Esta é a minha primeira fanfic de digimon… sejam simpáticos!

O REGRESSO DO IMPERADOR DIGIMON

Por sorachan

I

O crepúsculo abatia-se aos poucos sobre o pacato bairro de Odaiba, em Tóquio.

Era um entardecer igual a todos os outros. Ninguém pareceu reparar no nevoeiro opaco que subtilmente se apoderava das ruas.

Pelo menos quase ninguém.

Um rapaz dos seus 12 anos, magro, de estatura média, com cabelos cor de ébano lisos e bem penteados dirigia-se para casa, vindo do colégio, como qualquer rapaz normal. Usava um uniforme escolar impecavelmente cuidado e em cujas mangas se podiam notar pequenos traços de linha de coser; a verdade era que o casaco verde do uniforme lhe ficava um pouco largo, isto apesar de Ken não ser especialmente franzino. Carregava uma pasta de couro castanho que abarrotava de livros e cadernos. Mas Ken Ichijoji era tudo menos normal.

Desde que, há cerca de meio ano, se mudara para aquele bairro que vinha tendo sensações estranhas, pesadelos, pressentimentos. Tinha uma espécie de sexto sentido que o informava com antecedência do que ia acontecer a seguir.

Isto, julgava Ken, devia-se aos vestígios de semente de escuridão que ainda permaneciam no seu corpo. Com a ajuda dos seus amigos, conseguira livrar-se da maior parte, mas sabia que um ínfimo pedaço ainda lá estava.

Ele tentava afastar aquelas premonições, mas era inútil. Elas, tal como um boomerang, voltavam sempre. No fundo, era como se fizessem parte de si.

Entretanto, Ken chegara a casa. Entrou, descalçou-se, saudou a mãe, entrou no quarto e sentou-se a fazer os trabalhos de casa. Uma premonição assaltou-o de imediato e fê-lo dar um pulo.

Ele fechou os olhos e respirou fundo, tentando ignorá-la. Mas a premonição era assustadoramente nítida. Quatro vultos… uma luz… uma gargalhada… e de novo as trevas…

Ken abriu novamente os olhos e tentou concentrar-se nas fracções. Mas os números tremiam na sua frente, as linhas do caderno dançavam, a mão não lhe obedecia. Ele tapou a cara com as mãos, a premonição apoderava-se dele numa agonia insuportável…

Bateram à porta e tudo parou. O rapaz tomou fôlego, acalmou-se e perguntou quem era.

- Ken? – soou a voz da Sra. Ichijoji. – Tens visitas.

Ele abriu a porta e a mãe afastou-se, deixando-o a sós com uma rapariga de cabelos lilases e compridos e grandes óculos redondos, que vestia o uniforme feminino do seu colégio.

- Ah, Miyako, és tu – suspirou. – Entra.

Ela assim fez. Ele fez-lhe sinal que se sentasse e ela começou:

- Não percebo uma coisa nos exercícios de Matemática. Podes explicar-me como se fazem? – pediu, estendendo-lhe o livro "Iniciação à Álgebra".

Ele olhou para ela com alguma impaciência. Miyako era mais velha do que ele, mas ele avançara um ano graças à sua inteligência e por isso frequentavam a mesma turma do 7ºano. A rapariga era também uma Criança Escolhida, tal como ele, e os dois eram bastante amigos. No entanto, Ken falou-lhe com brusquidão:

- Não tenho tempo para isso agora. Tenho que fazer, sim? Porque não pedes a um dos teus irmãos?

- Oh – murmurou ela, sem esconder um pouco de tristeza. – Tens razão. Desculpa ter vindo incomodar-te.

Ken virou-lhe as costas e ela saiu, cabisbaixa.

Ele voltou a mergulhar nos TPC e os maus pensamentos voltaram. Ele desistiu de tentar resolver os exercícios e deitou-se na cama, tentando descansar.

Foi então que, como uma rajada de vento, ele ouviu:

Ken… Ken…

- Quem está aí? – soprou, levantando-se, vendo o monitor do computador a brilhar. Ele aproximou-se dele a medo, e a voz subia de tom e as palavras tornavam-se mais perceptíveis.

Ken… volta para onde pertences… Ken…

- Quem esta aí? – repetiu ele, e o monitor brilhava cada vez mais… - Quem?

E então o brilho alastrou-se e envolveu-o. Quando se dissipou, o quarto estava vazio…

+++

Animado, Daisuke Moyotomia jogava no seu jogo de vídeo, no qual estava prestes a conseguir bater o recorde. Estava mesmo perto, quando…

- Desliga isso, seu atrasado! – guinchou Jun, a sua irmã mais velha.

- Não desligo – retorquiu ele de imediato e então PUFF! Ela desligou o video-game e todas as esperanças de Daisuke bater o recorde se esfumaram.

- Eu disse-te para desligares – disse ela.

- Sua… sua… – Daisuke nem encontrava um adjectivo suficientemente insultuoso para lhe atirar. – SUA IMBECIL!!! VAIS PAGAR!!!

- Sim, sim… agora sai da frente que eu quero ver as notícias.

O rapaz parou.

- Desde quando é que vês as noticias? – perguntou.

- Desde que descobri que são o assunto preferido do Shu… agora sai.

Shu Kido era o mais recente ídolo de Jun, que adorava imitar os rapazes por quem estava "apaixonada". Daisuke compreendeu e preparou-se para regressar ao seu quarto quando ela o chamou:

- Eh! Aquele miúdo não é aquele teu amigo que uma vez dormiu cá em casa?

- Qual miúdo?

- O que está na televisão.

Daisuke fixou-se no aparelho e qual foi o seu espanto quando viu uma foto de Ken no ecrã.

- Já não é a primeira vez que o jovem Ichijoji desaparece misteriosamente – informou o locutor, em frente ao bloco de apartamentos onde Ken morava. – A última vez que isto sucedeu foi há cerca de um ano, quando a família ainda não habitava em Odaiba. Aparentemente, Ken terá desaparecido hoje, por volta das três horas da tarde…

Daisuke ficou estático em frente ao televisor, e só saiu daquele "transe" quando Jun o abanou e lhe estendeu o telefone.

- É outro colega teu.

Daisuke atendeu.

- Sim.

- Estás a ver o canal 3? – ouviu-se a voz de Takeru Takaishi do outro lado da linha.

- Estou…

- O Ken desapareceu sem deixar rasto. É muito estranho.

Daisuke levantou-se do sofá e quando tinha a certeza que a irmã não o ouvia, murmurou:

- Takeru… tu achas que…?

Houve uma pausa.

- Não vamos tomar conclusões precipitadas. A Hikari telefonou-me agora mesmo. Reunião às nove em casa dela, ok?

- Ok...

- Adeus – e desligou.

Voltou ao sofá e concentrou-se novamente nas noticiário, que agora passava uma entrevista com um psicólogo que tentava arranjar teorias para aquilo a que chamava "necessidade de atrair a atenção" de Ken.

- Não sabia que tinhas amigos anormais, puto – brincou Jun no fim do bloco informativo.

- O Ken NÃO É anormal!!! – insurgiu-se ele. – A única anormal que conheço és TU!

E dito isto saiu de casa batendo com a porta.