Observar é algo tão natural para mim quanto respirar. É algo que nunca pude controlar porque os detalhes estavam ali, flutuando feito moléculas soltas ao ar, envolta das pessoas e deixando suas marcas.

Talvez fosse essa minha obsessão em observar tudo que faziam as pessoas ao meu redor a me acharem estranha por preferir livros a pessoas, mas em minha defesa, livros eram muitos mais interessantes e fáceis de lidar. Interagir com pessoas exigia um esforço que muitas vezes era desnecessário e decepcionante.

Tentei muitas vezes entrar no círculo, fazer parte do clube. Mas nunca me adequei a nada. Porque eu era claramente uma daquelas peças do quebra cabeça que veio à mais e não pertence ao conjunto. Então e esquecida porque é mais fácil ser deixada de lado a ter que tentar encaixar essa peça estranha entre as outras.

Todas com sua simetria perfeita que se complementam e formavam uma figura, um todo. Que eu jamais seria capaz de fazer parte.

Porque eu não me enquadrava muito em padrões como as outras pessoas e nem fazia questão.

Nunca me preocupei com a aparência ou que as pessoas ao meu redor dizem sobre meus cachos rebeldes que pendiam para todos os lados completamente indomáveis. Não ligo para moda e coisas que garotas fazem juntas no banheiro como dividir maquiagem e comentar sobre qual garoto era mais bonito. Eu nunca entrei na lista das mais belas e nunca fui o objeto de desejo de nenhum garoto.

E tudo bem.

Aquilo nunca a incomodou. O mundo por detrás das páginas amareladas de Jane Austin e Chimamanda Ngozi Adichie eram muito mais interessantes do que esse mundo estranho e previsível que minha irmã dizia que eu sentiria falta quando estivesse mais velha.

Os tempos áureos onde se pode errar e ser o que quiser. Onde tudo é perdoado porque tudo vale na busca do auto conhecimento. É impossível conhecer qualquer coisa sem errar.

Erre!

Ela dizia, viva e faça loucuras. Não poderá conhecer ninguém presa entre as páginas de Tolkien.

Eu era grata pela preocupação, mas não precisava de nenhuma delas para saber que eram inúteis. Não estava em busca de auto afirmação, festas e bebidas estavam fora da minha rota.

Observar era o que gostava e provavelmente o que eu continuaria a fazer.

Mas passar para o colegial meio que bagunçou tudo. Uma hierarquia é formada e todos são obrigados a segui-las querendo, ou não. É uma regra básica da vida e não havia como escapar dela.

Grupos que antes eram apertados agora eram fechados. Mesas tinham seus devidos donos e mapas eram feitos para os novatos saberem a onde poderiam sentar sem entrar na zona de perigo como a mesa dos astros de beisebol, ou a mesa de líderes de torcida.

Aquele dois grupos que dependiam um do outro para coexistirem alimentando o poder um do outro. Casais eram formados e o resto do colégio invejava ou idolatrava.

Outros como eu apenas ignorava as regras de sobrevivência do ensino médio e simplesmente erguia o dedo do meio para todos que a insultassem pela juba de leão, livros e roupas confortáveis que não seguia nenhuma tendência de moda.

Havia poucas pessoas que me chamavam atenção naquela escola.

Peter Park era uma das raras exceções. Não por ser belo ou coisa assim, apesar da aparência dele ser agradável aos olhos. Mas era o mistério envolta dele que me atraia feito abelha no mel.

Ele sempre foi apenas um rosto na multidão que continha mais tons de cores do que o restante deles. Atrapalhando, nerd e gentil.

Ele nunca distratava ninguém e nem revidava quando Flash o humilhava. O que era um pouco irritante de se ver. Ele simplesmente ficava vermelho feito um tomate e fechava as mãos com força e não dizia nada quando Flash o apelidou de Pênis Parker no sexto ano.

Peter fazia o máximo que podia para ignorá-lo e passar despercebido pela multidão.

Ele conseguiu esse feito por algum tempo.

Afinal ele era só nerd que usava óculos e gostava de tirar fotos e construir réplicas de Millenion Falcon e Star Killer com seu melhor amigo Ned.

Mas então veio a tragédia. A morte de seu tio.

Eu estive no enterro, embora ele não tenha me visto. Observei de longe ele fechar as mãos com força tentando em vão não desabar porque sua tia estava destruída e ele esticou a mão e agarrou a dela e ela o abraçou e ele chorou silencioso com a cabeça apoiada em seu ombro.

Peter ficou cabisbaixo e mais calado do que o normal. Ned tentava animá-lo, mas ele parecia miserável a cada dia que passava.

Então um passeio de escola acontece e ele muda.

Os óculos desaparecem e quando questionado pela professora ele diz que sua miopia leve melhorou tanto que ele passou a usar lentes.

Depois foram os desempenhos nos esportes. Geralmente ele demorava a fazer as flexões e subir na corda, não tanto quanto Ned e Flash, mas ainda sim, ele era consideravelmente ruim em quase tudo que envolvia habilidades de coordenação motora e resistência física.

Mas de uma hora para outra as sofridas quinze flexões viraram vinte e subir a corda era tão fácil quanto descer uma escada.

A camisa ficou mais justa demostrando músculos adjacentes que eram tímidos e quase nulos no semestre passado.

Logo depois começaram os atrasos, nem mesmo o sorriso de Liz implorando que ele chegasse no horário o impediu de estar sempre atrasado.

Peter tornou-se um enigma e eu adorava tentar descobrir o que ele fazia nas horas vagas. Não era uma obsessão! Era apenas uma saudável curiosidade com colega de classe que não sabia nada sobre mim.

Porque eu era só um rosto na multidão. Escondida atrás de uma pilha de livros e cachos rebeldes e respostas sarcásticas como único modo operante de fala.

Eu sempre me sentei ao lado deles no refeitório e escutava a maioria das conversas por osmose. E quase sempre eram sobre seu "estagio na indústria Stark" ou seu fascínio por Liz Allen.

Ela era sua musa e ele praticamente babava com tudo que ela falava e dizia.

E ninguém poderia culpa-lo porque Liz era perfeita.

Sempre gentil e atenciosa com todos, paciente até mesmo comigo quando sugeriu que eu entrasse para decato acadêmico.

Ela considerava a opinião de todos e sabia como comandar aquele grupo de desajustados.

Era compreensível que ela também correspondesse os sentimentos de Parker. Si notava logo, pela paciência infinita e sorrisos doces direcionados a ele quando ele acertava aa respostas mesmo estando distraído cochilando ou babando por ela.

Então não foi uma grande surpresa quando soube no vestiário feminino que ele a convidou para o baile e ela aceitou.