Filho das Trevas
Por um longo momento permaneci olhando em seus olhos, aqueles olhos amados, malditos olhos apaixonados.
- Em que está pensando? Como pretende abandonar tudo? – as perguntas eram facas lançadas brutalmente.
- Não pretendo abandonar tudo – falei mirando-lhe com intensidade.
Seu rosto ruborizou-se e ela desviou o olhar para o chão.
- Se não pretende abandonar tudo, como poderá manter-se perto?
- As lembranças nos deixam próximos, a distância não mudará nada. Enquanto você estiver segura eu estarei bem, quando precisar de mim eu estarei aqui.
"Mesmo sabendo que não mais serei necessário na sua vida", acrescentei mentalmente.
- Você me salvou. Você me mantém viva! – gritou com lágrimas já escorrendo por seu rosto.
- Isso é verdade, eu a tirei dos braços da morte, mas não a mereço. Sou um ser da escuridão e enquanto estiver perto de mim ela não verá a alegria, a luz do mundo.
- Você precisa de algo melhor que eu. Seu príncipe encantado não chegará enquanto estiver com o vilão por vontade própria.
- Não preciso de um príncipe, preciso de você.
Ouvir isso doeu mais que qualquer coisa que eu já tenha suportado. Sem dizer mais nada me virei e segui em frente. Para onde não pudesse ser visto, mas ainda lhe vesse.
Não demorou um mês e o cara certo chegou. Meu primo, filho de Zeus, a mostrou o caminho para a luz. E eu, filho de Hades, fiquei no escuro, onde pertenço. Admito, meu maior desejo é estar ao lado dela. Desejo que não pode ser realizado, pois o que fiz com ela, salvar e ajudar, era meu dever, devo continuar a cumpri-lo. Mesmo que isso me separe da única que significou algo para mim.
