"Isso
provavelmente acabará amanhã…", era o que eu
pensava até alguns dias atrás.
Mas o que é
reservado para uma pessoa que vive sem razão? Que vive somente
por si mesma, que não ama, não odeia, não sonha?
Sempre pensei nisso. Mas para mim, agora a resposta é
óbvia: Nada. Apenas a solidão, seria isso?
Já
me perguntei inúmeras vezes por quê nasci. O que recebo
em resposta é o silêncio; apenas a solidão, minha
única companhia.
"Será que alguém nesse mundo me entende?", perguntei silenciosamente, indo até a janela.
Não posso dizer isso á ninguém, já que sempre dizem a mesma coisa, mas eu não consigo acreditar; é impossível!
Eu odeio ver o mundo com estes olhos.
Levei uma de minhas mãos até
meu peito, sentindo meu coração bater, como se
estivesse gritando. Como se implorasse para que eu o fizesse parar de
se movimentar daquela forma. Ergui o rosto e olhei para o céu,
decorando cada detalhe dele.
Acho que ninguém se
importaria se eu acabasse com minha vida, não é?
"Sou
apenas um zumbi, não tenho motivos para estar aqui."
Queria
que alguém parasse com essa dor e trouxesse meus sonhos de
volta, minha razão para viver. Mas agora não há
jeito para que isso aconteça; não há mais
volta…
Olho para o relógio, na cômoda ao lado da
cama. Quatro da manhã.
-Shi… - Murmurei para mim mesmo,
fitando os ponteiros do relógio, que se movimentavam
lentamente enquanto aqueles torturantes segundos se passavam.
"32
anos…", pensei, "Há 32 anos que eu não sei o que
é amor…"
Eu me odeio acima de tudo.
Suspirei e fui até a cozinha, pensando em beber alguma coisa, antes que esta vontade, este desejo de morrer me consumisse. Abri a geladeira, examinando seu interior. Suspirei novamente e a fechei, me direcionando até a pia, onde apoiei minhas mãos enquanto fitava meu próprio reflexo no vidro da janela.
"O
que ainda faço aqui?", mordi meu lábio inferior e
encarei uma de meus pulsos. Possuía algumas recentes
cicatrizes, graças ás minhas "brincadeiras" de
auto-agressão.
Apertei os olhos, na tentativa de afastar
aqueles pensamentos, mas de nada adiantou. Já desesperado,
abri uma gaveta, retirando dela uma pequena faca.
Senti meu
coração bater mais forte e minha mente projetar imagens
que qualquer pessoa poderia dizer ser assustadoras, mas que, para
mim, eram como um remédio.
Observei o reflexo de um de meus
olhos na lâmina. Senti uma lágrima correr de meu rosto e
a vi cair sobre o objeto gélido em minhas mãos. Apertei
a faca com força entre meus dedos, ferindo minha pele.
Voltei até o quarto e me sentei na cama, indeciso se faço o que tanto quero, ou não. "Ninguém se importará mesmo.", pensei, enquanto rasurava minha pele com a lâmina.
Respirei fundo e, com a mão trêmula, cortei um pulso esquerdo. Apertei os olhos ao sentir a dor e soltei um gemido baixo, observando o líquido vital escorrer de minhas veias. Fiz o mesmo com meu pulso direito em seguida, e me joguei para trás, deitando na cama.
Observei cada gota de sangue correr, manchando de vermelho os lençóis antes tão brancos. É estranho dizer, mas era uma cena tão… linda.
Senti meu corpo enfraquecer a cada minuto. Não estava agoniado, eu estava gostando daquilo… Estava tudo ficando tão escuro, quase não via nada, nada…
Estava finalmente morrendo, como sempre desejei. Talvez agora eu fique bem melhor, quem sabe poderei ser feliz em uma outra vida?
Fechei
meus olhos, minha mente se calou e meu corpo mergulhou na escuridão
profunda. Agora não há mais volta.
"Kyo Nishimura"
não existe mais.
