Meus olhos ainda estão fechados. O gosto dos lábios dele continua queimando meus lábios delicadamente pintados de vermelho. Ainda há fios ruivos presos em meu suéter. É possível sentir outro perfume mais forte impregnado em meus fios loiros. Ele está inteiro impregnado em mim. Ele ultrapassou a linha invisível que eu sempre tracei entre nós. Nós?
Aquele pobretão Weasley – não é assim que Malfoy o chama? – roubou algo aqui dentro.


Não sei como isso começou. Não lembro quando comecei a trocar as noites com Draco no dormitório por voltas no castelo para encontrá-lo. Eu queria sua cor, seus olhos azuis e seus cabelos flamejantes - seu fogo. Mas eu nunca poderia deixá-lo compreender o efeito que causava em mim.

- Não sei o que diabos você quer essa hora aqui, Parkinson. Até onde sei, seu salão comunal é nas masmorras.

- Eu faço o que eu quiser, traidor do sangue nojento.

Eu o tratava mal e ele ria. Maldito, mil vezes maldito. Seu sorriso me desmontava - e eu me odiava toda vez que isso acontecia. Eu ainda recolhia os cacos por dentro enquanto ele balançava a cabeça, aparentemente rindo da minha ignorância.

O maldito se aproximou. Eu podia contar suas sardas. O brilho em seus olhos quase me intimidou.

- Patética como sempre, Parkinson.

Eu evitava respirar assim, tão perto. Era como se algo desabasse sobre mim, como se tudo ficasse tão mais pesado e como se eu estivesse carregando o mundo nas costas. Aquele pobretão me desprezava até o último fio de seus cabelos intensamente ruivos.

Eu daria tudo para poder enroscar meus dedos entre aqueles fios.