Disclaimer:

- YYH não me pertence, mas eu ainda acho que o Leizen não devia ter morrido.

Fic inha e sem motivo.


Ombros Erguidos

Hiei sentiu o corpo leve se espremendo contra o dele, mais uma vez. Estreitou o espaço entre os braços, ouvindo um ronronar familiar e bem-vindo da onna que dormia.

Como alguém podia ser tão preguiçosa?

Resolveu abrir os olhos, o sono já tinha ido embora. Andava cansado de tanto trabalho no Makai, sempre correndo em busca de humanos perdidos, e aquela correria estava abalando até mesmo seu sono. Dormia pouco e mal.

Mas ela não. Botan se esparramava sobre ele, a cabeça no seu ombro, as mãos em seu peito e a boca semi-aberta, respirando fundo... As pernas largadas entre as dele, descobertas por causa do calor. A TV podia gritar à vontade, ela não ia acordar. Os cabelos caindo sempre sobre o rosto, ele achava isso divertido nela. E os ombros, comprimidos, levantados... Como se ela tentasse se espremer em si mesma.

O koorime virou o rosto, para ver melhor. Por que diabos aquela onna estava com os ombros daquele jeito? O rosto tranqüilo, deitado sobre o peito dele, em paz... e aqueles ombros duros, enrijecidos, como se ela estivesse em perigo e não soubesse falar. Não era compreensível.

Ele levantou um dos dedos da mão em direção ao ombro, tentando o mais suave possível abaixá-lo. Botan soltou um gole de ar fundo, se mexendo, enquanto o ombro relaxava. Hiei sorriu, tinha conseguido.

Mas foi apenas soltá-lo, e o ombro voltava a se enrijecer, erguido.

-K'so.

Lá foi ele, com sua mão o mais delicada possível – o que não era muito, se tratando de um koorime assassino como ele – tentar relaxar e abaixar os ombros da onna que dormia.

Foi apertando, massageando, empurrando devagar até que o ombro desistiu, cedeu.

E uma onna acordou diante dele.

-O que... você ta fazendo?

Hiei bufou, irritado. Ombros fofoqueiros.

-Você dorme toda dura nos ombros.

Botan levantou os olhos para ele, e sorriu.

-Ah, é, ne? São os pesadelos. – riu.

Hiei a puxou para mais perto, sem entender.

-Você estava tendo um pesadelo?

-Não.

-Hunf.

Aquela baka onna gostava de confundi-lo. Sempre.

Botan voltou a se espremer contra o corpo do koorime, fitando as luzes piscantes da TV.

-Eu sempre tenho pesadelos... sabe, sobre a morte das pessoas. E eu não gosto de tê-los.

-Hun.

-Então... eu acho que sempre que eu durmo, eu acabo esperando por eles. Toda vez. Mesmo que eu esteja tendo um sonho bom, eu fico pensando "será que agora vem um pesadelo?". E sinto medo, do mesmo jeito.

-Você não devia pensar essas bobagens.

Botan levantou os olhos para o koorime que a fitava, emburrado. Gostava das caras feias que ele fazia sempre que alguma coisa a perturbava.

Era o jeito mais romântico dele dizer que se preocupava com ela.

-Ne? – ela riu, se deitando novamente.

Hiei nunca ia entender como ela conseguia rir desse tipo de coisa. Ou como isso o fazia sentir tão zangado, por não poder pegar sua espada e rasgar qualquer pesadelo idiota que se atrevesse a perturbar a baka onna.

Isso era uma coisa que só ela poderia fazer.

Era injusto.

-Ei, Hiei.

-Hun?

-Você pode fazer isso mais vezes? – Botan se sentou num pulo, puxando o rosto do koorime em sua direção. – Quer dizer, dói menos... Meu ombro acorda bem melhor assim.

-Hunf.

-Isso é sim.

-Pare de falar o que eu quero dizer, onna!

-Hunf! – ela riu, voltando a se deitar.

Hiei ficou em silêncio, vendo o programa de TV mudar e a onna cair no sono outra vez. Ele estava cansado, sim, mas por algum motivo não conseguia dormir.

Olhou para os ombros que se repuxavam debaixo da camisa dela, rígidos. Olhou para o rosto dela, tranqüilo, escondendo aquele medo todo, sempre.

Colocou as mãos sobre os ombros dela, os abaixando devagar. Ela aspirou fundo e soltou o ar pela boca, sem acordar.

Talvez ele não pudesse destruir pesadelos por aí. Isso ele não podia fazer por ela.

Mas que ela nunca mais acordaria com os ombros doendo, isso ele podia garantir...

OWARI