Disclamer: Saint Seiya e seus personagens não me pertencem, direitos reservados. Música incidental: Vento no Litoral – Legião Urbana – Trecho do Livro "A Arte da Guerra" – Sun Tzu.
Originalmente esta história foi escrita para o Amigo Secreto do fórum SSD. A presenteada foi Virgo no Aries. Espero que ela tenha gostado do presente. Os cheiros de maçã e canela atribuidos a Mu e Shaka são de autoria de Áries Sin, ficam aqui os créditos.
Orgulho
De tarde quero descansar, chegar até a praia e ver, se o vento já está forte...
Ele caminhava sozinho pela praia. O entardecer estava divino, mas ele nem ao menos se dava conta disto. Chutava pequenas conchas quebradas a esmo durante o caminhar, não sentia nada, não via nada.
Não sabia quanto tempo estava naquele estado de letargia. Os músculos doíam por horas e horas de caminhada sob o sol que agora se escondia, mas ele continuava mesmo assim no seu andar e não ir. As pernas falharam, caiu de joelhos na areia fofa. Ficou estático naquela posição. As lágrimas silenciosas caiam por seu rosto. Queria gritar. Matar metade do mundo. Queria descarregar sua fúria em tudo e todos a sua volta, mas apenas conseguia descarregar em seu próprio corpo.
Sei que faço isso pra esquecer, eu deixo a onda me acertar, e vento vai levando tudo embora...
Uma brisa fria arrepiou sua pele, ele não se importou. Nunca se importara com o frio, nunca o sentira. Apreciava e gostava do frio, era seu amigo, companheiro. Socou a areia fofa. Por que tinha que ser assim? Por que ele sempre desejava o inalcançável? Por que seu coração, que nunca se abalara, capitulara vencido, por um amor impossível? Um amor que ele mesmo fizera questão absoluta de matar?
Levantou-se, enxugando as lágrimas com calma. Respirou fundo. Sentiu um pouco das forças retornarem. Se obrigou a voltar para sua casa vazia, sua vida vazia.
Agimos certo sem querer, foi só o tempo que errou, vai ser difícil sem você, porque você está comigo o tempo todo...
Agira cruelmente consigo próprio quando se permitiu dar ouvidos a tudo e todos menos ao que realmente era importante. Estava confuso. Nunca, dantes, em toda a sua vida, tivera incertezas, confusões. Quando o furacão do amor se aproximou ele se fechou e agora pagava o preço por sua covardia. Agora estava assim, um trapo tolo, uma sombra do forte homem que sempre fora.
Sua voz pareceu adquirir forças. Soltou um grito mudo, rouco, sentido. Tomou um longo banho. Olhava a sua volta e conseguia sentir o cheiro suave que emanava da pele dele impregnado em todas as suas coisas. Ele partira há tanto tempo, como ainda podia sentir o cheiro? Tocou as peças metodicamente organizadas. Outra lágrima. Ele escolhera cada pedaço daquela casa, e agora?
Onde está você agora além de aqui, dentro de mim?
Não podia mais viver assim. Se obrigou a comer, se obrigou a escovar os cabelos sem viço, outrora tão brilhantes quanto o sol. Olhou para telefone, uma peça um tanto exótica que destoava de todo o ambiente clean. Queria ligar, pedir perdão, mas o orgulho não permitia. Já se passara tanto tempo...
Mais um dia se fora... E mais uma vez nada fizera. Estúpido.
Um toque, dois... Quem estaria incomodando a sua dor? A secretária eletrônica atendeu a ligação.
"No momento não posso atender, por favor, após o sinal, deixe seu recado... piiiiiiiiiiii"
Sou eu! Está em casa? Atende!!!!
Arrancou o fone do gancho como um faminto ataca um prato de comida.
Onde você está? - falou com voz fria e coração em pulos.
Pensei que me receberia melhor...
Pensei que nunca mais ouviria sua voz...
Sempre igual, sempre comedido. Eu sinto a sua falta.
Eu também... Onde você está?
Chega de brincadeiras. Você não combina com brincadeiras. Abra a porta. Estou aqui.
Um sorriso abriu-se e fechou-se. Ele abriu a porta e a boca para repreender e reclamar. Fechou-a sem emitir som algum ao ver aquela imagem. Abriu os braços e acolheu aquele corpo amado entre eles.
Mú.
Ele estava completamente diferente. Seus olhos pareciam tristes, não sorriam mais como antes. Olheiras manchavam seu rosto em contraste com o cabelo bem arrumado e as roupas sofisticadas. Seu Mu nunca fora sofisticado. O que fizera?
- Por que voltou?
- Eu não acredito em histórias não acabadas.
- Eu pensei que tínhamos dito tudo.
- Não. Você disse. Você queria mais da vida, você queria crescer, você precisava de liberdade, você não precisava de mim... você, você, você... Sempre você.
- O que quer que eu diga? Me perdoe? Resolveria alguma coisa? O passado não pode ser modificado.
- Mas o futuro sim. Por isso eu estou aqui. Eu precisava ver com meus olhos. Todo aquele discurso de mudança e olhe para você! É exatamente o mesmo que deixei quando me expulsou daqui tanto tempo atrás. Eu vivi Shaka, mas você?
Mu olhou a sua volta. Tudo exatamente no mesmo lugar. Era como se o tempo não tivesse passado. Os mesmos móveis, as mesmas fotos na estante, os mesmos deuses no pequeno altar. Imutabilidade. Sorriu, de certa forma, até mesmo fora um sorriso maldoso.
Shaka sentia-se cada vez mais a força o abandonar. A coragem saltar de pára-quedas. Nada realmente mudou. As roupas caras, o corpo cuidado, os olhos tristes, mas era o mesmo Mu. Ainda era o homem que amava.
- Você quer saber de mim? Não há o que dizer. Esta casa é um monumento a minha estupidez.
- Ainda acha que eu devo ir?
Shaka riu. Uma gargalhada histérica e sem sentido.
- Sabe o que restou de mim? Nada.
- Nem o orgulho? Pois eu penso diferente. Ele está aí! Ele me impediu de voltar.
- O meu orgulho? Eu já sei que a culpa de tanto sofrimento é minha, mas não jogue sobre as minhas costas um peso que não me pertence. Não voltou porque não o desejou.
- Não voltei porque precisava provar que eu podia seguir em frente.
- Não voltou pelo SEU orgulho! – Shaka estava irritado, a ponto de escorraçá-lo mais uma vez. Com o seu Mu era sempre assim. Limites testados.
- Diga que me ama!
- Não.
- Está bem. Estamos perdendo tempo. Eu não mudei, apesar de tudo isso – apontou para si mesmo – e você tampouco o fez.
- Mu, espera. Você ainda me ama?
- O que mais eu estaria fazendo aqui se não o amasse? Mas parece que nunca é o suficiente para você. Você nunca foi capaz...
- EU TE AMO!
Vencera. Finalmente Mu vencera. Conseguira fazer Shaka perceber o amor. O amor que sentira por si. Valera a pena tanto sofrimento e lágrimas derramadas no escuro da noite. Cada gota amarga de sofrimento fora esquecida ao sentir novamente o sabor cálido de canela daqueles lábios.
O princípio geral da guerra é: "manter o estado do inimigo intacto, dominar seu o exército e forçá-lo à rendição é melhor do que esmagá-lo".
