Isabella não tinha certeza se Stonewood Abbey lembrava-lhe mais um museu ou uma igreja.
Ela se atrapalhou com as luzes do corredor, os pelos em seus braços eriçaram nervosos de medo até que bateu no interruptor e uma luz acendeu, uma quente e brilhante luz que preencheu o caminho da porta. E ela engasgou com a visão.
Piso de mármore no padrão preto-e-branco quadriculado se estendia largo à frente dela. Uma escada de madeira maciça seguia até o centro dividindo o piso em ambos os lados da sala. Escudos de vários e diferentes brasões de armas cobriam as paredes do vestíbulo. No outro lado do saguão principal, ela podia ver uma pequena área designada para ser uma loja de turismo, coberta de livros e cartões postais e um balcão de camisetas. Do outro lado da escada, no outro lado da sala, havia algumas luminárias, duas cadeiras com apoio para os pés, e um grande retrato apoiado em cima da enorme lareira.
— Caramba — ela suspirou em voz alta. O silêncio respondeu, lembrando-lhe que ela estaria, aqui neste imenso castelo, sozinha pelas próximas três semanas. Seu humor melhorou ligeiramente quando ela caminhou para dentro, encantada com a beleza do lugar.
Por toda sua vida, ela sonhara em visitar um castelo e agora tinha um por três semanas. Todo dela! Cora deu um suspiro feliz.
Primeiro a primeira coisa, disse para si mesma, percebendo o quão cansada e suja que estava. O voo para Londres desde o Kansas tinha sido um pesadelo de quinze horas, e tudo o que ela queria fazer agora era dormir. Era quase meia-noite, na Inglaterra, e ela ficou inteiramente acordada por tempo demais. Bocejando, Bella levantou as malas e subiu as escadas, procurando pelos quartos de hóspedes.
Após vários minutos explorando e acendendo as luzes, encontrou um corredor com uma fileira de portas, que presumiu serem os quartos de hóspedes da imensa casa. Uma nota estava pregada na primeira porta do corredor, e ela arrancou-a e desdobrou.
Isabella querida,
Muito obrigado por cuidar da Abadia enquanto o seu tio e eu estamos em férias na Espanha. Há comida extra na cozinha, e o vizinho estará por aí todas as tardes para verificar o local. Eu deixei notas sobre as portas que a Abadia está fechada aos turistas por algumas semanas, mas quero que você esteja aí apenas no caso de algum deles aparecer. Nós designamos o Quarto do Espelho para você. A casa precisa de uma boa limpeza de cima abaixo, e eu contei a prataria.
Amor e Beijos,
Tia Vitória
Adorável. Isso não soava como se a Tia Vitória confiasse nela para cuidar do lugar, apesar de ter sido sugestão dela que Bella voasse para Londres e desse uma de "cuidadora" de casa. Ela supôs que sua mãe tinha imposto isto para Vitória, e foi assim que Isabella conseguiu o trabalho. Afinal, ela só encontrou a tia Vic uma vez, e certamente não tinha nenhuma experiência de como cuidar de uma casa, muito menos de um castelo.
Isabella abriu a porta e olhou para dentro do quarto, em seguida, fechou a porta novamente. Apesar de ter toda a propriedade para si, ela sentiu como se devesse ficar no quarto designado a ela. Então, abriu as portas, procurando um que se chamava o "Quarto do Espelho".
Ela encontrou-o na parte de trás do longo corredor. O quarto era o menor e menos ornamentado de todos, mas não havia dúvida de que era o mencionado "Quarto do Espelho". Um grande espelho de dois metros e meio de altura dominava a parede do outro lado do aposento, a única decoração nas paredes revestidas de madeira escura. Bella colocou suas malas no chão e acendeu uma das lâmpadas pequenas em uma cômoda, olhando ao redor do pequeno quarto que seria sua casa durante as próximas três semanas.
Ele não era muito grande. Maior do que um quarto de hotel, mas, obviamente, não um dos mais elegantes hotéis. A cama era de tamanho decente, irregular, mas limpa e com uma cabeceira esculpida. Uma cadeira Louis XIV empoleirada no canto da sala, com uma almofada amarela jogada no assento. Isabella caminhou para o espelho, admirando-o. Havia manchas ao redor das bordas que sugeriam que era muito antigo, e a moldura era de algum tipo de metal pesado e prateado decorado com símbolos antigos. Parecia muito velho, o vidro levemente ondulado e escuro enquanto Bella examinava seu reflexo. Uma mão foi até sua bochecha.
—Eu pareço com o inferno—, disse ela em voz alta.
O silêncio era ensurdecedor, mas, na hora, o cabelo na parte de trás do seu pescoço arrepiou-se, e ela olhou por cima do ombro. Ninguém estava na porta.
Bella sorriu para si mesma então e afastou-se do espelho. Ela não tinha ficado na casa mais do que alguns minutos e já tinha assustado a si mesma. É apenas uma casa velha, ela repreendeu-se. E será tão divertido viver aqui nas próximas semanas... Você sempre quis ficar em um castelo, lembra?
Simplesmente nunca pensou que teria que ficar sozinha. Mas então finalmente, estava livre para explorar seus sentimentos e não ter que se preocupar com uma única outra pessoa. Vibrando com isso, Bella começou a assobiar enquanto procurava encontrar um chuveiro.
Algo a acordou de seu sono. Ela piscou uma vez, olhando para o quarto escuro e desconhecido. Tinha ouvido uma pancada? Algo vindo de fora da pequena janela no canto do seu quarto? Sentou-se na cama, esfregando uma mão em seu rosto. Talvez um sonho ruim? Ela estava tendo um sonho sexy, na verdade, um do qual não queria acordar. Um sonho sobre um homem que tinha olhos verdes e selvagens, espessos cabelos, e ombros largos. Definitivamente ninguém que ela conhecesse.
Seus olhos embaçados pelo sono não podiam encontrar nada fora do comum no quarto, e qualquer que fosse o som, não se repetiu. Com um bocejo, Bella virou-se na cama e puxou as cobertas perto de seu peito, seus olhos fechando-se lentamente.
Pouco antes de fechá-los, ela notou que o espelho brilhou, abriu os olhos e observou-o, perguntando-se de onde a iluminação estaria vindo. A luz no espelho desapareceu tão rapidamente como tinha aparecido, e ela viu a figura de um grande homem em pé em toda a extensão do vidro.
Seu corpo inteiro congelou de medo. É uma sombra, disse a si mesma. Um truque da luz. Mas, então, a sombra se moveu, ainda que levemente, e ela pode perceber um vulto. Uma mão erguida, como se deslizasse na superfície do espelho.
Tentando alcançar através do espelho...
Com um grito asfixiado na garganta, Bella jogou os cobertores longe e disparou para fora do quarto.
Ela não dormiu durante o resto da noite. Quem poderia? Toda vez que fechava os olhos por um segundo, imaginava a sombra tentando alcançar através do espelho, e seu corpo inteiro tremia com calafrios.
É claro que um lugar como este teria fantasmas. Fazia sentido. Stonewood Abbey tinha pelo menos seiscentos anos de idade. Talvez até mesmo oitocentos. Podia-se compreender que, em algum ponto nestes anos, alguém teria morrido infeliz e deixado um espírito para trás. É claro que isso não queria dizer que ela teria que permanecer ali e cuidar da casa e de um fantasma também. Ia escrever para Tia Vitória, e dizer-lhe obrigada, mas não e fugir como do Inferno de Dante.
Agora que o sol estava entrando pelas janelas, no entanto, um pouco de sua coragem voltou. Ela passou toda a noite acampada no sofá do hall de entrada, completamente apavorada, todas as luzes da sala acesas. Exausta, mas corajosa com o sol em suas costas, Bella pegou seus cobertores e voltou para o quarto, seu corpo rígido de medo.
A porta ainda estava fechada desde a noite anterior. Com dedos trêmulos, ela girou a maçaneta o mais silenciosamente possível, tentando não fazer barulho. A porta abriu uma fenda e ela olhou para dentro.
Seu quarto parecia tranquilo. Normal. O sol brilhava através de sua pequena janela, iluminando sua cama. Nada parecia assustador. O espelho era apenas um espelho. Ela não sabia se sentia aliviada ou estúpida, pois não havia sinais de um intruso, sobrenatural ou não. Um sonho ruim, ela disse a si mesma. Ela tinha tido um pesadelo e tinha imaginado aquilo. Aliviada, pegou sua mala e começou a trocar de roupa.
Uma batida soou na porta do andar de baixo, assustando-a e provocando um pequeno grito em sua garganta. Bella agarrou o peito, correndo para fora do quarto. Deus, ela nunca chegaria ao final das três semanas se tivesse uma crise nervosa cada vez que escutasse um ruído.
Desceu as escadas e atravessou o grande salão principal até a porta, com a expectativa de afastar um turista ou dois. Em vez disso, havia uma mulher pequena com cabelos pretos curtos e espetados, brilhantemente colorida, em sua porta, com uma cesta e um sorriso radiante. Ela também tinha o chapéu mais feio que Isabella já tinha visto.
— Eu sinto muito — começou — Mas o museu está fechado pelas próximas semanas
— Onde está a adorável Vitória? — Perguntou a mulher — Eu fiz seus bolinhos favoritos. — Ela abriu caminho para a sala, empurrando e passando por Bella.
— Oh, querida. — Bella seguiu atrás da pequena mulher, penteando com os dedos as mechas de cabelos embaraçados. — Tia Vitória está em férias...
A mulher olhou para trás e deu a Bella um olhar cético. O movimento foi tão brusco que uma das aves falsas sobre seu chapéu caiu para frente sobre a borda branca acolchoada.
— Eles abandonaram você aqui?
— Abandonaram? — repetiu. — Não, eu estou apenas cuidando da casa.
A mulher fez um som de desaprovação e passou por ela, fechando a porta para o salão principal atrás dela.
— Só porque Vitória é um membro da família não significa que ela é do tipo compreensiva. — deu a Bella um olhar astuto. — Eu aposto que ela contou a prata antes de você chegar, não é?
— Bem... — começou.
— Eu sabia! Então por que ela deixou-a com seu castelo se não confia em você?
Isabella cruzou os braços sobre o peito, tentando pensar em uma maneira melhor de expressar seu relacionamento, ou a falta dele, com a tia. Ela sabia por que a tia lhe dera a tarefa. Ela precisava de um emprego, a mãe tinha dito ao telefone, conversando com sua irmã. Ela está desempregada e deprimida, e precisa de uma mudança de ritmo. Ela é uma boa menina, eu juro. E se alguma coisa der errado, Vitória, eu vou dar um jeito. Não se preocupe com nada. Basta fazer isso por mim, por favor.
Deus, mesmo sua própria mãe não confiava nela. Eles simplesmente queriam que saísse de casa, porque achavam que estava sofrendo de depressão. Suas bochechas ruborizaram, ela admitiu:
— Eu realmente só queria fugir. Minha mãe forçou minha tia a me deixar vir aqui para cuidar da casa.
As sobrancelhas da pequenina mulher levantaram tão alto que desapareceram sob a aba do seu chapéu.
— Meu Deus. Você não parece uma adolescente.
— Eu não sou uma adolescente — disse Bella, perplexa. Do que ela estava falando?
— Mas você acabou de dizer que sua mãe conseguiu para você este trabalho.
—Não, eu...
A mulher acenou com a mão para ela, descartando o seu argumento.
— Eu não tenho nada contra a receber alguma ajuda. É bom que você esteja aqui. Passei toda a noite assando estes estúpidos biscoitos e alguém tem que comê-los. Agora, onde está a cozinha neste amontoado de pedras?
— Eu, hã, não sei... — confessou, arrastando-se atrás da mulher. — Eu não tive a chance de explorar o lugar ainda. — Ela não queria, também, não quando estivesse escuro. — Quem é você?
— Eu sou sua vizinha, Miss Alice Muffet. — A pequena mulher abriu a porta e olhou para dentro.
—Você é quem?
— Miss Alice Muffet. — Ela acenou com a mão no ar, a cesta chacoalhando. — Eu sei, eu sei. Não fale sobre aranhas, por favor. Você pode me chamar de Muffin. Todo mundo faz.
— Tudo bem — disse ela lentamente. Muffin Muffet? A julgar pelo guarda-roupa da mulher, talvez ela fosse senil. Isso explicaria muita coisa. — Sou Isabella. Prazer em conhecê-la.
—É claro que você é, querida — disse Muffin rebolando pelo corredor longo. — Ah, sim, aqui está à cozinha.
A cozinha era aconchegante e confortável, com mais dos mesmos escuros painéis e piso xadrez que decorava o resto da Abadia. Este aposento, no entanto, era grande e aberto, com panelas penduradas no teto. Outra imensa lareira tomava toda uma parede, e Muffin apoiou sua cesta nela.
Bella pegou uma garrafa de leite da geladeira e dois copos e sentou-se em um banquinho ao lado de Muffin. A velha entregou-lhe algo que parecia carbonizado, muito escuro.
—O que é isso?
— Café da manhã —, cantarolou Muffin, alegremente.
— Ah! — A coisa parecia como se tivesse travado uma batalha com o forno e perdido. Isabella pegou uma das nozes que pontilham o topo, pelo menos, ela esperava que fossem nozes. — Muito obrigada por cozinhar para mim. É bom ver um rosto amigo esta manhã — ela admitiu.
—Porque você está sozinha neste grande lugar?
Não, porque ontem à noite ela tinha visto um fantasma. Mas não poderia dizer isso a sua nova amiga. Bella sorriu.
— Algo como isso, sim. — Ela descolou do invólucro as bordas do biscoito e franziu a testa. Era uma barra de chiclete cozido que num dos lados da massa? — Então, hã, que tipo de biscoitos são estes?
— Muito especiais — Muffin assegurou com um tapinha na mão. —Coma, minha querida, e diga-me tudo sobre você e como chegou aqui.
Isabella partiu um pedaço do bolo e colocou-o na sua língua. Ele tinha a consistência de massa de pão molhado, misturado com coisas duras, crocantes. Parecia que o exterior super cozido era a única parte assada. Engoliu em seco, tentando forçar o bolo garganta abaixo, e deu a Muffin um sorriso brilhante.
— São muito bons, obrigada.
— Não são? — Ela disse com um olhar astuto, como se soubesse que Bella estava mentindo para ela. — São os favoritos de Vitória.
— Muito bom — Bella repetiu, em seguida, colocando o tal alimento agressor na mesa, para que não tivesse de comer mais do mesmo. — O que você quer saber sobre mim?
— Oh, isso e aquilo. Conte-me sua história — disse Muffin com um olhar maroto no rosto de fada. Ela enfiou a mão na cesta, milhões de contas das pulseiras deslizando em seu braço, e tirou um biscoito parecendo surpreendentemente normal. — Eu sempre gosto de conhecer novas pessoas.
— Hum, bem... Eu costumava ser uma administradora de rede — Bella admitiu. — Mas meu trabalho foi reduzido há alguns meses, e eu só tenho estado... Olhando. Isso é tudo o que há para dizer — Isabella tentou dizer com um sorriso corajoso e depois arruinou tudo quando começou a chorar. Grossas lágrimas escorriam pelo seu rosto e ela limpou-as às pressas, tentando esconder seu colapso. — Eu sinto muito. Não sei por que estou chorando. Eu só... Tive um ano realmente muito ruim.
Muffin parecia esperar o pequeno colapso emocional dela. Ela deslizou no banco mais perto de Bella e estendeu a mão para acariciar seu joelho confortavelmente, entregando-lhe outro biscoito. Outro enegrecido. Ela não disse nada, apenas olhava Isabella com olhos amáveis e esperou.
— Eu sinto muito. Sinto muito. — Lágrimas continuavam a rolar pelo seu rosto. — Realmente aconteceram uma série de coisas ruins comigo ultimamente. — Bella admitiu entre soluços. — Meu trabalho, meu ex, tive um longo voo e estou cansada. Eu não dormi muito na noite passada. — Será que Muffin pensaria que ela era uma maluca completa se confessasse o que viu na noite passada? Ela queria desesperadamente confiar em alguém. Precisava de alguém ao seu lado, um confidente, um simpático ouvinte que iria ajudá-la a dar sentido a tudo isso.
Alguém que não a faria se sentir como se estivesse sozinha neste barco, presa pelas próximas três semanas, a menos que ela comprasse uma nova passagem de avião, e então estaria de volta a chatice sem fim de seu vida no Kansas. Decepcionaria sua mãe e enfureceria sua tia se ousasse fazê-lo. O pensamento era tão deprimente quanto ficar ali. Talvez um quarto de hotel? Jogar fora suas economias em uma tentativa obstinada de desfrutar de sua viagem a Inglaterra? O que importava se ela ficava ou voltava? Ela se sentiu derrotada.
— Eu acho que este lugar pode ser... Quer dizer, eu acho que eu poderia ter visto... Algo. Ontem à noite. — Bella disse, hesitante sobre suas palavras. Ela observou o rosto expressivo de Muffin enquanto falava, tentando avaliar sua reação.
De primeira, não registrou nada. Então, seus olhos se arregalaram. — Você ficou no quarto do espelho, não é?
O alívio derramou-se através de Isabella, quente e doce.
— Sim! Então você sabe que este lugar é assombrado? Eu pensei que era louca.
Muffin balançou a cabeça um pouco e deu outra mordida grande no biscoito.
— Oh, não é realmente assombrado — disse ela com a boca cheia. Migalhas voaram.
— Não é? — Bella ajeitou-se em seu banquinho, confusa.
Muffin encolheu os ombros.
— Não realmente. Não no sentido tradicional.
— Mas eu pensei ter visto alguém no espelho.
Ela assentiu.
— Eu tenho certeza que você viu.
Certo, agora isso estava ficando confuso. Isabella colocou o copo na mesa e franziu a testa para Muffin.
— Eu não tenho certeza se estou entendendo o que você quer dizer.
— Há um homem no espelho. — Ela cantarolou alguns compassos da canção de Michael Jackson, então piscou para Bella. — Eu o vi antes. Mas ele não é realmente um fantasma.
— Então ele não está morto?
— Oh, ele está definitivamente morto nesta altura.
— Então, como ele não é um fantasma?
— Porque não é assim tão simples. — Muffin sorriu brilhantemente. — Nada é tão simples. Assim como se eu chamá-la de perdedora desempregada, uma sanguessuga de sua família. Será que é realmente simples assim?
Deus! Ela não esperava. Bella estremeceu com o exemplo.
— Eu não acho.
Muffin lhe deu um olhar astuto, que fez ela desejar saber o quê exatamente estava acontecendo na mente da pequena mulher.
— E se eu ligar a TV, você diria que essas pessoas na tela estão mortas?
— Isso não é a mesma coisa. Isso é uma tela usada para transmitir uma imagem. Eu não vejo...
Ela assentiu com a cabeça.
— Este é o ponto, minha querida. Essa é a razão por que a sua vida está fora do eixo. Você não vê. Você se recusa a olhar nada mais do que seu nariz, e ele está levando você para o caminho errado.
A voz da mulher tinha adquirido um tom de sermão, e corpo de Bella enrijeceu-se com irritação.
— Minha vida não tem nada a ver com o que eu vi ontem à noite. O quarto é assombrado
— Sua vida tem tudo a ver com isso, minha querida. Eu já posso dizer várias coisas sobre você, apenas pela maneira como prendeu a si mesma, e a maneira que você se descreve, até mesmo pelo que veste. — Muffin olhou com desagrado a calça jeans e o suéter preto liso. — Você, minha querida, não quer nada o suficiente para lutar por isso.
Que coisa estranha de se dizer. A boca de Isabella torceu-se em um sorriso irônico.
— É claro que eu quero.
— Realmente! — ela disse claramente incrédula. — Então me diga qual foi à última coisa pela qual você lutou? Realmente e verdadeiramente lutou?
Isabella franziu as sobrancelhas.
— Do que você está falando? Exemplos?
— Exemplos de coisas pelas quais lutou recentemente. — Muffin disse em voz exasperada, atingindo um tom mais alto e acariciou a mão dela novamente. — Tente e preste atenção. Isto é importante.
Ela fez uma careta para Muffin.
— Eu luto por muitas coisas.
— Claro que sim, querida. O seu último trabalho? Será que você lutou por uma promoção?
Bella ficou em silêncio. Ela esteve no mesmo trabalho no escritório por cinco anos sem aumento. Eles lhe ofereceram uma promoção que envolvia se mudar para o Alasca e ela recusou. Eles a dispensaram então.
—Eu imaginei isso. — Muffin disse em uma voz suave. — Sua vida amorosa?
Ela não estava discutindo isso com Muffin. Isso era uma parte de sua vida que estava definitivamente em ruínas.
— Você vê o que eu quero dizer? — A mulher deu-lhe um tapinha firme na mão. — Agora, pense sobre isso. Se eu lhe disser que o grande amor de sua vida viveu há centenas de anos longe de você e tivesse que abandonar tudo para estar com ele, faria isso?
— Você quer dizer quilômetros, certo? Centenas de quilômetros?
— Quilômetros, anos, o que for. — Muffin inclinou a cabeça e um dos pássaros de plástico, pelo menos Isabella esperava que eles fossem de plástico, caiu do lado de fora do chapéu, no balcão. — O que você faria se você tivesse que abandonar tudo para ir atrás dele? E eu quero dizer tudo?
Esta era uma pergunta estúpida.
— Eu iria atrás dele, é claro.
O olhar que Muffin deu a ela era manhoso.
— Você faria isso? Seu trabalho lhe pediu para se transferir para o Alasca e você se recusou, então foi demitida. Seu ex pediu-lhe para correr uma maratona com ele, e você recusou. Ele pediu-lhe para ir acampar e você recusou. Ele pediu-lhe para saírem em uma caminhada pela natureza de três semanas, todas as coisas que ele amava, e você se recusou. Você ainda lutaria por esse trabalho ou sua mãe teria que lutar por você?
— Isso é diferente — Bella protestou.
— É? O que teria acontecido se sua mãe não tivesse forçado a irmã dela a lhe dar este trabalho?
Irritação começou a borbulhar dentro de Isabella, e ela se afastou das mãos de Muffin.
— Você não está sendo justa.
— Eu estou sendo perfeitamente justa — Muffin disse em uma voz imperiosa. — Você não sai de seu . Você desliza ao longo da vida, na esperança de ser inspirada e se mover para a ação, e em vez disso, apenas se senta lá e observa. E agora que sua vida entrou em uma espiral fora de controle, você está recuando. Você recuou quando seu noivo a empurrou, e então ele a deixou. Você recuou quando o seu trabalho a empurrou, e deixou-o ir. Você, minha querida, está chafurdando em uma simples falta de motivação.
Agora, as costas de Isabella estavam inteiramente rígidas e ela olhava para a pequena e velha mulher.
— Você veio aqui para me insultar? Se assim for, está fazendo um grande trabalho.
Um olhar triste atravessou o rosto de Muffin.
— Na verdade, minha querida, eu vim para lhe oferecer coragem. E café da manhã. — Ela deu um sorriso vacilante para Bella e ficou em pé. — E agora eu acredito que eu permaneci tempo demais aqui.
O olhar no rosto de fada de Alice Muffin era tão abatido que Bella imediatamente se sentiu como uma idiota. Envergonhada, estendeu a mão para apertar as de Muffin.
— Nem um pouco. Eu só estou ... Muito cansada. Isso é tudo.
Elas caminharam até a porta da frente da Abadia, nem falaram até que Muffin ficou nos degraus e olhou para Bella sobre o ombro.
— Se você precisar de mim, eu estou na esquina. Não hesite em passar por lá. Estou na casa no final da rua.
Isabella sorriu para ela, querendo implorar para ficar e não deixá-la sozinha na casa grande, mas sentiu que Muffin não iria ficar por mais tempo, já que ambas foram ríspidas uma com a outra.
— Obrigada por ter vindo.
— Coragem! — Muffin lembrou-a enquanto descia os degraus, acenando com o dedo sobre sua cabeça. — Coragem vai abrir as portas para você!
— Eu vou manter isso em mente,— Cora falou atrás dela com um leve sorriso.
Ela atirou sua bolsa brilhante por cima do ombro e algo voou e caiu aos pés de Bella. Ela automaticamente ajoelhou-se para pegá-lo. Parecia um lápis, mas quando ela tocou-o, percebeu que era um cilindro de madeira com uma fita amarrada ao redor dele.
— Você deixou cair alguma coisa.
— Oh! Perdoe-me. — exclamou Muffin, cambaleando de volta até as escadas para recuperá-lo. —Não posso ficar sem isso!
Ficou na ponta da língua para perguntar o que exatamente era aquilo, mas Muffin estava corando, e que trouxe um tom rosado às bochechas de Bella também. Se fosse algo sexual, bem ... Ela não queria saber.
Quando ela finalmente saiu de sua vista, Isabella voltou para dentro da Abadia sombria e fechou a porta atrás dela. Ela encostou-se à madeira grossa, pensando nas palavras de Muffin. Coragem.
Ela poderia usar uma boa dose de coragem. Com isso, Isabella voltou para a cozinha. Foi só depois que ela tinha jogado fora o resto dos muffins pedra-dura que ela percebeu que nunca contou a estranha mulher sobre o ex ... Ou seu trabalho que exigia que ela se mudasse.
Como Muffin sabia? Um calafrio percorreu a espinha de Bella, mas ela se negou a assustar-se. Muffin obviamente devia conhecer sua tia e por isso, talvez esta tivesse compartilhado alguns dos detalhes pessoais de Isabella com a vizinha.
Adorável...
