Título: Bodas de Fogo.

Personagens principais: Yamanaka Ino e Sabaku no Gaara.

.

Disclaimer: Naruto não me pertence, pertence a Masashi Kishimoto. Desta forma, não viso quaisquer lucros sobre seus personagens. Esta fanfic é uma adaptação¹ do livro Bodas de Fogo, de autoria de Deborah Simmons, de 1995.

¹Adaptação: Ação ou efeito de adaptar(-se). Ajuste de uma coisa a outra. Utilização de qualquer objeto ou utensílio para finalidade diversa de seu uso primitivo.

¹¹Acho importante avisar que nem tudo estará como no livro.


**Nota explicativa**

– Sinto-me o prêmio de um torneio, toda embrulhada e enfeitada (- Fala).

Ino sorriu amarga, a voz normalmente melodiosa vibrando de raiva e desprezo (Narrativa).

Não queria ser vista assim, vulnerável e impotente. (texto destacado)


Sinopse:

Sabaku no Gaara:

Diziam que o misterioso Cavaleiro Vermelho não era um simples mortal. Que fizera um pacto com demônio, em troca de se tornar um guerreiro invencível. Ino, porém, podia sentir com todo o seu ser que as sombras do enigmático e fascinante Gaara ocultavam um segredo muito mais profundo...

Yamanaka Ino:

Feito um vendaval, Ino invadiu o castelo de Suna para reivindicar o Cavaleiro Vermelho como marido! E Gaara percebeu que sua vida mudaria para sempre. Mas uma mulher tão ardente e cheia de luz iria aceitar viver uma paixão envolta pelas trevas?


Capítulo 1

.

.

.

.

.

Ino sentia-se como um verdadeiro presente de Natal!

Ou talvez uma sobremesa deliciosa, aguardando o momento de ser devorada pelos cavaleiros famintos que se moviam lá embaixo como um punhado de cães raivosos e famintos. Todos, sem exceção, tinham se empanturrado de vinho, cerveja e comida. Agora pareciam ansiosos para receber um prêmio especial.

Até se poderia pensar que as festas de fim de ano já haviam chegado, tal a maneira como se banqueteava aqui, na corte do rei Edward.

A cena lhe causava tamanha aversão que a pequena Yamanaka não conseguiu controlar a expressão nauseada do rosto. Porém ao perceber a aproximação de sua dama de companhia, virou-se imediatamente de costas. Não queria ser vista assim, vulnerável e impotente, quando sempre soubera enfrentar qualquer situação.

Mas Kurenai, tendo carregado-a no colo desde que nascera e a acompanhado ao longo da vida, podia reconhecer o estado de ânimo que a dominava a distância.

Que foi, minha lady? – a mulher mais velha indagou baixinho. – Que foi?

Sinto-me o prêmio de um torneio, toda embrulhada e enfeitada. - Ino sorriu amarga, a voz normalmente melodiosa vibrando de raiva e desprezo. - Estou apenas esperando ser entregue ao vencedor.

Num gesto irritado, passou a mão pelo vestido bordado e pela capa toda franzida que cobria seu corpo esguio.

- Minha lady... - Kurenai-san sussurrou, o tom baixo implorando cautela. Impaciente, Ino cortou-a no meio da frase.

- Nestes últimos meses, desde a morte de meu pai, nossas terras só têm feito prosperar sob a minha direção. Entretanto, em vez de receber uma recompensa pelos meus esforços, parece que eu serei a recompensa dada a algum patife imundo, louco por dinheiro. E tudo isso apenas porque nosso bom rei decidiu assim.

- Minha senhora! - a dama protestou, chocada com a forma que a Yamanaka se referia ao Rei. Teria a língua cortada se ele a ouvisse falando assim.

- Não é justo. - Ino reclamou pela enésima vez. Não importava o quão bem administrava as propriedades que lhe haviam sido deixadas pelo pai, ou quantos pretendentes conseguira recusar, ou quantas colheitas fartas extraíra das plantações, ou como a vida em seu castelo transcorria calma e serena, na santa paz de Deus. Pois todos esses resultados espetaculares tinham sido em vão. Em menos de um ano o rei lhe enviara uma intimação, ordenando-lhe casar-se.

- Pare de se lamuriar. Podia ser pior. Pelo menos você poderá escolher o próprio marido. E dentre todos os cavaleiros mais nobres do reino, diga-se de passagem.

- Ha! Grande coisa! Essa honra me foi concedida apenas porque tenho dinheiro suficiente para pagar pelo privilégio. Ou por acaso você acha que o rei me permitiu escolher porque me estima profundamente?

- Chega - Kurenai tornou a avisar. - Pare com essa conversa tola e perigosa e fique quieta. Pelo menos uma vez na vida, comporte-se e faça a opção com sabedoria, usando a cabeça em vez do mau-humor.

Ino sorriu de leve, sem se ofender com as palavras da mulher mais velha. Além de Kurenai-san ter sido mais do que uma verdadeira mãe ao longo do tempo, era impossível conter a língua da senhora, mesmo se tentasse.

- Não se preocupe. Vou escolher com sabedoria. Aliás, tenho um bom plano.

Horrorizada com o que acabara de ouvir, Kurenai deu um passo para trás.

- Deus tenha piedade de nós! - Os anos de experiência lhe haviam ensinado que os planos da sua lady sempre acabavam em grandes confusões. À beira do pânico, juntou as mãos numa súplica aos céus.

- Minha criança, por favor, deixe suas idéias mirabolantes de lado. Esqueça os planos arriscados. São perigosos.

- Estou apenas aceitando o seu conselho - ela respondeu docemente, um brilho malicioso no olhar. – Vou decidir com sabedoria. O rei me deu liberdade para escolher um marido dentre todos os cavaleiros do reino, não é? Ele disse que eu posso optar por qualquer um de seus cavaleiros. E isso inclui todo o reino, certo?

Isadora fez uma pausa, ignorando a expressão confusa da serva.

- Minha lady...

- Portanto já tomei uma decisão.

O sorriso vitorioso iluminando o rosto angelical não era um bom sinal, Kure-san pensou, temendo pela sorte da ama. Desde o berço, Yamanaka Ino demonstrara possuir uma personalidade marcante e o fato de ter crescido na companhia de três irmãos, sem a mãe por perto para lhe ensinar maneiras delicadas, só fizera acentuar o caráter destemido.

Agora, depois da morte dos dois rapazes mais velhos por causa de uma febre, do terceiro ter sido morto durante a última Cruzada e o pai haver falecido recentemente, Ino se tornara a única sobrevivente da família Yamanaka. Ela provara ser mais resistente, forte e inteligente do que qualquer um deles, além de mais teimosa e cabeça-dura também.

No fundo do coração, a senhora mais velha acreditava que o casamento com um homem decente iria fazer bem à sua protegida. Ser guiada por uma mão firme, mas gentil, conceber filhos e criá-los, poderia contribuir para trazer à tona a natureza suave da jovem.

Talvez o decreto do rei Neji fosse mesmo para o bem. Afinal Ino já completara dezessete anos e até o momento não demonstrara qualquer interesse em procurar um marido. O único problema era que se esquecera de levar em consideração a natureza determinada daquela a quem amava como a uma filha.

- E se ele não aprovar a minha opção, presumo que ficarei livre para voltar para casa - Ino concluiu com um ar triunfante.

Kurenai tentava raciocinar rapidamente, procurando entender que plano seria esse. Por algum motivo obscuro, sua senhora acreditava que o rei Hyuuga lhe negaria permissão para casar-se com o cavaleiro escolhido.

- Minha lady, você não teria coragem de selecionar um homem já casado?

- Não! Eu sequer tinha pensado nessa possibilidade juro! - Ino ficou em silêncio alguns segundos, como se considerando tal alternativa. Então descartou a ideia. - Não, não creio que Neji aceitasse um caso assim. Mas ele será contra a minha escolha. Terá que ser!

A mulher mais velha inspirou fundo preparando-se para ouvir o pior. Precisava saber o resto da história, embora tivesse certeza de que não iria gostar nada do que estava para escutar.

- E quem será o eleito? - indagou ansiosa.

Experimentando a primeira sensação positiva do dia, Ino passeou o olhar desdenhoso vagarosamente pelos cavaleiros lá embaixo antes de fitar a dama de companhia

- Vou escolher o barão Sabaku.

Cheia de expectativa, aguardou a reação de Kurenai-san, que com certeza iria cumprimentá-la pela demonstração de engenho e inteligência, em vez de palavras de admiração, a dama só teve tempo de arregalar os olhos antes de cair desmaiada no chão.

Ino ergueu a cabeça e jogou os ombros para trás ao entrar no salão agora vazio, à exceção de Hyuuga Neji, da rainha, alguns poucos servos e conselheiros. O rei tinha concedido a graça de uma audiência em particular, porém não sabia se devia considerar a atitude uma bênção ou uma maldição.

Se Neji pretendesse contrariar a sua decisão, com certeza seria mais difícil fazê-lo na frente de muitas pessoas. Já perante um grupo pequeno... Não, não queria pensar em derrota. Um guerreiro nunca se deixa abater.

O rei ainda era um homem bonito. Alto, pernas longas, cabelos escuros e compridos, os olhos marcantes da família real, prateados. Contudo Ino se ajoelhou diante dele sem a menor emoção.

Jamais se sentira atraída por qualquer homem.

- Boa noite, Yamanaka Ino. Espero que você tenha apreciado sua estada na corte.

- Sim, claro, meu rei - ela respondeu forçando um sorriso.

- Também espero que tenha usado seu tempo de maneira sensata para escolher um marido dentre meus cavaleiros reunidos aqui. - o rei sorriu, como se a situação o divertisse. Vê-lo sorrir lhe fez ter um arrepio na base da espinha.

- Meu rei não limitou a seleção dentre os que se encontravam presentes na corte - Ino falou procurando manter-se calma. - Posso me casar com qualquer um de seus cavaleiros, não posso?

Embora surpreso, o Hyuuga concordou com um breve aceno de cabeça. Apesar de firmemente decidida a levar o plano até o fim, parecia cada vez mais difícil pronunciar o nome do eleito. Foi com muito esforço que as palavras ganharam vida.

- Então escolho para marido o barão Sabaku, de Suna.

O anúncio teve o efeito esperado. As pessoas ao redor não fizeram a menor questão de disfarçar o choque que sua escolha causara e logo os comentários, sempre associados ao barão, enchiam o ar.

- O Cavaleiro Vermelho...

- O próprio diabo encarnado...

- O feiticeiro...

- Praticante da magia negra... – sussurravam vozes anônimas.

Embora Ino já tivesse escutado todos esses rumores antes, as palavras a desassossegavam mais agora porque, de certa forma, lhe diziam respeito. Determinada a não se deixar abater, ergueu a cabeça e fitou cada um dos presentes com altivez.

Todos a olhavam horrorizados. Todos, exceto o rei e sua esposa, é claro. Neji conseguiu disfarçar a raiva rapidamente e Ino conteve um sorriso triunfal. Se o rei estava zangado, era porque se sabia derrotado. E é claro que não poderia voltar atrás na palavra empenhada, ficando portanto obrigado a liberá-la do compromisso de arrumar um marido.

Quando estava a ponto de dizer algo, Neji foi interrompido pela esposa, que lhe sussurrou alguma coisa no ouvido. Talvez a rainha estivesse tentando apaziguá-lo, Ino pensou esperançosa. Afinal Hanabi sempre fora considerada uma influência benéfica sobre a personalidade rígida do rei, que embora prestasse atenção à esposa, mantinha os olhos prateados fixos em Ino.

Aquele olhar penetrante dava a impressão de enxergá-la por dentro, medindo suas forças e fraquezas, avaliando-a, desvendando-lhe os segredos da alma. Por fim Neji começou a rir. Ino respirou aliviada, certa de que o rei achava tudo muito engraçado. Claro que sairia daquela audiência vitoriosa. Logo poderia ir para casa como uma mulher livre!

- Pois então que seja! - Neji falou em alto e bom som. - O barão Sabaku é o escolhido.

Ino quase não podia acreditar no que acabara de ouvir. Estava certa de que sua escolha seria contestada ou que, pelo menos, fosse forçada a selecionar outro pretendente. Mas nunca, nunca lhe passara pela cabeça que o rei a deixaria casar-se com o Cavaleiro Vermelho, um recluso capaz de fechar as portas de seu castelo a todos os que viviam do lado de fora das muralhas sombrias que cercavam a propriedade.

Por um instante ela sentiu o chão fugir sob os pés, porém manteve-se firme.

Neji apenas sorriu diante de seu assombro. Obviamente a tentativa de trapaceá-lo acabara desagradando-o e ele não hesitaria em puni-la pelo comportamento ultrajante. Oh, Deus, Kurenai tinha razão. Conseguira se meter numa enrascada ainda maior do que antes... a não ser que... a não ser que...

- Muito naturalmente eu esperava que sua escolha recaísse sobre um dos barões que lhe foram apresentados durante sua estada aqui. Porém, como você mesma fez questão de ressaltar, dei-lhe permissão para selecionar um marido dentre todos os meus cavaleiros. Sua escolha foi incomum, inesperada, e o Sabaku é alguém que eu não iria sugerir. Entretanto não vejo motivo para negar esse desejo de seu coração.

As palavras do rei exalavam um sarcasmo sutil, fazendo-a estremecer.

- De qualquer maneira acho que você fará bem ao Sabaku. Um anjo de luz para o nosso Cavaleiro Vermelho. Talvez você consiga domá-lo, hein? - A pergunta fora feita à audiência, que não hesitou em rir nervosamente. Hanabi sorriu serena e Ino logo percebeu que não teria ajuda feminina naquela questão delicada.

- Muito bem, então. - o rei concluiu satisfeito. - Que sua jornada seja tranquila. Pode partir amanhã mesmo e chegará a Suna antes do Natal.

Ino não sabia o que dizer. Partir tão cedo assim? Com muita dificuldade conseguiu se recompor o suficiente para murmurar agradecimentos vazios. Então fez uma mesura e saiu do salão, ainda sem conseguir acreditar que estava para se casar com um homem de quem conhecia apenas a fama e os rumores assustadores que o cercavam.


Yamanaka Ino estava arrumando a bagagem quando Kurenai-san apareceu.

- E então, minha lady? - a dama perguntou trêmula, a respiração suspensa.

Ela não se deu ao trabalho de virar-se e continuou ajeitando os vestidos dentro do baú.

- Partimos amanhã de manhã... para Suna.

A Serva começou a se lamentar baixinho, como se entoando um canto fúnebre. Por fim Ino voltou-se para fitá-la.

- Por favor, não me venha com essa história de desmaiar de novo. Tenho outras coisas mais importantes para fazer do que ficar levantando-a do chão.

- Mas, minha lady, por quê? Por que você foi escolher aquele monstro, quando na corte estavam reunidos os cavaleiros mais bonitos do reino?

Apesar de bonitos, todos agiriam como meu dono, Ino pensou irritada. Nunca em sua vida se submetera a um senhor. Seu pai e seus irmãos sempre a tinham deixado entregue a si mesma. Jamais fora forçada a cumprir ordens de terceiros, a seguir outras inclinações que não fossem as próprias. Portanto não pretendia começar agora, decidiu guardando os chinelos com raiva.

- Mas o Sabaku...! - Kurenai fez o sinal da cruz. - Ele é o mal encarnado! Dizem que é alquimista, praticante de magia negra, um adorador... do diabo! E por isso que o chamam de Cavaleiro Vermelho, porque tem parte com o demônio! E agora que se enfurnou em Suna, recusa-se a sair das suas terras. Porém manda buscar magos e feiticeiros para aprender os segredos da magia. Depois descarta-los e conjura os espíritos para realizar seus propósitos negros. Dizem que aqueles que entram em seu covil... jamais retornam.

Kurenai baixou a cabeça como se não suportasse o peso do que acabara de dizer. Percebendo o pavor da criada, Ino abraçou-a carinhosamente.

- Rumores! Quanta bobagem! Todos os grandes cavaleiros costumam alimentar lendas sobre si mesmos com o objetivo de despertar medo no coração de seus inimigos. Este Cavaleiro Vermelho é um mortal comum. Você vai ver.

Ela deu um tapinha nas costas de Kurenai e obrigou-a a sentar-se num banco enquanto voltava à tarefa de arrumar a bagagem.

- Mas por que, minha lady, por quê? - a mulher mais velha tornou a insistir. - Era esse o seu plano... nos mandar direto para os braços do mal?

- Admito que alimentei esperanças de que o rei rejeitasse minha escolha, porém Neji recusou-se a aceitar que eu havia levado a melhor e resolveu me dar uma lição.

Ino colocou uma Bíblia sobre os vestidos dobrados e fechou um dos baús. Kurenai-san recomeçou a choramingar e a balançar a cabeça de um lado para o outro.

- Pare com essa tolice agora mesmo - Ino ordenou, esforçando-se para não perder a calma. - Não se preocupe quanto ao tal cavaleiro terrível. Prometo-lhe que não ficaremos em Suna o bastante para ser mos maltratadas.

A serva fitou-a intrigada, sem entender o comentário.

- Você acha que Sabaku quer uma esposa espiando suas atividades macabras? Não, acho que não. Ele não demonstra qualquer interesse pela vida na corte e nem parece se preocupar com dinheiro. Tenho certeza de que se recusará a me aceitar como esposa. Assim poderei voltar para casa, livre e solteira. - Falou aparentando mais certeza do que sentia.

- Isso seria loucura! Nem mesmo o Cavaleiro Vermelho poderia desafiar uma ordem do rei!

Ino deu de ombros e voltou a atenção para a bagagem, terminando de ajeitar as últimas peças de roupa.

- Ouvi dizer que Montmorency vive de acordo com as próprias leis.

- Sim, só que certamente não se oporá ao rei. – Kurenai-san insistiu.

- Se ele não se opor à ordem de Neji, então nos casaremos. Na minha opinião, tanto faz ter um enviado do demônio para marido como outro qualquer. – Ela bateu a tampa do baú com tanta força que a madeira quase se partiu em duas.

O ar estava gélido na manhã seguinte e Ino apertou a capa de pele de encontro ao corpo, procurando calor e conforto. Não que estivesse assustada, jamais, era apenas frio.

Hiashi, um dos homens do rei, liderava o pequeno grupo, composto de seis guardas e três servos. Uma figura magra, de baixa estatura, logo lhe chamou a atenção.

- Quem é aquele? - indagou curiosa.

- O padre, claro - Hiashi respondeu secamente. - Assim teremos certeza de que o casamento foi mesmo realizado. Talvez o rei suspeite de que não haja sacerdotes em Suna...

Irritada com a insolência do comentário, Ino se afastou a galope, esforçando-se para não se deixar dominar pela inquietude. Embora tivesse usado a reputação tenebrosa do Sabaku na esperança de escapar da imposição de Neji, ela não acreditava numa só palavra do que se dizia sobre o Cavaleiro Vermelho.

A experiência lhe ensinara que fofocas se espalham depressa e são sempre exageradas. Portanto tinha certeza de que os rumores terríveis não passavam disso: rumores. O fato de não haver capelão em Suna não significava que seu futuro marido o espantara de lá com suas práticas de magia negra.

Ino quase riu alto e de repente a presença do sacerdote no grupo lhe pareceu bastante divertida. Talvez o Cavaleiro Vermelho decidisse manter o pobre homem no castelo, mas certamente não para oficiar a cerimônia de casamento. Afinal pode-se levar um cavalo até a água, mas não se pode obrigá-lo a beber.

Ela escolhera o barão Sabaku, porém ele não a escolhera. Assim, com ou sem padre, não conseguia imaginar alguém forçando-o a casar-se. E então, ficaria livre para voltar para casa...

Estava claro que Hiashi não a apreciava nem um pouco e a cada dia que passava forçava a marcha dos cavalos, como se o grupo estivesse indo direto para uma batalha, não para um casamento. Kurenai choramingava e reclamava de pura exaustão, porém Ino mantinha-se firme. Quanto mais cedo chegassem aos domínios do Sabaku, mais depressa poderia tomar o caminho de casa.

Contudo, ao se aproximarem de Suna, uma sensação estranha começou a dominá-la. A paisagem era Imponente, rude. Vastas planícies se estendiam a perder de vista e uma floresta lúgubre impunha sua presença ameaçadora.

Entardecia quando Ino, pela primeira vez, colocou os olhos sobre o castelo do Cavaleiro Vermelho e apesar de todas as suas resoluções corajosas, sentiu um aperto terrível no coração. O Sol se punha no horizonte, lançando sombras profundas sobre as velhas paredes de pedras. A construção maciça e retangular lançava suas torres negras para o infinito, desafiando os céus. Uma névoa úmida e cinzenta se espalhava pelos arredores, como se saída do nada, envolvendo Suna num manto fantasmagórico.

O efeito era tão arrepiante que Ino se sentiu vacilar e por um momento perguntou-se se o Sabaku não teria mesmo poderes sobrenaturais, poderes que o permitiam comandar os elementos da natureza e fazer com que uma névoa espessa escondesse seu castelo de olhos curiosos e visitantes indesejáveis.

Os lamentos angustiados em forma de prece de Kurenai-san arrancaram-na daquela espécie de torpor. Ao reparar que os servos se benziam e o padre murmurava palavras incompreensíveis, orações ou maldições talvez, Ino deixou a hesitação de lado e foi em frente. Então aguardou que os guardas do rei cruzassem a ponte levadiça.

Pelo menos teria o calor de um fogo e a maciez de uma cama para confortá-la. E quem sabe amanhã, quando tomassem o caminho de casa, também se veriam livre da neve.

Claro que, apesar do mau humor constante, Hiashi não se recusaria a acompanhá-las até Konoha. Porém, se ele tivesse coragem de recusar, não pensaria duas vezes antes de implorar o auxilio de alguns homens de Suna. Afinal seria a esposa rejeitada do senhor do castelo.

De repente Hiashi aproximou-se a galope, uma expressão furiosa no rosto.

- Negaram-nos permissão para cruzar a ponte. – ele informou espumando de raiva.

- Por quê? - Embora estivesse ansiosa para escapar do frio intenso, Ino decidiu que aquele tipo de tratamento rude era motivo para celebração. Quem sabe o Cavaleiro Vermelho se recusaria a vê-la? Talvez pudesse partir para Konoha ainda mais cedo do que imaginara.

- Porque o castelo já está fechado para a noite e todos os visitantes são proibidos de entrar até amanhã de manhã.

Ino inspirou fundo, pronta para fazer um comentário qualquer, quando ouviu um gemido angustiado. Kurenai balançava perigosamente sobre o cavalo, como se estivesse a ponto de desmaiar. Em questão de segundos estava ao lado da dama de companhia, amparando-a com o braço.

- Que bobagem é essa? - perguntou com altivez. - Exijo falar com o barão Sabaku agora mesmo!

- Foi o que eu fiz. - Hiashi respondeu irritado. - Mas meu pedido foi recusado até amanhã.

Conformado, apesar de furioso, o emissário do rei mandou os servos erguerem o acampamento sob as sombras do castelo.

Outro gemido de Kurenai-san exigiu a atenção de Ino.

- Pare com isso, ou vou deixá-la cair no chão. - avisou, impaciente com os chiliques da criada.

- Oh, minha lady, é como temíamos. O Cavaleiro Vermelho é uma criatura das trevas.

- Se ele fosse uma criatura das trevas, então deveria estar aqui, apreciando os arredores. Ele é uma criatura da grosseria, isso sim! Nunca ouvi dizer que alguém negasse abrigo a visitantes. E pensar que estamos aqui por ordem do rei! Este Cavaleiro Vermelho é ousado demais.

Embora a idéia de dormir outra noite ao relento, quando uma cama macia estava ao alcance das mãos, a incomodasse, a atitude desafiadora do Sabaku a impressionava. Aliás, ia bem de acordo com seus planos.

- O homem é um demônio, marque bem minhas palavras. - Kurenai murmurou num tom fúnebre.

- E você marque bem minhas palavras. - Ino devolveu, um sorriso triunfante nos lábios. - Ele é um homem mal-educado e rude que não hesitará em desafiar as ordens do rei amanhã! E então... então poderemos ir para casa.


Na manhã seguinte, a ponte levadiça foi finalmente abaixada sobre a vala profunda que cercava o castelo e o grupo liderado por Hiashi pôde entrar em Suna.

Acostumada ao movimento incessante de Konoha, Ino ficou surpresa ao descobrir o pátio quase deserto. A construção parecia vazia!

Sabendo como Kurenai interpretaria aquela ausência de pessoas, evitou fitar a serva. Mesmo considerando a lenda criada em torno do Cavaleiro Vermelho um punhado de bobagens, Ino não conseguiu evitar a sensação desagradável, beirando ao pavor, que a invadiu ao ouvir a ponte levadiça sendo alçada de volta.

Por um instante sentiu-se trancada dentro do um covil, à mercê de feras...

Determinada a enfrentar a situação a qualquer custo, procurou dominar o medo enquanto um guarda os conduziu à parte interna do castelo. Porém o salão de Suna não lhe trouxe conforto algum. Imenso e escuro, cheirava a fumaça e mofo, sendo possível enxergar camadas grossas de sujeira acumuladas nas paredes.

Que tipo de homem seria esse, capaz de deixar a própria casa nestas condições?

As janelas estreitas estavam fechadas, quase não deixando passar os raios tímidos de Sol, insuficientes para romper a escuridão. Falta de iluminação adequada não era algo incomum, especialmente em construções antigas como o castelo de Suna, mas em geral o problema era contornado com o auxilio de velas e tochas, deixadas acesas durante o dia inteiro.

Entretanto, apesar do tamanho impressionante do salão, quase não se viam velas. Ino estremeceu e olhou ao redor, procurando enxergar através das sombras. Embora a lareira estivesse acesa, o fogo baixo de pouco servia para oferecer calor e conforto.

De onde estava, a outra extremidade do salão era impenetrável, imersa em trevas sufocantes. Ino recusava-se a fitar Kurenai que se aproximara do sacerdote como se buscasse proteção.

O grupo permaneceu em silêncio, a atmosfera opressora envolvendo-os como um manto. Dentro do silêncio pesado ouviam-se apenas os passos impacientes de Hiashi. O emissário do rei andava de um lado para o outro sem disfarçar a irritação crescente. Acostumado a ser tratado com uma certa deferência, não se conformava com o descaso mostrado pelo barão Sabaku, especialmente depois da noite passada ao relento.

Quando Hiashi parecia a ponto de explodir, um servo anunciou que o Cavaleiro Vermelho mandara lhes servir uma refeição. Mesmo ainda sendo um tanto cedo para o almoço, os homens se atiraram à comida, como se estivessem famintos não só de alimentos mas de algo que lhes desse uma sensação de normalidade.

- Vamos, coma, minha lady. - Kurenai murmurou puxando a jovem para o seu lado.

Porém Ino sentia-se incapaz de comer; não quando tinha consciência da gravidade da tarefa que a aguardava. De repente seu plano lhe parecia ousado demais, incerto demais para alcançar o sucesso. Além de tudo o castelo de Suna a perturbava profundamente, inquietando-a ao extremo.

Até o momento presente, o homem fazia jus à sua reputação. Um único servo ia e vinha da cozinha, trazendo travessas, fatiando a carne assada, servindo cerveja.

- Onde estão todos? - ela indagou assombrada, sem na verdade esperar qualquer resposta. Acostumada ao movimento do salão principal em Konoha, onde as vozes das damas, cavaleiros, servos e visitantes se misturavam numa alegre algazarra, era impossível não se ressentir desse silêncio fúnebre.

O castelo era muito quieto, o eco das paredes vazias transformando qualquer barulho num som ameaçador.

- Ele é inumano, pode estar certa disso. - Kurenai sussurrou horrorizada.

- Não é inumano viver na pobreza - Ino retrucou, um ar pensativo no rosto. - Só agora percebi como sempre tomei certas coisas como garantidas. O castelo que meu pai construiu quando jovem ainda está em ótimas condições nos dias de hoje, cheio de luz, belas pinturas, tapeçarias delicadas. E também muitos servos cumprindo suas obrigações...

- Grande parte disso se deve a você, minha lady. Os homens, quando deixados por sua própria conta, em geral acabam se descuidando da comida e da limpeza. - Kurenai fez uma careta de desagrado.

- Concordo inteiramente. - Pelo pouco que Ino conseguira ver até então, o castelo Suna parecia imundo.

Uma grossa camada de sujeira cobria o chão e o ar tinha o cheiro desagradável de alimentos estragados e lixo acumulado. As paredes estavam pretas de fumaça, as mesas sujas e ásperas. Os pratos usados na refeição nadavam em gordura e ela se perguntou se o resto do castelo também estava naquelas tristes condições.

Servida em pratos limpos ou não, a verdade é que a comida tinha um gosto intragável. Depois de provar o primeiro pedaço da carne, Ino deu-se por satisfeita e mordiscou uma fatia de pão enquanto os outros continuavam a almoçar. E como almoçaram. A refeição deu a impressão de durar para sempre, servindo apenas para aumentar seu estado de agitação.

De qualquer maneira todos pareciam mais relaxados com os estômagos cheios, à exceção de Delamere e Ino, cada qual mais furioso do que o outro.

- Vamos, minha lady, beba alguma coisa – Kurenai insistiu, procurando acalmá-la.

- Não quero nada, quero apenas dar esse caso por encerrado. Mal posso esperar que o Sabaku apareça para resolver o assunto. Assim poderemos ir embora logo!

- Psiu! - A criada apontou discretamente na direção de Hiashi.

Ino ignorou o aviso.

- Por que a demora? Por que somos obrigados a aguardar aqui como mendigos depois de termos sido forçados a passar a noite do lado de fora do castelo?

- Minha lady, por favor, cuidado com a língua. As paredes têm ouvidos. Não seria sensato desafiar a ira do Cavaleiro Vermelho.

- Pois não me importo se ele é o próprio diabo encarnado. Se não formos admitidos na sua presença neste instante, partirei para Konoha. Claro que assim a ordem do rei perderá o valor.

Kurenai cobriu o rosto com as mãos, apavorada, enquanto Hiashi fuzilava Ino com o olhar.

Como se aguardasse o momento certo para interferir, um servo chamado Kankuro deu um passo à frente.

- Se minha lady e este cavaleiro fizerem o favor de me acompanhar, meu lorde está pronto para recebê-los agora.

Por um momento Ino pensou em levar Kurenai também, mas acabou decidindo que o melhor era deixá-la no salão, na companhia dos outros. Se o Cavaleiro Vermelho fosse metade do que os rumores envolvendo sua reputação afirmavam, provavelmente a criada desmaiaria de novo.

Kankuro os conduziu através de um corredor gelado até li ma escada em espiral. Era quase impossível enxergar os degraus, tão espessa a escuridão. O castiçal levado pelo servo silencioso de pouco adiantava e ela mal percebeu quando pararam diante de uma porta de madeira maciça. Então Kankuro abriu-a e fez um sinal para que entrassem. Ino presumiu que estivessem nos aposentos do Cavaleiro Vermelho, no próprio covil da fera.

Depois do frio penetrante do corredor, o calor dentro do quarto imenso era mais do que bem-vindo. Ela aproximou-se da lareira para estendeu as mãos para aquecê-las, enquanto olhava ao redor curiosa. Se houvessem janelas, deviam estar totalmente fechadas porque o único foco de iluminação vinha do fogo pálido.

Com muita dificuldade, percebeu que as paredes eram pintadas de vermelho claro e as cortinas de veludo acompanhavam o mesmo tom. Na verdade, um ambiente perfeito para o Sabaku considerando todos os rumores, é claro. Sem tachas ou castiçais para aliviar as trevas, estavam lodos envolvidos numa escuridão quase total.

Bem longe deles, envolto pelas sombras mais pesadas, destacava-se a figura de um homem altíssimo, ladeado por dois cachorros enormes. Seria Sabaku?

Ino focalizou bem os olhos tentando enxergá-lo melhor, porém por mais que se esforçasse, não conseguia vê-la com nitidez. Contudo não linha dúvidas de que, apesar de sentado, era um homem muito, muito maior do que Hiashi. Além da altura, era impossível distinguir as feições do rosto, a cor e o comprimento dos cabelos ou mesmo as roupas que o desconhecido usava.

Embora o instinto lhe dissesse que estava frente a frente com o Cavaleiro Vermelho, ainda assim não podia ver nada além de uma silhueta escura. Toda aquela circunstância incomum era bastante inquietante.

Que tipo de homem seria ele? Será que procurava assustá-los propositalmente? Ino jamais temera a noite e nunca acreditara nas histórias fantásticas que se contavam sobre o barão.

Mesmo assim não conseguiu evitar os tremores que a sacudiram da cabeça aos pés, como um aviso carregado de maus presságios.

Se estivesse presente, Kurenai, com certeza, teria caído desmaiada no chão.

.

.

.

.

.


Nota de rodapé:

Esta fanfic é uma adaptação¹ do livro Bodas de Fogo, de autoria de Deborah Simmons, de 1995.

Quer ler uma Pain x Konan? Experimente "Anjo de Deus", disponível em meu perfil.

[]'s