Traduzida em: 07/04/2008
Autora: Spurnd
Parte 1
O hospital te lembra o motivo pelo qual você costumava evitar se meter em brigas no colégio. Você não queria terminar aqui. Sangrando e machucado. Não, é claro que não. Não aqui. Porque aqui tem cheiro de gente doente, infecção e a todo minuto alguém na UTI fica sem sinais vitais e morre.
Okay, talvez cada minuto é exagero, mas um monte de pessoas morrem no hospital. É um fato na vida. Hospitais não fazem mais do que tentar reparar a saúde de uma pessoa, forjando um falso senso de esperança de que, de algum modo, ela vai se curar da doença e, infernos, na verdade, ela vai viver. Enquanto os médicos não errarem em seu trabalho, pelo menos. Mas, então, às vezes o ciclo não se mantém no próprio curso. Às vezes os médicos erram. Às vezes, uma pessoa morre de vez em quando, e às vezes esperam... Bem, isso não é o suficiente.
Você olha fixamente para a porta por vários momentos, tentando dominar a desordem que está dentro de você. Você tentou andar pelos corredores, de um lado para o outro, pra frente e pra trás, até que estar certo de que fez um buraco no chão. Qualquer coisa para se manter ocupado, manter seus pensamentos no lugar certo e não parar no aspecto mórbido da situação.
Balançar seu joelho para cima e para baixo não se provou muito produtivo, entretanto. A enfermeira na mesa à frente esteve apenas te observando, estranhamente, pela última meia hora desde que você começou a fazer isso, e a graça não durou tanto quanto você esperava. Tudo o que fez foi te cansar.
Então, você se ocupa fitando a porta, de onde você esperava que David surgisse com um sorriso iluminando seu rosto.
Você sente falta disso, o sorriso dele. O modo como alcança seus olhos. Como ele poderia derreter um iceberg e te fazer se sentir bem até num dia ruim. Mais freqüentemente, num show ruim. Já faziam duas semanas desde a última vez que ele ofereceu-lhe um sorriso de verdade. O único que pode derreter geleiras. Desde que ele começou a vomitar todas as manhãs e a evitar seus "afetuosos" conselhos, desejando comidas que ele ia somente descartar minutos mais tarde. Você não está mais certo sobre o que pensar.
Você não quer deduzir que ele está doente. Você está mortalmente temeroso das conseqüências disso. Mas você o ama, David; você o ama tanto que está aterrorizado pelo pensamento de perdê-lo. Até mesmo o mero fato de que ele foi hospitalizado te assusta muito.
Depois de um quarto de hora, a porta se abre, revelando um médico de rosto redondo. Bochechas gordas, talvez com uns 40 anos, com um punhado de cabelo castanho em sua cabeça. Se arrastando atrás dele, com os olhos fitando o chão, está David. Ele parece cansado e inquieto, com seus dedos torcidos juntos.
"Hey," você sussurra para ele. Ele sorri meigamente em retorno. Aquele sorriso que não alcança os olhos dele. Você se levanta do seu assento enquanto o médico vai na sua direção e segura seu braço. "Ele está bem, doutor?" você pergunta, mesmo que relutante. David apenas suspira atrás dele.
O sorriso no rosto do médico faz a bile subir por sua garganta.
Oh Deus.
David vai morrer?
"Senhor Bouvier," o médico começa, um timbre jovial em sua voz. Como diabos o cara pode estar feliz numa hora dessas?
David olha através da mecha escura de seu cabelo, que obscurece seus olhos escuros. Ele parece temeroso, como um gatinho. Suas mãos finas erguem-se para tirar o cabelo da frente dos olhos e você, desesperadamente, deseja segurá-lo em seus braços e dizer a ele que tudo vai ficar bem, ele vai ficar bem, mas o médico não te permite tocá-lo ainda. Ele está tão malditamente perto de você, que você pode sentir o que ele comeu no almoço.
"Parabéns."
David morde os lábios, desviando o olhar.
"Senhor Bouvier," ele disse novamente. "Você vai ser pai."
E, então, isso é tudo o que você ouve. Você vira para David, incapaz de formar pensamentos coerentes.
"Senhor Bouvier? Você está bem? Você parece… um pouco pálido. Você não tem tomado medicamentos estranhos ultimamente, tem?"
Você pisca para ambos. E, então, isso atinge você.
Seu coração pára, talvez até mesmo literalmente, se isso fosse fisicamente possível e seus olhos giram na órbita.
Puta merda, Bouvier.
Você vai ser pai.
