscreto dizer isso. É que você realmente não tem comido bem, aluado também comentou isso comigo.

- Eu sou assim, quando tenho algum problema eu não consigo me alimentar direito. – respondi simplesmente me virando e sentando em uma das cadeiras. – Nada com que você precise se preocupar. – eu disse irônica. Já tinha Sirius para se preocupar com meus problemas, além das minhas amigas. Não precisava de Potter se metendo na minha vida também.

- Você tem que se alimentar direito ruivinha, não falo só por causa das suas belas curvas, mas da sua saúde também. – ele falou sério, Merlin, ele realmente falou sério! Potter, que tipo de planeta você veio?

- Okay. – eu disse, me segurando para não rir. Às vezes eu me questionava sobre a inteligência desse ser. Ele sorriu divertido e se sentou ao meu lado.

- Tomei a liberdade de preparar algumas coisas para nós enquanto conversamos. – disse e agitou a varinha. Na mesma hora, várias bandejas apareceram sobre a mesa, com pequenas tortinhas, doces e salgadas, salgadinhos e sanduíches de todos os tipos, cervejas amanteigadas e whisky de fogo. Ele realmente me surpreendia às vezes. – Não sabia o que você gostava mais então pedi aos elfos para prepararem de tudo um pouco.

- Você pediu aos elfos? – perguntei perplexa. Que abuso.

- Não se preocupe, eles simplesmente adoram, principalmente quando eu e os marotos vamos à cozinha. Posso te levar um dia. – ele disse, abrindo uma cerveja e me entregou. Pegou um copo e colocou whisky de fogo. Levantei uma sobrancelha e ele riu. – Você quer?

- Já que você perguntou... – eu disse irônica e estendi um copo para que ele pudesse colocar pra mim também. Ele me olhou como se duvidasse que eu realmente fosse beber. Estreitei os olhos para ele e virei o copo. Merlin, aquilo era bom, mas realmente queimava enquanto descia!

Potter riu da minha cara que ficava cada vez mais vermelha. Eu não estava acostumada a beber esse tipo de coisa, mas não era a primeira vez. Eu prendi meu cabelo com a varinha e olhei séria para ele. O quanto ele poderia continuar rindo de mim? Ele enxugou as lágrimas dos olhos e tomou um gole do seu próprio whisky. Olhou pra mim e sorriu.

- Você fica bonita irritada, sabia?

- Você tem o prazer de dizer isso sempre. – respondi estreitando os olhos.

- É a verdade e eu nunca minto. – sorriu misterioso.

- Então vai me dizer o que eu estou fazendo aqui? – disse e peguei um pedaço de torta de morango com cereja, definitivamente minha preferida.

- É sobre aluado. – respondeu sério e continuou. – E também sobre você.

- Sobre mim? – perguntei sem entender. Ele sorriu e balançou a cabeça.

- Uma coisa por vez. – sorriu irritantemente e deu mais um gole da bebida.

- Muito bem. O que é?

- Fiquei sabendo que você sabe sobre o segredo de aluado há muito tempo. Por que nunca falou nada?

- Como eu disse para Black, não é algo que eu devesse saber e se Remo não queria que eu soubesse, eu não iria puxar o assunto com ele.

- Hum. – ele pareceu avaliar minha resposta antes de continuar. - Você contou para alguém?

- Não. – e não era mentira, as meninas descobriram sozinhas sobre Remo, nunca comentei nada.

- Tudo bem Lily, quem sabe sobre o aluado? – ele disse girando os olhos.

- Qual é a do questionário? – perguntei mudando de assunto.

- Lilian Evans, assim que eu terminar você saberá. – respondeu impaciente. Olhei para ele e bufei. Que seja, Sirius já sabia.

- Eu, Lene, Alice e... a Dory. – respondi olhando significantemente para ele.

- Imaginei. O que elas pensam disso tudo? – perguntou ansioso.

- Nada demais. Remo continua sendo o Remo para todas nós. O problema dele não influencia no nosso julgamento sobre o caráter dele. Ou na nossa amizade. Coisa que ele mesmo deveria saber e entender. – disse simplesmente.

- Eu sei. – disse e respirou fundo, cansado. – Remo às vezes me tira do sério com a maneira neurótica que ele lida com tudo. Não digo para ele não tomar cuidado, mas ele acaba se afastando até mesmo de nós, seus amigos, por causa de um preconceito bobo que ele mesmo tem consigo mesmo.

- Não fala nada para ele James. Dory ama Remo e só não confessou que sabe do seu segredo por medo de perdê-lo. – eu disse séria e não entendi por que ele ficou tão surpreso. – O que foi? Você nunca notou que Dory gosta do Remo? – levantei uma sobrancelha enquanto ele parecia conter um sorriso.

- Ah, é, claro que notei. Todos nós notamos. Remo tenta dizer que não é nada, mas nós sabemos que eles se amam. – ele disse enquanto me olhava com interesse. Qual é o problema desse menino?

- Exatamente. Ele deveria deixar de ser orgulhoso e pedi-la em namoro logo. Dory é muito bonita e por mais que seja tímida ela tem muitos pretendentes. Remo pode acabar perdendo-a. – comentei, ainda me sentindo desconfortável com o olhar que ele continuava a me direcionar.

- É por isso que te chamei aqui. Para tentarmos resolver esse problema. O semestre já está acabando e Remo não fez nada e não parece que vá fazer alguma coisa. Estou aqui para te propor uma missão, juntar definitivamente os dois. – ele disse sorrindo.

- Parece razoável pra mim. Mas como faremos isso? – perguntei com sérias dúvidas sobre a capacidade dele no quesito romance e sentimentos.

- Aluado, pontas e rabicho estarão na minha casa nas férias. Lene é minha vizinha... – ele disse como se esperasse que eu entendesse seu plano apenas com isso.

- Você quer que eu e as meninas vamos para a casa da Lene nas férias e junte a Dory e o Remo? – perguntei séria.

- Exatamente ruivinha. – disse ele sorrindo.

- Okay, você tem certeza que isso não é uma desculpa para você me atrapalhar até nas férias? – perguntei desconfiada.

- Ah, essa é a melhor parte do plano. Eu poderei te ver nas férias. – disse ele divertido.

- Como se eu pudesse esperar mais de você não é? – eu disse estreitando os olhos. Apesar do óbvio interesse malicioso que ele tinha, seria mais fácil juntar os dois se eles passassem bastante tempo juntos. – Tudo bem, você venceu. Vou conversar com Lene e tentaremos convencer Alice a deixar Frank um pouco para nos ajudar. Dory ouve mais a Alice do que qualquer outra pessoa no mundo.

- Ótimo! Mal posso esperar por essas férias. – ele disse todo sorridente. Nunca entendi essa obsessão dele por mim. Sinceramente. Isso apenas ajuda na minha teoria de que homens gostam de sofrer, é.

- Okay, posso ir agora? – perguntei querendo me levantar.

- Ainda não terminei ruivinha. – ele disse sério.

- O que mais temos para conversar? – perguntei sem emoção.

- A segunda parte do encontro.

- Isso era um encontro? Não percebi. – estreitei os olhos.

- Ah, você pode chamar como quiser... O que eu quero dizer é. – ele pausou e respirou fundo. Malditos olhos amendoados, malditos olhos. – Eu sei que você não credita quando eu digo que eu realmente gosto de você Lily e, - ele falou sem que eu pudesse interromper como eu queria. – eu entendo. Eu sou um babaca a maior parte do tempo. Eu tô tentando melhorar, eu juro. Mas eu preciso que você me deixe mudar. Se você não acreditar pelo menos um pouco em mim, eu não poderei te mostrar como eu realmente sou, por baixo de toda essa mania que querer chamar a sua atenção. É só isso que eu te peço. Nessas férias e nesse último ano, me dê a chance de te mostrar que eu posso mudar. Só preciso de um pouco de confiança e paciência. Por favor.

Meu coração parecia que ia explodir. Cada palavra que ele dizia era como uma carícia em meus ouvidos e eu mal podia acreditar nas suas palavras. James Potter me implorando por uma chance. Não que ele nunca tenha feito isso antes... Então o que mudou? Mais uma vez, quando olhei naqueles olhos amendoados uma coisa em minha cabeça se clareou. Ele mudou. Eu mudei. Ele não era apenas o idiota que eu sempre recusava e distribuía detenções. Ele já era mais que isso. Ele era atencioso, e divertido. Não era um completo idiota, ele era até inteligente. E o que mudou em mim? Meu coração acelerou mais uma vez. Senti meu rosto corar e desviei meu olhar do dele. Droga, droga, droga.

- Tudo bem. – eu sussurrei.

- O que você disse? – ouvi sua voz perplexa e rouca. Um arrepio subiu pelas minhas costas.

- E-eu disse que tudo bem Potter! – eu disse nervosa e olhei novamente para ele. Ele estava um pouco corado também e o olhar incrédulo que ele me deu me deixou ainda mais envergonhada. – Qual o problema? Posso reconsiderar se você qui-

- Não! Não... É que eu realmente... – ele riu e balançou a cabeça. – Obrigada ruivinha. Você não vai se arrepender.

- Veremos. – eu disse simplesmente. – Posso ir agora?

- Claro. Eu te acompanho. – sorriu e se levantou. Antes que eu pudesse me levantar, ele puxou a cadeira. Corei e agradeci.

Ele agitou a varinha e as coisas sobre a mesa desapareceram. Olhe uma última vez para o céu estrelado, era realmente bonito. Um feitiço bem feito... James me fitava encostado na porta, com um meio sorriso no rosto. Por mais que eu odiasse admitir, aquele maldito sorriso era maravilhoso.

- Podemos nos encontrar aqui de novo e olhar as estrelas. – comentou ainda com aquele sorriso.

- Seria... legal. – eu disse sem pensar. Ele ficou tão surpreso quanto eu e não questionou.

Passei pela porta e ele a fechou. Andamos sem pressa pelos corredores e escadas. Como monitora eu poderia andar o horário que eu quisesse. Qualquer coisa era só dizer que eu estava escoltando Potter para uma detenção. Rimos com esse pensamento já que era mais que normal eu acompanhá-lo em suas detenções. Conversa vai e conversa vem. Logo chegamos à frente ao quadro da mulher gorda. Eu disse a senha e andei até a minha escada. Não tinha ninguém no salão, a lareira estava praticamente apagada e a lua encoberta pelas nuvens não clareava muito o lugar. Eu me virei para dizer tchau, pelo menos era o que eu pensava que faria. Estava escuro, mas eu sabia que James estava a minha frente. Podia sentir o cheiro de seu perfume. Pisquei os olhos. Ainda estava ruim enxergar naquele breu, mas em um segundo a nuvem que encobria a lua simplesmente deu-lhe a chance de brilhar mais uma vez e eu pude ver claramente. James estava a milímetros de distância de mim. Meu coração batia tão forte que eu tinha certeza que ele podia ouvir. Aqueles malditos olhos amendoados me fitando... O que deu em mim? Nem posso dizer que a culpa foi dele. Ele simplesmente colocou a mão no meu rosto. Só isso... Mas, mas eu queria mais. Não sei o que deu em mim. Eu simplesmente. O. Beijei. Sim. E Merlin é testemunha de que eu não tive controle sobre mim.

Senti seus lábios quentes sobre os meus. O gosto de whisky de fogo. Era tão bom. Por que eu recusei seus beijos por todos esses anos? Que se dane. Eu já estou aqui, vou mesmo é aproveitar. Meu coração batia descontroladamente contra meu peito. Senti seus braços ao redor da minha cintura. Coloquei minhas mãos em seus cabelos sedosos, bagunçando-os ainda mais. Sua língua brincava com a minha. James me apertou contra seu corpo e eu quis que pudéssemos ficar ainda mais próximos. Eu mal conseguia respirar. Sentia seus lábios trêmulos sugando os meus e os mordi delicadamente. Merlin, o que é isso? Parei o beijo com um selinho e me senti meio tonta.

- James. – eu sussurrei. – Acho que eu estou bêbada.

- Tudo bem. – ele disse e eu ri.

Eu estava realmente tonta. Olhei para ele e passei os dedos por sua face. Ele tinha um cheiro indefinível. Pisquei lentamente. Parecia mais como um sonho. Talvez fosse afinal. Por que eu definitivamente não me lembro de como acabei na minha cama. De qualquer forma, sendo um sonho ou não, eu não tinha vontade de descer e descobrir. Dory, Alice e Lene ficaram me fazendo mil perguntas e minha cabeça não para de latejar. E meu coração... Por que meu coração parece tão pesado? Essa foi a semana mais estranha que eu tive. Essa é a verdade. Pelo menos essa verdade eu conheço. Acontece que eu tenho medo de descobrir que foi só um sonho Eu confesso. Mas foi bom demais para ser verdade. É, foi só um sonho. Definitivamente! Eu devo ter ficado bêbada por causa do whisky de fogo. Eu não tinha quase nada no meu estômago. Provavelmente eu subi as escadas depois que entrei no salão comunal e sonhei com isso. Deve ser isso. Com certeza. Então, levante-se Lily! É sábado e você tem deveres para fazer.

Tomei coragem e me levantei. Me senti tonta e enjoada. Apoiei minha mão na cama e me sentei na beirada. Respirei fundo e fui até o banheiro. Tomei uma ducha rápida e coloquei uma roupa confortável. Uma calça moletom verde escura, uma blusa de manga curta branca com detalhes verdes e uma blusa de frio na mesma cor da calça por cima. Amarrei meu cabelo e peguei meus materiais. Estava preparada para fazer todos os meus deveres. Calcei minhas meias e minha pantufa. Desci as escadas e vi minhas amigas conspirando com o inimigo. Estreitei os olhos quando cheguei perto. Todos olharam pra mim com grande expectativa. James era o único que não estava conversando e que não olhara para mim. BEM, foi um sonho afinal ou ele estaria todo animado esbravejando para o mundo que finalmente ele conseguira conquistar a ruivinha.

Girei os olhos para os olhares desconfiados que estavam depositados em mim. Sentei na poltrona vaga, ao lado de James e comecei a estudar. Ele se mexeu na poltrona e olhou para mim com uma sobrancelha levantada. Olhei pra ele e ele não disse nada. Estreitei os olhos antes de falar.

- O que? – perguntei incomodada.

- Você não vai comer?

- Ah, tô sem fome. – respondi simplesmente, voltando a ler meus livros.

- Não mesmo. – ele disse irritado. – Você vai comer. – disse isso e simplesmente roubou meus materiais. Qual é essa obsessão que as pessoas têm em não me deixar estudar?

- Qual é o problema de todo mundo? – perguntei incrédula enquanto eu era puxada pelo quadro da mulher gorda. Todos nos olhavam surpresos, não só nossos amigos, mas todos na sala. James Potter e Lilian Evans saindo juntos, sem gritos e detenções? Bem, eu também estava surpresa. Quem ele era pra achar que poderia simplesmente sair me puxando pelos lugares?

Antes do quadro se fechar após eu e James sairmos, todos me ouviram gritar.

- JAMES POTTER, VOCÊ É UM TERRORISTA!


Hehe, é isso aí gente. Espero que tenham gostado. Comecei a escrever às duas da manhã. Sem exageros. Eu estava realmente com vontade de começar essa história. Espero do fundo do coração que tenham gostado. Me mandem sua opinião. Muito obrigada!